19.1.04

TRÊS VEZES


Nos 81 anos de Eugénio de Andrade, não é justo inventar palavras gastas para o felicitar. Basta-me a delicadeza do seu verso depurado e singelo, como um olhar manso lançado ao sol inesperado de Inverno, um lume onde tantas vezes me aqueço, aqui três vezes repetido.

BALANÇA

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida


(Ofício de Paciência, Porto, 1994)

DO LADO DO VERÃO

Vinha do sul ou dum verso de Homero.
Como dormir, depois de ter ouvido
o mar o mar o mar na sua boca?

AO LUME

Nem sempre o homem é um lugar triste.
Há noites em que o sorriso
dos anjos
o torna habitável e leve:
com a cabeça no teu regaço
é um cão ao lume a correr às lebres.


(O Outro Nome da Terra, Porto, 1988)

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