29.6.03

AUGUSTO GIL

Quando eu era pequeno, tipo aluno da primária, impingiam-nos a mais pirosa das poesias de Augusto Gil nos livros de leitura, de seu nome "A balada da neve". É muito conhecida pelo seu começo bucólico: "...batem leve, levemente, como quem chama por mim". Era o "pathos" possível. Poucos saberão, no entanto, que Gil era um pouco mais do que isto. Natália Correia, na sua "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" ( ed. Antígona), inclui aguns textos de Augusto Gil que configuram "composições inéditas de um autor muito popular" ( pág. 331). Aos fins de semana costumamos ser incomodados pelo buzinar compulsivo de carros e mais carros, com patéticas fitinhas brancas, que significam casamento. É em homenagem a um desses felizes enlaces que reproduzo este outro Augusto Gil (1873-1929):

NOITE DE NÚPCIAS

Enquanto despia o fraque
junto ao leito de noivado,
escapuliu-se-lhe um traque
de timbre aclarinetado...

A noiva olhou-o de lado,
e pôs-se, com ar basbaque,
a remirar o bordado
das botinas de duraque...

Houve, após esse momento,
naquela noite de gala,
um duplo constrangimento.

E o noivo disse-lhe então:
"Oh filha, cu que não fala
é cu sem opinião...."

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