21.1.04

ENTRE O RISO E O ESQUECIMENTO



O Sr. Bush brindou os EUA e o mundo com mais uma pérola sobre o "estado da União". Como está em fase eleitoral, prometeu para "dentro" mais dinheiro nas áreas da governação que mais votos podem dar ou tirar. Para "fora", esclareceu que, lá onde os interesses norte-americanos se encontrem ameaçados, ele manda avançar a tropa, sem dar satisfações a ninguém. Mas a parte trágico-cómica da peroração da criatura deu-se quando Bush se referiu a coisas inteiramente privadas, tais como o sexo e o casamento. Aos jovens americanos, o presidente recomendou (sic) a abstinência sexual, designadamente por causa das doenças. Relativamente ao casamento, lembrou os distraídos do carácter "sagrado" (sic) deste contrato, evidentemente só celebrável por pessoas de sexos diferentes. O que equivale a dizer que zurziu a hipótese demoníaca de same sexers se unirem, de direito ou de facto. Embora eu considere o casamento em geral como uma piroseira burocrática, seja entre quem for, entendo que não compete a nenhum poder político definir com quem é que os seus cidadãos devem dormir. George W. Bush, do alto do seu limitado horizonte intelectual, não pensa assim e disse-o ao mundo. O que é grave é que este cavalheiro seja tido por alguns governos do planeta como o seu guru político e, em casos extremos, espiritual. Bush já deu provas suficientes de que não compreende o mundo em que vive. Nem sequer se pode dizer que seja medievo, porque isso constituiria uma ofensa histórica. A América, que eu muito admiro, não tem praticamente memória nenhuma, tendo lá simultaneamente o seu "tudo" e o seu "nada". Os EUA "profundos", conservadores, desconfiados e puritanos, apesar de tudo mereciam melhor do que esta pudicícia pouco mais que boçal de um presidente perdido algures entre o riso e o esquecimento.

Sem comentários: