«A UNESCO tem duas classificações de património completamente distintas, a de "Património Mundial", ou "Património da Humanidade", que se aplica a bens materiais de significado universal, como o Mosteiro dos Jerónimos ou as gravuras do vale do Côa, o Taj Mahal da Índia ou a Grande Muralha da China. E a de "Património Cultural Imaterial", que se atribui a bens imateriais, dado a sua função na conservação da diversidade e o seu papel na vida das comunidades que lhe deram origem. O seu valor decorre pois, mais do que do seu significado universal, do seu enraizamento local e do seu significado comunitário. Foi nesta, e não na categoria de "Património Mundial" que - ao contrário do que reza a enganadora propaganda provinciana que a propósito tem sido difundida - o fado foi escolhido. Como o foram, e os exemplos ajudam talvez a compreender melhor a natureza do facto, as danças Sada Shin Noh (Japão), a música Mariachi do México, as artes marciais Taekkyeon da Coreia, o Mibu no Hana Taue, ritual de tratamento do arroz do Japão, a equitação francesa, o teatro de sombras chinês, o ritual poético Tsiattista de Chipre, a peregrinação ao Senhor de Qoyllurit'i do Peru, etc. Aqui fica o esclarecimento de um equívoco que, infelizmente, tem sido sobretudo alimentado por quem tinha por obrigação evitá-lo.»
Manuel Maria Carrilho
Adenda: Vou aproveitar o título do post para comentar um pedaço deste artigo de M. M. Carrilho incluído na sua primeira parte. Escreve o autor que «o serviço público de televisão não é, ao contrário do que tantas vezes se propaga, um problema de custos nem de financiamento, mas antes de visão e de estratégia. A prová-lo, está o seu custo total, que é hoje, por habitante, de 9 cêntimos por dia. É o mais baixo da União Europeia, com uma taxa – entretanto reposta, em 2006 – que é também a mais pequena.» Como o orçamento da RTP está evidenciado no Orçamento de Estado para 2012, ou seja, é público, deixo de cor duas ou três notas sobre os "9 cêntimos", título, aliás, do artigo. No ano corrente, 2011, a RTP recebeu a título de subvenção estatal, 110 milhões de euros. O OE de 2012 reduz esse valor para 90, mantém o valor da chamada cobrança para o audiovisual (2,25 € per capita/mês), assume o pagamento da dívida de médio e longo prazo da empresa (344,5 milhões de euros) e a amortização da reestruturação financeira de 2002-2003 que corresponde, ainda, a cerca de 225 milhões de euros. Quando o Governo quer reduzir os custos operacionais e financeiros da RTP para cerca de 150 a 180 milhões de euros a partir de 2013, quer com isso dizer que aqueles valores são efectivamente um "problema" no contexto geral do país e que 2012 será um ano de transição para atingir aquele objectivo. Só assim a RTP - na versão de "serviço público" cara ao autor e que é, com o devido respeito e amizade, a versão ideológica que conduziu anos a fio a RTP ao descalabro financeiro apenas atalhado depois de 2002 - se poderá manter com um módico de "visão" e de "estratégia". 9 cêntimos? Como diria o outro, é só fazer as contas.
2 comentários:
9 cêntimos é quase um pãozinho. Claro que para a esquerda culta e burguesa isso não é nada. já para o povo bronco e trabalhador é dinheiro.
Aos funcionarios do estado reduzem o salario e retiram dois subsidios e meio, mas continuam a injectar dinheiro, para programas pagos a preço de ouro como o da Sr comendadora Furtado.
Faça-se justiça, e acabe-se de vez mas é com as direções de programas mentecaptas, familiares e saloias.
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