PEDRO SANTANA LOPES
Em 1974, no último debate televisivo entre Giscard D' Estaing e François Mitterrand, na campanha eleitoral para a Presidência da República, Mitterrand, a dada altura, disse a Giscard que a política era igualmente "un affair du coeur". Giscard, impassível, devolveu-lhe uma frase impiedosa que, dizia-se na altura, terá contribuído para a derrota de Mitterrand: "o senhor não tem o monopólio do coração". Pois hoje, no DNA do Diário de Notícias, Pedro Santana Lopes que aprendeu a lição, disserta abundantemente sobre a (sua) chamada vida pessoal e os seus pequenos e grandes "affairs du coeur". Mesmo nas partes mais " políticas" da entrevista, é tudo a puxar ao intimismo e ao sentimento. Santana Lopes sabe-a toda. Digo isto com o à vontade de quem o apoiou na candidatura à Cãmara de Lisboa e de quem considera que ele foi o verdadeiro impulsionador da vitória de Barroso em Março de 2002. Nunca simpatizei com a arrogância "esquerda caviar" de João Soares e achei que era preciso, na altura, sacudir a Pátria através das eleições autárquicas. Também me irritou aquele trôpego frentismo anti-fascista de circunstância que se reuniu contra Lopes. Dito isto, e voltando à dita entrevista, Lopes, o sedutor, prepara obviamente uma candidatura a Belém. Esta conversa "estilo misto Barbara Cartland e Corin Tellado" não tem outro propósito. Eu, como não votei nele para ser candidato a Belém, estou preocupado, e em dose dupla. Primeiro, porque espero e reclamo obra em Lisboa. Em segundo lugar, porque, se o registo aventureiro, de ruptura e politicamente atípico de PSL pode ser útil na gestão de uma estrutura pesada e conservadora como é a organização da CML, tenho as maiores dúvidas de que esse seja o registo que a Pátria mais gosta de ver em Belém. Estranho que a enorme intuição política de Lopes - talvez o caso mais sério, à direita, depois de Mário Soares - não lhe tenha cochichado que começou muito cedo nesta caminhada. Para Belém, os tempos contam e muito. Os dados que, sobre esta matéria, constam de um estudo publicado no Expresso - e que valem o que valem- demonstram isso mesmo e sossegam-nos relativamente. Era bom que PSL fizesse boa obra em Lisboa e que se recandidatasse por ela.
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