23.6.03

O TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS:SUBSÍDIOS PARA UM DEBATE

Ainda é cedo para falar do TNSC.Vou deixar que a temporada sinfónica termine e que haja algum prenúncio do que se vai seguir para, com alguma serenidade, reflectir. Gosto demasiado dele para o tratar de ânimo leve. E detesto os enredos que se tecem dentro dele e por causa dele, cá fora e lá dentro, para ficar calado.

Para agora, recomendo a reflexão produzida este fim de semana pelo Crítico e que aqui deixo na íntegra, com a devida vénia.



TEATRO S.CARLOS -QUE FUTURO?


O dinheiro gasto com o Teatro de Ópera tem de ser bem gasto, já se sabe que dá prejuízo, já se sabe que é um desígnio, mas é preciso visão estratégica. Pede-se à direcção imaginação e conhecimento. É preciso programação, sei que no teatro se anda em bolandas a preparar a próxima temporada! Hoje dia 21 de Junho, ninguém sabe qual a próxima temporada do teatro de ópera nacional. Não há um teatro de ópera do mundo que não tenha anunciada a próxima tempora a 21 de Junho. Pior, há teatros que apresentam a temporada com anos de antecedência. Um amigo do Teatro de Bayreuth contou-me há poucos dias que andam preocupados a preparar o ano 2012 (bicentenário do nascimento de Wagner). Em S. Carlos ninguém sabe, ou anuncia o que se vai passar em Novembro de 2003!

Os cantores são os amigos do director ou dos maestros ou dos amigos de uns e outros, que temos de aturar porque eles os impingem.

A orquestra não tem um maestro permanente, não são feitas avaliações de desempenho, os músicos sem brio, nem todos, arrastam-se pelas estantes em ritmo de funcionalismo público. O naipe de violinos ontem esteve melhor que o costume, o trabalho do maestro notou-se, mas teve de parar a meio para mandar afinar, o concertino (na primeira estante dos violinos) a contragosto e de ar zangado levantou-se e lá tentou afinar pelo oboé (que, informo, é quem dá o dó à orquestra, em qualquer uma), mas o resto da pandilha dos violinos nem se deu ao trabalho de fingir que estava a afinar, degradante. Mesmo assim estavam mal mas muito melhor que ocasiões anteriores em que a afinação atingiu o nível do insuportável, nem uma orquestra de míudos a começar a aprender tem afinado tão mal como a OSP do TNSC.

No coro entram cantores que ninguém conhece, que cantam mal e porcamente, quais os critérios? As vozes masculinas estão em decréscimo acentuado, as femininas em desafinação acentuada. João Paulo Santos, o maestro de coro, andará mais preocupado com a mota ou não é talhado para a direcção de coro?
O rapaz era pianista acompanhador e agora é maestro de coro. Estudou com quem? Aldo Ciccolini em Paris? Mas este último é maestro? Não, é pianista, então onde estudou a direcção de coro ou de orquestra João Paulo Santos? Como pianista acompanhador, com os maestros que passaram no S. Carlos, provavelmente. Mas ele teve lições, escola, formação de base em direcção? Não me parece. O anterior maestro de coro também não era grande coisa. A evolução do maestro de coro do S. Carlos é tipo promoção da tropa, o rapaz andava por ali, era simpático, tinha amigos, dava uma notas no piano e chegou a maestro titular do coro! Visão estratégica? ZERO. É apenas o princípio de Peters a funcionar e o coro a decair.

Estive ontem no S. Carlos, dia 20, e não na estreia da Graça Lobo no S. Luiz. Quando saía do S. Carlos para passar pelo restaurante do S. Luiz emcontrei um amigo que me disse que a estreia da Graça Lobo foi fantástica. E fui eu ver aqueles manhosos que nos custam uma fortuna a desbaratar o dinheiro dos contribuintes, ainda bem que o Stabat Mater de Dvorjak é comprido, ao menos assim cada nota fica mais barata.


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