23.1.04

SEM TECTO ENTRE RUÍNAS

1. Uma organização futebolística internacional, cujo nome me escapa, considerou os estádios do Benfica, do Porto e do Sporting como dos melhores por esse mundo. As três semanas de circo anunciado para Junho de 2004 justificaram as obras, mas nem este evento próximo consegue animar a Pátria. O pobre do Dr. Arnaut deve andar preocupado com a circunstância de o País não estar já a rejubilar com o Euro 2004. Apesar de tudo, eu acho que as pessoas não são completamente parvas.
2. Lá de Bruxelas, da Comissão, veio a análise demolidora para a agenda das nossas finanças públicas, do nosso mercado de emprego, do nosso investimento no conhecimento, etc, etc. Para quê investir no conhecimento e na investigação se o betão do futebol é mais vistoso? Não me lembro de tamanha degradação da nossa vida colectiva desde a altura em que, em 1981, o Dr. Balsemão teve a infelicidade de ser primeiro-ministro. Quem votou em 2002 para mudar, deve sentir-se defraudado. O Governo tem uma agenda medíocre e, em certas áreas, mesmo má. A peripécia do bilião de euros para a formação e para a investigação, proclamada em Óbidos, diz tudo. Não há nada de novo, é pura execução do QCA em vigor para esses registos. Porém, nem o Dr. Barroso resistiu à bravata barata, que já foi desmentida pela ministra do sector no Parlamento. Segundo os doutrinadores oficiais, foi avistada em Óbidos a "viragem". Só mesmo nas pobres e vendidas cabeças desses patetas é que ocorrem visões deste gabarito. No País dos três gloriosos estádios, há quase meio milhão de desempregados, falências em série, um serviço nacional de saúde anestesiado em demagogia, a promoção cultural e do património a degradar-se e um profundo mal-estar social e psicológico.
3. Pela primeira vez na minha vida, fiz greve. Fi-la contra esta parasitagem institucional da nossa inteligência cívica, contra o domínio do que foi outrora um grande partido nacional por uma agremiação populista de expressão popular diminuta, contra a incompetência caciqueira instalada e contra o comodismo carneiro. É lamentável que esta situação só se mantenha por causa da matemática parlamentar e da névoa mediática de um processo judicial. Na realidade, e se se vasculhar com seriedade, não há mesmo nada por trás do cenário. Lembrando Raul Brandão, estamos sem tecto, entre ruínas.

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