«A investigação do PÚBLICO sobre a actividade profissional do eng. Sócrates causou uma viva e estridente indignação entre muitas alminhas que pairam por aí, a grande altitude, indiferentes aos "pequenos pecados" que recheiam o curriculum do primeiro-ministro e a milhas dos jogos mesquinhos que animam esta "campanha pessoal e política". Antes de mais, porque qualquer trabalho jornalístico, digno desse nome, deve incidir sobre os inegáveis méritos que nos oferece o presente e não sobre o longínquo e insignificante passado de quem actualmente nos governa. Dá ideia de que tudo o que se escreva sobre os anos 80 é, como disse o eng. Sócrates, um esforço desesperado de "arqueologia jornalística" que só os obscuros interesses da Sonae conseguem justificar. Em Portugal, ao contrário de outros países mais picuinhas, o passado prescreve rapidamente: um político surge do nada, dependente das circunstâncias e das necessidades do dia. Pouco importa que, na altura, o actual primeiro-ministro já fosse dirigente do PS e deputado na Assembleia da República. E pouco importa também, como é óbvio, que o actual primeiro-ministro possa estar a mentir sobre a autoria dos projectos que assinou ou que aqueles "caixotes" irrepreensíveis tenham sido concebidos por si. O que importa, sim, é assinalar a "campanha" de um jornal que tem o atrevimento de tornar públicas as actividades públicas de uma figura pública. Como é que, depois da "novela do canudo", António Cerejo tem o descaramento de aparecer, agora, com esta "soap opera dos projectos"? Esta, sim, é a pergunta que se impõe. O facto de o Ministério Público ter arquivado o processo da licenciatura do eng. Sócrates sem se dar ao trabalho de explicar como é que apareceu um certificado falso, na Câmara da Covilhã, ou um documento rasurado na Assembleia da República é, para estas impolutas alminhas, um pormenor insignificante em que não vale a pena pensar. É assim que florescem as mais subtis manobras de intimidação.»
Constança Cunha e Sá, in Público
Constança Cunha e Sá, in Público
7 comentários:
o ministério público não só arquivou o Sr. Sócrates como arquiva outras coisas gravíssimas, com despachos absolutamente idiotas e, digo idiotas pra não insultar Kafka!!!
Caro João Gonçalves
Vital Moreira, guardador-mor da virtude constitucional do regime, debita estas pérolas. "Se pega a moda de ir vasculhar o passado pessoal e profissional dos políticos antes de o serem, mesmo que tenha sido há décadas, ainda haveremos de ver um grande "jornalismo de investigação" sobre as pequenas e médias malfeitorias juvenis de todos os políticos no activo"
Estes fretes têm que ser bem remunerados... A bovinidade ao serviço do regime.
É o nosso fado.
Oh, António! Acabe lá com as cerejas em cima do bolo... podre.
As figuras públicas têm de dar "algum exemplo"...Se não têm carácter, fiquem-se por onde estão!
Felizmente que o caso Sócrates ainda não morreu.
Também continuo indignado(a) com os arquivamentos todos respeitantes às falcatruas do sr. primeiro ministro.....
Não devia já indignar-me, mas....está-me no sangue! Irei indignar-me SEMPRE até morrer, mesmo que ISSO só sirva para me....indignar!!!!
A questão não de incoerência de José Sócrates. É de coerência. E porquê? Porque, de facto, o nosso PM já não se identifica com o que foi nos idos de 80, conheceu outras pessoas, "namorou" gente mais refinada, tem mais dinheiro, frequenta outros restaurantes, leu mais livros, melhores livros, tem um círculo de amigos mais culto, europeu e universalista. Mas não é isto que um homem deve procurar?!! Nâo é isto que nós, todos, devemos fazer?? Ficar pessoas melhores, mais interessantes??? É!!!!!!!!!! Só que as pessoas que ficam melhores pessoas, que se transformam para melhor só o conseguem de facto se não tiveram vergonha do que foram, de onde nasceram e de quem eram os seus amigos antes da metamorfose.
Estamos no VALE TUDO !
Até quando ? Será que nem o tempo tem pena, dó, compaixão de nós ?
Este artigo de C.cunha e Sá é de facto muito pertinente, e é assustador assistir-mos a isto quotidianamente sem nada poder fazer. E não é só em relação a Sócrates, que de facto já tem uma conta elevada, mas em relação a qualquer poder ou seus comparsas.
Não se vai averiguar nada em relação aos 300 despachos numa madrugada do nosso guardião moral Telmo Correia?
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