Vasco Graça Moura sobre o Dicionário de Camões, ali anunciado à direita. «Para quem gosta de Camões, esta edição é uma festa. Mas no melhor pano cai nódoa. Numa entrevista recente, Aguiar e Silva deplorou amargamente que a editora tivesse resolvido aplicar a ignomínia do Acordo Ortográfico a esta edição, por razões comerciais de venda no mercado brasileiro. Os Fados encarregaram-se de vingar a língua portuguesa: há casos em que as monstruosidades ortográficas alternam com as formas normais (p. ex., a p. 6, "receção" e "recepção" a duas linhas de distância, havendo "recepção" também a p. 847, "facto", a p. 602, "concepção" a p. 754, embora "conceção" desfigure o título do belo artigo de Martim de Albuquerque sobre a concepção do poder político em Luís de Camões. Mas Némesis é implacável: o verbete do brasileiro Gilberto Mendonça Teles tem o título, a encabeçar a série de páginas 754-770, de "Recepção de Camões na literatura brasileira": afinal, no Brasil, o lexema "recepção" escreve-se com p. Só as luminárias... "compatas" que andam por aí à solta, desenfreadas na senda dos crimes contra a língua, é que não tiveram a "perceção" disso! Deste modo, a almejada uniformização com vista ao mercado de além Atlântico só vai servir para nos cobrir de ridículo naquelas paragens... Nem Camões, nem Aguiar e Silva, nem os seus colaboradores mereciam uma coisa dessas»
3 comentários:
Uma tristeza, uma tristeza... Mas torna-me mais fácil a decisão de não comprar...
Tenho muita pena de não comprar o dicionário, mas não vou comprar e muito menos ler qualquer livro em «acordês».
É nas estantes o lugar deles, até que as editoras aprendam o que significa algo tão simples como é o respeito pelo cliente.
Anónimo das 4:47
Apoiado. O que é preciso é que o número vá aumentando. E as editoras aprenderão.
Enviar um comentário