O DR. PEDRO ROSETA
Esplendidamente cândido, o Ministro da Cultura disse ontem em Coimbra o seguinte: "só irei cumprir este mandato", e mais adiante, "interrogado sobre se está disposto a desempenhar até ao fim o seu actual cargo, o ministro respondeu afirmativamente. "Se o sr. primeiro-ministro quiser. Posso acabar já amanhã". Depois, a propósito dos dinheiros, referiu que "estamos a pagar os esbanjamentos dos outros ministros".
Eu - já o disse- simpatizo com Pedro Roseta. É um homem bom, generoso e culto. Percebe-se diariamente o incómodo que lhe causa a pasta que o Dr. Barroso lhe decidiu outorgar. A cultura necessita de uma outra ambição e de um outro desígnio, e é grave que um governo de maioria não perceba isto. Quando Roseta menciona os "esbanjamentos" anteriores, não pode ignorar o estado praticamente letárgico em que todos os sectores do seu Ministério se encontram. A plataforma custo/ benefício, como programa, não faz decididamente uma política. Reduzir tudo, mesmo nestes tempos difíceis, ao dogma contabilístico e à pura intendência, é menorizar a missão da instituição que dirige. Das duas uma: ou o Estado quer continuar a intervir na área cultural, como tutela, e dota o sector com a dignidade orçamental mínima adequada a uma ambição e a um programa "políticos", induzindo simultaneamente parcerias e mecenatos, ou deixa que o sector seja absorvido pela famigerada "sociedade civil" que, entre nós e nesta matéria, salvo honrosas excepções, tem a dimensão mental de um rato.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
30.6.03
A GUERRA
Foi-me anunciado um novo blogue, de seu nome Guerra Civil Espanhola que tem em vista a recolha de recursos vários, o ponto de contacto entre interessados/as sobre este período histórico e a posterior construção de um arquivo digital mais consistente. Trata-se efectivamente de um dos períodos mais interessantes da história de Espanha e da Europa no século XX, muito dado a equívocos dramáticos. Deu pano para mangas a muitos e famosos escritores, a maior parte dos quais alinhados nas trincheiras anti-franquistas. Hemingway, Malraux, Orwell, Bernanos e outros, escreveram romances conhecidos acerca do conflito, e muitos perceberam in loco que os republicanos também tinham abundantes e sanguinários "pés-de-barro". Por isso, e se ainda o não fizeram, eu aconselho os autores do blogue a ler a obra de Hugh Thomas sobre a guerra civil espanhola que se encontra traduzida pela Ulisseia, salvo erro, em dois volumes.
Foi-me anunciado um novo blogue, de seu nome Guerra Civil Espanhola que tem em vista a recolha de recursos vários, o ponto de contacto entre interessados/as sobre este período histórico e a posterior construção de um arquivo digital mais consistente. Trata-se efectivamente de um dos períodos mais interessantes da história de Espanha e da Europa no século XX, muito dado a equívocos dramáticos. Deu pano para mangas a muitos e famosos escritores, a maior parte dos quais alinhados nas trincheiras anti-franquistas. Hemingway, Malraux, Orwell, Bernanos e outros, escreveram romances conhecidos acerca do conflito, e muitos perceberam in loco que os republicanos também tinham abundantes e sanguinários "pés-de-barro". Por isso, e se ainda o não fizeram, eu aconselho os autores do blogue a ler a obra de Hugh Thomas sobre a guerra civil espanhola que se encontra traduzida pela Ulisseia, salvo erro, em dois volumes.
O ANEL DA CULTURA
Leio e ouço que, para presidir ao novo Instituto das Artes, o novo produto fundido entre o Instituto Português das Artes do Espectáculo (IPAE) e o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), foi escolhido o Dr. Paulo Cunha e Silva que, de entre outros méritos constantes dos dados fornecidos oficialmente, fez parte duma comissão de honra que apoiou o Dr. Ferro Rodrigues na liderança do PS. É curioso que a "fonte oficial" se tenha lembrado disto agora, pois não se descortina relação entre as funções que vai desempenhar e aquela atitude cívica. É como quem diz: "este não é dos "nossos", mas, nós, magnânimos e alheios a quaisquer interesses partidários, lá o nomeamos". Cunha e Silva, como bem nos lembramos, foi dos poucos a defender esta fusão, e antes disto, já tinha passado pela Porto 2001 como responsável pelos Projectos Transversais. É médico e professor na Faculdade de Motricidade Humana do Porto.
Cunha e Silva vai chefiar um Instituto que ainda não tem lei orgânica aprovada e, numa pequena entrevista de rádio que ouvi no carro, já perorou acerca dos subsídios e do orçamento, naturalmente preocupado. Tem motivos de sobra para isso. O IPAE ainda não atribuiu os subsídios aos candidatos aos ditos, na dança ou no teatro, porque não tem dinheiro. Do IAC pouco sei. Ele, porém, que repouse. A famosa "mão invisível" da "gestão flexível" do gabinete do Ministro da Cultura erguer-se-á na altura adequada. Nem que seja para dar uma machadada.
Leio e ouço que, para presidir ao novo Instituto das Artes, o novo produto fundido entre o Instituto Português das Artes do Espectáculo (IPAE) e o Instituto de Arte Contemporânea (IAC), foi escolhido o Dr. Paulo Cunha e Silva que, de entre outros méritos constantes dos dados fornecidos oficialmente, fez parte duma comissão de honra que apoiou o Dr. Ferro Rodrigues na liderança do PS. É curioso que a "fonte oficial" se tenha lembrado disto agora, pois não se descortina relação entre as funções que vai desempenhar e aquela atitude cívica. É como quem diz: "este não é dos "nossos", mas, nós, magnânimos e alheios a quaisquer interesses partidários, lá o nomeamos". Cunha e Silva, como bem nos lembramos, foi dos poucos a defender esta fusão, e antes disto, já tinha passado pela Porto 2001 como responsável pelos Projectos Transversais. É médico e professor na Faculdade de Motricidade Humana do Porto.
Cunha e Silva vai chefiar um Instituto que ainda não tem lei orgânica aprovada e, numa pequena entrevista de rádio que ouvi no carro, já perorou acerca dos subsídios e do orçamento, naturalmente preocupado. Tem motivos de sobra para isso. O IPAE ainda não atribuiu os subsídios aos candidatos aos ditos, na dança ou no teatro, porque não tem dinheiro. Do IAC pouco sei. Ele, porém, que repouse. A famosa "mão invisível" da "gestão flexível" do gabinete do Ministro da Cultura erguer-se-á na altura adequada. Nem que seja para dar uma machadada.
O DR. LOUÇÃ
Diz-nos o JPP que "no Combate, órgão do PSR, o partido trotsquista membro do BE, António Louçã compara-me com Goebbels e propõe que eu seja julgado como Milosevic no Tribunal Penal Internacional pelas minhas opiniões sobre a guerra do Iraque. Não é metafórico, nem blague, é mesmo a sério – se ele pudesse prendia-me."
O Dr. Louçã é uma daquelas figuras da extrema-esquerda portuguesa que, tendo algum brilho, faz nele convergir as piores heranças pátrias, com uma raríssima habilidade: é um misto de sacristão, com laivos de inquisidor, e de moralista profético. Não chega a ser verdadeiramente perigoso, mas o seu pequeno grupo de amigos insinua-se demasiado bem por entre os escombros do PC e as presentes angústias do PS. O que me espanta é ver pessoas que eu reputo de lúcidas "acharem graça" a esta rapaziada do BE. A Esquerda que não se ponha a pau, e o sacristão ainda sobe a pároco da aldeia.
Diz-nos o JPP que "no Combate, órgão do PSR, o partido trotsquista membro do BE, António Louçã compara-me com Goebbels e propõe que eu seja julgado como Milosevic no Tribunal Penal Internacional pelas minhas opiniões sobre a guerra do Iraque. Não é metafórico, nem blague, é mesmo a sério – se ele pudesse prendia-me."
O Dr. Louçã é uma daquelas figuras da extrema-esquerda portuguesa que, tendo algum brilho, faz nele convergir as piores heranças pátrias, com uma raríssima habilidade: é um misto de sacristão, com laivos de inquisidor, e de moralista profético. Não chega a ser verdadeiramente perigoso, mas o seu pequeno grupo de amigos insinua-se demasiado bem por entre os escombros do PC e as presentes angústias do PS. O que me espanta é ver pessoas que eu reputo de lúcidas "acharem graça" a esta rapaziada do BE. A Esquerda que não se ponha a pau, e o sacristão ainda sobe a pároco da aldeia.
ADIVINHA QUEM VEM JANTAR
Não é do jantar de Sampaio com Ferro ontem à noite em Belém que venho falar. Outro dia, com mais calma, trataremos disto. É que, brusca e tranquilamente, neste Verão, desapareceu Katherine Hepburn, aos 96 anos. Ela dizia que oscilava entre o céu e o inferno, sem que verdadeiramente tivesse entrado em nenhum deles ou sofrido as respectivas danações ou salvações. Era uma senhora eternamente apaixonada pelo colega Spencer Tracy, católico, que nunca deixou a mulher por ela. Foi assim até ao fim. Eu vi muitas fitas com Hepburn, mas recordo sempre a incontornável Mrs. Violet Venable, de Bruscamente no Verão Passado, de Joseph Mankiewicz, com argumento de Gore Vidal, baseado na peça homónima de Tenessee Williams.Há para aí em dvd. Imperdível.
Não é do jantar de Sampaio com Ferro ontem à noite em Belém que venho falar. Outro dia, com mais calma, trataremos disto. É que, brusca e tranquilamente, neste Verão, desapareceu Katherine Hepburn, aos 96 anos. Ela dizia que oscilava entre o céu e o inferno, sem que verdadeiramente tivesse entrado em nenhum deles ou sofrido as respectivas danações ou salvações. Era uma senhora eternamente apaixonada pelo colega Spencer Tracy, católico, que nunca deixou a mulher por ela. Foi assim até ao fim. Eu vi muitas fitas com Hepburn, mas recordo sempre a incontornável Mrs. Violet Venable, de Bruscamente no Verão Passado, de Joseph Mankiewicz, com argumento de Gore Vidal, baseado na peça homónima de Tenessee Williams.Há para aí em dvd. Imperdível.
29.6.03
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Como é domingo, há mais tempo para deambular pela "blogosfera". Dei da caras com o último post do Mar Salgado, acerca do "Sexo e a Política", com base num artigo do "Spectator" ali citado. São oportunas as reflexões produzidas. Aqui ficam.
SEXO E POLÍTICA: A Spectator publica este excelente artigo a propósito da atitude do Partido Conservador em relação à vida privada de um dos seus altos quadros. É um bom pretexto para discutir a relação entre Sexo e Política. Devem os partidos políticos ter opinião sobre os hábitos sexuais dos cidadãos ou dos seus militantes ? Um partido conservador deverá defender uma moral conservadora nestas matérias ou respeitar a liberdade de cada um ? Há uma atitude de esquerda ou de direita nestas questões ?
Pretender que ideologias ou partidos políticos regulamentem esta área tão íntima denuncia uma pulsão totalitária. O Estado (e os partidos políticos fazem parte do aparelho de Estado) deve manter-se afastado destas matérias, desde que salvaguardada a protecção de grupos que devem ser especialmente protegidos como as crianças. A tentação para intervir é grande: hoje em dia respira-se sexo por todo o lado - nos media, na publicidade, no trabalho e na rua. A posição correcta e liberal é a de defender o direito de cada cidadão a não ser incomodado por causa dos seus hábitos íntimos.
Graças a uma história caricata, o Partido Conservador inglês está numa encruzilhada: aceitar o facto da vida sexual ser um problema individual ou seguir na linha do infelizmente célebre back to basics de John Major. Em suma, ser um partido preparado para os dias de hoje ou manter um espírito reaccionário em que os ingleses não se revêem. É que, como se escreve no artigo, não é o sexo que incomoda os cidadãos, é a hipocrisia.
Comentário:
Sobre estas matérias, recomendei outro dia a leitura de Gore Vidal. Aliás, no seu vastíssimo livro de ensaios "United States", há um texto que se intitula precisamente "Sex is Politics", cuja leitura vivamente recomendo, apesar de ter sido escrito há mais de 20 anos.
Como é domingo, há mais tempo para deambular pela "blogosfera". Dei da caras com o último post do Mar Salgado, acerca do "Sexo e a Política", com base num artigo do "Spectator" ali citado. São oportunas as reflexões produzidas. Aqui ficam.
SEXO E POLÍTICA: A Spectator publica este excelente artigo a propósito da atitude do Partido Conservador em relação à vida privada de um dos seus altos quadros. É um bom pretexto para discutir a relação entre Sexo e Política. Devem os partidos políticos ter opinião sobre os hábitos sexuais dos cidadãos ou dos seus militantes ? Um partido conservador deverá defender uma moral conservadora nestas matérias ou respeitar a liberdade de cada um ? Há uma atitude de esquerda ou de direita nestas questões ?
Pretender que ideologias ou partidos políticos regulamentem esta área tão íntima denuncia uma pulsão totalitária. O Estado (e os partidos políticos fazem parte do aparelho de Estado) deve manter-se afastado destas matérias, desde que salvaguardada a protecção de grupos que devem ser especialmente protegidos como as crianças. A tentação para intervir é grande: hoje em dia respira-se sexo por todo o lado - nos media, na publicidade, no trabalho e na rua. A posição correcta e liberal é a de defender o direito de cada cidadão a não ser incomodado por causa dos seus hábitos íntimos.
Graças a uma história caricata, o Partido Conservador inglês está numa encruzilhada: aceitar o facto da vida sexual ser um problema individual ou seguir na linha do infelizmente célebre back to basics de John Major. Em suma, ser um partido preparado para os dias de hoje ou manter um espírito reaccionário em que os ingleses não se revêem. É que, como se escreve no artigo, não é o sexo que incomoda os cidadãos, é a hipocrisia.
Comentário:
Sobre estas matérias, recomendei outro dia a leitura de Gore Vidal. Aliás, no seu vastíssimo livro de ensaios "United States", há um texto que se intitula precisamente "Sex is Politics", cuja leitura vivamente recomendo, apesar de ter sido escrito há mais de 20 anos.
JOSÉ CARDOSO PIRES
Nelson de Matos, responsável pela Editora D. Quixote, tem hoje um belíssimo texto/retrato sobre Cardoso Pires. Aqui está uma prova de que há blogues que acrescentam algo de bom à nossa cinzenta atmosfera.
Nelson de Matos, responsável pela Editora D. Quixote, tem hoje um belíssimo texto/retrato sobre Cardoso Pires. Aqui está uma prova de que há blogues que acrescentam algo de bom à nossa cinzenta atmosfera.
FLORILÉGIO DOMINGUEIRO
Não nos andam de feição estes domingos de Verão. Farejo por perto a data do desaparecimento de David Mourão-Ferreira, em 1996. Não é a sua morte que quero lembrar hoje, mas a fulgurância escorreita da sua poesia, a sua imensa alegria de viver, a compreensão que as suas letras fazem da beleza e do que há de imaterial e improvável no encontro despojado de dois corpos que, por momentos, se amam.
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
Não nos andam de feição estes domingos de Verão. Farejo por perto a data do desaparecimento de David Mourão-Ferreira, em 1996. Não é a sua morte que quero lembrar hoje, mas a fulgurância escorreita da sua poesia, a sua imensa alegria de viver, a compreensão que as suas letras fazem da beleza e do que há de imaterial e improvável no encontro despojado de dois corpos que, por momentos, se amam.
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
PASSAGENS SEM NÍVEL
O domingo começou, perto de Barcelos, com mais duas mortes numa passagem de nível, dentro de um carro. Uma terceira vítima estará mais para lá do que para cá, no hospital. Anda por aí espalhada o "Portugal em acção", uma nova "griffe " oficial. Porém, quando vejo as discussões bizantinas em torno do aeroporto da OTA, quando me lembro de que são precisas horas intermináveis para chegar ao Algarve de comboio, quando sinto as reduções de velocidade nos Alfas Lisboa/Porto por causa das nunca mais reformáveis linhas e carris, tudo culminando nestas pequenas mas significativas tragédias em obscuras passagens de nível espalhadas por esse País "real", ocorem-me as palavras de Milan Kundera a propósito do comportamento "kitsch" dos chamados "responsáveis" pelas coisas públicas, "a necessidade do Kitsch do homem-kitsch (kitschmensch)": "é a necessidade de se olhar ao espelho da mentira que embeleza e de aí se reconhecer com uma satisfação enternecida".
O domingo começou, perto de Barcelos, com mais duas mortes numa passagem de nível, dentro de um carro. Uma terceira vítima estará mais para lá do que para cá, no hospital. Anda por aí espalhada o "Portugal em acção", uma nova "griffe " oficial. Porém, quando vejo as discussões bizantinas em torno do aeroporto da OTA, quando me lembro de que são precisas horas intermináveis para chegar ao Algarve de comboio, quando sinto as reduções de velocidade nos Alfas Lisboa/Porto por causa das nunca mais reformáveis linhas e carris, tudo culminando nestas pequenas mas significativas tragédias em obscuras passagens de nível espalhadas por esse País "real", ocorem-me as palavras de Milan Kundera a propósito do comportamento "kitsch" dos chamados "responsáveis" pelas coisas públicas, "a necessidade do Kitsch do homem-kitsch (kitschmensch)": "é a necessidade de se olhar ao espelho da mentira que embeleza e de aí se reconhecer com uma satisfação enternecida".
AUGUSTO GIL
Quando eu era pequeno, tipo aluno da primária, impingiam-nos a mais pirosa das poesias de Augusto Gil nos livros de leitura, de seu nome "A balada da neve". É muito conhecida pelo seu começo bucólico: "...batem leve, levemente, como quem chama por mim". Era o "pathos" possível. Poucos saberão, no entanto, que Gil era um pouco mais do que isto. Natália Correia, na sua "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" ( ed. Antígona), inclui aguns textos de Augusto Gil que configuram "composições inéditas de um autor muito popular" ( pág. 331). Aos fins de semana costumamos ser incomodados pelo buzinar compulsivo de carros e mais carros, com patéticas fitinhas brancas, que significam casamento. É em homenagem a um desses felizes enlaces que reproduzo este outro Augusto Gil (1873-1929):
NOITE DE NÚPCIAS
Enquanto despia o fraque
junto ao leito de noivado,
escapuliu-se-lhe um traque
de timbre aclarinetado...
A noiva olhou-o de lado,
e pôs-se, com ar basbaque,
a remirar o bordado
das botinas de duraque...
Houve, após esse momento,
naquela noite de gala,
um duplo constrangimento.
E o noivo disse-lhe então:
"Oh filha, cu que não fala
é cu sem opinião...."
Quando eu era pequeno, tipo aluno da primária, impingiam-nos a mais pirosa das poesias de Augusto Gil nos livros de leitura, de seu nome "A balada da neve". É muito conhecida pelo seu começo bucólico: "...batem leve, levemente, como quem chama por mim". Era o "pathos" possível. Poucos saberão, no entanto, que Gil era um pouco mais do que isto. Natália Correia, na sua "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" ( ed. Antígona), inclui aguns textos de Augusto Gil que configuram "composições inéditas de um autor muito popular" ( pág. 331). Aos fins de semana costumamos ser incomodados pelo buzinar compulsivo de carros e mais carros, com patéticas fitinhas brancas, que significam casamento. É em homenagem a um desses felizes enlaces que reproduzo este outro Augusto Gil (1873-1929):
NOITE DE NÚPCIAS
Enquanto despia o fraque
junto ao leito de noivado,
escapuliu-se-lhe um traque
de timbre aclarinetado...
A noiva olhou-o de lado,
e pôs-se, com ar basbaque,
a remirar o bordado
das botinas de duraque...
Houve, após esse momento,
naquela noite de gala,
um duplo constrangimento.
E o noivo disse-lhe então:
"Oh filha, cu que não fala
é cu sem opinião...."
28.6.03
PEDRO SANTANA LOPES
Em 1974, no último debate televisivo entre Giscard D' Estaing e François Mitterrand, na campanha eleitoral para a Presidência da República, Mitterrand, a dada altura, disse a Giscard que a política era igualmente "un affair du coeur". Giscard, impassível, devolveu-lhe uma frase impiedosa que, dizia-se na altura, terá contribuído para a derrota de Mitterrand: "o senhor não tem o monopólio do coração". Pois hoje, no DNA do Diário de Notícias, Pedro Santana Lopes que aprendeu a lição, disserta abundantemente sobre a (sua) chamada vida pessoal e os seus pequenos e grandes "affairs du coeur". Mesmo nas partes mais " políticas" da entrevista, é tudo a puxar ao intimismo e ao sentimento. Santana Lopes sabe-a toda. Digo isto com o à vontade de quem o apoiou na candidatura à Cãmara de Lisboa e de quem considera que ele foi o verdadeiro impulsionador da vitória de Barroso em Março de 2002. Nunca simpatizei com a arrogância "esquerda caviar" de João Soares e achei que era preciso, na altura, sacudir a Pátria através das eleições autárquicas. Também me irritou aquele trôpego frentismo anti-fascista de circunstância que se reuniu contra Lopes. Dito isto, e voltando à dita entrevista, Lopes, o sedutor, prepara obviamente uma candidatura a Belém. Esta conversa "estilo misto Barbara Cartland e Corin Tellado" não tem outro propósito. Eu, como não votei nele para ser candidato a Belém, estou preocupado, e em dose dupla. Primeiro, porque espero e reclamo obra em Lisboa. Em segundo lugar, porque, se o registo aventureiro, de ruptura e politicamente atípico de PSL pode ser útil na gestão de uma estrutura pesada e conservadora como é a organização da CML, tenho as maiores dúvidas de que esse seja o registo que a Pátria mais gosta de ver em Belém. Estranho que a enorme intuição política de Lopes - talvez o caso mais sério, à direita, depois de Mário Soares - não lhe tenha cochichado que começou muito cedo nesta caminhada. Para Belém, os tempos contam e muito. Os dados que, sobre esta matéria, constam de um estudo publicado no Expresso - e que valem o que valem- demonstram isso mesmo e sossegam-nos relativamente. Era bom que PSL fizesse boa obra em Lisboa e que se recandidatasse por ela.
Em 1974, no último debate televisivo entre Giscard D' Estaing e François Mitterrand, na campanha eleitoral para a Presidência da República, Mitterrand, a dada altura, disse a Giscard que a política era igualmente "un affair du coeur". Giscard, impassível, devolveu-lhe uma frase impiedosa que, dizia-se na altura, terá contribuído para a derrota de Mitterrand: "o senhor não tem o monopólio do coração". Pois hoje, no DNA do Diário de Notícias, Pedro Santana Lopes que aprendeu a lição, disserta abundantemente sobre a (sua) chamada vida pessoal e os seus pequenos e grandes "affairs du coeur". Mesmo nas partes mais " políticas" da entrevista, é tudo a puxar ao intimismo e ao sentimento. Santana Lopes sabe-a toda. Digo isto com o à vontade de quem o apoiou na candidatura à Cãmara de Lisboa e de quem considera que ele foi o verdadeiro impulsionador da vitória de Barroso em Março de 2002. Nunca simpatizei com a arrogância "esquerda caviar" de João Soares e achei que era preciso, na altura, sacudir a Pátria através das eleições autárquicas. Também me irritou aquele trôpego frentismo anti-fascista de circunstância que se reuniu contra Lopes. Dito isto, e voltando à dita entrevista, Lopes, o sedutor, prepara obviamente uma candidatura a Belém. Esta conversa "estilo misto Barbara Cartland e Corin Tellado" não tem outro propósito. Eu, como não votei nele para ser candidato a Belém, estou preocupado, e em dose dupla. Primeiro, porque espero e reclamo obra em Lisboa. Em segundo lugar, porque, se o registo aventureiro, de ruptura e politicamente atípico de PSL pode ser útil na gestão de uma estrutura pesada e conservadora como é a organização da CML, tenho as maiores dúvidas de que esse seja o registo que a Pátria mais gosta de ver em Belém. Estranho que a enorme intuição política de Lopes - talvez o caso mais sério, à direita, depois de Mário Soares - não lhe tenha cochichado que começou muito cedo nesta caminhada. Para Belém, os tempos contam e muito. Os dados que, sobre esta matéria, constam de um estudo publicado no Expresso - e que valem o que valem- demonstram isso mesmo e sossegam-nos relativamente. Era bom que PSL fizesse boa obra em Lisboa e que se recandidatasse por ela.
PIPI SUPERSTAR
Na edição de hoje do Expresso, mais propriamente na Única, o Meu Pipi dá uma entrevista. Ficamos a saber, diz ele, que, "quando escrevo para o outro blog planifico, releio, dou importância, enquanto para O Meu Pipi é diferente: em geral parto de uma ideia prévia, mas aquilo vai saindo, umas teorias atrás das outras". Qual é o heterónimo "planificado" do Pipi?
Na edição de hoje do Expresso, mais propriamente na Única, o Meu Pipi dá uma entrevista. Ficamos a saber, diz ele, que, "quando escrevo para o outro blog planifico, releio, dou importância, enquanto para O Meu Pipi é diferente: em geral parto de uma ideia prévia, mas aquilo vai saindo, umas teorias atrás das outras". Qual é o heterónimo "planificado" do Pipi?
27.6.03
O ANONIMATO II
Tenho dedicado muitos posts à cultura. Estive fugazmente ligado à dita, no sentido institucional do termo, na direcção de um teatro nacional, o de São Carlos. Demiti-me do cargo em Abril último por razões que expliquei numa carta dirigida ao Ministro da Cultura e que foi, na altura, mais ou menos publicitada. Ou seja: eles conhecem-me e eu conheço-os. Seria torpe da minha parte, andar para aqui a escrever sobre o Teatro e o estado da cultura em regime anónimo. Seguindo a boa doutrina do ex-administrador da Casa da Música do Porto, Dr. Rui Amaral, primeiro saímos, e, depois criticamos, se nos aprouver.. Mas também não é propósito destas escritas "reformar" a cultura ou o teatro de ópera em Portugal. Não sou candidato a profeta. Porém, gosto o suficiente de uma e do outro, para que lhe dedique bastante atenção, no meio de muitas outras coisas...assinando em baixo.
Tenho dedicado muitos posts à cultura. Estive fugazmente ligado à dita, no sentido institucional do termo, na direcção de um teatro nacional, o de São Carlos. Demiti-me do cargo em Abril último por razões que expliquei numa carta dirigida ao Ministro da Cultura e que foi, na altura, mais ou menos publicitada. Ou seja: eles conhecem-me e eu conheço-os. Seria torpe da minha parte, andar para aqui a escrever sobre o Teatro e o estado da cultura em regime anónimo. Seguindo a boa doutrina do ex-administrador da Casa da Música do Porto, Dr. Rui Amaral, primeiro saímos, e, depois criticamos, se nos aprouver.. Mas também não é propósito destas escritas "reformar" a cultura ou o teatro de ópera em Portugal. Não sou candidato a profeta. Porém, gosto o suficiente de uma e do outro, para que lhe dedique bastante atenção, no meio de muitas outras coisas...assinando em baixo.
O ANONIMATO
O Guerra e Pás colocou um post que levanta uma questão interessante, pelo que, com a sua licença virtual, o repito:
"O Nélson de Matos fala de uma questão que eu julgava que nos ia passar ao lado, a do anonimato. Diz ele que não gosta de blogs anónimos, e eu acho que há mais argumentos a favor da sua posição que da minha, que até mantenho um! Mas eu defendo os blogs anónimos.
Tentarei explicar-me.
Num blog anónimo há liberdades e libertinagens impossíveis num blog assumido – para já a imunidade parlamentar funciona e num país tão litigante ( e sei bem do que falo) e com juizes tão curiosos, nunca se sabe se não malhamos com os costaços na pildra por qualquer coisa escrita in the heat de um moment qualquer. Depois, imagine-se que um dos famosos que por aqui anda embirra com alguém que dá o nome. Num país tão pequeno e tão mesquinho, a falta de fairplay pode significar um emprego, uma carreira universitária (e sei bem do que falo). Mas estes estão longe de ser os argumentos, embora não sejam dispiciendos. O argumento é de natureza literária, ou se quiser, de natureza autoral. Em abstracto que nos interessa a identidade de um criador se a criação nos agrada? Sei que o NM é amigo e admirador (como eu) de Lobo Antunes, mas se não o conhecesse não admiria a sua obra na mesma? Não é ele um admirável escritor?
Sabe muito melhor que eu que a esmagadora maioria dos criadores maiores do nosso mundo eram gente abjecta no íntimo dos seus lares. Freud nem ligava à mulher, Jung enganava a dele, dois filhos de Bing Crosby suicidaram-se, etc (não há aqui nenhum salto lógico a partir de Lobo Antunes, obviamente).
Há um excesso de protagonismo autoral no mundo lá de fora – a nossa sede de ídolos e a humanização forçada de escritores, músicos, actores, distorce a nossa apreciação sobre eles - quem sabe se eu não gostaria mais de Saramago se não embirrasse com ele?
Finalmente, e a questão está longe de estar esgotada, há saberes aqui na blogolândia que são partilha. E por serem partilhados anonimamente, funcionam como a pessoa de que nunca soubemos o nome que chamou a ambulância quando tivemos o acidente, ou, mais comum, que nos indica o caminho na estrada. Há partilha, não há nomes."
Comentários:
1. É pertinente a observação de que, sendo isto a "pequena caixa de fósforos" que conhecemos, em que todos roçamos mais ou menos todos uns pelos outros, a identificação pode ter o efeito perverso de conotar o autor com posições política ou outra "coisamente" incorrectas, que lhe podem causar dissabores, num País onde a inveja e o ressentimento andam quase sempre de mão dada com a falta de sentido de humor e a pura ignorância;
2. Por outro lado, é saudável, visto do lado liberal, democrático e ironista em que me coloco, dar um "nome à coisa", dar o "meu" nome à coisa escrita, sem subterfúgios, não por vontade de exibição gratuita ou de crítica dirigida, mas porque assim posso testar - se bem que não esteja aqui para testar o que quer que seja - a maturidade cívica e intelectual dos meus putativos interlocutores, mesmo que eu nunca venha a saber quem eles são;
3. Na perspectiva em que sempre me coloco, nesta "blogomania" podem conviver saberes partilhados com ou sem nomes, em que alguns de entre eles me ajudam a "redescrever" o meu próprio vocabulário e as minhas próprias convicções, sendo que todos representam, de alguma forma, a apoteose da contingência, no sentido que Richard Rorty atribui a estas designações;
4. Finalmente, agrada-me a ideia de poder falar aqui livremente do que me interessa ou interessou: um livro, um discurso, um poema, uma reportagem, uma opinião, uma pessoa, uma situação, para poder dizer, se me apetecer e quando me apetecer, como no magnífico e já longínquo filme de Antonioni, " A identificação de uma mulher", "tu não és a minha norma".
O Guerra e Pás colocou um post que levanta uma questão interessante, pelo que, com a sua licença virtual, o repito:
"O Nélson de Matos fala de uma questão que eu julgava que nos ia passar ao lado, a do anonimato. Diz ele que não gosta de blogs anónimos, e eu acho que há mais argumentos a favor da sua posição que da minha, que até mantenho um! Mas eu defendo os blogs anónimos.
Tentarei explicar-me.
Num blog anónimo há liberdades e libertinagens impossíveis num blog assumido – para já a imunidade parlamentar funciona e num país tão litigante ( e sei bem do que falo) e com juizes tão curiosos, nunca se sabe se não malhamos com os costaços na pildra por qualquer coisa escrita in the heat de um moment qualquer. Depois, imagine-se que um dos famosos que por aqui anda embirra com alguém que dá o nome. Num país tão pequeno e tão mesquinho, a falta de fairplay pode significar um emprego, uma carreira universitária (e sei bem do que falo). Mas estes estão longe de ser os argumentos, embora não sejam dispiciendos. O argumento é de natureza literária, ou se quiser, de natureza autoral. Em abstracto que nos interessa a identidade de um criador se a criação nos agrada? Sei que o NM é amigo e admirador (como eu) de Lobo Antunes, mas se não o conhecesse não admiria a sua obra na mesma? Não é ele um admirável escritor?
Sabe muito melhor que eu que a esmagadora maioria dos criadores maiores do nosso mundo eram gente abjecta no íntimo dos seus lares. Freud nem ligava à mulher, Jung enganava a dele, dois filhos de Bing Crosby suicidaram-se, etc (não há aqui nenhum salto lógico a partir de Lobo Antunes, obviamente).
Há um excesso de protagonismo autoral no mundo lá de fora – a nossa sede de ídolos e a humanização forçada de escritores, músicos, actores, distorce a nossa apreciação sobre eles - quem sabe se eu não gostaria mais de Saramago se não embirrasse com ele?
Finalmente, e a questão está longe de estar esgotada, há saberes aqui na blogolândia que são partilha. E por serem partilhados anonimamente, funcionam como a pessoa de que nunca soubemos o nome que chamou a ambulância quando tivemos o acidente, ou, mais comum, que nos indica o caminho na estrada. Há partilha, não há nomes."
Comentários:
1. É pertinente a observação de que, sendo isto a "pequena caixa de fósforos" que conhecemos, em que todos roçamos mais ou menos todos uns pelos outros, a identificação pode ter o efeito perverso de conotar o autor com posições política ou outra "coisamente" incorrectas, que lhe podem causar dissabores, num País onde a inveja e o ressentimento andam quase sempre de mão dada com a falta de sentido de humor e a pura ignorância;
2. Por outro lado, é saudável, visto do lado liberal, democrático e ironista em que me coloco, dar um "nome à coisa", dar o "meu" nome à coisa escrita, sem subterfúgios, não por vontade de exibição gratuita ou de crítica dirigida, mas porque assim posso testar - se bem que não esteja aqui para testar o que quer que seja - a maturidade cívica e intelectual dos meus putativos interlocutores, mesmo que eu nunca venha a saber quem eles são;
3. Na perspectiva em que sempre me coloco, nesta "blogomania" podem conviver saberes partilhados com ou sem nomes, em que alguns de entre eles me ajudam a "redescrever" o meu próprio vocabulário e as minhas próprias convicções, sendo que todos representam, de alguma forma, a apoteose da contingência, no sentido que Richard Rorty atribui a estas designações;
4. Finalmente, agrada-me a ideia de poder falar aqui livremente do que me interessa ou interessou: um livro, um discurso, um poema, uma reportagem, uma opinião, uma pessoa, uma situação, para poder dizer, se me apetecer e quando me apetecer, como no magnífico e já longínquo filme de Antonioni, " A identificação de uma mulher", "tu não és a minha norma".
A FALTA II
No anterior post, falei em cerca de 50 deputados que seriam candidatos à falta injustificada. Afinal são só 30, mas até podia ser um só. Li algures que, por exemplo, o Sr. Alberto Martins, deputado do PS, acha que foi a Sevlha em - imagine-se - "trabalho político" e quer que Mota Amaral lhe releve a falta. A dele e as do resto do grupo excursionista. Que eu saiba, a não ser o Sr. Pinto da Costa, ninguém lhes pediu para ir, e muito menos em representação política. De quem? Do FCP?
No anterior post, falei em cerca de 50 deputados que seriam candidatos à falta injustificada. Afinal são só 30, mas até podia ser um só. Li algures que, por exemplo, o Sr. Alberto Martins, deputado do PS, acha que foi a Sevlha em - imagine-se - "trabalho político" e quer que Mota Amaral lhe releve a falta. A dele e as do resto do grupo excursionista. Que eu saiba, a não ser o Sr. Pinto da Costa, ninguém lhes pediu para ir, e muito menos em representação política. De quem? Do FCP?
A FALTA
Quando ainda era politicamente imberbe e tinha acabado de aderir ao PSD, participei num jantar de homenagem ao então presidente do Governo Regional dos Açores, João Bosco Mota Amaral, na antiga FIL, num tempo em que havia "tendências" dentro da seita. Nessa altura mandava o saudoso Mota Pinto e preparava-se um congresso, no qual, se bem me lembro, Mota Amaral era apoiado por Balsemão, inclusivé para eventual candidato a Belém. Passaram estes anos todos, Balsemão tornou-se uma irrelevância política - mais tarde percebi que antes disso já o era - e Mota Amaral chegou, não a primeira, mas a segunda figura do Estado desde o ano passado. Recebi-o várias vezes no Teatro Nacional de São Carlos, de que é assíduo frequentador, mesmo antes de exercer as funções de Presidente da AR. É um homem amável, educado e com sentido da coisa pública. Por estes dias, decidiu que os deputados que foram a Sevilha assistir a uma final qualquer de futebol em que participava o FCP do Sr. Pinto da Costa, deveriam ter falta injustificada. Muito bem feito. Apesar de sabermos que a Pátria se confunde praticamente com futebol, e, este ano em particular, com o FCP, nada justifica esta saloia excursão de deputados, para aí uns 50, a que também se associaram o PM e o PR.Há dias fui a Espanha ver ópera, e meti dois honestos dias de férias. Para estas coisas, o "centrão" PSD/PS, seguramente com "o bracinho direito de Portugal" a ajudar, já está a funcionar,contra a posição de Mota Amaral. Não ceda, só lhe fica bem.
Quando ainda era politicamente imberbe e tinha acabado de aderir ao PSD, participei num jantar de homenagem ao então presidente do Governo Regional dos Açores, João Bosco Mota Amaral, na antiga FIL, num tempo em que havia "tendências" dentro da seita. Nessa altura mandava o saudoso Mota Pinto e preparava-se um congresso, no qual, se bem me lembro, Mota Amaral era apoiado por Balsemão, inclusivé para eventual candidato a Belém. Passaram estes anos todos, Balsemão tornou-se uma irrelevância política - mais tarde percebi que antes disso já o era - e Mota Amaral chegou, não a primeira, mas a segunda figura do Estado desde o ano passado. Recebi-o várias vezes no Teatro Nacional de São Carlos, de que é assíduo frequentador, mesmo antes de exercer as funções de Presidente da AR. É um homem amável, educado e com sentido da coisa pública. Por estes dias, decidiu que os deputados que foram a Sevilha assistir a uma final qualquer de futebol em que participava o FCP do Sr. Pinto da Costa, deveriam ter falta injustificada. Muito bem feito. Apesar de sabermos que a Pátria se confunde praticamente com futebol, e, este ano em particular, com o FCP, nada justifica esta saloia excursão de deputados, para aí uns 50, a que também se associaram o PM e o PR.Há dias fui a Espanha ver ópera, e meti dois honestos dias de férias. Para estas coisas, o "centrão" PSD/PS, seguramente com "o bracinho direito de Portugal" a ajudar, já está a funcionar,contra a posição de Mota Amaral. Não ceda, só lhe fica bem.
ONZE
É o número médio de livros lidos no País, por ano, e por cabeça, segundo um estudo citado no Diário de Notícias e encomendado pela APEL. O desprezo indígena pela leitura já não é um dado novo. Os nossos índices de iliteracia também não. A profunda incultura e, em muitos casos, a imensa ignorância da nossa população universtária, é um dado infeliz, praticamente pacífico. O facto de não sermos propriamente nem ricos nem muito desenvolvidos, não tinha fatalmente de nos conduzir à indigência cultural. O êxito de vendas que conhece a "literatura das tias", tipo não sei quê Lopo de Carvalho ou Rebelo Pinto, diz quase tudo acerca da questão. É pedagógico, por exemplo, que todos os domingos Marcelo Rebelo de Sousa incite à leitura com uma mão cheia de livros. O problema é que mistura, às vezes, livros com lixo, indistintamente, e isso não ajuda nada ao caso. O prazer da leitura exige uma aprendizagem e uma vontade, é um gosto e um gozo que se adquirem, ou não. Saudando a tradução de Pedro Tamen do primeiro tomo da "Recherche" de Proust, aqui deixo um excerto das "Journées de Lecture" do mesmo Proust, numa tradução da Editorial Teorema:
"A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. É além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, são estéreis e cansativas. (...) Na leitura, a amizade ésubitamente reduzida à sua primeira pureza. Com os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serãocom eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas vezes só os deixamos a contagosto."
É o número médio de livros lidos no País, por ano, e por cabeça, segundo um estudo citado no Diário de Notícias e encomendado pela APEL. O desprezo indígena pela leitura já não é um dado novo. Os nossos índices de iliteracia também não. A profunda incultura e, em muitos casos, a imensa ignorância da nossa população universtária, é um dado infeliz, praticamente pacífico. O facto de não sermos propriamente nem ricos nem muito desenvolvidos, não tinha fatalmente de nos conduzir à indigência cultural. O êxito de vendas que conhece a "literatura das tias", tipo não sei quê Lopo de Carvalho ou Rebelo Pinto, diz quase tudo acerca da questão. É pedagógico, por exemplo, que todos os domingos Marcelo Rebelo de Sousa incite à leitura com uma mão cheia de livros. O problema é que mistura, às vezes, livros com lixo, indistintamente, e isso não ajuda nada ao caso. O prazer da leitura exige uma aprendizagem e uma vontade, é um gosto e um gozo que se adquirem, ou não. Saudando a tradução de Pedro Tamen do primeiro tomo da "Recherche" de Proust, aqui deixo um excerto das "Journées de Lecture" do mesmo Proust, numa tradução da Editorial Teorema:
"A amizade, a amizade que diz respeito aos indivíduos, é sem dúvida uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de ela se dirigir a um morto, a uma pessoa ausente, confere-lhe algo de desinteressado, de quase tocante. É além disso uma amizade liberta de tudo quanto constitui a fealdade dos outros. Como não passamos todos, nós os vivos, de mortos que ainda não entraram em funções, todas essas delicadezas, todos esses cumprimentos no vestíbulo a que chamamos deferência, gratidão, dedicação e a que misturamos tantas mentiras, são estéreis e cansativas. (...) Na leitura, a amizade ésubitamente reduzida à sua primeira pureza. Com os livros, não há amabilidade. Estes amigos, se passarmos o serãocom eles, é porque realmente temos vontade disso. A eles, pelo menos, muitas vezes só os deixamos a contagosto."
26.6.03
CORRUPÇÕES
As nossas três tv's estão a abrir os respectivos telejornais com jornalistas à porta do DIAP por causa de uns quantos agentes da Brigada de Trânsito da GNR indiciados por crime de corrupção. Outro dia foram umas senhoras e uns senhores constituídos arguidos por causa de uma burla na Saúde, tudo de novo à porta do DIAP. Não sei o que é que se pretende demonstrar com esta constante e maçadora cobertura da actividade das magistraturas judicial e do Ministério Público. Há três anos, estava eu num país da América Latina, e lembro-me de que os telejornais passavam horas a dar, praticamente em directo, operações policiais de recuperação de sequestrados, detenções de traficantes e de sequestradores ( o sequestro é um crime vulgar em certos países latino-americanos) ou declarações de magistrados sobre processos em curso, quando não "em cima do acontecimento". Tratava-se de países que estiveram anos em guerra civil. Nós estamos, até prova em contrário, na Europa e, dentro desta, na União Europeia, à beira de aprovar uma Constituição. No entanto, em muita coisa, parecemos latino-americanos justamente quando julgamos ser mais modernaços. Nas corrupções, nas televisões, nos comportamentos societários, é o que vemos, traduzido nas entradas rápidas de carro ou a pé no DIAP: um País envergonhado e rasca, de cara tapada.
As nossas três tv's estão a abrir os respectivos telejornais com jornalistas à porta do DIAP por causa de uns quantos agentes da Brigada de Trânsito da GNR indiciados por crime de corrupção. Outro dia foram umas senhoras e uns senhores constituídos arguidos por causa de uma burla na Saúde, tudo de novo à porta do DIAP. Não sei o que é que se pretende demonstrar com esta constante e maçadora cobertura da actividade das magistraturas judicial e do Ministério Público. Há três anos, estava eu num país da América Latina, e lembro-me de que os telejornais passavam horas a dar, praticamente em directo, operações policiais de recuperação de sequestrados, detenções de traficantes e de sequestradores ( o sequestro é um crime vulgar em certos países latino-americanos) ou declarações de magistrados sobre processos em curso, quando não "em cima do acontecimento". Tratava-se de países que estiveram anos em guerra civil. Nós estamos, até prova em contrário, na Europa e, dentro desta, na União Europeia, à beira de aprovar uma Constituição. No entanto, em muita coisa, parecemos latino-americanos justamente quando julgamos ser mais modernaços. Nas corrupções, nas televisões, nos comportamentos societários, é o que vemos, traduzido nas entradas rápidas de carro ou a pé no DIAP: um País envergonhado e rasca, de cara tapada.
MAIS BLOGUES
A minha ignorância em matéria de "templates" e "settings", impede-me de colocar numa coluna ( não necessariamente infame) os blogues que me agradam, por motivos completamente distintos. Por isso, vou tentando um "aggiornamento" por aqui mesmo:
Conversas de Café;
Blogue dos Marretas;
Voz do Deserto;
O Meu Pipi;
Contra-Corrente
Já percebi que o País Relativo, que também tem o O'Neill em epígrafe, é mexido por rapaziada do PS. Lá mais para diante temos que falar do actual PS, um caso sério para acompanhar.
A minha ignorância em matéria de "templates" e "settings", impede-me de colocar numa coluna ( não necessariamente infame) os blogues que me agradam, por motivos completamente distintos. Por isso, vou tentando um "aggiornamento" por aqui mesmo:
Conversas de Café;
Blogue dos Marretas;
Voz do Deserto;
O Meu Pipi;
Contra-Corrente
Já percebi que o País Relativo, que também tem o O'Neill em epígrafe, é mexido por rapaziada do PS. Lá mais para diante temos que falar do actual PS, um caso sério para acompanhar.
QUADRO DE HONRA E QUOTAS
Quando eu era puto e andava num colégio privado, havia, para os melhores alunos, o chamado "quadro de honra". A coisa era feita por aproximações, estilo uma averbação na caderneta escolar de que "merece quadro de honra" e, com alguma sorte, no trimestre seguinte, lá vinha a venera propriamente dita. Nos idos de 73 e 74, até Abril, ainda havia "quadro de honra", mesmo num liceu "progressista" como o de D. Pedro V, mas rapidamente foi extinto com o decurso do alegre PREC. Parece que uma das componentes da reforma da administração pública anunciada por estes dias, na parte da "avaliação", é justamente a instituição do "quadro de honra" para os "excelentes" funcionários, de par com a introdução de "quotas de mérito", suponho que também para estas mesmas criaturas. É de esperar o pior. Como bem sabemos, vagueia entre nós, desde que o fundador da Pátria mandou a mãe para a prisão, já lá vão mais de oito séculos, a "teoria da facada nas costas". Se no tempo em que tudo é "muito bom", já as coisas são o que são, imagine-se quando o povão administrativo der início ao assalto e à corrida ao "quadro" e às "quotas". Por aqui se percebe que as "quotas" não são apenas um assunto de vacas e de leite, e que não são elas seguramente as únicas que estão loucas.
Quando eu era puto e andava num colégio privado, havia, para os melhores alunos, o chamado "quadro de honra". A coisa era feita por aproximações, estilo uma averbação na caderneta escolar de que "merece quadro de honra" e, com alguma sorte, no trimestre seguinte, lá vinha a venera propriamente dita. Nos idos de 73 e 74, até Abril, ainda havia "quadro de honra", mesmo num liceu "progressista" como o de D. Pedro V, mas rapidamente foi extinto com o decurso do alegre PREC. Parece que uma das componentes da reforma da administração pública anunciada por estes dias, na parte da "avaliação", é justamente a instituição do "quadro de honra" para os "excelentes" funcionários, de par com a introdução de "quotas de mérito", suponho que também para estas mesmas criaturas. É de esperar o pior. Como bem sabemos, vagueia entre nós, desde que o fundador da Pátria mandou a mãe para a prisão, já lá vão mais de oito séculos, a "teoria da facada nas costas". Se no tempo em que tudo é "muito bom", já as coisas são o que são, imagine-se quando o povão administrativo der início ao assalto e à corrida ao "quadro" e às "quotas". Por aqui se percebe que as "quotas" não são apenas um assunto de vacas e de leite, e que não são elas seguramente as únicas que estão loucas.
WOTAN
Ouço neste momento o dueto de Sieglinde e Siegmund, do I Acto de "A Valquíria", a 1 ª jornada do magnífico e cada vez mais moderno "Anel do Nibelungo", de Richard Wagner. Para quem conhece a trama, julgo que esta ópera - quase sempre só conhecida pela cena da "cavalgada" com que abre o III Acto - é das mais dramaticamente intensas da tetralogia, na qual sobressai a extraordinária densidade do texto de Wagner, particularmente nos lances em que são intervenientes Wotan, Brühnnhilde, e secundariamente Fricka. O deus Wotan, o "senhor dos exércitos" e pai das Valquírias, deixou-se envolver pelo poder do "ouro do Reno" no homónimo prólogo da tetralogia, cuja maldição obriga a renunciar ao amor. Tudo gira, nestas quatro óperas, em torno da ambição, do amor e da respectiva renúncia, da solidão dos poderosos, num caminhar violento e desesperado para o "crepúsculo dos deuses" - anunciado por Erda no Prólogo, "O Ouro do Reno" - com que se encerra a tetralogia. Essa atracção pelo abismo, começa logo na 1 ª jornada, com Wotan, essa figura nuclear de todo o texto e a quem Wagner atribuiu das melhores "falas " em toda a obra ( vejam-se o monólogo e o dueto do III Acto de "A Valquíria", com a filha predilecta, Brühnnhilde ), a pedir "o fim" quando percebe que ele, o deus, é o menos livre de todos, menos do que Siegmund ( também seu filho noutras núpcias ), que o capricho corporativo de sua mulher, a deusa Fricka, quer que seja lançado para a morte em combate. Por isso, Wotan pede, junto de Brühnnhilde, pela emergência de um homem "mais livre do que eu, o deus", o futuro fruto do amor incestuoso de Siegmund e Sieglinde, que dá o nome à segunda jornada do "Anel", "Siegfried". Wotan é pois uma criatura dos nossos dias, dilacerada e dividida entre o poder e o amor, entre a cobiça e a compaixão, um titã solitário. E Brühnnhilde, não já a filha do deus, mas a amante de Siegfried, depois da morte deste no "Crepúsculo dos Deuses", diz-nos que quer deixar este mundo de desejo e de desespero. O fim consuma-se com o desparecimento do Walhalla, a mansão dos deuses, no fogo ateado para a pira de Siegfried e para onde Brühnnhilde se precipita. Esta imensa e genial obra metafórica tem sido objecto das mais controversas interpretações, mas julgo que, apesar de algum "gauchisme" subjacente à concepção da encenação de Patrice Chéreau, a versão de Pierre Boulez, no Festival de Bayreuth de 1976, disponível em DVD, continua a ser das mais fascinantes. Em CD, recomendaria duas versões, para além da de Boulez: a primeira gravação em estúdio da tetralogia, sob a batuta de Sir Georg Solti, e que levou vários anos a gravar, com os melhores intérpretes wagnerianos da altura, e a sumptuosa Wiener Philarmoniker, e a versão de 88/91, de James Levine, também em DVD, com a Metropolitan Opera Orchestra de Nova Iorque, em que sobressai um dos maiores Wotans dos nossos dias, James Morris, que em Julho estará no papel no Liceu de Barcelona. Há mais de vinte anos que não se representa o "Anel" em São Carlos. Eram então directores, primeiro João Paes, e depois, Serra Formigal, com quem se concluiu a tetralogia em 1982. Antes de me vir embora do Teatro, deixei a sugestão de se começar a tetralogia numa próxima temporada. Apontei Graham Vick ao director para a encenação, depois de assistir à sua "Manon Lescaut" nesta temporada. A ver vamos, como dizia o cego, posto que o Wotan também é cego de um olho e apresenta-se com ele normalmente vendado.
25.6.03
BLOGUE
A inveja é um sentimento assaz vil, porém confesso que gostaria de me ter lembrado de um título sugestivo como o do Quarto do Pulha.
A inveja é um sentimento assaz vil, porém confesso que gostaria de me ter lembrado de um título sugestivo como o do Quarto do Pulha.
E TUDO MONSANTO LEVOU
Até ir depôr no caso Moderna, Paulo Portas mostrava-se circunspecto, receoso, discreto, e fugia dos jornais e das tv's como o diabo da cruz. Barroso trazia-o no bolso. Era demasiada contenção para tamanha figura. Aparentemente liberto de incómodos, o amigo do dr. Braga Gonçalves não perdeu tempo em regressar ao seu melhor estilo. Disse uns gracejos versejantes nas jornadas parlamentares do PP nos Açores, mostrou-se magnânimo para com o seu colega da Administração Interna por causa dos blindados para a GNR ir para o Iraque ( quanto não vale ser íntimo do Sr. Rumsfeld ) e despediu Maria Barroso Soares da Cruz Vermelha, invocando regulamentos e -que bom gosto - a sua nomeação pelos socialistas. Porém, não resistiu a exibir a sua habitual arrogância demagógica com este mimo: "o único cargo vitalício é o do povo português". Fátima Felgueiras não teria dito melhor.
Até ir depôr no caso Moderna, Paulo Portas mostrava-se circunspecto, receoso, discreto, e fugia dos jornais e das tv's como o diabo da cruz. Barroso trazia-o no bolso. Era demasiada contenção para tamanha figura. Aparentemente liberto de incómodos, o amigo do dr. Braga Gonçalves não perdeu tempo em regressar ao seu melhor estilo. Disse uns gracejos versejantes nas jornadas parlamentares do PP nos Açores, mostrou-se magnânimo para com o seu colega da Administração Interna por causa dos blindados para a GNR ir para o Iraque ( quanto não vale ser íntimo do Sr. Rumsfeld ) e despediu Maria Barroso Soares da Cruz Vermelha, invocando regulamentos e -que bom gosto - a sua nomeação pelos socialistas. Porém, não resistiu a exibir a sua habitual arrogância demagógica com este mimo: "o único cargo vitalício é o do povo português". Fátima Felgueiras não teria dito melhor.
RESISTIR
Quando alguém diz bem aquilo que nós também pensamos, não vem mal ao mundo a citação. Verdadeiramente, julgo que tudo já foi mais ou menos dito, e com mais ou menos inspiração e verdade. É por isso que me são simpáticas as perspectivas pragmáticas e contingenciais a que já fiz referência neste blogue. Nestes dias em que se tem assistido à sobreposição das vontades partidárias mais reles sobre situações muito concretas - Cruz Vermelha e Casa da Música, por exemplo - não resisto a colocar aqui parte do artigo de António José Teixeira, hoje, no Diário de Notícias, cujo título é..."Resistir à mediocridade". Ora aí vai.
"Os tempos vão desconfiados. Intolerantes. Contam-se cabeças, fidelidades. A crítica torna-se insuportável, não a incompetência. Os aparelhos partidários, sedentos de mando e posição, espreitam lugares, os que restam. As hierarquias da situação pedem cabeças. Sem pudor. Há sargentos atentos à dissonância. Fazem-se julgamentos sumários com uma desfaçatez a querer dar ares de naturalidade. Se alguém pisou o risco da crítica fora do local apropriado e, pior do que isso, não é dos «nossos», deve pôr-se na rua, clamam voluntariosos algozes. E se algum dos «nossos» tem a veleidade de elogiar um infiel deve merecer tratamento idêntico. A cegueira de espírito não tem contemplações. Pouco importam razões, créditos, projectos e resultados. Importa a partidarite, a mesquinhez, a inveja do telemóvel, o empurra a ver se saltas... Salta que vem aí patriota! O jogo não é original, tende a repetir-se ao ritmo da alternância da clientela. Não há reforma que resista ao poder da mediocridade
A mediocridade não é um exclusivo português.
Uma boa parte das universidades dos EUA impõe códigos de conduta que desafiam a racionalidade. Mais de 1500 escolas, conta um repórter do El País, censuram o «politicamente incorrecto». A Universidade de Yale proíbe «olhar outra parte do corpo que não seja a cara quando se fale com alguém». O mesmo se diga de «inflexões de voz, que denotem insinuações sexuais quando se elogie a roupa ou o aspecto de alguém». O código de conduta de Harvard pune «comentários pejorativos, epítetos ou referências a estereótipos sociais». Em Berkeley pode falar-se contra sujeitos colectivos, «não contra indivíduos». No Texas, impede-se a expressão de «opiniões impopulares» e distribuição de jornal ou panfleto com «uma mensagem não autorizada». Expressão não censurada só é permitida num perímetro de 7 m. de diâmetro. Há muitos protestos, acções judiciais, há quem tema que este ambiente esterilize ideologicamente a actual geração."
Quando alguém diz bem aquilo que nós também pensamos, não vem mal ao mundo a citação. Verdadeiramente, julgo que tudo já foi mais ou menos dito, e com mais ou menos inspiração e verdade. É por isso que me são simpáticas as perspectivas pragmáticas e contingenciais a que já fiz referência neste blogue. Nestes dias em que se tem assistido à sobreposição das vontades partidárias mais reles sobre situações muito concretas - Cruz Vermelha e Casa da Música, por exemplo - não resisto a colocar aqui parte do artigo de António José Teixeira, hoje, no Diário de Notícias, cujo título é..."Resistir à mediocridade". Ora aí vai.
"Os tempos vão desconfiados. Intolerantes. Contam-se cabeças, fidelidades. A crítica torna-se insuportável, não a incompetência. Os aparelhos partidários, sedentos de mando e posição, espreitam lugares, os que restam. As hierarquias da situação pedem cabeças. Sem pudor. Há sargentos atentos à dissonância. Fazem-se julgamentos sumários com uma desfaçatez a querer dar ares de naturalidade. Se alguém pisou o risco da crítica fora do local apropriado e, pior do que isso, não é dos «nossos», deve pôr-se na rua, clamam voluntariosos algozes. E se algum dos «nossos» tem a veleidade de elogiar um infiel deve merecer tratamento idêntico. A cegueira de espírito não tem contemplações. Pouco importam razões, créditos, projectos e resultados. Importa a partidarite, a mesquinhez, a inveja do telemóvel, o empurra a ver se saltas... Salta que vem aí patriota! O jogo não é original, tende a repetir-se ao ritmo da alternância da clientela. Não há reforma que resista ao poder da mediocridade
A mediocridade não é um exclusivo português.
Uma boa parte das universidades dos EUA impõe códigos de conduta que desafiam a racionalidade. Mais de 1500 escolas, conta um repórter do El País, censuram o «politicamente incorrecto». A Universidade de Yale proíbe «olhar outra parte do corpo que não seja a cara quando se fale com alguém». O mesmo se diga de «inflexões de voz, que denotem insinuações sexuais quando se elogie a roupa ou o aspecto de alguém». O código de conduta de Harvard pune «comentários pejorativos, epítetos ou referências a estereótipos sociais». Em Berkeley pode falar-se contra sujeitos colectivos, «não contra indivíduos». No Texas, impede-se a expressão de «opiniões impopulares» e distribuição de jornal ou panfleto com «uma mensagem não autorizada». Expressão não censurada só é permitida num perímetro de 7 m. de diâmetro. Há muitos protestos, acções judiciais, há quem tema que este ambiente esterilize ideologicamente a actual geração."
AMAR O MAR
Há aquela frase idiota: somos um País de marinheiros.Há, de facto, um País que tem uma belíssima fronteira marítima, e com uma zona económica exclusiva cobiçada pelo outro lado da fronteira terrestre. Parece que quem levou a sério o "sigamos o cherne..." do O´Neill, foram os espanhóis. Mas não é disso que venho falar.Nós temos Sophia de Mello Breyner Andresen, graças a Deus, em boa hora lembrada num belo blog (ou blogue), Mar Salgado.
Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exatidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Eu minha vida daria
E vivo neste tormento
Há aquela frase idiota: somos um País de marinheiros.Há, de facto, um País que tem uma belíssima fronteira marítima, e com uma zona económica exclusiva cobiçada pelo outro lado da fronteira terrestre. Parece que quem levou a sério o "sigamos o cherne..." do O´Neill, foram os espanhóis. Mas não é disso que venho falar.Nós temos Sophia de Mello Breyner Andresen, graças a Deus, em boa hora lembrada num belo blog (ou blogue), Mar Salgado.
Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exatidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Eu minha vida daria
E vivo neste tormento
A PERGUNTA
Já tinha pensado nisto, mas eis que deparo com uma pergunta oportuna em Tubo de Ensaio : está alguém a contar o número de soldados da "coligação" mortos depois do "fim" da guerra do Iraque?
Já tinha pensado nisto, mas eis que deparo com uma pergunta oportuna em Tubo de Ensaio : está alguém a contar o número de soldados da "coligação" mortos depois do "fim" da guerra do Iraque?
24.6.03
BLOGUES
José Pacheco Pereira está com dificuldades técnicas em nos acompanhar nestes últimos dias, em virtude da sua deslocação ao Grande Norte. Enquanto ele vai e volta, aqui ficam algumas sugestões de blogues, na linha dos "nossos", que referi outro dia, algures mais abaixo: Desactualizado e Desinteressante, Jaquinzinhos, Desejo Casar.
Ontem , por curiosidade, fui ler o por aqui tão comentado artigo do Pedro Rolo Duarte sobre estas coisas. O PRD anda nisto dos jornais desde muito cedo, coisas de família. Esteve no "Sete", deve ter passado por outros de que me não recordo, andou na interessante "K" do Esteves Cardoso, e agora é o "master mind" do DNA do Diário de Notícias. Como não podia deixar de ser, já tem obra publicada. Do artigo em causa - "A blague dos blogues" - apenas retive uma frase que me apetece comentar: "vale tudo num blogue, o que o torna imediatamente irrelevante e indiferente". PRD, que não tem feito outra coisa na vida senão escrever em jornais e revistas, e apresentar programas na tv, sabe perfeitamente dos contributos que a classe jornalística escrita e televisiva, em especial, tem dado para o "vale tudo" e para tornar "irrelevante e indiferente" quase tudo em que toca. Os exemplos não faltam nos últimos dias e meses. Julgo que os blogues não concorrem com as escritas nos "media", nem os jornalistas que mantêm os seus blogues ficam diminuídos intelectualmente por utilizarem estes espaços de liberdade. Cada um "massaja o ego" como entende. O Pedro e o seu "petit comité" não fazem outra coisa há anos.
José Pacheco Pereira está com dificuldades técnicas em nos acompanhar nestes últimos dias, em virtude da sua deslocação ao Grande Norte. Enquanto ele vai e volta, aqui ficam algumas sugestões de blogues, na linha dos "nossos", que referi outro dia, algures mais abaixo: Desactualizado e Desinteressante, Jaquinzinhos, Desejo Casar.
Ontem , por curiosidade, fui ler o por aqui tão comentado artigo do Pedro Rolo Duarte sobre estas coisas. O PRD anda nisto dos jornais desde muito cedo, coisas de família. Esteve no "Sete", deve ter passado por outros de que me não recordo, andou na interessante "K" do Esteves Cardoso, e agora é o "master mind" do DNA do Diário de Notícias. Como não podia deixar de ser, já tem obra publicada. Do artigo em causa - "A blague dos blogues" - apenas retive uma frase que me apetece comentar: "vale tudo num blogue, o que o torna imediatamente irrelevante e indiferente". PRD, que não tem feito outra coisa na vida senão escrever em jornais e revistas, e apresentar programas na tv, sabe perfeitamente dos contributos que a classe jornalística escrita e televisiva, em especial, tem dado para o "vale tudo" e para tornar "irrelevante e indiferente" quase tudo em que toca. Os exemplos não faltam nos últimos dias e meses. Julgo que os blogues não concorrem com as escritas nos "media", nem os jornalistas que mantêm os seus blogues ficam diminuídos intelectualmente por utilizarem estes espaços de liberdade. Cada um "massaja o ego" como entende. O Pedro e o seu "petit comité" não fazem outra coisa há anos.
A REFORMA
Com sobriedade e sem ar de profeta, Durão Barroso anunciou hoje à tarde a "reforma da administração pública". No essencial, pretende-se acabar com as promoções automáticas, responsabilizar os dirigentes, avaliando-os peridicamente, flexibilizar a mão de obra pública pelo recurso ao contrato de trabalho individual em deterimento do concurso e alterar as "funções do Estado". A nossa administração é de tradição napoleónica, pesada, burocrática e rígida, até para com os seus próprios servidores. No entanto, não acompanho a sacralização do mercado e da "privada" como modelos óptimos a seguir pelo Estado. Há boa e má gestão privada, como há boa e má gestão pública. Aliás, a nossa "sociedade civil" não se recomenda a ninguém como paradigma do que quer que seja. Uma e outro, o Estado, são o espelho opaco da Nação. Barroso quer mudar tudo isto em seis meses. Eu não o sabia partidário do optimismo antropológico.
Com sobriedade e sem ar de profeta, Durão Barroso anunciou hoje à tarde a "reforma da administração pública". No essencial, pretende-se acabar com as promoções automáticas, responsabilizar os dirigentes, avaliando-os peridicamente, flexibilizar a mão de obra pública pelo recurso ao contrato de trabalho individual em deterimento do concurso e alterar as "funções do Estado". A nossa administração é de tradição napoleónica, pesada, burocrática e rígida, até para com os seus próprios servidores. No entanto, não acompanho a sacralização do mercado e da "privada" como modelos óptimos a seguir pelo Estado. Há boa e má gestão privada, como há boa e má gestão pública. Aliás, a nossa "sociedade civil" não se recomenda a ninguém como paradigma do que quer que seja. Uma e outro, o Estado, são o espelho opaco da Nação. Barroso quer mudar tudo isto em seis meses. Eu não o sabia partidário do optimismo antropológico.
S. JOÃO
Ontem, pela noite dentro, comemorou-se no Porto o célebre S. João, com aquelas marteladas de plástico dadas em todas as cabeças disponíveis. Julgo que o costume impunha alho-porro, mas desde há anos que foi substituído pelos adereços plásticos. A monotonia destas festividades é evidente, se bem que a animosidade que liga os dois presidentes de Câmara da zona, Rio e Menezes, tenha dado um ar de outra graça ao acto. Disputaram-se - vejam só - as excelências dos respectivos fogos de artifício e, ao que depreendi, terá ganho o espectáculo de Gaia. Nessa banda do Douro, passeavam-se o anfitrião, o Ministro dos Negócios Estrangeiros - que, numa das tv's, comentou o evento com uma daquelas enigmáticas frases que caracterizam a sua extraordinária fluência verbal - e o Sr. Pinto da Costa. Do outro lado, com Rio no meio, Sampaio e as chamadas entidades oficiais e oficiosas. Por entre graçolas de circunstância, percebeu-se que , mais tarde ou mais cedo, Menezes vai querer enfrentar Rio e, eventualmente, substituí-lo como candidato "laranja" à Câmara do Porto. Os actuais lugares-tenentes do PSD/Porto, a começar pelo Sr. Marco António, que não perdeu a oportunidade para lançar uma farpa a Sampaio por causa de Burmester, lá estavam perfilados atrás de Rio. Fico perplexo com a insolência como, roçando algum anafalbetismo preocupante em muitos dos casos, a maioria, na vereação do Porto e nas secções partidárias, anda a tratar as coisas da cultura. Parece que o insuportável triângulo Gomes/Narciso/Gaspar, já tem sucessores à altura. Lastimo-o por Rui Rio.
Ontem, pela noite dentro, comemorou-se no Porto o célebre S. João, com aquelas marteladas de plástico dadas em todas as cabeças disponíveis. Julgo que o costume impunha alho-porro, mas desde há anos que foi substituído pelos adereços plásticos. A monotonia destas festividades é evidente, se bem que a animosidade que liga os dois presidentes de Câmara da zona, Rio e Menezes, tenha dado um ar de outra graça ao acto. Disputaram-se - vejam só - as excelências dos respectivos fogos de artifício e, ao que depreendi, terá ganho o espectáculo de Gaia. Nessa banda do Douro, passeavam-se o anfitrião, o Ministro dos Negócios Estrangeiros - que, numa das tv's, comentou o evento com uma daquelas enigmáticas frases que caracterizam a sua extraordinária fluência verbal - e o Sr. Pinto da Costa. Do outro lado, com Rio no meio, Sampaio e as chamadas entidades oficiais e oficiosas. Por entre graçolas de circunstância, percebeu-se que , mais tarde ou mais cedo, Menezes vai querer enfrentar Rio e, eventualmente, substituí-lo como candidato "laranja" à Câmara do Porto. Os actuais lugares-tenentes do PSD/Porto, a começar pelo Sr. Marco António, que não perdeu a oportunidade para lançar uma farpa a Sampaio por causa de Burmester, lá estavam perfilados atrás de Rio. Fico perplexo com a insolência como, roçando algum anafalbetismo preocupante em muitos dos casos, a maioria, na vereação do Porto e nas secções partidárias, anda a tratar as coisas da cultura. Parece que o insuportável triângulo Gomes/Narciso/Gaspar, já tem sucessores à altura. Lastimo-o por Rui Rio.
A SAGA DA CASA DA MÚSICA
Afinal, parece que Roseta estará mais inclinado -ou alguém por ele- a demitir em bloco a administração da Casa da Música do Porto, colocando à sua frente o inefável Artur Santos Silva que tão boas provas deu aquando do início da saga do Porto 2001. Pouca gente saberá que o ilustre banqueiro, nos prolegómenos que levaram ao evento, tinha quase tudo a andar à velocidade de cruzeiro, como se nada tivesse que estar pronto para quando devia efectivamente estar. Carrilho, o ministro de então, passou por ser o "mau da fita", sobretudo pela forma acutilante como tratou o assunto. Depois veio Teresa Lago- outro modelo de bom feitio- que nunca se entendeu com Nuno Cardoso, o sucessor de Fernando Gomes na Câmara do Porto. O monumento a estas trapalhadas está exactamente na Casa da Música, que era suposto ter ornamentado a Porto2001 e é o que se sabe.
Tendo eu a fama e o proveito de dar destaque muito positivo à passagem de Carrilho pelo Palácio da Ajuda, por contraposição com a falta de ambição dos actuais ocupantes, aqui deixo umas declarações suas sobre o tema, respigadas na TSF:
" Na sequência da polémica da Casa da Música, que envolve o autarca do Porto, Rui Rio, e o pianista Pedro Burmester, da administração daquela instituição, Manuel Maria Carrilho defendeu a intervenção do primeiro-ministro neste assunto.
«Acho totalmente inaceitável o silêncio do ministro da Cultura que é já uma figura totalmente ausente da política deste governo», disse o antigo ministro da Cultura.
«Vi ontem num debate da RTP o número dois do PSD falar desta situação com um 'à vontade' dizendo que isto releva quase uma sabotagem contra o Governo»», acrescentou Carrilho, adiantando que «estamos já na ordem do delírio».
O antigo ministro acrescentou também que «os responsáveis têm que assumir a sua responsabilidade e se o país não tem ministro da Cultura, tem de ser o primeiro-ministro a responder», declarando ainda que «o que se está a passar é a vandalização da nossa vida cultural»..
O antigo ministro da cultura, do Governo PS, reclama ainda o afastamento de Rui Amaral, actual presidente do Conselho de Administração da Casa da Música.
«Temos à frente do projecto neste momento, o Dr. Rui Amaral que não tem qualquer qualificação para dirigir», defendeu Carrilho, acrescentando que «isto é como se tivéssemos o Pedro Burmester a dirigir uma agência de investimento externo».
«Este senhor devia estar noutras funções, disse o ex-ministro referindo que «à frente de projectos culturais estão pessoas da cultura, não estão pessoas que não distinguem entre Ágata e Beethoven»."
Sic.
Afinal, parece que Roseta estará mais inclinado -ou alguém por ele- a demitir em bloco a administração da Casa da Música do Porto, colocando à sua frente o inefável Artur Santos Silva que tão boas provas deu aquando do início da saga do Porto 2001. Pouca gente saberá que o ilustre banqueiro, nos prolegómenos que levaram ao evento, tinha quase tudo a andar à velocidade de cruzeiro, como se nada tivesse que estar pronto para quando devia efectivamente estar. Carrilho, o ministro de então, passou por ser o "mau da fita", sobretudo pela forma acutilante como tratou o assunto. Depois veio Teresa Lago- outro modelo de bom feitio- que nunca se entendeu com Nuno Cardoso, o sucessor de Fernando Gomes na Câmara do Porto. O monumento a estas trapalhadas está exactamente na Casa da Música, que era suposto ter ornamentado a Porto2001 e é o que se sabe.
Tendo eu a fama e o proveito de dar destaque muito positivo à passagem de Carrilho pelo Palácio da Ajuda, por contraposição com a falta de ambição dos actuais ocupantes, aqui deixo umas declarações suas sobre o tema, respigadas na TSF:
" Na sequência da polémica da Casa da Música, que envolve o autarca do Porto, Rui Rio, e o pianista Pedro Burmester, da administração daquela instituição, Manuel Maria Carrilho defendeu a intervenção do primeiro-ministro neste assunto.
«Acho totalmente inaceitável o silêncio do ministro da Cultura que é já uma figura totalmente ausente da política deste governo», disse o antigo ministro da Cultura.
«Vi ontem num debate da RTP o número dois do PSD falar desta situação com um 'à vontade' dizendo que isto releva quase uma sabotagem contra o Governo»», acrescentou Carrilho, adiantando que «estamos já na ordem do delírio».
O antigo ministro acrescentou também que «os responsáveis têm que assumir a sua responsabilidade e se o país não tem ministro da Cultura, tem de ser o primeiro-ministro a responder», declarando ainda que «o que se está a passar é a vandalização da nossa vida cultural»..
O antigo ministro da cultura, do Governo PS, reclama ainda o afastamento de Rui Amaral, actual presidente do Conselho de Administração da Casa da Música.
«Temos à frente do projecto neste momento, o Dr. Rui Amaral que não tem qualquer qualificação para dirigir», defendeu Carrilho, acrescentando que «isto é como se tivéssemos o Pedro Burmester a dirigir uma agência de investimento externo».
«Este senhor devia estar noutras funções, disse o ex-ministro referindo que «à frente de projectos culturais estão pessoas da cultura, não estão pessoas que não distinguem entre Ágata e Beethoven»."
Sic.
CERVEJAS NO INFERNO
Segundo um estudo divulgado hoje, os nossos adolescentes, moços e moças indistintamente, de 1998 para cá, aumentaram significativamente os índices de consumo de bebidas alcoólicas, passando da modesta cerveja directamente para as "hard" espirituosas brancas. Também se apurou que adoram haxixe e que, quando perguntados acerca dos pais, acham que eles bebem muito!Por outro lado, um outro estudo revelava que a SIDA tem crescido entre nós junto de jovens heterosexuais e numa faixa etária ligeiramente superior, entre os 30 e os 40, ex-divorciados, por aí.Estes dados mostram uma coisa simultaneamente simples e aterradora: os nossos jovens, independentemente das respectivas origens sociais, escolhem mais depressa o inferno-que tomam por paraíso-do que paixões terrenas a partir daquilo que a casa, a escola, o poder político, ou a queridíssima "sociedade civil" têm para lhes oferecer.O vazio, a solidão e a impotência que estes números significam, deviam fazer-nos meditar acerca da "clara noite do nada" para onde deixamos caminhar os mais novos de nós próprios. Par delicatesse, j'ai perdu ma vie.
Segundo um estudo divulgado hoje, os nossos adolescentes, moços e moças indistintamente, de 1998 para cá, aumentaram significativamente os índices de consumo de bebidas alcoólicas, passando da modesta cerveja directamente para as "hard" espirituosas brancas. Também se apurou que adoram haxixe e que, quando perguntados acerca dos pais, acham que eles bebem muito!Por outro lado, um outro estudo revelava que a SIDA tem crescido entre nós junto de jovens heterosexuais e numa faixa etária ligeiramente superior, entre os 30 e os 40, ex-divorciados, por aí.Estes dados mostram uma coisa simultaneamente simples e aterradora: os nossos jovens, independentemente das respectivas origens sociais, escolhem mais depressa o inferno-que tomam por paraíso-do que paixões terrenas a partir daquilo que a casa, a escola, o poder político, ou a queridíssima "sociedade civil" têm para lhes oferecer.O vazio, a solidão e a impotência que estes números significam, deviam fazer-nos meditar acerca da "clara noite do nada" para onde deixamos caminhar os mais novos de nós próprios. Par delicatesse, j'ai perdu ma vie.
23.6.03
OS BLINDADOS
Numa das últimas conversas "de pé de orelha" entre o George (Bush) e o José (Manuel Durão Barroso), e dada a forma enérgica como nós apoiámos os EUA na sua cruzada contra Saddam, ficou combinado que, não só participaríamos na reconstrução (?) do Iraque, como enviaríamos uma força da GNR para actividades de manutenção da ordem pública. Julgo que a esta hora, já os americanos devem estar a sentir a falta dos 120 homens portugueses da GNR e dos seus famosos blindados. Acontece que, bem à nossa maneira, fomos oferecer o que não tínhamos e agora, segundo explicou o Sr. Ministro da Administração Interna, andamos a ver se compramos uns quantos blindados italianos para remediar e levar para o Iraque. Os últimos que possuíamos, foram "emprestados" a Timor, naqueles anos de desvelo nacional pela causa de Xanana, e por lá ficaram naturalmente. François Mitterrand dizia que acreditava no significado dos grandes gestos simbólicos. Este nosso gesto, nem é grande nem é simbólico. É um gesto....português. Mais valia estar quieto.
Numa das últimas conversas "de pé de orelha" entre o George (Bush) e o José (Manuel Durão Barroso), e dada a forma enérgica como nós apoiámos os EUA na sua cruzada contra Saddam, ficou combinado que, não só participaríamos na reconstrução (?) do Iraque, como enviaríamos uma força da GNR para actividades de manutenção da ordem pública. Julgo que a esta hora, já os americanos devem estar a sentir a falta dos 120 homens portugueses da GNR e dos seus famosos blindados. Acontece que, bem à nossa maneira, fomos oferecer o que não tínhamos e agora, segundo explicou o Sr. Ministro da Administração Interna, andamos a ver se compramos uns quantos blindados italianos para remediar e levar para o Iraque. Os últimos que possuíamos, foram "emprestados" a Timor, naqueles anos de desvelo nacional pela causa de Xanana, e por lá ficaram naturalmente. François Mitterrand dizia que acreditava no significado dos grandes gestos simbólicos. Este nosso gesto, nem é grande nem é simbólico. É um gesto....português. Mais valia estar quieto.
O SR. NAMORA
Decididamente não gosto do Sr. Pedro Namora. Visto em bruto, ele possui características que, isoladamente, até são estimáveis. É corajoso, mas mistura ressentimentos com teorias da conspiração. É frontal, porém insinuante, e adora lançar gasolina para a fogueira, mesmo quando não há razões para a acender. É solidário, mas ressuma um protagonismo insuportável. Depois, vem às televisões com aquela arrogância justiceira, aprendida na pior vulgata marxista. Deviam explicar-lhe que, no crime de pedofilia, não há "poderosos" vs. "descamisados", mas tão-somente criminosos. Foi agora constituído arguido por difamação, o que só dá azo a que apareça mais umas quantas vezes. Numa investigação que não sendo secreta, já nem discreta é, o papel de Namora, ao contrário do que ele supôe, é perturbador. Um caso que devia ser acompanhado pelo nosso amigo Socio{B]logue.
Decididamente não gosto do Sr. Pedro Namora. Visto em bruto, ele possui características que, isoladamente, até são estimáveis. É corajoso, mas mistura ressentimentos com teorias da conspiração. É frontal, porém insinuante, e adora lançar gasolina para a fogueira, mesmo quando não há razões para a acender. É solidário, mas ressuma um protagonismo insuportável. Depois, vem às televisões com aquela arrogância justiceira, aprendida na pior vulgata marxista. Deviam explicar-lhe que, no crime de pedofilia, não há "poderosos" vs. "descamisados", mas tão-somente criminosos. Foi agora constituído arguido por difamação, o que só dá azo a que apareça mais umas quantas vezes. Numa investigação que não sendo secreta, já nem discreta é, o papel de Namora, ao contrário do que ele supôe, é perturbador. Um caso que devia ser acompanhado pelo nosso amigo Socio{B]logue.
ALINHAMENTOS
Segundo me apercebi através de um rodapé de telejornal, o presidente da Comissão Nacional da Luta contra a Sida, Fernando Ventura, está de saída. Embora satisfeito com o trabalho realizado, lá deixou "cair" que a ausência de "alinhamento" terá pesado na hora da partida. Esta coisa de alinhar ou não alinhar - e perdoem-me os blogues "anti-citacionistas" , v.g. o excelente Guerra e Pás - lembra-me um género de "post" , mas em livro, colocado na sua "Arte do Romance", por Milan Kundera, que cita a partir de "A insustentável leveza do ser" (trad. Ed. D. Quixote): "Mas o que é trair? Trair é sair da fila".
Segundo me apercebi através de um rodapé de telejornal, o presidente da Comissão Nacional da Luta contra a Sida, Fernando Ventura, está de saída. Embora satisfeito com o trabalho realizado, lá deixou "cair" que a ausência de "alinhamento" terá pesado na hora da partida. Esta coisa de alinhar ou não alinhar - e perdoem-me os blogues "anti-citacionistas" , v.g. o excelente Guerra e Pás - lembra-me um género de "post" , mas em livro, colocado na sua "Arte do Romance", por Milan Kundera, que cita a partir de "A insustentável leveza do ser" (trad. Ed. D. Quixote): "Mas o que é trair? Trair é sair da fila".
BLOGO LOGO EXISTO II
Estive a dar uma espreitadela no Aviz a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu. Mas mais lhe agradeço as citações de George Steiner. Eu tenho uma memória de há cinco anos da passagem de Steiner nessas magníficas conferências subordinadas ao tema da "Europa e a Cultura", que a Fundação Gulbenkian organizou. Discretamente, numa noite suave de Maio, Steiner falou da "palavra" ("Word", era o título da conferência) e fê-lo com uma impressionante serenidade emotiva: toda a obra de Steiner nos fala disso, da permanente desvalorização do verbo e da escrita primeira, do autor original, e do triunfo do ruído e do célebre hemisfério não verbal do nosso cérebro sobre a outra parte. Felizmente, para nós, portugueses, Steiner tem sido regularmente traduzido e em geral, muito bem, designadamente por Miguel Serras Pereira.Nós por aqui, entre blogues, não inventamos nada.No entanto, fica-nos bem falar do que resiste e do que permanece. Parabéns, pois, ao Aviz.
Estive a dar uma espreitadela no Aviz a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu. Mas mais lhe agradeço as citações de George Steiner. Eu tenho uma memória de há cinco anos da passagem de Steiner nessas magníficas conferências subordinadas ao tema da "Europa e a Cultura", que a Fundação Gulbenkian organizou. Discretamente, numa noite suave de Maio, Steiner falou da "palavra" ("Word", era o título da conferência) e fê-lo com uma impressionante serenidade emotiva: toda a obra de Steiner nos fala disso, da permanente desvalorização do verbo e da escrita primeira, do autor original, e do triunfo do ruído e do célebre hemisfério não verbal do nosso cérebro sobre a outra parte. Felizmente, para nós, portugueses, Steiner tem sido regularmente traduzido e em geral, muito bem, designadamente por Miguel Serras Pereira.Nós por aqui, entre blogues, não inventamos nada.No entanto, fica-nos bem falar do que resiste e do que permanece. Parabéns, pois, ao Aviz.
A CASA DA MÚSICA
Pelo que leio nos jornais, os dirigentes nortenhos do PSD descobriram uma serôdia vocação musical clássica, uma vez que me recuso a acreditar que, por detrás de determinadas posições, esteja o rasteiro expediente do costume: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Eu não conheço o Burmester a não ser de concertos, nomeadamente quando abriu a Lisboa 94, no Coliseu, ao lado de Sir Georg Solti. Mas já percebi que andam mortinhos por se verem livres dele (vejam-se as declarações de Rui Amaral há pouco no jornal da RTP).Nesta peripécia, há uma parte de razão nos "outros", ou seja, fazendo Burmester parte da administração da Casa da Música e tendo andado a dizer o que tem dito acerca dos membros da dita e seus contribuintes líquidos (Câmara, Ministério da Cultura...), melhor seria se o fizesse fora da estrutura, adquirindo assim outra legitimidade.É que ele é uma das "peças" mais antigas da dita administração e, apesar dos pergaminhos, enquanto lá permanecer, é co-responsável por aquilo que verbera.
Porém, nada disto justifica que se passem coisas como as que detectei, relatadas no Público.pt:
"O ministro da Cultura ainda não decidiu como irá resolver o conflito entre o presidente da administração da Casa da Música, Rui Amaral, e Pedro Burmester – cuja demissão foi exigida por Rui Rio –, mas a crise já ameaça fazer vítimas colaterais, a começar pela directora do teatro municipal Rivoli, Isabel Alves Costa.
Em declarações publicadas ontem pelo “Jornal de Notícias”, o líder da concelhia do Porto do PSD, Sérgio Vieira, desafia o vereador da Cultura de Rui Rio: “Espero que uma da primeiras decisões que Marcelo Mendes Pinto tome na segunda-feira [hoje] de manhã seja pedir a demissão da directora do Rivoli”.
Em causa está uma breve declaração de Isabel Alves Costa em que esta, já depois de Rio ter pedido a demissão de Burmester, elogia a qualidade da programação da Casa da Música e manifesta o desejo de que o pianista se mantenha no projecto.
Ao mesmo tempo que pede ao vereador da Cultura que demita a directora do Rivoli, Sérgio Vieira assegura a Rio que este terá “todo o apoio” da concelhia do partido se decidir retirar o pelouro ao próprio Mendes Pinto, que ocupa um dos lugares atribuídos ao PP no executivo da Câmara do Porto.
É que também o vereador, numa primeira reacção aos ataques de Rio a Burmester, afirmou que o músico é “uma figura incontornável da cultura portuense” e defendeu que o Porto lucraria se este continuasse a “pensar a Casa da Música”. Uma declaração que levou o líder da distrital centrista, Álvaro Castelo Branco, a demarcar-se do seu colega de partido e a solidarizar- se publicamente com Rio.
No mesmo dia, Mendes Pinto veio corrigir as suas primeiras afirmações e reconhecer que Burmester se colocara numa “posição insustentável” e que teria de ser demitido.
O PÚBLICO tentou ontem, sem êxito, ouvir o vereador da Cultura, que poderá anunciar ainda hoje se tenciona, ou não, demitir Isabel Alves Costa. Também o futuro de Pedro Burmester na Casa da Música deverá ser decidido em breve pelo ministro da Cultura, que se reunirá amanhã com o Conselho de Administração da sociedade."
Dois comentários:
1. Confio na serenidade do Dr. Pedro Roseta para mediar esta situação e,do que conheço dele, tudo fará para manter Burmester na Casa da Música, caso ele não opte por saír pelo seu próprio pé;
2. O Dr. Rui Rio, do que também conheço dele, não comunga do mesmo registo "grande-inquisidor" de Sérgio Vieira, o líder concelhio do PSD, que até o vereador do PP quer sanear. Alguém deveria explicar à criatura que, por esse caminho, o PSD Porto se aproxima rapidamente do pior estilo da dupla Gomes/Narciso que dominou o caciquismo nortenho nos últimos anos.
Pelo que leio nos jornais, os dirigentes nortenhos do PSD descobriram uma serôdia vocação musical clássica, uma vez que me recuso a acreditar que, por detrás de determinadas posições, esteja o rasteiro expediente do costume: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Eu não conheço o Burmester a não ser de concertos, nomeadamente quando abriu a Lisboa 94, no Coliseu, ao lado de Sir Georg Solti. Mas já percebi que andam mortinhos por se verem livres dele (vejam-se as declarações de Rui Amaral há pouco no jornal da RTP).Nesta peripécia, há uma parte de razão nos "outros", ou seja, fazendo Burmester parte da administração da Casa da Música e tendo andado a dizer o que tem dito acerca dos membros da dita e seus contribuintes líquidos (Câmara, Ministério da Cultura...), melhor seria se o fizesse fora da estrutura, adquirindo assim outra legitimidade.É que ele é uma das "peças" mais antigas da dita administração e, apesar dos pergaminhos, enquanto lá permanecer, é co-responsável por aquilo que verbera.
Porém, nada disto justifica que se passem coisas como as que detectei, relatadas no Público.pt:
"O ministro da Cultura ainda não decidiu como irá resolver o conflito entre o presidente da administração da Casa da Música, Rui Amaral, e Pedro Burmester – cuja demissão foi exigida por Rui Rio –, mas a crise já ameaça fazer vítimas colaterais, a começar pela directora do teatro municipal Rivoli, Isabel Alves Costa.
Em declarações publicadas ontem pelo “Jornal de Notícias”, o líder da concelhia do Porto do PSD, Sérgio Vieira, desafia o vereador da Cultura de Rui Rio: “Espero que uma da primeiras decisões que Marcelo Mendes Pinto tome na segunda-feira [hoje] de manhã seja pedir a demissão da directora do Rivoli”.
Em causa está uma breve declaração de Isabel Alves Costa em que esta, já depois de Rio ter pedido a demissão de Burmester, elogia a qualidade da programação da Casa da Música e manifesta o desejo de que o pianista se mantenha no projecto.
Ao mesmo tempo que pede ao vereador da Cultura que demita a directora do Rivoli, Sérgio Vieira assegura a Rio que este terá “todo o apoio” da concelhia do partido se decidir retirar o pelouro ao próprio Mendes Pinto, que ocupa um dos lugares atribuídos ao PP no executivo da Câmara do Porto.
É que também o vereador, numa primeira reacção aos ataques de Rio a Burmester, afirmou que o músico é “uma figura incontornável da cultura portuense” e defendeu que o Porto lucraria se este continuasse a “pensar a Casa da Música”. Uma declaração que levou o líder da distrital centrista, Álvaro Castelo Branco, a demarcar-se do seu colega de partido e a solidarizar- se publicamente com Rio.
No mesmo dia, Mendes Pinto veio corrigir as suas primeiras afirmações e reconhecer que Burmester se colocara numa “posição insustentável” e que teria de ser demitido.
O PÚBLICO tentou ontem, sem êxito, ouvir o vereador da Cultura, que poderá anunciar ainda hoje se tenciona, ou não, demitir Isabel Alves Costa. Também o futuro de Pedro Burmester na Casa da Música deverá ser decidido em breve pelo ministro da Cultura, que se reunirá amanhã com o Conselho de Administração da sociedade."
Dois comentários:
1. Confio na serenidade do Dr. Pedro Roseta para mediar esta situação e,do que conheço dele, tudo fará para manter Burmester na Casa da Música, caso ele não opte por saír pelo seu próprio pé;
2. O Dr. Rui Rio, do que também conheço dele, não comunga do mesmo registo "grande-inquisidor" de Sérgio Vieira, o líder concelhio do PSD, que até o vereador do PP quer sanear. Alguém deveria explicar à criatura que, por esse caminho, o PSD Porto se aproxima rapidamente do pior estilo da dupla Gomes/Narciso que dominou o caciquismo nortenho nos últimos anos.
O TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS:SUBSÍDIOS PARA UM DEBATE
Ainda é cedo para falar do TNSC.Vou deixar que a temporada sinfónica termine e que haja algum prenúncio do que se vai seguir para, com alguma serenidade, reflectir. Gosto demasiado dele para o tratar de ânimo leve. E detesto os enredos que se tecem dentro dele e por causa dele, cá fora e lá dentro, para ficar calado.
Para agora, recomendo a reflexão produzida este fim de semana pelo Crítico e que aqui deixo na íntegra, com a devida vénia.
TEATRO S.CARLOS -QUE FUTURO?
O dinheiro gasto com o Teatro de Ópera tem de ser bem gasto, já se sabe que dá prejuízo, já se sabe que é um desígnio, mas é preciso visão estratégica. Pede-se à direcção imaginação e conhecimento. É preciso programação, sei que no teatro se anda em bolandas a preparar a próxima temporada! Hoje dia 21 de Junho, ninguém sabe qual a próxima temporada do teatro de ópera nacional. Não há um teatro de ópera do mundo que não tenha anunciada a próxima tempora a 21 de Junho. Pior, há teatros que apresentam a temporada com anos de antecedência. Um amigo do Teatro de Bayreuth contou-me há poucos dias que andam preocupados a preparar o ano 2012 (bicentenário do nascimento de Wagner). Em S. Carlos ninguém sabe, ou anuncia o que se vai passar em Novembro de 2003!
Os cantores são os amigos do director ou dos maestros ou dos amigos de uns e outros, que temos de aturar porque eles os impingem.
A orquestra não tem um maestro permanente, não são feitas avaliações de desempenho, os músicos sem brio, nem todos, arrastam-se pelas estantes em ritmo de funcionalismo público. O naipe de violinos ontem esteve melhor que o costume, o trabalho do maestro notou-se, mas teve de parar a meio para mandar afinar, o concertino (na primeira estante dos violinos) a contragosto e de ar zangado levantou-se e lá tentou afinar pelo oboé (que, informo, é quem dá o dó à orquestra, em qualquer uma), mas o resto da pandilha dos violinos nem se deu ao trabalho de fingir que estava a afinar, degradante. Mesmo assim estavam mal mas muito melhor que ocasiões anteriores em que a afinação atingiu o nível do insuportável, nem uma orquestra de míudos a começar a aprender tem afinado tão mal como a OSP do TNSC.
No coro entram cantores que ninguém conhece, que cantam mal e porcamente, quais os critérios? As vozes masculinas estão em decréscimo acentuado, as femininas em desafinação acentuada. João Paulo Santos, o maestro de coro, andará mais preocupado com a mota ou não é talhado para a direcção de coro?
O rapaz era pianista acompanhador e agora é maestro de coro. Estudou com quem? Aldo Ciccolini em Paris? Mas este último é maestro? Não, é pianista, então onde estudou a direcção de coro ou de orquestra João Paulo Santos? Como pianista acompanhador, com os maestros que passaram no S. Carlos, provavelmente. Mas ele teve lições, escola, formação de base em direcção? Não me parece. O anterior maestro de coro também não era grande coisa. A evolução do maestro de coro do S. Carlos é tipo promoção da tropa, o rapaz andava por ali, era simpático, tinha amigos, dava uma notas no piano e chegou a maestro titular do coro! Visão estratégica? ZERO. É apenas o princípio de Peters a funcionar e o coro a decair.
Estive ontem no S. Carlos, dia 20, e não na estreia da Graça Lobo no S. Luiz. Quando saía do S. Carlos para passar pelo restaurante do S. Luiz emcontrei um amigo que me disse que a estreia da Graça Lobo foi fantástica. E fui eu ver aqueles manhosos que nos custam uma fortuna a desbaratar o dinheiro dos contribuintes, ainda bem que o Stabat Mater de Dvorjak é comprido, ao menos assim cada nota fica mais barata.
Ainda é cedo para falar do TNSC.Vou deixar que a temporada sinfónica termine e que haja algum prenúncio do que se vai seguir para, com alguma serenidade, reflectir. Gosto demasiado dele para o tratar de ânimo leve. E detesto os enredos que se tecem dentro dele e por causa dele, cá fora e lá dentro, para ficar calado.
Para agora, recomendo a reflexão produzida este fim de semana pelo Crítico e que aqui deixo na íntegra, com a devida vénia.
TEATRO S.CARLOS -QUE FUTURO?
O dinheiro gasto com o Teatro de Ópera tem de ser bem gasto, já se sabe que dá prejuízo, já se sabe que é um desígnio, mas é preciso visão estratégica. Pede-se à direcção imaginação e conhecimento. É preciso programação, sei que no teatro se anda em bolandas a preparar a próxima temporada! Hoje dia 21 de Junho, ninguém sabe qual a próxima temporada do teatro de ópera nacional. Não há um teatro de ópera do mundo que não tenha anunciada a próxima tempora a 21 de Junho. Pior, há teatros que apresentam a temporada com anos de antecedência. Um amigo do Teatro de Bayreuth contou-me há poucos dias que andam preocupados a preparar o ano 2012 (bicentenário do nascimento de Wagner). Em S. Carlos ninguém sabe, ou anuncia o que se vai passar em Novembro de 2003!
Os cantores são os amigos do director ou dos maestros ou dos amigos de uns e outros, que temos de aturar porque eles os impingem.
A orquestra não tem um maestro permanente, não são feitas avaliações de desempenho, os músicos sem brio, nem todos, arrastam-se pelas estantes em ritmo de funcionalismo público. O naipe de violinos ontem esteve melhor que o costume, o trabalho do maestro notou-se, mas teve de parar a meio para mandar afinar, o concertino (na primeira estante dos violinos) a contragosto e de ar zangado levantou-se e lá tentou afinar pelo oboé (que, informo, é quem dá o dó à orquestra, em qualquer uma), mas o resto da pandilha dos violinos nem se deu ao trabalho de fingir que estava a afinar, degradante. Mesmo assim estavam mal mas muito melhor que ocasiões anteriores em que a afinação atingiu o nível do insuportável, nem uma orquestra de míudos a começar a aprender tem afinado tão mal como a OSP do TNSC.
No coro entram cantores que ninguém conhece, que cantam mal e porcamente, quais os critérios? As vozes masculinas estão em decréscimo acentuado, as femininas em desafinação acentuada. João Paulo Santos, o maestro de coro, andará mais preocupado com a mota ou não é talhado para a direcção de coro?
O rapaz era pianista acompanhador e agora é maestro de coro. Estudou com quem? Aldo Ciccolini em Paris? Mas este último é maestro? Não, é pianista, então onde estudou a direcção de coro ou de orquestra João Paulo Santos? Como pianista acompanhador, com os maestros que passaram no S. Carlos, provavelmente. Mas ele teve lições, escola, formação de base em direcção? Não me parece. O anterior maestro de coro também não era grande coisa. A evolução do maestro de coro do S. Carlos é tipo promoção da tropa, o rapaz andava por ali, era simpático, tinha amigos, dava uma notas no piano e chegou a maestro titular do coro! Visão estratégica? ZERO. É apenas o princípio de Peters a funcionar e o coro a decair.
Estive ontem no S. Carlos, dia 20, e não na estreia da Graça Lobo no S. Luiz. Quando saía do S. Carlos para passar pelo restaurante do S. Luiz emcontrei um amigo que me disse que a estreia da Graça Lobo foi fantástica. E fui eu ver aqueles manhosos que nos custam uma fortuna a desbaratar o dinheiro dos contribuintes, ainda bem que o Stabat Mater de Dvorjak é comprido, ao menos assim cada nota fica mais barata.
BLOGO LOGO EXISTO
Abro o Blogo e reparo no destaque mais do que simpático que a gerência decidiu dar ao meu modesto Portugal dos Pequeninos. Já ontem, JPP/Abrupto o tinha feito, destacando a minha lembrança de Cesariny. Daqui lhe lanço o desafio para que, every now and then, publiquemos alguma daquela que achamos que é boa poesia, nossa ou de alhures.
Voltando a J. Pacheco Pereira, lembro-me de, em tempos, ele ter iniciado uma série de crónicas a que dava o nome genérico de "Os nossos" (ver. "Desesperada Esperança", Ed. Notícias e "Vai Pensamento", Quetzal ). Por lá passavam vistas, entre outras, de Boécio ou de Gibbon, dois belos textos. Eu, que não sei trabalhar bem com isto, vou chamando a atenção para os blogues que passarei a considerar dos "nossos" nos meus "posts", como já o fiz em relação ao Abrupto, ao Dicionário do Diabo ou ao Crítico.
Para já acrescento:Montanha Mágica, Socio [B] logue,Cidadão Livre (que me "bate" por eu ter citado uma crónica de V. Pulido Valente acerca de Dumas, no contexto "Potter", mas que, só pelo título, cidadão livre, merece atenção).
Abro o Blogo e reparo no destaque mais do que simpático que a gerência decidiu dar ao meu modesto Portugal dos Pequeninos. Já ontem, JPP/Abrupto o tinha feito, destacando a minha lembrança de Cesariny. Daqui lhe lanço o desafio para que, every now and then, publiquemos alguma daquela que achamos que é boa poesia, nossa ou de alhures.
Voltando a J. Pacheco Pereira, lembro-me de, em tempos, ele ter iniciado uma série de crónicas a que dava o nome genérico de "Os nossos" (ver. "Desesperada Esperança", Ed. Notícias e "Vai Pensamento", Quetzal ). Por lá passavam vistas, entre outras, de Boécio ou de Gibbon, dois belos textos. Eu, que não sei trabalhar bem com isto, vou chamando a atenção para os blogues que passarei a considerar dos "nossos" nos meus "posts", como já o fiz em relação ao Abrupto, ao Dicionário do Diabo ou ao Crítico.
Para já acrescento:Montanha Mágica, Socio [B] logue,Cidadão Livre (que me "bate" por eu ter citado uma crónica de V. Pulido Valente acerca de Dumas, no contexto "Potter", mas que, só pelo título, cidadão livre, merece atenção).
MARCELO
Ontem à noite, no seu habitual comentário dominical na TVI, o meu muito apreciado e colega de banhos do Guincho, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu quebrar o hábito, que quase sempre respeita, de não falar de livros estrangeiros, para abrir as suas recomendações literárias com o último inefável Harry Potter, esclarecendo que já tinha lido os dois primeiros capítulos e os dois últimos. De facto, o calhamaço exibido, por muito pouco que Marcelo durma, não estaria seguramente em condições para estar completamente devorado, por muito interessante que a prosa fosse. Já disse o que pensava dos devaneios da Sra. Rowling. Por isso, não gostei de ver o intelectual Marcelo a sugerir este tipo de literatura de massas e de gosto fácil quando, em vez dela, poderia ter sugerido, por exemplo, o último livro da trilogia "O Princípio da Incerteza", de Agustina Bessa Luís, "Os Espaços em Branco", da Guimarães Editora.
Ontem à noite, no seu habitual comentário dominical na TVI, o meu muito apreciado e colega de banhos do Guincho, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu quebrar o hábito, que quase sempre respeita, de não falar de livros estrangeiros, para abrir as suas recomendações literárias com o último inefável Harry Potter, esclarecendo que já tinha lido os dois primeiros capítulos e os dois últimos. De facto, o calhamaço exibido, por muito pouco que Marcelo durma, não estaria seguramente em condições para estar completamente devorado, por muito interessante que a prosa fosse. Já disse o que pensava dos devaneios da Sra. Rowling. Por isso, não gostei de ver o intelectual Marcelo a sugerir este tipo de literatura de massas e de gosto fácil quando, em vez dela, poderia ter sugerido, por exemplo, o último livro da trilogia "O Princípio da Incerteza", de Agustina Bessa Luís, "Os Espaços em Branco", da Guimarães Editora.
22.6.03
UMA CHANATA NO PÉ
Referências: Roland Barthes, Mitologias e Sistema da Moda, trad. nas Ed. 70
Não sei se já alguém reparou que, pelos dias quentes que correm, emergiu uma "moda", particularmente pelo lado masculino da coisa, de recorrer aos chanatos de enfiar entre o dedão grande do pé e o imediatamente ao lado, de borracha, que se adquiriam a modesto preço "made in taiwan". E não para ir à praia ou a uma piscina. É mesmo peça de vestuário! É, pois, chique. Aliás, estive no passado fim-de-semana em Barcelona e percebi que a coisa estava "globalizada". Eu não tenho nada contra, pela simples razão de que acho que um bonito pé - independentemente da proveniência - merece ser contemplado, sem fetichismos doentios. O que já me incomoda é este "sistema da moda" que exerce uma espécie de avidez colectiva em seguir o padrão em voga, sem pensar que me limito a copiar o vizinho. Não se trata naturalmente apenas e só de uma reacção ao calor. Lembro-me de que, ainda há não muito tempo, era "o máximo" andar de fato e com os sapatos sem meias. Eu, liberal como sou, fico indiferente a estas nuances que me limito a apreciar descomprometidamente. Como lembra o nosso amigo Mário Soares, e com o sucesso que conhecemos, é fundamental sentirmo-nos bem na nossa pele. Mesmo de chanata no pé.
Referências: Roland Barthes, Mitologias e Sistema da Moda, trad. nas Ed. 70
Não sei se já alguém reparou que, pelos dias quentes que correm, emergiu uma "moda", particularmente pelo lado masculino da coisa, de recorrer aos chanatos de enfiar entre o dedão grande do pé e o imediatamente ao lado, de borracha, que se adquiriam a modesto preço "made in taiwan". E não para ir à praia ou a uma piscina. É mesmo peça de vestuário! É, pois, chique. Aliás, estive no passado fim-de-semana em Barcelona e percebi que a coisa estava "globalizada". Eu não tenho nada contra, pela simples razão de que acho que um bonito pé - independentemente da proveniência - merece ser contemplado, sem fetichismos doentios. O que já me incomoda é este "sistema da moda" que exerce uma espécie de avidez colectiva em seguir o padrão em voga, sem pensar que me limito a copiar o vizinho. Não se trata naturalmente apenas e só de uma reacção ao calor. Lembro-me de que, ainda há não muito tempo, era "o máximo" andar de fato e com os sapatos sem meias. Eu, liberal como sou, fico indiferente a estas nuances que me limito a apreciar descomprometidamente. Como lembra o nosso amigo Mário Soares, e com o sucesso que conhecemos, é fundamental sentirmo-nos bem na nossa pele. Mesmo de chanata no pé.
FAZ DE CONTA
Depois de Mário Cesariny, lembrei-me de que Vasco Pulido Valente já não escreve as suas três notas semanais no Diário de Notícias há umas semanas e temo que isso esteja a acontecer por motivos pessoais desagradáveis. Pulido Valente é um escritor exímio e polémico. Tem , graças a Deus, um genuíno mau feitio que, neste País beato e hipócrita, lhe deve pesar como chumbo. Eu tenho saudades dos seus textos e acho que não estou isolado. Por isso, recupero uma antiga crónica sua e aqui a deixo reproduzida na íntegra, no dia seguinte à saída de mais uma aventura do "herói" do nosso tempo, o menino mágico Potter que tantos arrebatamentos intelectuais (?) produz por esse mundo fora. E que volte depressa.
Dumas
Quando eu era pequeno e andava no liceu, não havia televisão e não me lembro de ouvir telefonia, a título de entretenimento, um hábito comum à classe média, que detestava o nacional-cançonetismo então reinante. Fora uns jogos de futebol nas traseiras da casa onde morava, o único divertimento era o cinema ao sábado, se por acaso durante a semana não tinha aparecido uma «nota negativa» e eu não tinha atraído um castigo paternal por qualquer asneira maior. Restava ler: capa-e-espada, Emílio Salgari (a série de Sandokan e do português Gastão) e, muito mais tarde, a colecção Vampiro. Mas no meio dessa tralha sem grande qualidade ou consequência, estava um monumento: Alexandre Dumas. Comecei, evidentemente, pel'Os Três Mosqueteiros e pelas sequelas, Vinte Anos depois _ um reencontro apaixonado _ e O Visconde de Bragelonne, filho de Athos e desgraçado pretendente à mão da primeira favorita de Luís XIV, Luísa de La Valière. A seguir veio, como não podia deixar de ser, O Conde de Monte Cristo, que reli, pelo menos, vinte vezes (e não, palavra de honra, por um especial amor à vingança). Entretanto, lá pelos doze ou treze anos, já sabia o francês suficiente para chegar à Reine Margot, ao admirável Le Collier da Reine e também a obras relativamente obscuras como La Fille du régent e La Dame de Monsoreau. Sem querer, e com prazer, aprendi alguma coisa sobre a história de França: sobre o fim da dinastia Valois e as guerras de religião, sobre os reinados de Luís XIII e Luís XIV e até sobre a sociedade da monarquia restaurada em 1814. Alexandre Dumas foi ontem solenemente trasladado para o Panteão. O que, para mim, é um desafio oficial do tempo em que as crianças liam à terrível vacuidade da televisão e do jogo electrónico. A nós não nos tiraram à nascença metade do cérebro.
por VASCO PULIDO VALENTE
Depois de Mário Cesariny, lembrei-me de que Vasco Pulido Valente já não escreve as suas três notas semanais no Diário de Notícias há umas semanas e temo que isso esteja a acontecer por motivos pessoais desagradáveis. Pulido Valente é um escritor exímio e polémico. Tem , graças a Deus, um genuíno mau feitio que, neste País beato e hipócrita, lhe deve pesar como chumbo. Eu tenho saudades dos seus textos e acho que não estou isolado. Por isso, recupero uma antiga crónica sua e aqui a deixo reproduzida na íntegra, no dia seguinte à saída de mais uma aventura do "herói" do nosso tempo, o menino mágico Potter que tantos arrebatamentos intelectuais (?) produz por esse mundo fora. E que volte depressa.
Dumas
Quando eu era pequeno e andava no liceu, não havia televisão e não me lembro de ouvir telefonia, a título de entretenimento, um hábito comum à classe média, que detestava o nacional-cançonetismo então reinante. Fora uns jogos de futebol nas traseiras da casa onde morava, o único divertimento era o cinema ao sábado, se por acaso durante a semana não tinha aparecido uma «nota negativa» e eu não tinha atraído um castigo paternal por qualquer asneira maior. Restava ler: capa-e-espada, Emílio Salgari (a série de Sandokan e do português Gastão) e, muito mais tarde, a colecção Vampiro. Mas no meio dessa tralha sem grande qualidade ou consequência, estava um monumento: Alexandre Dumas. Comecei, evidentemente, pel'Os Três Mosqueteiros e pelas sequelas, Vinte Anos depois _ um reencontro apaixonado _ e O Visconde de Bragelonne, filho de Athos e desgraçado pretendente à mão da primeira favorita de Luís XIV, Luísa de La Valière. A seguir veio, como não podia deixar de ser, O Conde de Monte Cristo, que reli, pelo menos, vinte vezes (e não, palavra de honra, por um especial amor à vingança). Entretanto, lá pelos doze ou treze anos, já sabia o francês suficiente para chegar à Reine Margot, ao admirável Le Collier da Reine e também a obras relativamente obscuras como La Fille du régent e La Dame de Monsoreau. Sem querer, e com prazer, aprendi alguma coisa sobre a história de França: sobre o fim da dinastia Valois e as guerras de religião, sobre os reinados de Luís XIII e Luís XIV e até sobre a sociedade da monarquia restaurada em 1814. Alexandre Dumas foi ontem solenemente trasladado para o Panteão. O que, para mim, é um desafio oficial do tempo em que as crianças liam à terrível vacuidade da televisão e do jogo electrónico. A nós não nos tiraram à nascença metade do cérebro.
por VASCO PULIDO VALENTE
FLORILÉGIO DOMINGUEIRO
O nosso conhecido e estimado Abrupto lembrou-se hoje de reproduzir uma parte de um longo poema de escárnio e mal dizer de Airas Peres Vuitorom sobre um dos seus primeiros parentes históricos, retirado ao livro "Cantigas de Escárnio e Maldizer", Lisboa, Estampa, 2002, com notas de Graça Videira Lopes. Eu andei uns séculos mais para a frente e decidi - lembrado da tola polémica que envolveu o Sr. Lello do PS com alguns representantes de oraganizações gays & lésbicas, v.g. a famigerada Opus Gay do Sr. Serzedelo, a que ontem mesmo aludi no Portugal dos Pequeninos - reproduzir "o regresso de ulisses" de Mário Cesariny, publicado na "Pena Capital", ed. assírio&alvim.
o regresso de ulisses
O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE.
PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÃNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC, ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA "ESCRAVA DO HOMEM" E ELA RI ÀS ESCÃNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM.
DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÃNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMAS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ESSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM.
Cesariny sabe bem sempre, mas, num domingo em que a canÍcula se afastou para dar lugar a um inesperado ar insonso e cinzento, adequado ao estado geral da Pátria, ainda sabe melhor.
O nosso conhecido e estimado Abrupto lembrou-se hoje de reproduzir uma parte de um longo poema de escárnio e mal dizer de Airas Peres Vuitorom sobre um dos seus primeiros parentes históricos, retirado ao livro "Cantigas de Escárnio e Maldizer", Lisboa, Estampa, 2002, com notas de Graça Videira Lopes. Eu andei uns séculos mais para a frente e decidi - lembrado da tola polémica que envolveu o Sr. Lello do PS com alguns representantes de oraganizações gays & lésbicas, v.g. a famigerada Opus Gay do Sr. Serzedelo, a que ontem mesmo aludi no Portugal dos Pequeninos - reproduzir "o regresso de ulisses" de Mário Cesariny, publicado na "Pena Capital", ed. assírio&alvim.
o regresso de ulisses
O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE.
PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÃNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC, ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA "ESCRAVA DO HOMEM" E ELA RI ÀS ESCÃNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM.
DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÃNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMAS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ESSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM.
Cesariny sabe bem sempre, mas, num domingo em que a canÍcula se afastou para dar lugar a um inesperado ar insonso e cinzento, adequado ao estado geral da Pátria, ainda sabe melhor.
21.6.03
PS MARGINAL
O Sr. Lello, que foi Secretário de Estado do Desporto na encarnação Guterres, disse, nas jornadas parlamentares do seu partido, que não gostava de ver o PS associado a certos movimentos que participaram numa coisa chamada Forum Social Português, designadamente a movimentos folclóricos e marginais de gays, lésbicas e travestis. Os lídimos representantes destes movimentos atacaram de pronto o Sr. Lello, acusando-o de "homofóbico"e protestando o habitual respeito pelo direito à diferença. Acossado, Lello veio dizer que tinha muita consideração por homossexuais e que as suas críticas tinham que ver antes com a natureza política do evento.
Este tipo de fundamentalismo segregacionista de certas organizações ditas representativas de "same sexers" em nada abona ou ajuda a causa. São sempre os mesmos e julgo que muito pouca gente lhes terá pedido para os defenderem. O direito à diferença não reclama "neons" na testa nem exibicionismos saloios. Ao contrário do que pensam, separam mais do que integram. A reacção ao que terá dito o Sr. Lello foi despropositada e julgo que nem ele nem ninguém tem que pedir desculpa por aquilo que é sexualmente. Entretanto, recomendo à "rapaziada organizativa" a leitura de Gore Vidal, versão ensaística, particularmente o livro que reúne os escritos sobre sexualidade, "Sexually Speaking", para ver se se acalmam. Fica aqui um aperitivo.
O Sr. Lello, que foi Secretário de Estado do Desporto na encarnação Guterres, disse, nas jornadas parlamentares do seu partido, que não gostava de ver o PS associado a certos movimentos que participaram numa coisa chamada Forum Social Português, designadamente a movimentos folclóricos e marginais de gays, lésbicas e travestis. Os lídimos representantes destes movimentos atacaram de pronto o Sr. Lello, acusando-o de "homofóbico"e protestando o habitual respeito pelo direito à diferença. Acossado, Lello veio dizer que tinha muita consideração por homossexuais e que as suas críticas tinham que ver antes com a natureza política do evento.
Este tipo de fundamentalismo segregacionista de certas organizações ditas representativas de "same sexers" em nada abona ou ajuda a causa. São sempre os mesmos e julgo que muito pouca gente lhes terá pedido para os defenderem. O direito à diferença não reclama "neons" na testa nem exibicionismos saloios. Ao contrário do que pensam, separam mais do que integram. A reacção ao que terá dito o Sr. Lello foi despropositada e julgo que nem ele nem ninguém tem que pedir desculpa por aquilo que é sexualmente. Entretanto, recomendo à "rapaziada organizativa" a leitura de Gore Vidal, versão ensaística, particularmente o livro que reúne os escritos sobre sexualidade, "Sexually Speaking", para ver se se acalmam. Fica aqui um aperitivo.
UM ALBERGUE ESPANHOL
Foi há umas semanas notícia a investigação que estava a ser efectuada à provecta gestão da família Rebello ( de Luis Francisco) na Sociedade Portuguesa de Autores. Constavam trapalhadas financeiras e, de demissão em demissão, é o próprio Luis Francisco Rebello quem se demite por fim, dando azo a eleições no princípio de Julho. Na edição de hoje do jornal Público, podemos ler o seguinte:
"Quase um mês depois da demissão em bloco da direcção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e do seu presidente, Luiz Francisco Rebello, estão a ser formadas duas listas, uma de continuidade, que poderá ser encabeçada por Vasco Graça Moura, e outra de ruptura, liderada por Manuel Freire. "Está em construção uma lista que admito encabeçar", disse ao PÚBLICO Graça Moura, que remeteu a decisão para a próxima semana. "É uma lista ética", disse José Jorge Letria, que integra a lista de Manuel Freire.
Os dois últimos demitiram-se da SPA devido à crise que a sociedade atravessa. No início do ano foram levantadas suspeitas de corrupção, fraude e gestão danosa da administração (composta por Luiz Francisco Rebello e pela filha, Catarina Rebello), que levaram a Polícia Judiciária e outras entidades a investigar a instituição. Em Maio, José Jorge Letria foi forçado por Rebello a demitir-se de presidente da assembleia-geral e Manuel Freire demitiu-se duas semanas depois, forçando, por sua vez, Rebello a abandonar a direcção. Os restantes elementos da direcção seguiram-lhe os passos. João Gil, o primeiro a demitir-se, deverá apoiar a lista de Freire.
O PÚBLICO não conseguiu contactar Manuel Freire, mas, segundo José Jorge Letria, que se recandidatará ao cargo do qual se demitiu, Manuel Alegre, Guilherme Leite, João Gil e Luís Represas são alguns dos apoiantes e Alice Vieira, António Torrado ou Júlio Isidro poderão integrar a lista. "Pela primeira vez em 30 anos aparece uma lista que se opõe ao tipo de gestão que o anterior presidente imprimiu. É uma possibilidade de dar um novo rumo à SPA, para romper com os erros e distorções que levaram à crise e à demissão da direcção", disse Letria.
Sobre as razões que o levam a admitir a possibilidade de dirigir a SPA, Vasco Graça Moura disse: "É uma instituição que me interessa e a todos os criadores portugueses".
Segundo declarações de Rebello ao PÚBLICO, a lista que apoia, de Graça Moura, integra nomes como José Saramago, Filipe La Féria, Miguel Ângelo, Pedro Abrunhosa ou Carlos Pinto Coelho. No entanto, a hipótese de o ex-presidente se recandidatar não está completamente afastada: "Não confirmo nem desminto", disse. O que motiva Rebello, aos 78 anos? "Querer assegurar que a sociedade continue a ser aquilo que sempre foi e o que motivou a sua fundação: a afirmação e defesa do direito de autor." As eleições para a SPA decorrem a 8 de Julho"
Como vemos, são todos bons e civilizados rapazes. Até mesmo quando dizem coisas do género "é uma lista ética" ( que ninguém sabe o que seja), deixando no ar a suspeita de que os da outra lista são os bandidos a quem se não deve entregar o ouro. Rebello, por seu turno, insiste em "afirmar e defender o direito de autor", coisa, aliás - e é de elementar justiça reconhecê-lo - em que ele é um reputado especialista. O que é mais divertido é a hipótese de uma lista encabeçada por Graça Moura poder vir a ser apoiada por Saramago ou Abrunhosa, com Rebello na sombra, e que, do outro lado, encontremos de mãos dadas contra o "tipo de gestão que o anterior presidente imprimiu" justamente grande parte daqueles que foram seus anteriores "compagnons de route". O albergue é o mesmo, eventualmente só acabará por mudar o porteiro.
Foi há umas semanas notícia a investigação que estava a ser efectuada à provecta gestão da família Rebello ( de Luis Francisco) na Sociedade Portuguesa de Autores. Constavam trapalhadas financeiras e, de demissão em demissão, é o próprio Luis Francisco Rebello quem se demite por fim, dando azo a eleições no princípio de Julho. Na edição de hoje do jornal Público, podemos ler o seguinte:
"Quase um mês depois da demissão em bloco da direcção da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e do seu presidente, Luiz Francisco Rebello, estão a ser formadas duas listas, uma de continuidade, que poderá ser encabeçada por Vasco Graça Moura, e outra de ruptura, liderada por Manuel Freire. "Está em construção uma lista que admito encabeçar", disse ao PÚBLICO Graça Moura, que remeteu a decisão para a próxima semana. "É uma lista ética", disse José Jorge Letria, que integra a lista de Manuel Freire.
Os dois últimos demitiram-se da SPA devido à crise que a sociedade atravessa. No início do ano foram levantadas suspeitas de corrupção, fraude e gestão danosa da administração (composta por Luiz Francisco Rebello e pela filha, Catarina Rebello), que levaram a Polícia Judiciária e outras entidades a investigar a instituição. Em Maio, José Jorge Letria foi forçado por Rebello a demitir-se de presidente da assembleia-geral e Manuel Freire demitiu-se duas semanas depois, forçando, por sua vez, Rebello a abandonar a direcção. Os restantes elementos da direcção seguiram-lhe os passos. João Gil, o primeiro a demitir-se, deverá apoiar a lista de Freire.
O PÚBLICO não conseguiu contactar Manuel Freire, mas, segundo José Jorge Letria, que se recandidatará ao cargo do qual se demitiu, Manuel Alegre, Guilherme Leite, João Gil e Luís Represas são alguns dos apoiantes e Alice Vieira, António Torrado ou Júlio Isidro poderão integrar a lista. "Pela primeira vez em 30 anos aparece uma lista que se opõe ao tipo de gestão que o anterior presidente imprimiu. É uma possibilidade de dar um novo rumo à SPA, para romper com os erros e distorções que levaram à crise e à demissão da direcção", disse Letria.
Sobre as razões que o levam a admitir a possibilidade de dirigir a SPA, Vasco Graça Moura disse: "É uma instituição que me interessa e a todos os criadores portugueses".
Segundo declarações de Rebello ao PÚBLICO, a lista que apoia, de Graça Moura, integra nomes como José Saramago, Filipe La Féria, Miguel Ângelo, Pedro Abrunhosa ou Carlos Pinto Coelho. No entanto, a hipótese de o ex-presidente se recandidatar não está completamente afastada: "Não confirmo nem desminto", disse. O que motiva Rebello, aos 78 anos? "Querer assegurar que a sociedade continue a ser aquilo que sempre foi e o que motivou a sua fundação: a afirmação e defesa do direito de autor." As eleições para a SPA decorrem a 8 de Julho"
Como vemos, são todos bons e civilizados rapazes. Até mesmo quando dizem coisas do género "é uma lista ética" ( que ninguém sabe o que seja), deixando no ar a suspeita de que os da outra lista são os bandidos a quem se não deve entregar o ouro. Rebello, por seu turno, insiste em "afirmar e defender o direito de autor", coisa, aliás - e é de elementar justiça reconhecê-lo - em que ele é um reputado especialista. O que é mais divertido é a hipótese de uma lista encabeçada por Graça Moura poder vir a ser apoiada por Saramago ou Abrunhosa, com Rebello na sombra, e que, do outro lado, encontremos de mãos dadas contra o "tipo de gestão que o anterior presidente imprimiu" justamente grande parte daqueles que foram seus anteriores "compagnons de route". O albergue é o mesmo, eventualmente só acabará por mudar o porteiro.
MARIA BARROSO
A um amigo comum, Paulo Portas teria confessado há tempos que, entre as duas ou três instituições que respeitava, nelas incluía as forças armadas e a família Soares. Quanto às primeiras, o balanço será feito quando saír. Perante a família Soares - leia-se Maria Barroso - Portas, o Ministro da Defesa, comportou-se como Portas, o mais ilustre militante do PP, trazendo à superfície o seu lado manhoso e pérfido. Maria Barroso tem sido até agora presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e, entre os seus vice presidentes, que se solidarizaram com ela, contam-se figuras tanto do PSD como do PS, com destaque para o insuspeito e libérrimo Miguel Veiga, fundador do PPD/PSD. Portas decidiu despedir Maria Barroso e substituí-la por Nogueira de Brito, estimável criatura. Para o efeito, foi montado o habitual circuito dos papéis e das reuniões magnas, a última das quais - segundo leio no Expresso - presidida pelo secretário de Estado de Portas, Henrique de Freitas, que conheço desde a faculdade e de quem não esperava que se prestasse a estas cenas. Tudo está pois a postos para que o Governo, pela mão de Barroso ( Durão) e de Portas, apresente na segunda-feira a proposta de nomeação ao PR.
Maria Barroso é uma Senhora e uma resistente com provas dadas. Consequentemente passará incólume a este enxovalho. Mais um triste episódio para o "livro do riso e do esquecimento" que é a nossa vida pública.
A um amigo comum, Paulo Portas teria confessado há tempos que, entre as duas ou três instituições que respeitava, nelas incluía as forças armadas e a família Soares. Quanto às primeiras, o balanço será feito quando saír. Perante a família Soares - leia-se Maria Barroso - Portas, o Ministro da Defesa, comportou-se como Portas, o mais ilustre militante do PP, trazendo à superfície o seu lado manhoso e pérfido. Maria Barroso tem sido até agora presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e, entre os seus vice presidentes, que se solidarizaram com ela, contam-se figuras tanto do PSD como do PS, com destaque para o insuspeito e libérrimo Miguel Veiga, fundador do PPD/PSD. Portas decidiu despedir Maria Barroso e substituí-la por Nogueira de Brito, estimável criatura. Para o efeito, foi montado o habitual circuito dos papéis e das reuniões magnas, a última das quais - segundo leio no Expresso - presidida pelo secretário de Estado de Portas, Henrique de Freitas, que conheço desde a faculdade e de quem não esperava que se prestasse a estas cenas. Tudo está pois a postos para que o Governo, pela mão de Barroso ( Durão) e de Portas, apresente na segunda-feira a proposta de nomeação ao PR.
Maria Barroso é uma Senhora e uma resistente com provas dadas. Consequentemente passará incólume a este enxovalho. Mais um triste episódio para o "livro do riso e do esquecimento" que é a nossa vida pública.
NÓS SOMOS O MUNDO, NÓS SOMOS AS CRIANÇAS
Era ontem a notícia do dia. A Sra. JK Rowling dava à luz, em Inglaterra, por volta da meia noite, mais um "filho" da linhagem Harry Potter. Para que o acto tivesse o brilho que o cometimento exige, as livrarias londrinas terão ficado abertas até depois da meia noite, hora oficial do parto. Escusado será dizer que as nossas tv´s nos brindarão abundantemente durante o dia com estas mágicas peripécias. Por cá, a FNAC também deu um ar da sua graça, e terá posto à disposição dos mais ávidos, logo ontem à mesma londrina hora, 200 exemplares da aventura no original.
Consta que esta nobre linhagem de Harry Potters tem em muito contribuído para o bem-estar financeiro da Sra. Rowling que, rezam as crónicas, é mais uma rapariga que "subiu a vida a pulso", mas que, em boa hora, descobriu o seu maná. Eu nunca me deixei atrair por este género de literatura, porém admito que, por esse mundo fora, milhões de adultos e crianças o façam. Nada de que nos devamos admirar. Os grandes escritores dos séculos XIX e XX que anunciaram a destruição, o abandono, a solidão, a incomunicabilidade ou o suicídio, na sequela da debandada de Deus, pouco ou nada devem dizer à generalidade dos humanos da era 2000. Rowling e a maior parte dos seus leitores serão por certo insensíveis ao grito desesperado de Moisés, no final do "Moses und Aron" de Schoenberg: "O Wort, du wort das mir fehlt".
A propósito disto, lembrei-me de Heidegger, num pequeno livrinho, "Serenidade" ( trad. do Instituto Piaget, de "Gelassenheit"): "a ausência de pensamentos é um hóspede sinistro que, no mundo actual, entra e sai em toda a parte". E também de Alain Finkielkraut, em "A derrota do pensamento" , reflectindo sobre a então emergência dos mega concertos rock e citando Paul Yonnet, "L' esthétique rock" ( trad. pelas Ed. D. Quixote ):
"Face ao resto do mundo, o povo jovem não defendia apenas gostos e valores específicos. Mobilizava igualmente, diz-nos o seu grande turiferário "outras zonas cerebrais para além das da expressão linguística. Conflito de gerações, mas também conflito de hemisférios diferenciados do cérebro (o reconhecimento não verbal contra a verbalização), hemisférios durante muito tempo cegos, neste caso um para o outro". A batalha foi dura, mas o que chamamos hoje comunicação, atesta-o: o hemisfério não verbal acabou por vencê-la, o clip triunfou sobre a conversa, a sociedade "tornou-se por fim adolescente"(....) ela encontrou (...) o seu hino internacional: we are the world, we are the children. Nós somos o mundo, nós somos as crianças.
Era ontem a notícia do dia. A Sra. JK Rowling dava à luz, em Inglaterra, por volta da meia noite, mais um "filho" da linhagem Harry Potter. Para que o acto tivesse o brilho que o cometimento exige, as livrarias londrinas terão ficado abertas até depois da meia noite, hora oficial do parto. Escusado será dizer que as nossas tv´s nos brindarão abundantemente durante o dia com estas mágicas peripécias. Por cá, a FNAC também deu um ar da sua graça, e terá posto à disposição dos mais ávidos, logo ontem à mesma londrina hora, 200 exemplares da aventura no original.
Consta que esta nobre linhagem de Harry Potters tem em muito contribuído para o bem-estar financeiro da Sra. Rowling que, rezam as crónicas, é mais uma rapariga que "subiu a vida a pulso", mas que, em boa hora, descobriu o seu maná. Eu nunca me deixei atrair por este género de literatura, porém admito que, por esse mundo fora, milhões de adultos e crianças o façam. Nada de que nos devamos admirar. Os grandes escritores dos séculos XIX e XX que anunciaram a destruição, o abandono, a solidão, a incomunicabilidade ou o suicídio, na sequela da debandada de Deus, pouco ou nada devem dizer à generalidade dos humanos da era 2000. Rowling e a maior parte dos seus leitores serão por certo insensíveis ao grito desesperado de Moisés, no final do "Moses und Aron" de Schoenberg: "O Wort, du wort das mir fehlt".
A propósito disto, lembrei-me de Heidegger, num pequeno livrinho, "Serenidade" ( trad. do Instituto Piaget, de "Gelassenheit"): "a ausência de pensamentos é um hóspede sinistro que, no mundo actual, entra e sai em toda a parte". E também de Alain Finkielkraut, em "A derrota do pensamento" , reflectindo sobre a então emergência dos mega concertos rock e citando Paul Yonnet, "L' esthétique rock" ( trad. pelas Ed. D. Quixote ):
"Face ao resto do mundo, o povo jovem não defendia apenas gostos e valores específicos. Mobilizava igualmente, diz-nos o seu grande turiferário "outras zonas cerebrais para além das da expressão linguística. Conflito de gerações, mas também conflito de hemisférios diferenciados do cérebro (o reconhecimento não verbal contra a verbalização), hemisférios durante muito tempo cegos, neste caso um para o outro". A batalha foi dura, mas o que chamamos hoje comunicação, atesta-o: o hemisfério não verbal acabou por vencê-la, o clip triunfou sobre a conversa, a sociedade "tornou-se por fim adolescente"(....) ela encontrou (...) o seu hino internacional: we are the world, we are the children. Nós somos o mundo, nós somos as crianças.
O ANEL DA CULTURA VII
Passando os olhos pelos Frescos de hoje do Blogo, deparou-se-me um Crítico cuja leitura recomendo. Parece que ontem assistiu ao concerto sinfónico no Teatro Nacional de São Carlos e que, para além disso, conhece bem a casa. Lá mais para diante, tenciono debruçar-me profundamente sobre a vida do nosso único teatro de ópera, não só por ser seu frequentador desde os tempos em que José Atalaya ensinava, aos fins de semana de manhã, a compreender a música desde tenra idade, mas por - bruscamente no ano passado - ter feito parte da sua direcção.
Passando os olhos pelos Frescos de hoje do Blogo, deparou-se-me um Crítico cuja leitura recomendo. Parece que ontem assistiu ao concerto sinfónico no Teatro Nacional de São Carlos e que, para além disso, conhece bem a casa. Lá mais para diante, tenciono debruçar-me profundamente sobre a vida do nosso único teatro de ópera, não só por ser seu frequentador desde os tempos em que José Atalaya ensinava, aos fins de semana de manhã, a compreender a música desde tenra idade, mas por - bruscamente no ano passado - ter feito parte da sua direcção.
20.6.03
O PARAÍSO NA OUTRA ESQUINA
Acabei de ler, com muitas outras leituras pelo meio, o último livro do escritor peruano Mario Vargas Llosa, "El Paraíso en la otra esquina". Trata-se de um romance arquitectado em torno das vidas da feminista Flora Tristán e do seu neto, o pintor Paul Gauguin. Gauguin começou por ser um bem sucedido corretor da bolsa de Paris, fez o que se chamaria um relativamente bom casamento, com uma nórrdica e, de repente, começou a pintar. Conheceu Van Gogh e, atraído pela expontaneidade da natureza e das criaturas do Tahiti, para ali embarcou, abandonando a, até então, sua civilização. A sua obra reflecte esta vivência e a sua errância algo desregrada e libertina que Llosa bem descreve no seu livro, em que alterna o percurso do neto com o da avó, anos antes. Flora foi o que poderíamos chamar uma mulher cosmopolita, parece que bonita, e empenhada na sensibilização social e na emancipação de homens e mulheres nos finais do século passado. Também ela abandonou a sua primitiva condição de esposa e de mãe para se lançar, mundo fora, na utopia da libertação. Os capítulos dedicados a Flora Tristán revelam uma mulher com uma audácia interior e uma coragem moral e física impressionantes, ao mesmo tempo que insinuam a imensa solidão do seu combate.O mundo de hoje não permite mais "fabricar" criaturas como Gauguin ou Flora. O texto de Vargas Llosa tem o mérito de nos remeter para os caminhos inacabados de ambos, cada um à sua maneira, em busca do paraíiso na outra esquina.
Acabei de ler, com muitas outras leituras pelo meio, o último livro do escritor peruano Mario Vargas Llosa, "El Paraíso en la otra esquina". Trata-se de um romance arquitectado em torno das vidas da feminista Flora Tristán e do seu neto, o pintor Paul Gauguin. Gauguin começou por ser um bem sucedido corretor da bolsa de Paris, fez o que se chamaria um relativamente bom casamento, com uma nórrdica e, de repente, começou a pintar. Conheceu Van Gogh e, atraído pela expontaneidade da natureza e das criaturas do Tahiti, para ali embarcou, abandonando a, até então, sua civilização. A sua obra reflecte esta vivência e a sua errância algo desregrada e libertina que Llosa bem descreve no seu livro, em que alterna o percurso do neto com o da avó, anos antes. Flora foi o que poderíamos chamar uma mulher cosmopolita, parece que bonita, e empenhada na sensibilização social e na emancipação de homens e mulheres nos finais do século passado. Também ela abandonou a sua primitiva condição de esposa e de mãe para se lançar, mundo fora, na utopia da libertação. Os capítulos dedicados a Flora Tristán revelam uma mulher com uma audácia interior e uma coragem moral e física impressionantes, ao mesmo tempo que insinuam a imensa solidão do seu combate.O mundo de hoje não permite mais "fabricar" criaturas como Gauguin ou Flora. O texto de Vargas Llosa tem o mérito de nos remeter para os caminhos inacabados de ambos, cada um à sua maneira, em busca do paraíiso na outra esquina.
SAUDAÇÃO
Na transição de um dia para o outro, não quero deixar de saudar o novo blog de Pedro Mexia, tão refrescante nestas abrasadoras horas, Dicionário do Diabo
Na transição de um dia para o outro, não quero deixar de saudar o novo blog de Pedro Mexia, tão refrescante nestas abrasadoras horas, Dicionário do Diabo
19.6.03
O ANEL DA CULTURA VI
Já não é a primeira vez que no seu Fio do Horizonte Eduardo Prado Coelho se refere elogiosamente a Pedro Santana Lopes por contraposição com o actual Ministério da Cultura "lato sensu". De facto, Lopes é indiscutivelmente mais imaginativo e "criativo" do que qualquer outra entidade ligada actualmente aos assuntos culturais, a nível de governo. Até por isso e pelas conhecidas ambições políticas que o acompanham, Lopes, na sua dupla qualidade de presidente da maior Cãmara do País e de vice presidente do PSD, o n º 2 logo a seguir a Barroso, poderia dar mais atenção ao tema, nem que seja depois de encerrado o "ciclo do betão" com o Euro 2004. A escolha de Clara Ferreira Alves para a Casa Fernando Pessoa foi um bom sinal e a "Lisboa Feliz" que prometeu também passa por aí.
Já não é a primeira vez que no seu Fio do Horizonte Eduardo Prado Coelho se refere elogiosamente a Pedro Santana Lopes por contraposição com o actual Ministério da Cultura "lato sensu". De facto, Lopes é indiscutivelmente mais imaginativo e "criativo" do que qualquer outra entidade ligada actualmente aos assuntos culturais, a nível de governo. Até por isso e pelas conhecidas ambições políticas que o acompanham, Lopes, na sua dupla qualidade de presidente da maior Cãmara do País e de vice presidente do PSD, o n º 2 logo a seguir a Barroso, poderia dar mais atenção ao tema, nem que seja depois de encerrado o "ciclo do betão" com o Euro 2004. A escolha de Clara Ferreira Alves para a Casa Fernando Pessoa foi um bom sinal e a "Lisboa Feliz" que prometeu também passa por aí.
UM PAÍS A FOGO
Hoje terá sido o dia mais quente do ano e, seguindo a tradição, começaram os incêndios. A ladaínha da prevenção e as boas vontades oficiais nunca chegam para debelar esta miséria. Para mais, este ano as divisões institucionais dos diversos intervenientes por causa da fusão da protecção civil com o serviço nacional de bombeiros, acicataram os localismos caciqueiros e partidários contra o Ministro da Administração Interna que, diga-se de passagem, tem uma empobrecida visibilidade política e um débil espírito de iniciativa. Todo este ruído apenas prejudica as populações que, como vimos há pouco nas tv's, são as eternas vítimas. São imagens tristes de um País a fogo.
Hoje terá sido o dia mais quente do ano e, seguindo a tradição, começaram os incêndios. A ladaínha da prevenção e as boas vontades oficiais nunca chegam para debelar esta miséria. Para mais, este ano as divisões institucionais dos diversos intervenientes por causa da fusão da protecção civil com o serviço nacional de bombeiros, acicataram os localismos caciqueiros e partidários contra o Ministro da Administração Interna que, diga-se de passagem, tem uma empobrecida visibilidade política e um débil espírito de iniciativa. Todo este ruído apenas prejudica as populações que, como vimos há pouco nas tv's, são as eternas vítimas. São imagens tristes de um País a fogo.
O REGRESSO DO DR. MONTEIRO
O Tribunal Constitucional deu luz verde à "Nova Democracia" do Dr. Manuel Monteiro. Daqui saúdo o novo partido e o seu líder, não apenas por o conhecer desde o tempos da universidade, mas igualmente por, sendo eu um liberal que, apesar de o ser, desconfia de independentes, entender que a actividade política em sentido estrito, deve ser exercida e mediada por partidos políticos, por muito maus que sejam. Manuel Monteiro, como nos lembramos, foi uma criação de Paulo Portas o qual, enquanto entendeu, tomou conta da criatura, para mais tarde a despedir e ficar senhor do novo e fulgurante PP. Ao contrário de Monteiro, Portas era quem estava no sítio certo e à hora certa quando chegou o momento proporcionado pela fuga de Guterres. Espero que a inteligência política de Monteiro não faça do ressentimento um programa e que, já agora, contribua para o debate que praticamente não existe, porque, desde Guterres, que a anestesia tomou conta da cidadania
O Tribunal Constitucional deu luz verde à "Nova Democracia" do Dr. Manuel Monteiro. Daqui saúdo o novo partido e o seu líder, não apenas por o conhecer desde o tempos da universidade, mas igualmente por, sendo eu um liberal que, apesar de o ser, desconfia de independentes, entender que a actividade política em sentido estrito, deve ser exercida e mediada por partidos políticos, por muito maus que sejam. Manuel Monteiro, como nos lembramos, foi uma criação de Paulo Portas o qual, enquanto entendeu, tomou conta da criatura, para mais tarde a despedir e ficar senhor do novo e fulgurante PP. Ao contrário de Monteiro, Portas era quem estava no sítio certo e à hora certa quando chegou o momento proporcionado pela fuga de Guterres. Espero que a inteligência política de Monteiro não faça do ressentimento um programa e que, já agora, contribua para o debate que praticamente não existe, porque, desde Guterres, que a anestesia tomou conta da cidadania
O ANEL DA CULTURA V
Há por aí uma obscura personagem, de seu nome Gonçalo Capitão, que é deputado pelo PSD e que, ao que percebi, é o porta-voz do partido para as questões da cultura. Curioso este universo actual da cultura em que quem menos fala é quem institucionalmente tem mais responsabilidades, o ministro. Capitão tem umas teses curiosas sobre a matéria e utiliza normalmente uns argumentos patuscos para defender o indefensável: o imenso vazio que reina na Ajuda. Contudo, é de acompanhar o percurso do homem, não vá ele um dia passar de porta-voz a voz.
Há por aí uma obscura personagem, de seu nome Gonçalo Capitão, que é deputado pelo PSD e que, ao que percebi, é o porta-voz do partido para as questões da cultura. Curioso este universo actual da cultura em que quem menos fala é quem institucionalmente tem mais responsabilidades, o ministro. Capitão tem umas teses curiosas sobre a matéria e utiliza normalmente uns argumentos patuscos para defender o indefensável: o imenso vazio que reina na Ajuda. Contudo, é de acompanhar o percurso do homem, não vá ele um dia passar de porta-voz a voz.
O ANEL DA CULTURA IV
O Dr. Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, é conhecido por causa de quatro questões básicas, a saber, ter ganho a Câmara como ganhou, contra a estafada nomenclatura do Dr. Fernando Gomes, não gostar do FCP e de Pinto da Costa, ser íntegro e não se dar bem com as coisas da cultura. Agora acha que Pedro Burmester se deve demitir da administração da Casa da Música por ter, segundo o Público.pt, proferido determinadas declarações numa entrevista ao "Jornal de Notícias". Cite-se:
"Pedro Burmester não está a ter uma atitude séria quando critica os accionistas da Casa da Música (Governo e Câmara do Porto) e o próprio presidente do conselho de administração de que faz parte. Quem quer fazer isso, primeiro demite-se, depois critica", afirmou Rui Rio.
"Não se demitir e estar permanentemente a criticar não é sério, e desta vez foi longe de mais criticando todos de uma vez", afirmou o autarca citado pela Lusa.
Na entrevista ao JN, Burmester afirma que a Câmara do Porto "tem uma percentagem muito pequena (no capital da Casa da Música) e, segundo diz, poucos meios financeiros para investir aqui. Como tal, não terá uma palavra muito importante a dizer. Está mais preocupada com questões que também têm de ser resolvidas, mas que reduzem o Porto a uma aldeia".
Questionado sobre se já conhece as opções de modelo de gestão para a instituição, respondeu que "estranhamente não. Provavelmente, o Ministério da Cultura tem muitos assuntos para resolver, e a cultura não deve ser uma prioridade. Com a Casa da Música tem havido muito pouco diálogo".
Fim de citação. Não estando por dentro das motivações do pianista para dizer o que diz, o que parece a quem vê isto de fora, é que a Casa da Música do Porto é mais uma trapalhada em que o Ministério da Cultura se vê envolvido. Rio, que na opinião de Luis Filipe Menezes é mais dado à leitura de balancetes do que de livros, também é parco na distribuição de verbas à cultura e Burmester terá sido impiedoso. Se é por isso, que não lhe doa a língua.
O Dr. Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto, é conhecido por causa de quatro questões básicas, a saber, ter ganho a Câmara como ganhou, contra a estafada nomenclatura do Dr. Fernando Gomes, não gostar do FCP e de Pinto da Costa, ser íntegro e não se dar bem com as coisas da cultura. Agora acha que Pedro Burmester se deve demitir da administração da Casa da Música por ter, segundo o Público.pt, proferido determinadas declarações numa entrevista ao "Jornal de Notícias". Cite-se:
"Pedro Burmester não está a ter uma atitude séria quando critica os accionistas da Casa da Música (Governo e Câmara do Porto) e o próprio presidente do conselho de administração de que faz parte. Quem quer fazer isso, primeiro demite-se, depois critica", afirmou Rui Rio.
"Não se demitir e estar permanentemente a criticar não é sério, e desta vez foi longe de mais criticando todos de uma vez", afirmou o autarca citado pela Lusa.
Na entrevista ao JN, Burmester afirma que a Câmara do Porto "tem uma percentagem muito pequena (no capital da Casa da Música) e, segundo diz, poucos meios financeiros para investir aqui. Como tal, não terá uma palavra muito importante a dizer. Está mais preocupada com questões que também têm de ser resolvidas, mas que reduzem o Porto a uma aldeia".
Questionado sobre se já conhece as opções de modelo de gestão para a instituição, respondeu que "estranhamente não. Provavelmente, o Ministério da Cultura tem muitos assuntos para resolver, e a cultura não deve ser uma prioridade. Com a Casa da Música tem havido muito pouco diálogo".
Fim de citação. Não estando por dentro das motivações do pianista para dizer o que diz, o que parece a quem vê isto de fora, é que a Casa da Música do Porto é mais uma trapalhada em que o Ministério da Cultura se vê envolvido. Rio, que na opinião de Luis Filipe Menezes é mais dado à leitura de balancetes do que de livros, também é parco na distribuição de verbas à cultura e Burmester terá sido impiedoso. Se é por isso, que não lhe doa a língua.
O ANEL DA CULTURA III
1. Falemos, pois, de cultura. Quando me demiti, em Abril último, da direcção do Teatro Nacional de São Carlos, prestei uns esclarecimentos acerca do modesto evento ao "Actual" do jornal "Expresso", nos quais, entre outras coisas, elogiava Manuel Maria Carrilho e criticava a displicência orçamental dos actuais ocupantes do Palácio da Ajuda que, aquando da discussão do Orçamento de Estado para 2003, aceitaram silenciosamente a queda, para valores anteriores a 1996, do orçamento do Ministério da Cultura, reduzindo-o a 0,5 do OE. Entretanto, com as famosas "cativações" a que o OE2003 tem vindo a ser sujeito desde Janeiro ( uma espécie de "valquírias" do deus "déficit público" ), aqueles míseros 0,5 já estão ainda mais limitados.
2. A isto - um orçamento depauperado - o Ministério da Cultura tem vindo a responder com o mesmo jargão: espera-se um bocadinho, fazem-se umas continhas e aplica-se a "gestão flexível", para não maçar o Ministério das Finanças. Uma das últimas "vítimas" desta abençoada gestão flexível está a ser o IPPAE e, em última análise, os concorrentes aos subsídios sem o quais praticamente nada podem fazer nas respectivas áreas, desde a música ao teatro. Agora parece que nem a gestão flexível resolve o problema que terá mesmo que passar por um reforço das Finanças à Cultura para se honrarem as homologações dos concursos do IPPAE. Deus sabe como sou contra a "subsídio-dependência", mas tenho a noção do País em que vivo e, por uma vez, acompanho o Secretário de Estado da Cultura: não há cultura sem subsídios, ao que eu acrescento, antes disso, que não há cultura sem orçamento digno.
3. O que está a acontecer no Ministério da Cultura é o resultado da total ausênncia, em mais de um ano, de um qualquer desígnio estratégico para o sector que não passe das tais continhas, de umas proto-fusões de institutos e de umas escolhas mais do que discutíveis de membros dos júris para os desgraçados concursos do IPPAE. Os teatros nacionais, à excepção do São João, onde foi preciso ir ao baú Carrilho para trazer Ricardo Pais de volta, estão na pasmaceira que se conhece, com destaque para a "menina dos olhos" de Amaral Lopes, o D. Maria, o famigerado "túmulo do Rossio", como um dia lhe chamou Vasco Pulido Valente. Por pudor, não devo falar do São Carlos que, apesar de tudo, lá levou a sua temporada lírica até ao fim, com os maiores solavancos financeiros que se possa imaginar, mas pressinto que a famosa "gestão flexível" vai pairar na temporada de Outono como um abutre, sem que o Governo saiba se quer manter o instituto público, se quer uma fundação ( mas que não se repita o desastre da Fundação de São Carlos) ou um qualquer produto híbrido original. Ignoro o que se esteja a fazer para preservar a rede de leitura pública e a política do livro, mas temo pelo pior. Dos museus nem vale a pena falar: não há dinheiro para os abrir quando devem estar abertos. Etc.Etc.
4. Julgo que contribui para a tal falta de uma ideia para o sector da cultura, para além do problema orçamental, a profusão de criaturas que supostamente mandam. Igualmente por pudor e por muita empatia pessoal, dispenso-me de mencionar quem manda menos. No gabinete do Secretário de Estado da Cultura, para além do próprio, que manda muito, há ainda a mencionar o seu chefe de gabinete, uma espécie de pequena eminência parda, com um estilo pesporrente directamente proporcional à sua insustentável leveza, completamente destituído de sensibilidade para a área, onde se compraz em triturar amizades. Julgo que o próximo será opróprio Amaral Lopes, se não se acautela. No gabinete do Primeiro Ministro - a quem é preciso explicar que a cultura e a qualificação são batalhas que vale a pena travar, até porque é muito dedicado ao assunto - está o seu assessor cultural, André Dourado, uma estimável, educada e bem informada criatura, que "faz a ponte" com o "guru" destas matérias dentro do PSD, Vasco Graça Moura. Finalmente, e para assegurar a continuidade do único programa do Ministério - a gestão flexível - , existe e resiste uma assessora do Ministro da Cultura que, no mínimo, numa fórmula legalmente original, é simultaneamente secretária geral adjunta do Ministério, sem deixar de funcionalmente prestar assessoria no Palácio da Ajuda.
5. Perante este cenário, não auguro nada de bom para os próximos tempos em relação à cultura. Digo-o com o à-vontade de quem foi apoiante desta solução governativa e de quem ocupou um lugar no ministério da Cultura por nomeação política. Gosto demasiado do assunto para não deixar de estar preocupado com tanta ligeireza e falta de densidade na sua abordagem. E também por achar que a Direita não tem que morrer sempre fatalmente estúpida.
1. Falemos, pois, de cultura. Quando me demiti, em Abril último, da direcção do Teatro Nacional de São Carlos, prestei uns esclarecimentos acerca do modesto evento ao "Actual" do jornal "Expresso", nos quais, entre outras coisas, elogiava Manuel Maria Carrilho e criticava a displicência orçamental dos actuais ocupantes do Palácio da Ajuda que, aquando da discussão do Orçamento de Estado para 2003, aceitaram silenciosamente a queda, para valores anteriores a 1996, do orçamento do Ministério da Cultura, reduzindo-o a 0,5 do OE. Entretanto, com as famosas "cativações" a que o OE2003 tem vindo a ser sujeito desde Janeiro ( uma espécie de "valquírias" do deus "déficit público" ), aqueles míseros 0,5 já estão ainda mais limitados.
2. A isto - um orçamento depauperado - o Ministério da Cultura tem vindo a responder com o mesmo jargão: espera-se um bocadinho, fazem-se umas continhas e aplica-se a "gestão flexível", para não maçar o Ministério das Finanças. Uma das últimas "vítimas" desta abençoada gestão flexível está a ser o IPPAE e, em última análise, os concorrentes aos subsídios sem o quais praticamente nada podem fazer nas respectivas áreas, desde a música ao teatro. Agora parece que nem a gestão flexível resolve o problema que terá mesmo que passar por um reforço das Finanças à Cultura para se honrarem as homologações dos concursos do IPPAE. Deus sabe como sou contra a "subsídio-dependência", mas tenho a noção do País em que vivo e, por uma vez, acompanho o Secretário de Estado da Cultura: não há cultura sem subsídios, ao que eu acrescento, antes disso, que não há cultura sem orçamento digno.
3. O que está a acontecer no Ministério da Cultura é o resultado da total ausênncia, em mais de um ano, de um qualquer desígnio estratégico para o sector que não passe das tais continhas, de umas proto-fusões de institutos e de umas escolhas mais do que discutíveis de membros dos júris para os desgraçados concursos do IPPAE. Os teatros nacionais, à excepção do São João, onde foi preciso ir ao baú Carrilho para trazer Ricardo Pais de volta, estão na pasmaceira que se conhece, com destaque para a "menina dos olhos" de Amaral Lopes, o D. Maria, o famigerado "túmulo do Rossio", como um dia lhe chamou Vasco Pulido Valente. Por pudor, não devo falar do São Carlos que, apesar de tudo, lá levou a sua temporada lírica até ao fim, com os maiores solavancos financeiros que se possa imaginar, mas pressinto que a famosa "gestão flexível" vai pairar na temporada de Outono como um abutre, sem que o Governo saiba se quer manter o instituto público, se quer uma fundação ( mas que não se repita o desastre da Fundação de São Carlos) ou um qualquer produto híbrido original. Ignoro o que se esteja a fazer para preservar a rede de leitura pública e a política do livro, mas temo pelo pior. Dos museus nem vale a pena falar: não há dinheiro para os abrir quando devem estar abertos. Etc.Etc.
4. Julgo que contribui para a tal falta de uma ideia para o sector da cultura, para além do problema orçamental, a profusão de criaturas que supostamente mandam. Igualmente por pudor e por muita empatia pessoal, dispenso-me de mencionar quem manda menos. No gabinete do Secretário de Estado da Cultura, para além do próprio, que manda muito, há ainda a mencionar o seu chefe de gabinete, uma espécie de pequena eminência parda, com um estilo pesporrente directamente proporcional à sua insustentável leveza, completamente destituído de sensibilidade para a área, onde se compraz em triturar amizades. Julgo que o próximo será opróprio Amaral Lopes, se não se acautela. No gabinete do Primeiro Ministro - a quem é preciso explicar que a cultura e a qualificação são batalhas que vale a pena travar, até porque é muito dedicado ao assunto - está o seu assessor cultural, André Dourado, uma estimável, educada e bem informada criatura, que "faz a ponte" com o "guru" destas matérias dentro do PSD, Vasco Graça Moura. Finalmente, e para assegurar a continuidade do único programa do Ministério - a gestão flexível - , existe e resiste uma assessora do Ministro da Cultura que, no mínimo, numa fórmula legalmente original, é simultaneamente secretária geral adjunta do Ministério, sem deixar de funcionalmente prestar assessoria no Palácio da Ajuda.
5. Perante este cenário, não auguro nada de bom para os próximos tempos em relação à cultura. Digo-o com o à-vontade de quem foi apoiante desta solução governativa e de quem ocupou um lugar no ministério da Cultura por nomeação política. Gosto demasiado do assunto para não deixar de estar preocupado com tanta ligeireza e falta de densidade na sua abordagem. E também por achar que a Direita não tem que morrer sempre fatalmente estúpida.
A FÉ DE PORTAS
Constou-me que, num acesso místico, compreensível depois da prestação em Monsanto a semana passada, Paulo Portas decidiu opinar acerca da constituição europeia, defendendo que deveria consagrar um "direito à fé". É estranho que a terceira figura de um Governo da União Europeia faça tábua rasa de um dos registos mais robustos da política democrática que, em princípio, caracteriza todos e cada um dos estados que a compôem: o da laicidade. Significa que não aprendeu nada, por exemplo, com a Direita francesa, que não brinca em matéria de princípios republicanos. Qualquer passeio mais compungido pela zona de Leiria resolvia-lhe o problema e já deixava a constituição europeia em paz.
Constou-me que, num acesso místico, compreensível depois da prestação em Monsanto a semana passada, Paulo Portas decidiu opinar acerca da constituição europeia, defendendo que deveria consagrar um "direito à fé". É estranho que a terceira figura de um Governo da União Europeia faça tábua rasa de um dos registos mais robustos da política democrática que, em princípio, caracteriza todos e cada um dos estados que a compôem: o da laicidade. Significa que não aprendeu nada, por exemplo, com a Direita francesa, que não brinca em matéria de princípios republicanos. Qualquer passeio mais compungido pela zona de Leiria resolvia-lhe o problema e já deixava a constituição europeia em paz.
18.6.03
BASTONÁRIO EXCELENTÍSSIMO II
Não satisfeito com a demissão do seu colega Marinho Pinto da Comissão dos Direitos do Homem da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice e os seus bonzos do Conselho Geral da Ordem, decidiram correr com o dito causídico da referido Conselho, a bem do famigerado "pacto de justiça" que só deve existir na cabeça de Júdice. Não conheço Marinho Pinto de lado nenhum, mas apreciei a forma como se apresentou publicamente para falar destes assuntos, já depois de lhe terem retirado a confiança. À situação em que se viu envolvido, apliquemos o aforismo de Alexandre O' Neill que nos serve de epígrafe: "neste País em diminutivo, juizinho é que é preciso". Pelo andar da carruagem, vai ser o próximo lema da vetusta e circunspecta Ordem dos Advogados.
Não satisfeito com a demissão do seu colega Marinho Pinto da Comissão dos Direitos do Homem da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice e os seus bonzos do Conselho Geral da Ordem, decidiram correr com o dito causídico da referido Conselho, a bem do famigerado "pacto de justiça" que só deve existir na cabeça de Júdice. Não conheço Marinho Pinto de lado nenhum, mas apreciei a forma como se apresentou publicamente para falar destes assuntos, já depois de lhe terem retirado a confiança. À situação em que se viu envolvido, apliquemos o aforismo de Alexandre O' Neill que nos serve de epígrafe: "neste País em diminutivo, juizinho é que é preciso". Pelo andar da carruagem, vai ser o próximo lema da vetusta e circunspecta Ordem dos Advogados.
O ANEL DA CULTURA II
Conforme prometido, e uma vez regressado de Barcelona onde pude perceber que Elizabete Matos, nossa conterrânea nascida em Braga, radicada em Espanha ( que poderia ela fazer cá? ), é só uma das melhores cantoras wagnerianas da actualidade, disponho-me a reflectir acerca do estado presente da cultura em Portugal, depois de uma breve mas esclarecedora passagem pela direcção do nosso único teatro de ópera, o São Carlos, entre Maio do ano passado e Abril de 2003. Nesse período, ouvi a Matos em S. Carlos interpretar Manuel de Falla e parece que reaparecerá no Outono, numa versão concerto do "Navio Fantasma", se se cumprir o que estava previsto antes da minha saída.Ontem à noite proporcionou ao público do Teatro Liceu de Barcelona uma sublime Sieglinde em "As Valquírias" de Richard Wagner.Portugal é reconhecido lá fora não apenas pelas (dizem que) belas pernas do Figo, mas, embora a ópera seja uma espécie de "filha de um deus menor" , Elizabete Matos é hoje um nome já muito consensual nos teatros mais prestigiados, com uma carreira a acompanhar atentamente.
Conforme prometido, e uma vez regressado de Barcelona onde pude perceber que Elizabete Matos, nossa conterrânea nascida em Braga, radicada em Espanha ( que poderia ela fazer cá? ), é só uma das melhores cantoras wagnerianas da actualidade, disponho-me a reflectir acerca do estado presente da cultura em Portugal, depois de uma breve mas esclarecedora passagem pela direcção do nosso único teatro de ópera, o São Carlos, entre Maio do ano passado e Abril de 2003. Nesse período, ouvi a Matos em S. Carlos interpretar Manuel de Falla e parece que reaparecerá no Outono, numa versão concerto do "Navio Fantasma", se se cumprir o que estava previsto antes da minha saída.Ontem à noite proporcionou ao público do Teatro Liceu de Barcelona uma sublime Sieglinde em "As Valquírias" de Richard Wagner.Portugal é reconhecido lá fora não apenas pelas (dizem que) belas pernas do Figo, mas, embora a ópera seja uma espécie de "filha de um deus menor" , Elizabete Matos é hoje um nome já muito consensual nos teatros mais prestigiados, com uma carreira a acompanhar atentamente.
14.6.03
O ANEL DA CULTURA I
O "Portugal dos pequeninos" vai passear uns 4 dias a Barcelona para conviver com os mitos wagnerianos no teatro Liceo. Um bom pretexto para, quando voltarmos, se falar da cultura em Portugal, depois das notícias de hoje sobre os subsídios do IPPAE ( ver Actual do Expresso e Público)
O "Portugal dos pequeninos" vai passear uns 4 dias a Barcelona para conviver com os mitos wagnerianos no teatro Liceo. Um bom pretexto para, quando voltarmos, se falar da cultura em Portugal, depois das notícias de hoje sobre os subsídios do IPPAE ( ver Actual do Expresso e Público)
13.6.03
A NOVELA DOS TELEJORNAIS II
Por ser sexta-feira 13, a TVI brindou-nos no seu interminável "Jornal Nacional" com a prestação de uma senhora parapsicóloga que dissertou sobre a matéria do azar, com alguns exemplos práticos. Os guiões destas sessões informativas deviam ser objecto de um estudo sociológico, dada a profusão dos temas apresentados e a ligeireza da função. Como se isto não bastasse, há jornalistas que abordam assuntos e pessoas num estilo que, muitas vezes, roça a insolência de mistura com uma leveza ignorante. Eu, que nunca simpatizei nem pessoal nem politicamente com António Guterres, gostei de o ver outro dia à saída de uma visita ao amigo Paulo Pedroso dizer o que disse ao grupinho de destrambelhados jornalistas que, à força. queriam um comentário inócuo. Suspeito que eles nunca irão perceber o alcance da frase assassina de Guterres ( tivesse ele sido assim sempre como Primeiro Ministro e ainda hoje lá poderia estar). De facto, o ridículo mata, e nós, se devemos ter respeito pela profissão de jornalista, nunca devemos sentir por ela - ou outra qualquer ligada a poderes "fácticos" - qualquer tipo de temor reverencial.
Por ser sexta-feira 13, a TVI brindou-nos no seu interminável "Jornal Nacional" com a prestação de uma senhora parapsicóloga que dissertou sobre a matéria do azar, com alguns exemplos práticos. Os guiões destas sessões informativas deviam ser objecto de um estudo sociológico, dada a profusão dos temas apresentados e a ligeireza da função. Como se isto não bastasse, há jornalistas que abordam assuntos e pessoas num estilo que, muitas vezes, roça a insolência de mistura com uma leveza ignorante. Eu, que nunca simpatizei nem pessoal nem politicamente com António Guterres, gostei de o ver outro dia à saída de uma visita ao amigo Paulo Pedroso dizer o que disse ao grupinho de destrambelhados jornalistas que, à força. queriam um comentário inócuo. Suspeito que eles nunca irão perceber o alcance da frase assassina de Guterres ( tivesse ele sido assim sempre como Primeiro Ministro e ainda hoje lá poderia estar). De facto, o ridículo mata, e nós, se devemos ter respeito pela profissão de jornalista, nunca devemos sentir por ela - ou outra qualquer ligada a poderes "fácticos" - qualquer tipo de temor reverencial.
O BASTONÁRIO EXCELENTÍSSIMO
José Miguel Júdice, em tempos, escrevia sobre a coisa pública com alguma elegância, e nela participou com relativa intensidade enquanto membro do PSD, chegando mesmo, por amizade a Marcelo Rebelo de Sousa, a fazer parte da Comissão Política Nacional da agremiação. Há dois ou três anos, decidiu concorrer a bastonário da Ordem dos Advogados, e lá está. Os seu artigos, desde então, passaram a tratar em exclusivo a maçadora questão da justiça e do justo, vista naturalmente, pela óptica dos advogados (sobre estas coisas da justiça, recomenda-se a leitura de dois livrinhos de Paul Ricoeur, um já traduzido entre nós, sob o título genérico de "Le Juste" ). Devo confessar a minha alergia a corporações profissionais, particularmente a esta à qual, numa fase ainda ingénua da minha existência, fui obrigado a pertencer. Júdice, pelos vistos, entrou decidido a fazer da seita uma muito agitada e "conspicuous" instituição, com lugar quase diariamente cativo nas televisões. Nada de extraordinário, se pensarmos que, se há coisa que o País tem em demasia, é "juridicidade" , pelo que se compreende a mediatização da Ordem levada a efeito pela actual direcção, se bem que o antecessor de Júdice, Pires de Lima, no mínimo, tivesse mais graça. Esta gente, porém, leva a coisa a peito, como se viu pela forma respeitosa, veneranda e obrigada como José Miguel Júdice resolveu há dias o incidente António Marinho Pinto. Este senhor advogado era o presidente da Comissão dos Direitos do Homem da Ordem até ao dia em que "ousou" dizer numa comissão parlamentar o que pensava acerca da magistratura judicial. Parece que tal desaforo podia colocar em causa a realização de um tal "congresso da justiça", pois ilustres representantes da sobredita magistratura ameaçaram logo amuar e não aparecer no dito congresso. Pressuroso, Júdice demitiu o senhor advogado de presidente da comissão para salvar a "honra do convento", apesar de ter esperado que o colega tivesse saído pelo seu próprio pé ( a que título ?), como revelou numa conferência de imprensa, colocando-se a ele próprio no lugar de Marinho Pinto. Eis como, num simples gesto, Júdice desfez a imagem que dele tinha: a de um liberal esclarecido e livre.
José Miguel Júdice, em tempos, escrevia sobre a coisa pública com alguma elegância, e nela participou com relativa intensidade enquanto membro do PSD, chegando mesmo, por amizade a Marcelo Rebelo de Sousa, a fazer parte da Comissão Política Nacional da agremiação. Há dois ou três anos, decidiu concorrer a bastonário da Ordem dos Advogados, e lá está. Os seu artigos, desde então, passaram a tratar em exclusivo a maçadora questão da justiça e do justo, vista naturalmente, pela óptica dos advogados (sobre estas coisas da justiça, recomenda-se a leitura de dois livrinhos de Paul Ricoeur, um já traduzido entre nós, sob o título genérico de "Le Juste" ). Devo confessar a minha alergia a corporações profissionais, particularmente a esta à qual, numa fase ainda ingénua da minha existência, fui obrigado a pertencer. Júdice, pelos vistos, entrou decidido a fazer da seita uma muito agitada e "conspicuous" instituição, com lugar quase diariamente cativo nas televisões. Nada de extraordinário, se pensarmos que, se há coisa que o País tem em demasia, é "juridicidade" , pelo que se compreende a mediatização da Ordem levada a efeito pela actual direcção, se bem que o antecessor de Júdice, Pires de Lima, no mínimo, tivesse mais graça. Esta gente, porém, leva a coisa a peito, como se viu pela forma respeitosa, veneranda e obrigada como José Miguel Júdice resolveu há dias o incidente António Marinho Pinto. Este senhor advogado era o presidente da Comissão dos Direitos do Homem da Ordem até ao dia em que "ousou" dizer numa comissão parlamentar o que pensava acerca da magistratura judicial. Parece que tal desaforo podia colocar em causa a realização de um tal "congresso da justiça", pois ilustres representantes da sobredita magistratura ameaçaram logo amuar e não aparecer no dito congresso. Pressuroso, Júdice demitiu o senhor advogado de presidente da comissão para salvar a "honra do convento", apesar de ter esperado que o colega tivesse saído pelo seu próprio pé ( a que título ?), como revelou numa conferência de imprensa, colocando-se a ele próprio no lugar de Marinho Pinto. Eis como, num simples gesto, Júdice desfez a imagem que dele tinha: a de um liberal esclarecido e livre.
PORTUGAL DOS PEQUENINOS
Não se trata de um blog destinado a enaltecer a obra coimbrã de Bissaia Barreto. O Portugal de que se fala é o País onde tudo ou quase tudo é "pequenino": a política, o Estado, o crime, o combate ao crime, a cultura, a comunicação social, a cidadania, a sexualidade, a sardinha, etc, etc. Até nós: a epígrafe de O'Neill continha um "lapsus scriptae" , em boa hora emendado, graças à oportuna chamada de atenção do Prof. Abel Barros Baptista. Neste blog procuraremos surpreender o quotidiano nacional - e não só - no que ele possa conter de ameaça à efectiva realização de uma "política democrática" e às liberdades individuais, no sentido que lhes atribuem os pragmatistas ironistas e liberais, como o americano Richard Rorty, felizmente com algumas traduções entre nós. Talvez esta citação de Rorty nos ajude a explicitar o sentido deste blog, se é que ele tem de ter algum:
"Uso o termo "ironista" para designar o tipo de pessoa que encara frontalmente a contingência das suas próprias crenças e dos seus próprios desejos mais centrais - alguém suficientemente historicista e nominalista para ter abandonado a ideia de que essas crenças de desejos centrais estão relacionados com algo situado para além do tempo e do acaso. Os ironistas liberais são pessoas que incluem entre esses desejos infundáveis a sua esperança de que o sofrimento venha a diminuir e de que a humilhação causada a seres humanos por outros seres humanos possa terminar."
(in Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, trad. de Nuno Ferreira da Fonseca, Ed. Presença)
Não se trata de um blog destinado a enaltecer a obra coimbrã de Bissaia Barreto. O Portugal de que se fala é o País onde tudo ou quase tudo é "pequenino": a política, o Estado, o crime, o combate ao crime, a cultura, a comunicação social, a cidadania, a sexualidade, a sardinha, etc, etc. Até nós: a epígrafe de O'Neill continha um "lapsus scriptae" , em boa hora emendado, graças à oportuna chamada de atenção do Prof. Abel Barros Baptista. Neste blog procuraremos surpreender o quotidiano nacional - e não só - no que ele possa conter de ameaça à efectiva realização de uma "política democrática" e às liberdades individuais, no sentido que lhes atribuem os pragmatistas ironistas e liberais, como o americano Richard Rorty, felizmente com algumas traduções entre nós. Talvez esta citação de Rorty nos ajude a explicitar o sentido deste blog, se é que ele tem de ter algum:
"Uso o termo "ironista" para designar o tipo de pessoa que encara frontalmente a contingência das suas próprias crenças e dos seus próprios desejos mais centrais - alguém suficientemente historicista e nominalista para ter abandonado a ideia de que essas crenças de desejos centrais estão relacionados com algo situado para além do tempo e do acaso. Os ironistas liberais são pessoas que incluem entre esses desejos infundáveis a sua esperança de que o sofrimento venha a diminuir e de que a humilhação causada a seres humanos por outros seres humanos possa terminar."
(in Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, trad. de Nuno Ferreira da Fonseca, Ed. Presença)
A NOVELA DOS TELEJORNAIS ( A TVI)
No final dos anos 70, Portugal acordou para a realidade das telenovelas brasileiras com a adaptação do "fresco" baiano de Jorge Amado, "Gabriela Cravo e Canela", seguindo-se outros sucessos associados à exclusividade de antena da RTP. A emergência das "privadas", primeiro a SIC, depois a TVI, deu continuidade ao fenómeno, disputando agora esta última o primeiro lugar das audiências com as telenovelas portuguesas. Eis que, talvez embalada por este fenómeno, a TVI (especialmente) faz do seu "Jornal Nacional" (parece que é assim que se chama) uma autêntica novela que se prolonga por cerca de duas horas! Há de tudo um pouco: desde um qualquer recôndito crime, até à curiosidade obscura e inútil, passando pela política caseira e internacional onde normalmente os pivots aproveitam para dar uma arzinho da sua graça, no final de cada peça, a meio caminho entre "provedores" dos espectadores e comentadores residentes. Percebe-se que o combate feroz pelos "shares" de audiência conduza a tamanho despropósito, mas o espectador que muito humildemente quer saber o que se passa ( o "perceber" passa por outros registos que não o das graçolas ou o das vozes distorcidas e de rostos mascarados a atingirem o nível do insuportável) é que não tem nada a ver com isso. Esticar um telejornal em nome da vulgaridade e do circo, não abona quem deliberadamente o produz, nem contribui para aumentar os terríveis indíces de cidadania responsável. Afinal, como perguntava há uns anos o José Pacheco Pereira, o que é que comunica a comunicação social? Voltaremos ao tema mais tarde.
No final dos anos 70, Portugal acordou para a realidade das telenovelas brasileiras com a adaptação do "fresco" baiano de Jorge Amado, "Gabriela Cravo e Canela", seguindo-se outros sucessos associados à exclusividade de antena da RTP. A emergência das "privadas", primeiro a SIC, depois a TVI, deu continuidade ao fenómeno, disputando agora esta última o primeiro lugar das audiências com as telenovelas portuguesas. Eis que, talvez embalada por este fenómeno, a TVI (especialmente) faz do seu "Jornal Nacional" (parece que é assim que se chama) uma autêntica novela que se prolonga por cerca de duas horas! Há de tudo um pouco: desde um qualquer recôndito crime, até à curiosidade obscura e inútil, passando pela política caseira e internacional onde normalmente os pivots aproveitam para dar uma arzinho da sua graça, no final de cada peça, a meio caminho entre "provedores" dos espectadores e comentadores residentes. Percebe-se que o combate feroz pelos "shares" de audiência conduza a tamanho despropósito, mas o espectador que muito humildemente quer saber o que se passa ( o "perceber" passa por outros registos que não o das graçolas ou o das vozes distorcidas e de rostos mascarados a atingirem o nível do insuportável) é que não tem nada a ver com isso. Esticar um telejornal em nome da vulgaridade e do circo, não abona quem deliberadamente o produz, nem contribui para aumentar os terríveis indíces de cidadania responsável. Afinal, como perguntava há uns anos o José Pacheco Pereira, o que é que comunica a comunicação social? Voltaremos ao tema mais tarde.
12.6.03
MARCHAS HARD ROCK II
O Estado Novo adorava o folclore e as marchas de Lisboa representavam mais um momento de exaltação das nossas coisinhas. Com o advento da democracia, nada disto se alterou substancialmente e, desde Presidentes da República a Presidentes de Câmara, todos passam pelo desfile. O popularucho de mãos dadas com o populismo tão em voga - falta um toque brasileiro "a la" Fátima Felgueiras - é uma receita que tem tanto de kitsch como de inquietante. Entretanto, o País vai vendo " a marcha passar".
O Estado Novo adorava o folclore e as marchas de Lisboa representavam mais um momento de exaltação das nossas coisinhas. Com o advento da democracia, nada disto se alterou substancialmente e, desde Presidentes da República a Presidentes de Câmara, todos passam pelo desfile. O popularucho de mãos dadas com o populismo tão em voga - falta um toque brasileiro "a la" Fátima Felgueiras - é uma receita que tem tanto de kitsch como de inquietante. Entretanto, o País vai vendo " a marcha passar".
MARCHAS HARD ROCK
Foi há poucas horas inaugurada a versão portuguesa do Hard Rock Café, no antigo cinema Condes, local onde também , noutras épocas, havia funcionado uma ópera. Abrilhantou o acto o nosso ladino presidente da Câmara, seguramente acompanhado pelo habitual séquito de loiras. Nas declarações que ouvimos, não foi anunciada a 25ª hipótese de localização para o famoso casino. Vá lá. Não deixa de ser curioso fazer coincidir este evento com a noite das marchas de Santo António e com o dia dos casamentos abençoados pelo mesmo e pela CML. Não se sabe se o Hard Rock serve sardinhas assadas.
Foi há poucas horas inaugurada a versão portuguesa do Hard Rock Café, no antigo cinema Condes, local onde também , noutras épocas, havia funcionado uma ópera. Abrilhantou o acto o nosso ladino presidente da Câmara, seguramente acompanhado pelo habitual séquito de loiras. Nas declarações que ouvimos, não foi anunciada a 25ª hipótese de localização para o famoso casino. Vá lá. Não deixa de ser curioso fazer coincidir este evento com a noite das marchas de Santo António e com o dia dos casamentos abençoados pelo mesmo e pela CML. Não se sabe se o Hard Rock serve sardinhas assadas.
EURO 2004
Em princípio, daqui a um ano, terá início a gesta do Euro 2004. Como era de esperar, a brincadeira já está a ultrapassar o plafond financeiro inicial e tudo parece indicar que até ao solene momento da inauguração a derrapagem não deverá parar. Esta loucura devia ter sido abortada à nascença. Mas, com um País ainda feliz e contente com a Expo 98, a megalomania do Euro avançou e é o que se vê. Houve de facto quem avisasse, porém a loucura já ía em "desígnio nacional" e o actual Governo abençoou. Quando sabemos que os museus têm que fechar aos fins de semana, que o IPPAE não tem dinheiro para pagar os subsídios que o Estado homologou, que os teatro nacionais vivem financeiramente sobre o fio da navalha, etc, percebemos quais são as prioridades estratégicas para o desenvolvimento nacional que varrem as mentes daqueles que nos pastoreiam. Em vez dos museus, pode ser que se organizem visitas de estudo às novas catedrais do futebol aos fins de semana, para alternar com os centros comerciais. A raça também não merece muito mais.
Em princípio, daqui a um ano, terá início a gesta do Euro 2004. Como era de esperar, a brincadeira já está a ultrapassar o plafond financeiro inicial e tudo parece indicar que até ao solene momento da inauguração a derrapagem não deverá parar. Esta loucura devia ter sido abortada à nascença. Mas, com um País ainda feliz e contente com a Expo 98, a megalomania do Euro avançou e é o que se vê. Houve de facto quem avisasse, porém a loucura já ía em "desígnio nacional" e o actual Governo abençoou. Quando sabemos que os museus têm que fechar aos fins de semana, que o IPPAE não tem dinheiro para pagar os subsídios que o Estado homologou, que os teatro nacionais vivem financeiramente sobre o fio da navalha, etc, percebemos quais são as prioridades estratégicas para o desenvolvimento nacional que varrem as mentes daqueles que nos pastoreiam. Em vez dos museus, pode ser que se organizem visitas de estudo às novas catedrais do futebol aos fins de semana, para alternar com os centros comerciais. A raça também não merece muito mais.
SAMPAIO EXPLICADO ÀS CRIANÇAS
No PUBLICO.PT de hoje vemos a reacção de Jorge Sampaio à posição de Vara:
"O Presidente da República mostrou-se hoje indignado com as declarações de Armando Vara, que acusou Jorge Sampaio de cobardia política ao não assumir a liderança do processo de perdão de penas de 1999, que abrangeu crimes de abuso sexual de menores.
Jorge Sampaio considera que as declarações do ex-ministro socialista contribuem para minar a democracia. "Não posso tolerar que ao fim de 28 anos de democracia se possa continuar a pôr em causa os órgãos de soberania", afirmou o Presidente".
Salvo o devido respeito, não me parece que ninguém tenha posto em causa os órgãos de soberania e também não me parece prudente que o Chefe do Estado venha a terreiro todos os dias debater o estafado assunto de quem partiu a iniciativa da amnistia de 1999 que - convém que se diga - para os crimes em discussão, apenas releva em termos de perdão de pena. No meio deste ruído, é bom que as coisas sejam postas no devido lugar, dando-lhe a importância que merecem. Não vale a pena "chorar o leite derramado" até porque, nessa altura, o País ainda estava longe desta imensa "pedofilização" generalizada que, pelos vistos, perturba toda a gente. É pena que não se tenha dado destaque à intervenção mensal de Mário Soares na antena 1, no passado sábado. Com a sabedoria dos muitos anos "disto", Soares, entre outras coisas, falou da justiça, da comunicação social, dos processos em curso e, indirectamente, do Presidente, aconselhando-o a, nos momentos determinantes, não ser tão "neutro". Acontece que Sampaio demonstra permanentemente uma indignação discursiva, legalista e justificativa que depois não tem correspondência na realidade "política". Ou seja: colhe quase sempre o que semeia.
No PUBLICO.PT de hoje vemos a reacção de Jorge Sampaio à posição de Vara:
"O Presidente da República mostrou-se hoje indignado com as declarações de Armando Vara, que acusou Jorge Sampaio de cobardia política ao não assumir a liderança do processo de perdão de penas de 1999, que abrangeu crimes de abuso sexual de menores.
Jorge Sampaio considera que as declarações do ex-ministro socialista contribuem para minar a democracia. "Não posso tolerar que ao fim de 28 anos de democracia se possa continuar a pôr em causa os órgãos de soberania", afirmou o Presidente".
Salvo o devido respeito, não me parece que ninguém tenha posto em causa os órgãos de soberania e também não me parece prudente que o Chefe do Estado venha a terreiro todos os dias debater o estafado assunto de quem partiu a iniciativa da amnistia de 1999 que - convém que se diga - para os crimes em discussão, apenas releva em termos de perdão de pena. No meio deste ruído, é bom que as coisas sejam postas no devido lugar, dando-lhe a importância que merecem. Não vale a pena "chorar o leite derramado" até porque, nessa altura, o País ainda estava longe desta imensa "pedofilização" generalizada que, pelos vistos, perturba toda a gente. É pena que não se tenha dado destaque à intervenção mensal de Mário Soares na antena 1, no passado sábado. Com a sabedoria dos muitos anos "disto", Soares, entre outras coisas, falou da justiça, da comunicação social, dos processos em curso e, indirectamente, do Presidente, aconselhando-o a, nos momentos determinantes, não ser tão "neutro". Acontece que Sampaio demonstra permanentemente uma indignação discursiva, legalista e justificativa que depois não tem correspondência na realidade "política". Ou seja: colhe quase sempre o que semeia.
Subscrever:
Mensagens (Atom)