Há precisamente 50 anos, o "pacifista" Nehru invadia Portugal através de Goa. Este post notável do Miguel Castelo-Branco recorda o episódio pelo lado não politicamente correcto dele. De facto, a perda de Goa foi vista quase como uma inevitabilidade e a crónica pusilanimidade das organizações internacionais encarregou-se do resto. Salazar fez o que lhe competia. Num telegrama amplamente citado (contra ele, como não podia deixar de ser) que dirigiu ao Governador Geral, o presidente do Conselho era inequívoco: «não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos.» O que se passou a seguir é conhecido. Ninguém, de Lisboa à Índia, saiu bem da coisa. Houve, porém, uma excepção, o 2º Tenente Oliveira e Carmo que, com apenas 25 anos e sem hesitações, explicou aos seus subordinados: «fazemos parte da defesa de Diu e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e última bala se possível». Como escreve o Miguel, «os militares, mais que os paisanos, compreendem ou devem compreender o que significa o sacrifício derradeiro que lhes exige a carreira que voluntariamente abraçaram. Oliveira e Carmo compreendeu-o. Sacrificou-se pela honra e foi militar. Os outros, aqueles que pensaram quando não deviam pensar, que não cumpriram quando deviam cumprir, que partiram as espadas quando as deviam empunhar, que deitaram ao chão a bandeira quando a deviam levantar bem alto; esses, não foram militares. Há quem pense, erradamente, que os actos inúteis devem ser evitados. Errado, o acto inútil pode assumir transcendente significado. No caso de Goa, a Índia portou-se miseravelmente, Oliveira e Carmo cumpriu e não vacilou, como não vacilaram os goeses portugueses que deixaram tudo para serem dignos da sua condição de cidadãos - que reclamam direitos, mas têm deveres - e os outros, aqueles que se renderam à lógica, os pragmáticos que racionalizam, os homens dos afectos e da lágrima sentimentalóide, esses perderam. É tudo.»
24 comentários:
A nobre e corajosa acção de Oliveira e Carmo está muito para além do entendimento de espécies inferiores, como é a da maioria dos políticos que - neste País - sempre transitaram demasiado fácil e rapidamente da preguiça dos liceus e universidades para os gabinetes revestidos a tapetes. Ainda assim a sua recordação é sempre desconfortável para os ditos políticos - mesmo, ou principalmente, hoje. Tendem depois a menorizar, a ignorar, a impedir que outros o recordem, a relegar para segundo plano o que julgam (ou propalam, ridicularizando) ser o 'culto dos heróis e do nacionalismo' coisas, por definição progressista, más. Honra, bravura, lealdade é do que afinal se trata. Exemplo.
Também as kátias das novas gerações da "história", do "jornalismo" e do "documentário" não sabem do que se trata - e jamais atingirão algo mais significativo do que "o que estará a dar p'rá semana".
Ass.: Besta Imunda
Salazar fez o que lhe competia?! O que lhe competia era ter dotado o território de meios para a sua defesa. Sem os meios e perante a força bruta, o máximo que se pode exigir é uma rendição e a salvação dos habitantes e das tropas. Para feitos de heroísmo vazio de sentido, pedidos a quem não forneceu os meios, teria sido sua obrigação (de Salazar) deslocar-se para Goa e morrer como comandante que era, dando o exemplo. Ao jovem herói aqui citado, nada mais resta que prestar-lhe a minha homenagem.
Ainda há três ou quatro dias, no Correio da Manhã, um dos galifões generalados fazia os desabafos de café que justificam a rendição. Não custa andar de uniforme e cobrir a casaca de condecorações ganhas no ar-condicionado e nos tabuleiros dos "jogos de guerra". Custa,sim, cumprir o dever.
Surreal. Mas enfim, de vez em quando a si dá-lhe para isto. Como V. adjectiva de notável o postal que cita deixar-me-á referir que ali está citada, como sustentação de argumentação, uma patacoada de 1943 do Patriarca de Goa - coisa típica, nem tem valor particular. Um tipo lê isto, e o seu notável, e dirá que a referência que faz, no postal seguinte, sobre os agentes culturais (citando A. Gonçalves) é uma auto-crítica. Mas isto nem nos diverte.
Aqueles que pensaram ser mais prático entregar as armas a lutar com dignidade, esqueceram-se ou talvez acharam-se também abrilinos, que existiu na nossa história, Aljubarrota.
S. Guimarães
Hoje já não temos Portugueses desse tamanho.
Hoje, não temos Forças Armadas nem portugueses capazes de sacrificar.
Portugal já não é independente.
Portugal acabou nesta miséria.
Inacreditável, este poste, assim como a comparação com Aljubarrota... que, neste caso, era dos indianos...
O "pacifista" Nehru, podia ter chacinado todos os portugueses presentes, e não o fez...
Qt aos deveres de um militar, tb está escrito que, até o mais humilde soldado deve desobedecer a ordens absurdas e contrárias ao interesse da Pátria como era o caso.
O heroísmo e o sacrifício são fáceis de invocar para quem está sentado no sofá. Ser militar não exclui os dotes de inteligência e avaliação racional de circunstâncias concretas,dotes que lhes tambem são exigidos.Goa era indefensãvel,não só pela desproporção numérica,como pela inanidade do material ofensivo/defensivo disponível. Um general,ou qualquer chefe militar, não deve sacrificar os seus homens,que aliás na maioria não escolheram a carreira militar mas estão ali por acaso do destino,em operações de total impossibilidade de sucesso. Por muito que custe aos herois de poltrona, Vassalo e Silva,o "traidor",cumpriu o seu dever militar.Como Napoleão na Rússia,que embora ocupando Moscovo,percebeu inteligentemente que não tinha condições para vencer,e retirou.Ao contrário do cabo austríaco armado em fuhrer,que impedindo a retirada estratégica de Von Paulus em Estalinegrado,liquidou ainda mais ràpidamente a campanha germânica.Ser militar e patriota,repete-se, não significa ser burro e carniceiro.
Efectivamente, a visão de futuro na mente de S, resumia-se a acções suicidas executadas com bravura.
H tinha a mesma visão, e terminou num bunker.
É por estas e por outras (alfabetismo, repressão, prisão mantida por actos administrativos da PIDE, etc), que me confunde as admirações que algumas personagens teem por ele. Porque não pensam?
Alguns comentários provam a pequenez da corja que por cá pulula. Obrigado caro Miguel pelo post, e obrigado caro João por assinalar a efeméride.
Lei os comentários e fico com a certeza que em Portugal só há traidores e bandalhos. É o resultado de 37 anos de maravilhas abrileiras.
Paulo J. Cruz
Uma vez que a guarnição estava mal armada e era composta sobretudo por humildes soldados (sem treino e sem motivação) era previsível o desastre. Como sempre acontece, 'resolvida' a questão militar entre militares, vem depois a ocupação, o confisco, a vingança, o abuso, o saque, a vergonha para as populações civis - nas quais, de facto, não se fala ou falou muito (como o 'Post' e M. Castelo Branco dizem, e bem, tudo debaixo do nariz impotente das patéticas e terceiro-mundistas Nações Unidas...). Oliveira e Carmo, Jardino, Cunha Aragão, outros poucos marinheiros e ainda menos soldados cumpriram, morrendo, o seu dever - muito para além do que lhes era exigido. Quem não cumpriu foi definitivamente Vassalo e Silva. A este competia (como foi o caso de alguns comandantes e governadores britânicos na Birmânia cruelmente invadida pelo Japão) meter uma bala na cabeça, dando até eventualmente instruções para rendição. Era também 'isto' que se esperava dele. Não foi capaz, e não podia esperar outra coisa senão castigo; é impossível nestas situações conservar tudo: a pele, o ordenado e a carreira, a honra; sobretudo servindo o mesmo amo. V. e Silva salvou-se e perdeu a honra.
Ass.: Besta Imunda
É verdade, os bandalhos continuam firmes e hirtos como barras de ferro!
Besta imunda,
Não sei que idade tem nem que experiências traumáticas passou. Espero que sejam as suficientes que lhe permitam ter moral para escrever o que escreveu. Caso contrário o senhor não passa de algo que não enuncio aqui por respeito ao autor do blog.
A opção militar era a mais previsível, dado o Direito Internacional e a doutrina oficial da II República. Neste caso, os militares deveriam ter sido dotados de equipamento e de unidades capazes para uma defesa, mesmo que o termo "simbólica" significasse uns tantos dias de resistência, capazes de inflingir graves perdas aos atacantes e criar um terrível problema político a uma teoricamente "pacífica" Índia, que além de cultivar um estado latente de guerra com o Paquistão - tácitamente aliado dos portugueses - poucas semanas depois, era completamente derrotada pelos chineses no breve conflito nos altos dos Himalaias.
A posição de Lisboa foi precisamente oposta, exaurindo os arsenais e os quartéis de equipamento e homens capazes para tal missão de um sacrifício quase suicida. Munições caducas, nem um único tanque, poucas bocas de fogo, nenhum material anti-aéreo e anti-carro, péssimas transmissões, quase nenhumas armas automáticas - a Mauser era a regra na infantaria local - e nem uma única unidade naval moderna. O glorioso Afonso de Albuquerque estava só, tinha um quarto de século e jamais havia sido modernizado para um combate contra unidades modernas. A Armada possuía alguns meios muito mais eficientes e que inutilmente fundeavam na Metrópole ou em Moçambique. Nada se fez para essa almejada resistência "à Estalinegrado" e surgiria mais tarde, o escusado argumento da certeza do ataque indiscriminado dos indianos ás zonas civis, bombardeando e massacrando a população. Mas não era isso mesmo que Lisboa deveria esperar, provocando uma rápida reacção política por parte da opinião pública mundial? Não contou Portugal - mercê dos incansáveis esforços de Franco Nogueira e do MNE - com o voto favorável na ONU, condenado Nehru e a Índia?
O tratamento que mais tarde seria dado aos militares repatriados, careceu de qualquer tipo de tino político, pois em vez de o regime os fazer desfilar com todas as honras Avenida da Liberdade abaixo - culminando as honrarias com aquela que se tornaria na sacramental cerimónia no Terreiro do Paço -, tratou-os de uma forma tal, que despoletaria os profundos ressentimentos que chegam até aos nossos dias. Consistiu esta atitude num erro crasso, até porque o terrorismo em Angola e a política assumida da defesa do Ultramar, exigia, pelo contrário, a máxima atenção às Forças Armadas, especialmente naquilo a que para elas é mais relevante: a manutenção da honra e o seu reconhecimento como o essencial braço armado da nação.
Sem dúvida, muito controversa a atitude de Salazar. Mas não se pode dissociar o espírito da época e não é por acaso que, na ONU, as potências condenaram a invasão indiana apesar dos ventos anticolonialistas que já prevaleciam.Enfim, valores pátrios que hoje em dia parecem não ter qualquer relevância. Em qualquer dos casos, manter-se as fronteiras do Minho a Timor era algo que fazia sentido nos anos 30, mas não nos anos 60.
Impressionante a quantidade de gente que por aqui anda capaz de oferecer o peito às balas e morrer pela pátria.
Cambada de mentirosos.
Xico,
Não sei que idade tem, e espero sinceramente que a vida ainda lhe seja longa. A minha experiência e os traumas meus são aqui irrelevantes - todos os tivemos, temos e vamos ter ainda, até o meu amigo; e ninguém tem o exclusivo deles (seja novo ou velho, seja ex-soldado e ex-combatente ou apenas desesperado, endividado ou doente). Balas na cabeça, prédios altos, honra, desespero, falência, loucura ou até 'apenas' o peso de princípios foram e são suficientes todos os dias para levar gente prematuramente à morte. Cada um encarará na devida altura a 'questão' como conseguir. Considere-se livre para me apelidar do que bem entender, a começar por 'besta'; a Língua Portuguesa é fértil de adjectivação e meios de caracterizar alguém - assim o permita ou lhe apeteça o autor do blog.
Ass.: Besta Imunda
a visualização deste filme torna-se imperativa
http://www.imdb.com/title/tt0050825/
Vocês andam a ver filmes demais. Ó Besta Imunda, esse seu estilo pomposo e grandiloquente faz-me lembrar aquele oficial italiano ridículo daquela série cómica inglesa. É só garganta. Qualquer militar que se preze, ainda por cima comandando homens, se rende, ou se retira, se puder, quando as suas forças são inferiores e não tem hipótese de vencer o inimigo. Sobretudo, nenhum arrasta os seus homens deliberadamente para a morte, se o puder evitar. Nenhum oficial britânico em Burma, ou qualquer outro lado, se suicidou por amor à pátria ou ao rei. Poderiam fazê-lo, quando muito, para não cair nas mãos dos japoneses, que infligiam tratamentos cruéis aos prisioneiros. O que geralmente faziam, quando estavam em inferioridade, era retirar ou render-se. O comportamento que defendem é mais típico do fanatismo dos japoneses na segunda guerra mundial. Vocês percebem tanto de história militar, ou do que é ser militar, como eu de neurocirurgia. Fazia-vos bem um estagiozinho em cenário de guerra. Passava-lhes logo isso.
Nunca levei um tiro e nunca estive debaixo de fogo dias a fio - o que é pelo menos dizer que nunca estive numa guerra. Mas pelo que pude também entender de alguns comentários, a coisa pode ser resumida assim, na mente desses comentadores:
1- O Prof. Salazar fez mal em não ter equipado a Guarnição da India com material moderno e homens em número considerável. Concordo.
2- Exactamente o seu contrário, no pensar de alguns outros: o Prof. Salazar fez até muito bem em não ter reforçado a India - para que a debandada fosse mais fácil de justificar e de levar a efeito... Para quê afinal 'estar lá'?
3- O Prof. Salazar devia ter sossegado Vassalo e Silva e ter-lhe telegrafado estas palavras amáveis: "resista mas pouco; ou resista apenas se lhe apetecer; ou ainda, se não resistir, ninguém lhe levará a mal".
4- Depois temos Vassalo e Silva: ingressou na carreira militar (não na carreira de vendedor de apólices de seguros de porta em porta), vestiu um uniforme, prestou juramentos, chegou ao cargo de Governador - e isso, no dizer de alguns, não lhe impõe consequências difíceis; apenas saídas mais ou menos burocráticas ao alcance de qualquer funcionário.
5- Outra conclusão que me parece poder tirar de vários peritos em vida e em estratégia militar, aqui escreventes, é esta: "combater só em caso de igualdade de forças ou mesmo de superioridade de forças pela nossa parte; senão ficamos na caserna ou entregamos as espingardas".
6- Da mesma forma, posso concluír que certos comentadores consideram que qualquer combate é inútil (assim, no seu entender, se terá feito Portugal): para eles Oliveira e Carmo fez mal; e com ele os outros soldados e marinheiros que fizeram fogo e que morreram também - a "culpa" terá mesmo sido de Oliveira e Carmo que, tendo-se batido com bravura, deixou muitos outros oficiais ditos 'superiores' em posição de desconforto (o 'conforto' e as respectivas 'zonas' têm hoje um papel cada vez mais importante na vida portuguesa).
6- Finalmente, parece que paira uma má opinião sobre as distinções, as homenagens, as condecorações e sobre as recordações dos corajosos - que deviam ser o tal exemplo para todos; ou seja: Portugal para quê?
Ass.: Besta Imunda
Besta Imunda,
Claro que Salazar errou e teve dez anos para transformar Goa - se a intenção era a defesa - num "ouriço", gostassem ou não gostassem os nossos pretensos aliados USA. Tomou a decisão política certa - a outra seria o referendo que tanto odiava e que possivelmente significaria um enorme embaraço para Nehru -, mas no aspecto técnico, o das armas e dos homens, falhou de forma indecente. Aliás, nem poderia ser de outra maneira, dada a propaganda mesquinha a que o regime habituara uma geração, dando continuidade aos disparates da 1ª República. De facto, o "pobretes mas alegretes" assenta que nem uma luva à nossa gauche.
Disse o que havia para dizer, quem me dera ter o seu poder de síntese. Realmente, tudo isto não passa de um caldo de cultura já há muito ministrado, colherada a colherada e que porventura teve nas Conferências do Casino, a caprichosa cozinha. O resultado está à vista e de resto, o próprio regime de Salazar - com os constantes "pobrezinhos e pequeninos" - desta sopinha se abasteceu prodigamente. Num país em guerra onde para a opinião pública esta não passava de "umas patrulhas de policiamento", num país atacado pelos próprios "amigos europeus" na ONU e que dentro de portas o Presidente do Conselhos e limitava a umas tantas "Conversas (do chácha) em Família", pouco mais haverá a dizer. Nem sequer o sempre levantado exemplo da Inglaterra de 1940 terá servido para coisa alguma, muito menos ainda a "totaller krieg, kürzest krieg" dos alemães de 1943. Nada de espírito combativo, nada de mobilização geral, sentido do dever e do sacrifício e paradoxalmente, o regime enchia-nos os ouvidos com D. Francisco de Almeida, D. João I e IV, Afonso de Albuquerque, Chaúl, Matapan, Buçaco, etc, etc. Lendas e narrativas à portuguesa. De facto, a escória barriguda do bem conhecido esquerdismo militante de causas e de dinheiros alheios, bebeu gulosamente esta canjinha "dos pequeninos" e aí está ela, sempre ansiosa por levantar os braços, já que de vez em quando simplesmente não "abre as pernas". Bah...!
Caro Nuno Castelo Branco,
para si, e para o seu excelentíssimo irmão, os meus cumprimentos e agradecimentos pelo que escrevem, pelos vossos blogs, pela vossa cultura e pelos vossos ideais. E já agora para todos os outros Portugueses nascidos em Portugal, em Angola, em Moçambique, na India, em Timor, em Cabo Verde, em São Tomé, na Guiné e em Macau cumprimentos também.
Ass.: Besta Imunda
Besta Imunda,
Obrigado pelas suas palavras, mas limito-me a repetir incansavelmente as minhas teimosias e segundo alguns, maluquices. E daqui não saio...
Feliz Natal, sem vacilar para se salvar ;)
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