26.6.06

O BURACO


É extraordinário que o tema "bola" tenha suscitado tanto interesse num blogue - este - que lhe é totalmente estranho. Nem na campanha presidencial de Janeiro último houve tantas "visitas" e tantos "comentários". A chamada "psicanálise mítica do destino português", de que falava Eduardo Lourenço, pode ser encontrada, no século XXI (apenas trinta e poucos anos depois do "25 de Abril"), no futebol e na sua aparente "magia" redentora. Nos idos de 1977, quando só existia a RTP a preto-e-branco, o país "parava" para ver passar Gabriela, a de Jorge Amado, encarnada por Sónia Braga. Agora, no espaço de apenas dois anos, o futebol caiu-nos em cima como uma praga salvífica e efémera por contraste com a durável e inerme mediocridade geral. Daqui a uma, duas semanas, já ninguém se lembrará de nada. Nem eu, se Deus quiser. O país, esse pobre diabo, liberto desta farsa patrioteira, olhará então para o seu umbigo - nessa altura, a banhos - e constatará, incrédulo, que se encontra rigorosamente no mesmo sítio onde estava antes dos golos. Ou seja, no mesmo buraco que, por breves instantes, os holofotes dos estádios da Alemanha ilusoriamente taparam.

5 comentários:

Anónimo disse...

Por favor, indique-nos o caminho!

Anónimo disse...

Os actores... a propósito da "farsa patrioteira"

"O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de bufalo.
De veado.
De rinocereonte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente como o actor."

Herberto Helder

Anónimo disse...

"O país, esse pobre diabo, liberto desta farsa patrioteira, olhará então para o seu umbigo - nessa altura, a banhos - e constatará, incrédulo, que se encontra rigorosamente no mesmo sítio onde estava antes dos golos. Ou seja, no mesmo buraco que, por breves instantes, os holofotes dos estádios da Alemanha ilusoriamente taparam."

a mesma ideia, a mesma frase repetida por uma imensidão de pessoas. eu não acho que as pessoas acreditam que as suas vidas vão melhorar depois disto, como dás a entender, elas sabem que permanecerão no mesmo buraco. somente pegam no futebol para se distrairem, assim como tu pegas num livro do roth para passar o tempo, outros olham para o futebol como fonte de diversão. claro que vão ficar no mesmo sítio, até porque nunca perspectivaram saír das dificuldades graças ao futebol. mas tu, um intelectual, claro que vai pelo caminha da diabolização do futebol, do país alienado (como se as pessoas não fossem trabalhar todos os dias). enfim, é claro que um intelectual tinha que adoptar um tom sorumbático, oposto aos alarves que curtem futebol. podes muito bem não gostar dele, mas é tudo uma questão de tom, és profundamente rude na avaliação que fazes e nada original, como sempre. ainda se fosses um rui tavares

Anónimo disse...

... "EXCELENTE"

Anónimo disse...

... “EXCELENTE” não só o Post como o quadro de René, que “encaixa” lindamente