17.12.03

O LADO NEGRO DA FORÇA



Eu (ainda) sou militante do PSD. Quando me juntei à seita, em 1983, fi-lo por acreditar que se tratava do partido que, sem desdenhar o património da social-democracia ou do socialismo democrático europeu, mais se adaptava a esta coisa complexa que consiste em ser português e viver em Portugal. Por outro lado, era a única força política susceptível de "alternar", no Governo, com o PS, pese a circunstância de, nessa altura, estar aliado com ele. Mandava nele, e pouco, o saudoso Prof. Mota Pinto que era manifestamente um homem bom. Seguiu-se a "era de ouro" com Cavaco que, passados dez anos, se fartou, particularmente quando percebeu o que se tinha instalado por aí às expensas do seu nome e da sua maioria. Houve o "interregno socialista", e há quase dois anos, o PSD, partido fisiologicamente de poder, como dizia o Victor Cunha Rego, voltou para lá. Em vez de ir sozinho, decidiu somar votos no Parlamento com o pequeno Partido Popular, que agraciou com uns cargos no Executivo e no aparelho do Estado. Como bem tem vindo a recordar o Dr. Ferro Rodrigues, penso que a maior parte das pessoas que votaram no PSD, não o fizeram para ter o Dr. Portas como Ministro de Estado e da Defesa ou a Dra. Cardona como Ministra da Justiça. E muito menos para ter uns imberbes acéfalos nas sinecuras disponíveis. De vez em quando o Dr. Barroso tem de pagar umas facturas que os garbosos rapazes do PP lhe apresentam. É o preço do "transporte às cavalitas" do "pequeno partido à nossa direita", nas palavras generosas do mesmo Dr. Barroso. O que se passou nestes dias com a questão da interrupção voluntária da gravidez, é um belo exemplo do que quero afirmar e contestar: a lamentável dependência da maior riqueza do PSD, a liberdade de consciência dos seus militantes, das posições do tal pequeno partido à sua direita. Bastou uma leve ameaça do guru do Dr. Portas para que, com ar constrangido e envergonhado, o Dr. Guilherme Silva viesse imediatamente "dar a mão à palmatória", sob o olhar conformado de Leonor Beleza. Durão Barroso confia nesta coligação como uma "força". E parece ter medo de que esta lhe falte, ao consentir em coisas deste género. Significa que quem manda é o "lado negro da força", uma história já vista e que não vai acabar bem.

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