14.5.05

A ESPIRAL

A semana passada, o "painel" de "popularidade" dos políticos no activo do jornal Expresso, revelava que os portugueses se tinham aparentemente reconciliado com eles, todos. Não houve comentador oficioso que não desse graças por tamanha felicidade. Parecia que a remoção de Santana Lopes tinha operado um milagre e reconciliado a pátria com a política. O sossego, porém, não durou três dias úteis. A sublime aliança da comunicação social com a investigação criminal deu cabo dele num abrir e fechar de olhos. De dia para dia surgem cada vez mais políticos com a honra perdida por detrás de um sobreiro abatido. Até agora só os marginais PC e BE escapam. Não enxergo razões para tanta agitação. De há muito se sabia que as fronteiras entre as secções partidárias, os escritórios de advocacia e as empresas de serviços, designadamente financeiros, ou da construção civil, eram ténues. Era cada vez mais díficil entender onde acabavam umas e começavam os outros. Como esta promiscuidade é genuinamente democrática - toca praticamente a todos -, o mais natural é que a montanha venha a parir um rato. Para além disso, convém sempre recordar, toda a gente é inocente até prova em contrário. O pior, contudo, são os "sinais". Neste contexto, não vale a pena voltar à contabilidade, como propôs o ministro das Finanças. As crianças deprimidas tendem a comer mais chocolates. As "famílias", desconfiadas e razoavelmente fartas destes "sinais", "vingam-se" no consumo. Infernal como sempre, a espiral está de volta.

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