Muito sinceramente, eu espero que a dra. Ana Gomes apareça rapidamente e várias vezes a defender o "sim" português. O seu glamoroso "optimismo", agora furioso com os franceses, é um bálsamo divertido para suportar o gongorismo de Freitas do Amaral, o arcadismo de Oliveira Martins ou, no limite, o fundamentalismo constitucionalista de Durão Barroso que aparentemente continua a não querer ver o que é evidente. Vale a pena ler o seu texto " a quente" no Causa Nossa. E vale a pena imaginar, daqui a uns meses, o que será um debate "pró-sim" entre, quem sabe, Vitorino, Marcelo e a própria Ana Gomes. Já li e vi muita coisa sobre o "29 de Maio". Talvez o melhor seja o pequeno texto de Luís Salgado Matos no Público, Os Novos Pobres (sem link), seguramente pensado "a frio". O processo de elaboração da "Constituição" europeia é o melhor exemplo do aumento do défice democrático: foi votada numa assembleia de "ancien régime", nomeada - quando a tradição constitucional europeia exige assembleias eleitas -, será ratificada por parlamentos nacionais, na ordem do dia corrente, entre a regulamentação das praias perigosas e a adaptação da rede dos jardins infantis à queda da taxa de natalidade. A elite tem agora que consultar a massa - que hoje segue os seus dirigentes menos do que ontem porque vê o célebre Modelo Social Europeu a desfazer-se sobre as marteladas globalizadoras. É a globalização que acentua aquela cisão entre a elite e a massa. A globalização é o aumento do comércio livre. É um novo passo na infindável revolução burguesa. Se gera novos ricos, faz nascer novos pobres. É a eles que por certo se refere D. José Policarpo quando no sermão do Corpo de Deus salientou as "condições aviltantes e a pobreza envergonhada" existentes em Lisboa. E na Europa, acrescentemos. Esta miséria material é envolta numa miséria moral bem mais terrível. A Europa tem medo. Medo dos imigrantes, do desemprego, do crime, do vizinho, do futuro. Se os sistemas políticos se deixarem deslegitimar pela cisão entre patrícios e plebeus, de um momento para o outro, a crise assumirá uma gravidade insuspeita. Como dizia um amigo, numa "sms" de ontem: seria engraçado ver alguns epígonos do "sim" a trabalhar numa fábrica de volantes de automóveis e a acordar todos os dias com o espectro de o patrão os mandar para a Roménia.
Sem comentários:
Enviar um comentário