Paul Ricoeur, um dos grandes filósofos do século XX, agora desaparecido, questionou, entre outras coisas, o papel da "consciência" como estando na base do célebre "sujeito" estudado pela filosofia tradicional, com paragem obrigatória, por exemplo, em Descartes ou em Kant. Chamou a Marx, Nietzsche e Freud, os "mestres da suspeita". Com eles, explicou Ricoeur, deu-se início à discussão sobre o "sujeito fundador","central" e "consciente" inventado pela metafísica, o "velho" sujeito senhor de si e do mundo. Marx, Nietzsche e Freud, ao trazerem para o debate um sujeito dobrado pela sociedade, pela história e pelo inconsciente, respectivamente, inauguraram uma "outra" prática filosófica, marcada pela suspeita, na qual nada pode ser tomado como definitivo e onde a contingência, a dúvida e a incerteza são as "regras" possíveis. Cristão, e ele próprio "sujeito" da história, Paul Ricoeur fica como uma das mais lúcidas vozes do pensamento contemporâneo - indispensáveis os seus contributos recentes sobre a justiça e sobre "o justo", a propósito de casos judiciais conhecidos - justamente quando o "pensamento" passa por um período de ocaso e de infantilização.
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