22.5.08

DO EMBRUTECIMENTO


Morreu mais uma pessoa assassinada no Bairro Alto. Quando saí do São Carlos, ontem à noite, percebi que as hordas se dirigiam - como manda a liturgia das vésperas de feriados, das sextas e dos sábados à noite - para as ruas estreitas de um Bairro onde já só se finge a alegria. Os que lá moram, há muito que deixaram de se incomodar com o ruído. Mesmo que o barulho seja o tiro de uma pistola. Se não for uma pistola, é uma faca ou uma garrafa partida. Chamam a isto divertimento. Eu chamo-lhe embrutecimento. Como não levo o carro para a Baixa, voltei a casa de metro e, depois, de autocarro. A Carris, a partir de determinada hora, "corta" os autocarros que, ou não existem, ou ficam a meio do caminho. A "noite" tornou-se infrequentável. No autocarro vinha um sujeito aos berros. Um louco, diriam os restantes passageiros. Pelo contrário, deu-me ideia que era o único lúcido no meio de abúlicos apalermados. O senhor perguntava: "vivam os sócios da selecção, você já é sócio da selecção?" E continuava. "Aumenta o pão, o leite, a gasolina, mas o que você quer é ser sócio da selecção." A sério, não é isso que V. quer? Ser voluntariamente embrutecido, morto de vida intelectual, sem necessidade de tiros ou armas brancas?

10 comentários:

Anónimo disse...

"manicómio em auto-gestão" dizia de portugal um jornalista japonês durante o prec.
a decadente classe média anda desnorteada, esfomeada, a falar sozinha no rilhafoles do 1º
basta de idiotas vdas jotas

Luís Bonifácio disse...

http://novafloresta.blogspot.com/2008/02/este-no-o-meu-bairro.html

Anónimo disse...

Há anos, quando saía do S, Carlos, o Chiado era um deserto onde metia medo andar! Agora é uma festa e eu não me importo de por ali andar com meus pais octogenários.
Há anos, quando saía do coliseu e por acaso ficava no fim da fila para pagar o estacionamento (moro a 80 Kms de Lisboa, não posso ir a S. Carlos de transportes públicos)sentia muito receio pela fauna que por ali andava aos restauradores. Agora é uma festa, com o hard rock cafe.
No tempo do Marquês havia rixas de facadas no bairro alto. Na semana passada apunhalaram um cidadão em plena Oxford street. Não queiram matar a animação da baixa lisboeta. É a única maneira de ali haver segurança que não tinha há vinte anos. A memória é curta.
Xico

Unknown disse...

Há anos, consta que Afonso Henriques, vindo lá dos lados de Guimarães, "despachou", usando a sua famosa espada, os Mouros que habitavam o Bairro Alto. Como evoluímos muito, já não usamos espadas, hoje matamos com pistolas.
De facto a memória é curta!

Pedro disse...

Acho uma graça a estes pacóvios. Morreu um gajo no Bairro Alto, outro berrava no autocarro, o Sporting ganhou, e nisto estes comediantes revelam-nos uma tragédia, elevados na sua presciência esguincham os alertas que só os escolhidos conseguem discernir: Bola não, noite não, copos nem pensar! A noite ideal para estas aventesmas, é ouvir Bach, discutir Proust e ir dormir. Beber uns copos com os amigos, falar com mulheres bonitas, gritar golo e fazer sexo, tudo isso é ser frívolo e falsamente feliz. Pois então que seja! Apenas desejo, quando chegar à idade do João, estar mais magro e menos amargo. Ah! e poder fumar uns charros a ouvir e a tocar Bach.

joshua disse...

É a verdade. Isto é que é uma posta com a tua vida dentro, João, e não do lado expositor dela. Gosto sempre de ti, do que vais escrevendo, mesmo quando nem sempre concordo cabalmente.

Mas quando, tal como eu procuro fazer, pegas nos fragmentos do teu dia ou da tua noite e colocas as pessoas a dizer as enormes verdades que de facto dizem, essa dimensão do tempo grita para nunca mais se calar, enquanto houver inteligência e inconformismo sobre esta Terra.

Abraço

PALAVROSSAVRSV REX

Anónimo disse...

portugues
Essa de expulsar mouros do bairro alto diz muito do seu comentário!
O bairro alto sempre se caracterizou por ser uma zona de boémia, desde a sua criação muitos séculos depois da conquista aos mouros.
Foi o que quis dizer.
Acabar com a noite em Lisboa é transformá-la numa ratoeira para transeuntes desprevenidos em ruas completamente desertas, dadas as características da ocupação daquela zona!
Eu hoje vejo com satisfação casais de velhos dirigirem-se para casa subindo a av. da Liberdade depois de um espectáculo no Coliseu ou no teatro em frente. Há 20 anos era impensável!
Ao contrário do que pretendem insinuar, a baixa de Lisboa é hoje mais segura do que há uns anos atrás!
Xico

Anónimo disse...

Essa de dizer que a baixa de Lisboa é segura parece-me de topete.
Se é assim segura, porque é que tanta gente afirma na comunicação social que tem medo de sair à noite?
Será que são pagos para fazer tal afirmação?

Unknown disse...

Acho uma graça a estes pacóvios...Porque é que ouvir bach ou discutir Proust é incompatível com falar e fazer sexo com mulheres bonitas? Parece-me é que se beber muito álcool, depois é mais difícil...
De facto há certos escolhidos que nem alertas sabem esguichar…

Unknown disse...

Não, anónimo, aquilo que escreveu foi que "No tempo do Marquês havia rixas de facadas no bairro alto". E eu respondi-lhe que no tempo do Afonso Henriques ainda era pior...
Temos de ser intelectualmente sérios. Também não disse que se devia acabar com a noite do Bairro Alto. Eu estudei 12 anos em Lisboa, sei bem do que estou a falar, pois não era propriamente "caseiro".
A regra para que não tivéssemos problemas era evitar meia dúzia de locais, autenticas excepções.
Hoje é ao contrário, a regra é evitar tudo, fora meia dúzia de excepções...