29.10.11

A ESTÁTUA DO COMENDADOR



Passa na Gulbenkian, directamente do Lincoln Center (Met) em Nova Iorque, o Don Giovanni de Mozart. Mais do que a exibição da frivolidade da personagem e das suas "vítimas", é a hubris do conquistador, no momento final da emergência do comendador, que resume bem a coisa. Na vida amorosa como na política (e estão mais perto uma da outra do que se pode imaginar), há sempre uma estátua do comendador à espreita para ajustar os costumes.

4 comentários:

Anónimo disse...

"na vida amorosa"... Além disso, Don Giovanni é uma tragédia - com o Herói (ou 'anti') findando vítima de si próprio e assolado por arrependimentos, fantasmas, infelicidade. Já na política a tragédia fica geralmente a cargo das largas costas do contribuinte: os Dons, "après avoir coucher", ingressam em empresas de construção civil com presença na Polónia ou em Angola, ou vão de férias para Paris - estudar filosofia, enquanto deixam os seus Leporellos na AR a cabar de lavar os seus penicos de esmalte. E tudo se transforma em comédia. Só para rir.

Ass.: Besta Imunda

Anónimo disse...

As Fúrias chegam no fim.
Merkwürdig

o tal leitor disse...

Para a "Besta":
1)Pelo menos em francês,não é "avoir coucher",mas "avoir couché".
2)O arrependimento é o que menos assola o D.Giovanni.Ouça ou leia o magnífico dueto final do Don com o Comendador:"Ho fermo il cuor in petto","A colpo di viltate giammai,etc"(estou a citar de memória).A extraordinária conclusão da ópera(infelizmente adocicada com o sexteto que o Mahler quando dirigia o Don sempre suprimia)é a altiva expressão do absoluto orgulho contra a convenção.
3)A produção do Met,certinha,correcta mas com falhas nos papeis femininos,e sem o brilho da inesqucível "Bolena". Mas tomáramos nós por estas paragens...

Anónimo disse...

V. tem razão meu caro "Tal": é 'couché' e refere-se a ele, o Don (se fosse uma Donna seria 'couchée'? e se fossem vários Dons do PS, seria 'couchés' ou cochons?); desculpe o meu francês, que está longe de ser tão bom como o do sr. Barroso. E para mais na construção civil - que é o meu meio profissional - é língua morta. Quanto ao libretto de Lorenzo da Ponte, tem como título "Don Giovanni" e como subtítulo "il dissoluto punito" e também diz "dramma giocoso in due atti" (por questões de interesse comercial de Mozart, certamente?). Para mim é "giocoso" apenas até certa altura - Leporello ajuda a isso, com certeza. Mas o Don foi 'punito' - arrependido ou não; o fantasma de seu Pai não me parece só sintoma de insanidade mas de medo, e o medo pressupõe sempre uma ordem moral que se terá consciência de ter violado (arrependimento?). A edição em CD que tenho (nunca vi ou ouvi o Don ao vivo...) é dirigida por Arnold Ostman, tocada em instrumentos da época e gravada para a 'L'oiseau Lyre': Don Giovanni - Hákan Hagegard; Leporello - Gilles Cachemaille; Donna Anna - Arleen Auger; Donna Elvira - Della Jones; Don Ottavio - Nico van der Meel; Zerlina - Barbara Bonnery; Masetto - Brian Terfel; Il Commendatore - Kristinn Sigmundsson. Vou já ver se esta versão está completa...ou Mahlerizada
Também 'tenho' a adaptação (apenas da música obviamente) que Liszt fez para piano do tema de Don Giovanni: é fenomenal. Gosto muito de música - mas tem de ser boa.

Ass.: Besta Imunda