28.12.11

DA VIDA DA LÍNGUA


Ontem à noite estive a ler algumas entradas do Dicionário de Camões coordenado pelo professor Aguiar e Silva. Belíssimo volume. Belíssimas entradas. O pior é o português acordográfico em que estão redigidas. Parece que "é a vida", como dizia o outro. Péssima (nova) vida.

19 comentários:

Anónimo disse...

Este acordo é uma bela bosta. Nem sequer serve para todos escreverem da mesma maneira. Não percebo para que foi isto...

Mais uma bandalheira. E nesta até o Cavaco colaborou.

PC

Anónimo disse...

É um acordo que não acorda nada!

vasco disse...

É pena que o tenha comprado. É a vida ou... é traição a princípios que se enunciam?

ja quim disse...

Como se diz em brasileirês, esse acordográfico, é muito péssimo mesmo!
Mas que eu saiba, esse acordo é só entre Portugal e... mais ninguém.
Nem o Brasil nem nenhum dos PALOPs terão ainda aderido!

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

... «Português acordográfico», João, que o actual Governo, cobardemente, não só não elimina como mantém. Se tanto se esforça em acabar com as «socretinices» porque é que não acaba também com esta? Será porque o «aborto ortográfico» é igualmente da responsabilidade de Cavaco, que era primeiro-ministro quando o processo começou e é presidente da república quando (a ver vamos...) terminou?

E quanto ao «outro», reconheça-se que com ele, apesar dos defeitos, havia um resto de dignidade, um mínimo de decência. Com ele os abortos - tanto o ortográfico como o médico - não se generalizaram; e o casamento não foi adulterado.

Tiago P. Lima disse...

Colaborou?
Mais que isso, é o grande responsável: promulgou o aborto.
E bem podia ter ouvido antes gente responsável.

Luis de Matos disse...

Como diriam os Gato Fedorento: É uma espécie de acordo ortográfico! São os novos tempos! Unfortunately!

vasco disse...

O que me chateia mais é a resignação cobarde. Não entendo.

Anónimo disse...

Até comprei um novo computador com sistema operativo em Inglês e software em Inglês. Aquilo era uma vergonha.

Isabel disse...

Também não me conformo com este aborto. Na minha vida privada, jamais o utilizarei. Na pública, (hèlas!)sou literalmente compelida a ensinar essa "coisa" aos jovens.Como lamento que não me seja permitida a "objecção de consciência" nesse particular... Vou inserindo os "preceitos" tão lentamente quanto consigo, sempre à espera de um milagre ( a minha formação católica,de tão rigorosa na infância, faz-me destas coisas...).
Há semanas li, no "Público", um interessante artigo de Ricardo Pais. Entre outros aspectos questiona a interferência abusiva no natural processo de divergência linguística. AS línguas deveriam divergir naturalmente do Português, deixando intacta esta língua-mãe, exactamente como as línguas latinas divergiram a partir do Latim deixando-o em paz e respeitando-o. Como alguém comentou, o "novo" Português quase se afasta mais da etimologia latina do que o próprio Inglês!(veja-se "act" e "ato" de "atuar")

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Cara Isabel, a objecção de consciência é sempre permitida; depende apenas de si e não de outrém, seja quem for. Você não tem de se sentir «literalmente compelida» a ensinar a «coisa».

Isabel disse...

Caro Octávio,os meus alunos sabem que "sou contra" a aberração. Tento demonstrar as minhas razões cientificamente e remato afirmando tratar-se de uma decisão política. Contudo, por mais que protele o "cumprimento do dever" não posso prejudicá-los em exames, provas de outros professores ou, mesmo, no seu futuro profissional.

Anónimo disse...

Mas pode ensinar português propriamente dito e depois as fórmulas imbecis (parafraseando Vasco Graça Moura).
Mas ponho-me o problema: um professor na Russia comunista ou na Alemanha nazi devia ensinar-lhes dados falsos sobre os judeus para não prejudicar os alunos? Lá ainda se punha o problema de poderem mesmo ser mortos, professores e aluno, mas aqui é só desagradar à maçonaria, mas a maçonaria, entre PS e PSD faliu o país.
Prejudicar os alunos é privá-los do conhecimento do português estabilizado do séc. XXI - o português em que escreveu um Nobel da literatura. E do português que se escreve em Angola e Moçambique.

Anónimo disse...

Para quem não se resigna:
Assine a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo. Não é uma petição, é mesmo legislação:
http://ilcao.cedilha.net/?p=313
Pode fazê-lo sem sair de casa, basta ter um «scanner».

vasco disse...

Já assinei a ILC contra o Acordo e ainda não vi nenhum resultado. Se há mecanismos legais para levar isso à Assembleia por que razão ainda não foi?

Isabel disse...

Tudo seria mais simples se quem detém o poder político suspendesse o "aborto" para análise ou mesmo referendo. Quanto a mim, já assinei e subscrevi tudo o que me chegou à mão contra o dito e nada parece ser ouvido. Para ser franca, ainda não sei bem como "descalçar esta bota". Por enquanto, os textos e manuais com que trabalho estão no português genuíno, mas professores de outras disciplinas e a escola em geral começam a exigir dos alunos a "novidade" e tratam de exigir também ao pobre professor de Português que assassine e mande assassinar a sua própria língua. Parece-me útil a sugestão de Graça Moura sobre as "formas imbecis", certamente um bom ponto de partida, que aliás tenho usado também quanto à leccionação da TLEBS, um cozinhado de linguistas desocupados, destinado a conseguir que o alunos desistam de vez de saber gramática, tal a confusão terminológica que instalaram e impuseram.Julgo que muito do que se vem passando tem a chancela da Associação de Professores de Português, ocupada há mais de uma década por gente muito progressista que se delicia com estas inovações.Gente a cuja entronização(ou dos seus precursores) assisti e que me recordo de ouvir defender que a leccionação diacrónica dos nossos clássicos literários lembrava o "livro único fascista".
Concluo fazendo minhas "mutatis mutandis" as lamentações de Teixeira de Pascoaes quando um outro acordo suprimiu o Y no Português: as palavras abysmo e lágryma jamais voltarão a ter o poder sugestivo que o grafismo da letra sugeria.

krishna disse...

É a vida?!? a desobediência civiltambém faz parte da vida, bem como a luta contínua por tudo o que acreditamos. A resignação também faz parte, da vida das ovelhas.

Pedro da Silva - Coelho disse...

Amanhã remeterei um envelope contendo cinquenta e dois formulários de subscrição da Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (http://ilcao.cedilha.net/) assinados. Foi-me prometido por várias pessoas que enviariam subscrições por correio electrónico (e eu não os deixarei olvidar tal promessa). Continuarei a recolher todas as assinaturas que puder. Só com acção podemos fazer chegar a nossa voz à sede da nossa democracia. Eles poderão, mesmo assim, rejeitar o projecto de lei. Mas hão-de receber a mensagem do nosso descontentamento e da nossa recusa. Espero e lutarei (com todos os meios ao meu alcance) para que consigamos bem mais do que as trinta e cinco mil assinaturas de rigor. Almejo que consigamos cem, duzentas, trezentas mil, meio milhão! De todas as pessoas com quem falei, só três se mostraram favoráveis ao AO de 90... A recusa parece ser geral! É pena é que não se mobilizem por si mesmas... mas precisam apenas de alguém que lhes chame a atenção para a ILC e que lhes faça o favor de enviar o formulário pelo correio (ai a preguiça do cidadão português...). Por isso, não se resignem e recolham assinaturas! Façamos um exercício simples: com uma média de 25 assinaturas recolhidas por pessoa (o que não é difícil), bastariam duas mil pessoas a recolher assinaturas para conseguirmos cinquenta mil! Mantenhamos uma atitude positiva! Em frente!

Pedro da Silva - Coelho disse...

Caro Vasco,

Para que a ILC seja admitida para votação na Assembleia da República, é necessário reunir um mínimo de 35 000 assinaturas válidas. Tal empreitada é, compreenderá, logisticamente sobremaneira difícil para um grupo de cidadãos que não dispõe do aparelho organizacional de, e.g., um partido político. Repare que, para se formar um partido político, bastam 7 500 assinaturas! Mais, os voluntários da ILC terão de coligir e verificar os formulários, organizá-los e entregá-los na AR. Uma vez entregados, há todo um conjunto de procedimentos que terão de seguir o seu curso regimental: os funcionários da AR poderão verificar formulários (não todos, farão uma amostragem), haverá que agendar debate, etc. Mas, quanto mais pessoas se dispuserem a assinar e a recolher assinaturas, mais rapidamente chegaremos à Assembleia da República. Inundemo-los de assinaturas!