31.10.07

UM HOMEM PARA A ETERNIDADE ?

Será que temos de gramar Vítor Constâncio até à eternidade por, um dia, o dr. Soares se ter lembrado de o despedir de secretário-geral do PS e o regime achar que lhe deve "atenções"? Será?

MONSTRINHOS E PECHISBEQUE


O PS está alegremente a forjar novos monstros. A demagogia dos computadores, da "net" e da qualificação cai por terra quando se degrada a autoridade da escola e a noção de disciplina. O "estatuto do aluno" - haverá coisa mais soviética do que isto? - é um atestado de menoridade passado à função tradicional do professor e da escola. É um favor que se faz à semântica apelidar de aluno o monstrinho que o "estatuto" alimenta. Se faltar porque sim, o PS oferece-lhe "provas de recuperação" atrás de "provas de recuperação" para o monstrinho não largar a escola que despreza. E, de caminho, massajam-se as estatísticas da prof.ª Rodrigues e do senhor engenheiro. Entretanto o Salão Nobre do Conservatório Nacional cai de podre enquanto a prof.ª Pires de Lima resfolega no pechisbeque emprestado pelo Hermitage para uma exposição possidónia na Ajuda. Cada vez tenho mais nojo de ter de viver num país e numa sociedade destas, sem respeito por si mesmos.

30.10.07

DESENRASQUEM-SE


O senhor conselheiro Pinto Monteiro foi ao Parlamento deixar duas mensagens. A primeira, que pretende que lhe criem - à PGR - condições políticas para mandar nas polícias. Todas. A segunda, que o "sistema" de escutas está fora de controlo, assumindo com a maior naturalidade que as há legais e ilegais e, quanto a ambas, sempre em excesso. Os políticos presentes reagiram a isto não reagindo. De alguma forma, o "monstro" foi criado, alimentado e desenvolvido dentro do regime, ora para o servir, ora para o demolir, uma espécie de pescada de rabo na boca. Entre o irónico e o sério, foi isto que Pinto Monteiro explicou aos ilustres representantes da nação democrática. Desenrasquem-se. Chapeau.

BOM SENSO E BOM GOSTO

O presidente francês Nicolas Sarkozy deixou há dias uma "jornalista" da CBS a falar sozinha, no Eliseu, quando a parva insistiu em saber coisinhas da vida conjugal do homem. Era para o programa "60 minutos" e terminou em poucos. É bom que a reverência perante alguns "jornalistas" - que, entre nós, se traduz em promiscuidade e em familiaridade dada a dimensão - cesse nem que seja à bruta. A pulsão da boa imagem não pode justificar tudo nem a sujeição ao idiotismo perguntante de pseudo-jornalistas que raciocinam (os que possuem cabeça) como piranhas. Um bom profissional não necessita de cursos, de empurrões ou de sabujice. Precisa de bom senso e, em muitos casos, de bom gosto. A loira da CBS não tinha manifestamente nem uma coisa nem a outra. Aí, devem ser largados à sua vulgaridade.

29.10.07

O ESTUDO E O PROFETA

O dr. Roberto Carneiro - ex-profeta da Educação com os resultados que se conhecem e que recomendava um copinho de leite para ajudar a combater o insucesso escolar- "coordenou" um estudo sobre a administração pública pedido pelo governo e pago pelos contribuintes. Do estudo saiu o óbvio, o mesmo ódio primitivo aos funcionários públicos permanentemente confundidos com um grupo de bandalhos que emerge por detrás de balcões obscuros. O dr. Carneiro é uma eminência regimental que, quando o pôde fazer, reformou coisa nenhuma. Paira agora em "observatórios", "grupos de trabalho" e "comissões"de onde brotam, com relativa frequência, estes excitantes estudos. Sempre em pé, este dr. Carneiro.

A CADEIRA

O dr. Capucho, edil de Cascais, decidiu sentar-se na cadeira vaga no Conselho de Estado após a demissão de Marques Mendes. O dr. Capucho era o nome seguinte de uma lista qualquer aprovada pela AR para preenchimento de vagas partidárias no dito Conselho. Nem sequer lhe passou pela cabeça perguntar ao dr. Menezes se podia sentar-se. Este já veio falar de "pequeninos" a propósito do fantástico tema e, espero, marimbou-se. O Conselho de Estado e a prebenda da cadeira valem tanto como o regime. Não perde nada, dr. Menezes, em não se sentar nela. O país que conta não passa por ali.

LER OS OUTROS


Sobre a megalomania cultural doméstica - apesar de se referir às artes pictóricas, pode perfeitamente aplicar-se a outras, todas permanentemente entregues aos mesmos mandarins de opereta -, este post do Eduardo Pitta. Na ópera, por exemplo, era bom que os "senhores OPART" (essa sublime invenção do dueto da Ajuda para o São Carlos e para a CNB), antes de começar o circuito infernal da temporada, dessem pública notícia das contas. Das que encontraram e das que vão gerir. É que o contribuinte é sempre o mesmo independentemente do nome da coisa, dos gestores e dos directore artísticos.

28.10.07

DERROCADA*

*Por Joaquim Manuel Magalhães, publicado no suplemento Actual do Expresso de 27.10.07, e aqui editado graças à amizade vária que é recíproca em relação a quem sabe, depois deste post

O mundo das obras de arte (e aqui falo principalmente das obras literárias), só o sinto verdadeiramente próximo de mim quando se abre ou predispõe à expressão tensa da realidade. Não como simples espelhamento (técnica típica do que usa o subterfúgio para entrar na contabilidade das grandes vendas apesar, ou por causa, da habitualidade da escrita que utiliza) mas como comunicação organizada e estilisticamente nova do que explode dentro e fora de quem escreve, de quem se esmaga nas palavras que tenta usar. Quando procura ser um alicerce, ainda que não reconhecido por quase ninguém, de um sentido que combate, testemunha o combate, faz do quase impossível a procura do seu breve bem. Não sou dos que acreditam que se deva gritar Revolução quando se diz Sofrimento Social. O século XX mostrou-nos como, em crescendo desde os finais do século XVIII, a palavra «revolução» sempre trouxe com ela associada a palavra «terror». O Sofrimento Social precisa de ser enfrentado de outro modo, e creio que só as democracias o podem tentar resolver. Se uma democracia falha a resolução do Sofrimento Social, então ela falha a sua própria razão de ser. E os «monstros» começam a cercá-la, prontos a desfazerem-na, numa intervenção sumária que nos trará a bem conhecida experiência de outro tipo de extermínios. Creio que em Portugal, se não fosse a União Europeia, haveriam de ter acontecido desses abalos tremendos que transformam milhares em enxurradas. Pois que tudo está descontente, como em 1910, em 1926, em 1974... A arte não pode ser um movimento social meramente vulgar. Dentro dela, a literatura não pode contentar-se com o ponto de vista da ideologia. Tem de se tornar prova do real. De confronto com o desvirtuamento da humanidade do seu tempo. Para isso, não precisa de tornar-se política (partidária), bem pelo contrário, mas necessita de combater o que o político aniquila no quotidiano, e cada um só tem uma vida para viver. Acredito que todos os políticos actualmente em exercício em Portugal não queiram provocar, por vontade deliberada, o desabamento na aceitação da democracia. Mas penso muitas vezes, contra a minha própria razão, que se tornam cúmplices de um desastre assim. O que está a trazer a democracia aos portugueses? Fome, agravo, muito pouca capacidade de sobreviver, uma saúde desastrosa, um peso fiscal aterrador que atinge os que precisam desse dinheiro levado para poderem atravessar o fim do mês. 20% dos portugueses concentra 80% da riqueza. Cada ano consegue enriquecer ainda mais. Nada tenho contra a existência de ricos produtivos numa sociedade, penso é que a riqueza não lhes deveria ir sempre parar às mãos e que teria de haver uma classe média muito forte que permitisse inúmeros focos de riqueza distribuída por todos (mas o nosso pequeno neocapitalismo não parece gostar de coisas assim). Como eles fazem, não sei; mas não acredito que o façam criminosamente; sabem apenas aproveitar o que a organização social deste tipo de governações lhes permite conseguir. Os restantes 80% ou lutam para poder equilibrar as suas finanças (e tanto faz que tenham filhos como não tenham, embora os primeiros sofram sem dúvida bem pior situação, se se preocuparem com os seus filhos, o que nem sempre acontece com todos) ou tombam no dia-a-dia vivido como uma migalha de nada caída em sítio nenhum. Mas há ainda um maior horror: que fará alguém com 360 euros mensais nos dias portugueses de hoje? Assiste, por certo, a cada um dos seus dias como a um lento suicídio. As políticas de sacrifício (pedidas já por dois governos sucessivos - houve um interregno que não conta - sem que se lhes perceba as diferenças práticas) estão a servir realmente para quê? Atrás dos computadores tudo se desumaniza e transforma em números e nos é dito em estatísticas. Mas as pessoas? O que são e o que sentem as pessoas? Pouco percebo destes assuntos, mas começo a acreditar que não está nestas políticas solução alguma, o caminho terá de ser outro; a estratégia dos impostos, por exemplo, percebe-se que não é a saída. Há muitos economistas que dizem que sim. Mas não só a economia não é uma ciência (quando muito é uma prática calculante, nem sequer adivinhatória) como é sempre possível, por isso mesmo, encontrar um segundo grupo de economistas que defenda exactamente o contrário e um terceiro grupo ainda que divirja do que os outros grupos proclamam. Não haverá demasiada tacanhez de economistas neste nosso processo e uma total falta de visão voluntariamente política e sem o suporte de actividades deletérias como todos os partidos até agora existentes praticaram, uma vez que todos eles já estiveram no poder? A maioria dos meus amigos (quem não terá amigos assim ou não estará a falar de si próprio quando dos seus amigos fala?) está entre os 80% atrás referidos. Se uns vão conseguindo sobreviver gerindo com extrema severidade o seu orçamento, outros há muito que se têm servido de créditos bancários para conseguir «esticar» o ordenado. Vivem no limite do zero. Só podem, além de trabalhar - os mais afortunados -, pensar em como hão-de prover à educação dos filhos, aos seguros que têm de providenciar para protecção dos filhos em empregos arriscados, pagar os juros bancários e deixar para o fim a qualidade dos alimentos com que têm de manter a saúde, que, provavelmente, mais depressa se deteriorará, remédios que já se tem de pensar duas vezes antes de comprar, uma vez que o próprio vestuário teve de deixar de existir como necessidade de primeira. Vejo nas suas caras o mesmo abandono, a mesma apatia, o total desencanto que já reconheço naqueles com quem ando nos autocarros e que não sei quem são. Os meus amigos: professores, enfermeiros, mesmo médicos, bem como rapazes e raparigas e homens e mulheres de meia-idade que vivem a recibos verdes, em que se incluem artistas ou escritores que não conseguiram ou não quiseram transformar-se em mercado de boa publicidade. Todos estão unidos pela mesma frustração. Vejo o desânimo invadir-lhes a vida que já foi feliz. Ao referir-me a estes exemplos, estou a pensar insistentemente em palavras de uma mulher que admiro, Isabel Jonet, da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome. E é tanto mais de confiar na minha admiração quanto eu não sou crente de nenhuma religião e ela é profundamente católica (religião que exclui o modo da minha própria vida). Os que tiverem computador podem encontrar um exemplo do seu pensamento escrevendo o seu nome no Google (por exemplo) e abrindo a primeira entrada que surge aí neste momento, «Solidariedade»: uma entrevista extraordinária. Foi ela quem alertou para o alastramento da pobreza e do sofrimento social daí decorrente ao referir, numa entrevista à TSF amplamente divulgada na Web, «uma nova classe de novos pobres em Portugal, pessoas que, embora auferindo de um salário, não têm no final do mês todos os rendimentos de que necessitam para fazer face às necessidades do seu agregado familiar». Eu acrescentaria, a agregado familiar, pessoas sozinhas a quem o mesmo acontece. Ou pessoas a viverem conjuntamente sem que as deixem constituir-se como agregado familiar. Fala ainda desse outro pesadelo que parece nada estar a resolver, a não ser consentir que o Estado e os enriquecidos possam lavar as mãos das consequências que tudo isso trará, mais do que no presente, no futuro dessas pessoas: «Jovens a trabalharem a recibos verdes, sem possibilidades de pagar a Segurança Social, que se vêem a braços com situações dramáticas e que muitas vezes têm de pedir apoio a estruturas sociais para poderem sobreviver.» (Peço desculpa a Isabel Jonet pela extensão das citações, mas foi a principal instigadora do meu artigo de hoje.) Precariedade em quase tudo, vidas alarmadas, o desemprego, pobreza, recursos aflitivos a bancos (que podem nem ser conseguidos), vidas amodorradas à dificuldade de só passarem amargamente de um dia para outro dia, mesmo trabalhando até aos limites das suas possibilidades. Para já não falar dos que nem sequer nada disto têm. Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões da insuficiência, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa? Segundo dados da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal (Setembro de 2007), surgimos em último ou em penúltimo lugar em: taxa de risco de pobreza, situação de desemprego, risco de pobreza de pessoas empregadas, abandono escolar, desigualdade na distribuição do rendimento. Entre nós, onde a taxa de pobreza objectiva é de 20% (uma imensa fatia populacional que já é pobre por completo), 47% consideram-se pobres e 39% afirmam ter dificuldades financeiras. Segundo o Senhor Presidente da República, em 18/10/2007, «sozinho, o Estado não consegue melhorar a situação». Conseguirá melhorá-la mesmo com ajudas? Porque o Senhor Presidente da República confessou: «Envergonho-me um pouco desta posição.» Fica-lhe muito bem essa vergonha. Mas é estranho o facto de só se envergonhar «um pouco». A vergonha total, quem terá de a sofrer?

O EDUQUÊS ENVERGONHADO*

*Por Nuno Crato, publicado no suplemento Actual do Expresso de 27.10.07, e aqui editado graças à amizade vária que é recíproca em relação a quem sabe, depois deste post

Pouca gente o sabe, mas a Matemática do Ensino Básico rege-se actualmente por dois documentos discrepantes. A correcção está prevista, mas prepare-se o país para o pior: a ser aprovado um documento de reajustamento agora em discussão, a Matemática da escolaridade obrigatória passará a reger-se por três documentos desconexos. Sim, três.O primeiro é o «Programa», completado em 1991 e que, com Roberto Carneiro, introduziu oficiosamente a pedagogia construtivista no ensino, com as consequências que se conhecem. O segundo é o chamado «Currículo Nacional do Ensino Básico - Competências Essenciais», construído ao longo de vários anos, nos tempos de Ana Benavente, e aprovado em 2001, estando previsto ser concretizado num programa que substituiria o de 1991 e que nunca foi acabado. O terceiro será um documento de reajustamento, colocado fugazmente à discussão este Verão e agora em análise na 5 de Outubro. Pretendeu o ministério evitar as descontinuidades e as grandes reformas pedagógicas; em vez de estabelecer um novo programa, fez um reajustamento que permitisse clarificar o que se ensina na Matemática do Básico. É natural que as intenções tivessem sido de tornar claro o que se ensina e não se ensina e de esclarecer o que se pretende que os jovens aprendam e consolidem ao longo dos nove anos do ensino obrigatório. Esperariam pais e professores que o novo documento resolvesse as incoerências entre o «Programa» de 1991 e o «Currículo» de 2001 e que traçasse objectivos claros, ano a ano, com rigor, objectividade e alguma exigência. Engano. O nosso Ministério da Educação tem dito que quer cortar com o passado. Transmite uma imagem de rigor e até de intransigência. Seria bom que cortasse também com o passado nas orientações pedagógicas que a experiência mostrou serem erróneas. A reformulação do programa é pouco clara nos objectivos e conteúdos, mas insiste na má orientação pedagógica da Matemática e em muitos dos erros das últimas décadas. Quer isto dizer que as vozes críticas que se têm levantado na educação continuam a não ter qualquer sucesso? O reconhecimento público quase generalizado de que as coisas não vão bem no ensino, em particular no da Matemática, não tem abrandado o dogmatismo daqueles teóricos da pedagogia que de há anos a esta parte negam a evidência dos resultados e se esforçam por propagar a «escola inclusiva», as «competências gerais», a «pedagogia não directiva» e o «ensino centrado no aluno». Mas tem obrigado a um maior comedimento nas palavras. Os dislates discursivos que ficaram conhecidos como «eduquês» abrandaram. O sestro não. Um exemplo elucidativo é fornecido precisamente pelo actual documento de reajustamento do programa. Os seus responsáveis defenderam durante anos uma teoria pedagógica perniciosa que opõe conteúdos a competências. Defenderam que os conteúdos não fazem sentido se não estiverem englobados em «competências», conceito que corresponderia a atitudes, conhecimento em acção ou capacidades gerais. Se esta teoria pretendesse apenas contrariar o ensino excessivamente livresco e sublinhar a importância de aplicar os conhecimentos, nada haveria a opor. Contudo, como é habitual entre ideólogos dogmáticos, o prélio foi levado ao limite, rejeitando a importância do conhecimento e acentuando competências vagas e palavrosas. A moda alastrou ao Ensino Superior. Aos professores começou a pedir-se que preenchessem formulários longos em que fossem destacadas as «competências comunicacionais» da Álgebra ou as «competências multiculturais» da Electrónica. No Ensino Básico, as «competências» foram de tal forma glorificadas que os documentos oficiais desprezam o valor do conhecimento em si. Como resultado, as exigências claras e precisas respeitantes aos conteúdos começaram a ser substituídas por referências palavrosas e vagas às competências genéricas. Começou a falar-se do «conhecimento contextualizado» como receita geral, esquecendo a necessidade da abstracção. A verdade, contrariamente ao documento de 2001, é que o conhecimento não pode nem deve ser totalmente organizado em competências e deve ser especificado em conteúdos disciplinares precisos e testáveis. Como os críticos dessa orientação focaram, dever-se-ia utilizar «conhecimentos e capacidades» ou outra expressão que explicitamente incluísse os conteúdos. Mais importante do que o invólucro são as recomendações práticas. Começando pelas omissões. Como o afirmou a Sociedade Portuguesa de Matemática num parecer sobre este mesmo documento, ele «não constitui um apoio claro e preciso, de consulta simples e directa, para o professor. Constitui apenas um amontoado de recomendações, algumas ambíguas, outras de hierarquia confusa, muitas redundantes, algumas repetitivamente apresentadas». Ao contrário do que seria de esperar, o documento não apresenta metas claras e verificáveis para as diversas etapas. Diz que o «professor decide o nível de profundidade a tratar cada tópico» (pág. 11) e rejeita a apresentação de «um roteiro possível de temas e tópicos a trabalhar por se considerar que tal deve ser definido a nível de escola ou de agrupamento escolar» (pág. 2). O estado actual do ensino e das escolas, no entanto, necessita de recomendações objectivas e precisas, onde possível especificadas ano a ano. É absolutamente indispensável que os professores e as escolas trabalhem com metas claras. Os vícios da linguagem «não directiva» continuam. Fala-se em «discutir com os alunos» (pág. 62) e nunca em «transmitir conhecimentos». Fala-se em «tarefas que o professor decide propor» (pág. 12) ou «pedir» (pág. 35) e não se diz que as deve «indicar» ou «mostrar». Para se perceber a profundidade do descaminho linguístico, basta dizer que nem uma única vez se usa a palavra «ensinar». O mais gravoso é a persistente desvalorização da memorização, dos automatismos e da mecanização dos algoritmos. Desiludem-se os professores e pais que esperavam encontrar recomendações claras sobre a necessidade de domínio da tabuada, de prática de algoritmos das operações elementares e de domínio de conhecimentos. Não se clarifica, por exemplo, em cada etapa de estudo, a destreza na multiplicação com papel e lápis que os estudantes devem ter. Insiste-se no uso da calculadora desde o Primeiro Ciclo. Aquilo que toda a gente sensata vê com facilidade, que é a necessidade de evitar a máquina enquanto se aprende a tabuada e as operações elementares, os ideólogos dogmáticos do «eduquês» não conseguem ver. As ferramentas modernas, como a calculadora e o computador, devem ser introduzidas no Ensino Básico. E mesmo no Primeiro Ciclo pode ser conveniente que os alunos comecem a familiarizar-se com estes instrumentos. Mas é absolutamente necessário que os jovens estudantes sejam impedidos de usar a calculadora no momento em que estão a memorizar a tabuada e a treinar as operações. Não se aprende a nadar passeando de barco. A calculadora pode e deve ter lugar na sala de aula, mas quando o professor disser, não quando os alunos quiserem. O programa de 1991 cometia o erro de dizer que o aluno tem o direito de usar a calculadora sempre que o entender. O novo documento deveria corrigir expressamente esse erro absurdo, ao invés de voltar a insistir no uso indiscriminado da máquina. Mas alguma vez a «nomenklatura» da Educação reconheceu algum erro?! O problema, infelizmente, não é apenas português. Se lermos o recém-publicado Eduquês: Um Flagelo sem Fronteiras, de Laurent Lafforgue e outros (Gradiva, 2007), vemos como a degradação dos conteúdos disciplinares e a sobrevalorização da calculadora têm ajudado a degradar as capacidades de cálculo e de raciocínio numérico dos jovens franceses e de outros países europeus. O documento de reajustamento do programa menospreza os algoritmos tradicionais e pretende que os professores treinem o cálculo por processos morosos, pouco eficientes e viciadores. Assim, por exemplo, defende-se que se aprenda a somar 3 com 4 fazendo «3+3+1=7» (pág. 17), a somar 543 com 267 por «somas parciais» (pág. 19) e a dividir 596 por 35 por «subtracções sucessivas» (pág. 19). Ou seja, em vez de exercitar a memória e treinar os processos mais eficientes, pretende-se prolongar no aluno o uso de métodos de recurso propensos ao erro. Ao mesmo tempo que se desprezam os objectivos modestos, mas atingíveis, destacam-se metas utópicas, como a de os alunos serem «capazes de fazer Matemática de modo autónomo», nomeadamente «formular e investigar conjecturas matemáticas» (pág. 6), recomenda-se que realizem «investigação matemática» (pág. 11) e diz-se que devem «descobrir os critérios de divisibilidade» (pág. 35). Poderá pensar-se que se trata apenas de exageros, mas uma das características mais marcantes do construtivismo educativo dogmático é falar da compreensão, da descoberta autónoma e do desenvolvimento do raciocínio - metas grandiosas! - e, ao mesmo tempo, repudiar o desenvolvimento das destrezas básicas que lhes são antecedentes. Para que os fracassos destes métodos de ensino não se revelem, o documento defende que a avaliação deve «centrar a sua ênfase no que os alunos sabem, o que são capazes de fazer, e como o fazem, em vez de focar-se no que não sabem» (pág. 13). Frase lapidar! A merecer moldura negra para relembrar às gerações futuras o que ideólogos dogmáticos dizem quando cegos pela sanha ideológica. Esta ideia, por si só, erradicaria por completo o insucesso escolar. Teste-se nos alunos o que eles sabem e não o que deveriam saber que o país progredirá sem o incómodo de conhecer as suas deficiências educativas.Por estranho que pareça, a ideia de rejeitar a avaliação como algo incómodo não é uma excentricidade do «eduquês», antes é parte integrante e basilar dos extremos da pedagogia romântica. Alguns, negando a possibilidade de objectividade absoluta, rejeitam a avaliação no seu todo como um resquício do positivismo (pobre positivismo!). Outros assumem alguns momentos de teste de conhecimentos, mas apenas como pró-forma prófuga. Apesar de largamente discutidos e anualmente polemizados, os exames rareiam em Portugal. Os estudantes passam os nove anos de escolaridade obrigatória sem nenhum exame nacional. Apenas no 9.º ano, depois de terem frequentado dezenas de disciplinas, são testados nacionalmente a duas. Apenas duas: Português e Matemática. Mesmo nestes exames, que só existem de há três anos a esta parte, a classificação obtida apenas conta para 30% da nota final. Os efeitos são reduzidíssimos, embora tenham tido uma acção moderadora. O país mudou desde que os exames nacionais do 12.º ano, com Marçal Grilo, e os exames nacionais do 9.º ano, com David Justino, foram instituídos. Imagina-se que mais poderia mudar se a avaliação externa nacional fosse mais frequente, se incidisse sobre mais disciplinas e se fosse mais rigorosa e fiável. As mudanças no sistema de avaliação são decisivas para a regulação de todo o sistema educativo. Mas, ao longo de anos de provas de aferição e de exames nacionais, o ministério não conseguiu (ou não quis) instituir testes fiáveis, isto é, comparáveis de ano a ano e, por isso, avaliadores da evolução global do ensino. A agravá-lo, fala-se em limitar o âmbito dos exames do 12.º ano às matérias desse ano lectivo e não às de todo o Ensino Secundário, como tem sido regra. Mantêm-se as oscilações. No fim do ano lectivo transacto, o exame de Matemática do 12.º ano teve mais meia hora de tempo de prova, mantendo um conteúdo comparável ao dos anos anteriores. A percentagem de aprovações subiu de 71% em 2006 para 82% em 2007. Na Matemática do 9.º ano, o único nível onde houve um plano de acção ministerial específico, a percentagem de aprovações desceu de 37% para 27%. No Português do mesmo nível escolar, a percentagem de aprovações subiu de 54% para 86%. São oscilações espantosas. Alguém acredita que correspondam a mudanças reais nos conhecimentos dos alunos? Uma das conclusões dos estudos internacionais é a da grande inércia dos sistemas de ensino. Os resultados reais mantêm-se semelhantes ao longo de anos e só lentamente mudam. Em Portugal, aquilo que os alunos sabem também tem mudado pouco. O que tem mudado são os exames. Querendo moralizar o sistema de ensino, é indispensável produzir exames fiáveis, comparáveis ano a ano. Estamos a começar um novo ano lectivo. Imagine-se um professor dedicado, tentando este ano dar mais atenção às deficiências básicas dos seus alunos e desdobrando-se para incentivar ainda mais os melhores. Imagine-se um casal que resolve investir mais no seu filho, acompanhando diariamente os seus estudos. Imagine-se um jovem aluno do 12.º ano, ambicionando notas elevadas para poder entrar no curso que escolheu. E pense-se agora que as notas finais vão depender em larguíssima medida não do trabalho do professor, não do esforço dos pais e não do trabalho do aluno, mas sim da maneira como este ano forem feitos os exames.É difícil trabalhar numa escola assim! Generalizar e reformular a avaliação é uma das tarefas mais urgentes do nosso sistema de ensino. Conte-se com os professores que gostariam de ver o resultado do seu trabalho honestamente medido. Conte-se com as famílias que começam a perceber o logro dos progressos fictícios. Não se conte com o «eduquês». Olhemos para a maneira como as «competências» são tratadas neste novo documento. Omitem-se e substituem-se por «conhecimentos e capacidades»... O facto seria de louvar, mas é tão surpreendente nas pessoas que mais defenderam a teoria das competências que é difícil de perceber. Os documentos estão na Internet e permitem uma busca por palavras. Procure-se «competência», ou «competências». Desapareceram! A tentativa de evitar a controversa palavra foi tal que, nas referências bibliográficas, o próprio título do documento de 2001 foi truncado. É espantoso. A surpresa é quase tão grande como a que teríamos se, subitamente, padres da Igreja Católica elidissem do seu vocabulário a palavra «Jesus».

O CEPO ESCREVENTE


José Saramago acha que "o senhor Cavaco Silva" nunca lhe pediu desculpa (de quê?) e que, agora, também já não quer que o faça. Não se enxerga. Saramago teve sorte. Internacionalizou a sua prosa e, como tantos outros obscuros escritores africanos, indianos e de outras paragens, ganhou o Nobel. Se o ego do senhor já era o que era, o Nobel, a D. Pilar e o regime fizeram o resto. Todos, menos Cavaco, rastejaram aos pés do ressequido comunista. Fique por Lanzarote, tão seca como ele, e deixe-nos finalmente em paz.

DERROCADA


O suplemento "cultural" do Expresso, Actual, vale apenas porque intermitentemente insere bons artigos, coisas para pensar. O resto é sempre pequenas prosas por pequenos tartufos. Esta semana valem os textos de Nuno Crato sobre o ensino da matemática no "básico" (não adianta andar a distribuir computadores quando o sistema prepara mentecaptos através de facilitismos estéreis espelhados em regulamentos que querem dizer nada) e de Joaquim Manuel Magalhães sobre o regime, o "socratismo" da felicidade que espreita à esquina. Não possuo a versão online o que, infelizmente, me impede de colocar, como devia, ambos os artigos na íntegra aqui. Ficam "algumas palavras" do Joaquim, de uma crónica terrivelmente intitulada "Derrocada". «Precariedade em quase tudo, vidas alarmadas, o desemprego, pobreza, recursos aflitivos a bancos (que podem nem ser conseguidos), vidas amodorradas à dificuldade de só passarem amargamente de um dia para o outro dia, mesmo trabalhando até aos limites das suas possibilidades. Para já não falar dos que nem sequer nada disto têm. Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões das insuficiências, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa?»

27.10.07

UM ESCRITOR PORTUGUÊS CONFESSA-SE

«A casa sobre a Madragoa é um barco com dois tombadilhos, olhando colinas e o Tejo. Bom para inspirar quem gosta de escrever sobre gente de cá e gente de cá que gosta de partir.» De uma entrevista que começa assim, é de esperar o pior. E, de facto, há pior. «Esta semana apareceram alguns blogues femininos com a sua foto e, a pretexto do novo livro, lembrando que é bonito. Há mulheres que o lêem por isso? - Não faço ideia, nunca encontrei nenhuma que me tivesse dito isso. Mas também não me importo se for verdade. Porque tem tantas descrições de comida e de sexo? - As duas coisas que os homens mais gostam de comer.» Importa-se de repetir, Miguel, sem bater?

A SUA VONTADE

«A ratificação pelo Parlamento é tão válida quanto a ratificação por referendo", afirmou José Sócrates aos jornalistas, no final do Fórum Novas Fronteiras, no Centro Cultural de Belém."Como não dissemos como vamos fazer, naturalmente as duas possibilidades estão em cima da mesa", disse também o primeiro-ministro, reiterando que, "depois de assinado o tratado, no dia 13 de Dezembro, o Governo tornará pública a sua opção, a sua vontade".» Lê-se no Público. Pensava que "a sua vontade", tal como expressa em campanha e depois dela, era o referendo. De facto, o que custa mesmo a apanhar é o coxo.

SÓCRATES, MODO DE USAR


Tal como se previa - e as outras duas anteriores "presidências" confirmavam - a Europa não "vende" para efeitos domésticos. O cidadão médio, o que ignora olimpicamente o "tratado reformador" ou as visitas de grandes senhores a Portugal, preocupa-se em poder digitar quatro números numa caixa multibanco (que ainda não tenha sido levada para casa pela racaille) e em ver de lá sair umas notas. De seguida, e assustado pelo que assiste nos telejornais, espera ansiosamente, ou por uma "nova oportunidade", ou em manter o emprego que tem. De resto, o que lhe cai em cima, seja pela propaganda, seja pelos papagaios do regime, não lhe diz respeito. Tem filhos para manter na escola - que o sistema teima transformar em futuros homúnculos - e prestações da casa para pagar. A escapadela continua a ser a bola e um "jantar fora" uma vez na semana. Dois anos depois, começa-se a perceber (e ele também) que Sócrates e o seu autoritário mode d'emploi estão a falhar. O irrealismo da tribo mandante vai, uma vez mais, cair-nos em cima como um pesadelo ou um incêndio furioso. Sócrates não tem grande margem de manobra depois do circo europeu. 2008 não vai ser fácil e imediatamente a seguir é precioso dar corda ao ilusionismo por causa das eleições. É fundamental começar a explicar isso ao país no debate do orçamento para o ano que vem, todo ele um mau prenúncio como Bagão Félix, de um lado, ou Campos e Cunha, do outro, já esclareceram. Daqui para diante os trunfos de Sócrates são escassos, dadas as fanfarronices "internas" e as incertezas externas cada vez mais incontroláveis. Pode escolher entre começar a tomar uns "Lexotans" para se acalmar ou acentuar o ritmo das corridinhas. De qualquer forma não se safa.

26.10.07

OS DIREITOS E OS NEGÓCIOS

A propósito dos negócios com a Rússia e dos direitos humanos, o dr. Mário Soares achou por bem chamar à colação Bush por causa dos segundos para defender os primeiros. No fundo Soares quis dizer que, direitos humanos por direitos humanos, Bush não é melhor que Putin e, melhor que tudo isso, são os negócios como ele próprio já tinha exemplificado com a "ponte" energética que ajudou a construir com a Venezuela. O seu amigo Chávez, aliás, já tinha dado o mote ao afirmar que Bush estava à beira do manicómio. Dá-me ideia que Soares perdeu o seu "norte" democrático e baralha as coisas. Ou será que aos oitenta e tal anos deixou de perceber de que lado deve estar?

DA ESQUERDA DEMOCRÁTICA

Tomás: a "esquerda democrática" ou qualquer outra é muito "fina" e amofina-se com pouco. Alguns dos meus amigos dessa "esquerda" são a prova viva disso pelos "incómodos" que sentem com o que aqui se escreve, sem nunca terem tido a coragem de, olhos nos olhos, explicarem comportamentos recentes perfeitamente idiotas e infantis. Se calhar nunca foram nem de "esquerda" e, muito menos, da "democrática". São apenas e egoisticamente deles mesmos.

25.10.07

DEBAIXO DO COLCHÃO

A telenovela bancária - já vai no terceiro episódio, contando com as facadas entre o ex-pródigo Teixeira Pinto e o seu pai espiritual - interessa apenas para se perceber uma coisa. Se, de repente, o sistema bancário nacional, cujo crescimento e engorda começaram no final dos anos oitenta, entrasse em colapso, o país das "novas oportunidades" do senhor engenheiro e o regime paravam. Daí os absurdos minutos com "directos" idiotas concedidos pelos telejornais ao tema "Millennium-BPI". Não tarda e os portugueses que ainda têm "algum" voltam ao depósito debaixo do colchão.

O TALENTOSO SR. PUTIN



Vladimir Putin, que daqui a umas horas aterra em Lisboa, é um caso político do maior interesse. Sócrates certamente que não deve deixar de sentir algum fascínio pelo sucesso deste antigo agente secreto que governa a Rússia no limiar da não democracia. Acontece que entre o cochicho português e a vasta pátria de Catarina não há praticamente nada em comum. A Rússia mantém e desenvolve uma ambição "reconstitutiva" autorizada pela história recente e pela grandeza remota que nos escapa inteiramente. Putin não faz a mínima intenção de largar tão cedo o poder. Percebeu - como me dizia um amigo outro dia - que a "referência" policial substitui com eficácia o partido, na presidência ou no governo. E que não perde nada em maçar os seus homólogos ocidentais, em especial Bush, com os seus "jogos de guerra", independentemente da segunda ou terceira "dimensão" desses jogos. Putin vem, primeiro, falar com anões e, depois, segue-se o desenvolvimento da fábula do Fontaine, em Mafra. Vai ser mais um momento para Sócrates vomitar umas banalidades e para Putin nem sequer o ouvir. Há homens que não perdem tempo com insignificâncias. Putin pode ter todos os defeitos do mundo mas sabe muito bem qual é o lugar da Rússia no mundo, pelo menos o que ele quer recuperar.

24.10.07

SEGUIR EM FRENTE

O PC - que nestas matérias nunca foi de modas nem de angústias - retirou a "confiança" política a uma sua deputada. O PSD, na recomposição da sua bancada parlamentar e das presidências de comissões parlamentares, removeu dois ou três deputados e substitui-os por outros tantos. Sobre a primeira, não vamos seguramente ouvir as carpideiras tradicionais perorar. Sobre os segundos, não têm faltado "análises" e remoques a Santana Lopes. Falou-se, até, em cargos "institucionais" como se as comissões parlamentares fossem compostas por eunucos assépticos. Lopes tem a vantagem de devolver a política à política por muito que isso custe às tradicionais eminências do partido. Arnaut, Relvas ou Correia são tão relevantes ou irrelevantes como quaisquer outros . Há dezenas como eles que se consideram igualmente "especiais" e insubstituíveis. Lopes não deve perder um segundo a explicar nada. Os seus reais interlocutores são outros e estão fora do PSD. Siga em frente.

ESCUTAS

O Parlamento vai ouvir o senhor conselheiro Pinto Monteiro. Eu diria que o senhor conselheiro estava mortinho para ser ouvido, isto é, escutado como deve ser. Isto porque presumo que deve ter algo a dizer. Ficamos à escuta.

23.10.07

A RÃ E O BOI

No melhor estilo "português" - agressivamente provinciano - o presidente em exercício da UE respondeu a um eurodeputado que se manifestou no sentido de o "seu" tratado ser colocado a referendo das opiniões públicas europeias. Saiu-lhe um extraordinário "acordem" e "vejam a maravilha que nós aprovámos à beira Tejo que não admite discussão". Depois aproveitou para dar mais uns passinhos atrás na sua promessa eleitoral interna nesta matéria, com o aplauso do gémeo Barroso. Esta arrogância autoritária e teimosa - que o há-de perder cá dentro - foi a mais concludente evidência do artificialismo da "construção" europeia. Não por acaso, o MNE de Putin chamou a atenção da Europa para a circunstância de estar demasiado "inchada" e para o facto de a Rússia ter uma palavrinha a dizer quanto a esta fábula. Oxalá não aconteça à Europa o mesmo que à rã.

NÃO EXISTEM

Como é que o dr. Alberto Costa, ministro da justiça, e o director da PJ, dr. Alípio Ribeiro, podem garantir a quem quer que seja, a começar a eles próprios, que não existem escutas ilegais em Portugal? Já o senhor conselheiro Pinto Monteiro, por acaso PGR, não comunga, pelos vistos, desta solene opinião. Nos colóquios costuma afirmar-se com ênfase que a democracia se avalia pela estado da sua justiça. Vejam bem o estado da nossa.

DA VOZ DO POVO À VOZ DO DONO


O João Adelino Faria, na sua alegre inconsciência radialista, perguntava aos seus convidados, no RCP, se referendar o "tratado reformador" não seria correr "riscos desnecessários", fugindo-lhe a boca para a verdade oficial. Faria, sem querer, deu voz ao "europês" correcto que se escreve nas costas da opinião pública e que é apenas decifrável por meia dúzia de iluminados. Estar na Europa não significa aceder à Europa. As reivindicações nacionais - um escândalo bem abafado entre champanhe e "porreiros, pá" - dos pequenos países passaram-nos ao lado porque era importante a fotografia. Por breves instantes, Sócrates, Barroso, Menezes e Cavaco, todos alinhados pela mesma língua de pau, colocaram alegadamente Portugal no mapa. O professor Freitas do Amaral também ajudou com um artigo "Teresa de Sousa" no DN. E mais virão, mesmo que nada desta mistificação interesse ao país "das nove às cinco". Não referendar a coisa é passar um atestado de menoridade cívica e "europeia" aos milhões de concidadãos com que estes títeres de plástico enchem a boca. Tudo visto e ponderado, se calhar não merecem outra coisa.

DA QUALIFICAÇÃO NACIONAL OU O SIMPLEX APLICADO AOS NEURÓNIOS

«Hoje, após 15 minutos de aula de matemática, fui informado de que os alunos da antiga reforma (cujo decreto-lei não tenho presente), que deveriam ter completado o seu percurso escolar no ano lectivo de 2005/2006 , vão realizar em Dezembro próximo provas de exame elaboradas nas escolas que têm o mesmo valor de exames nacionais, o que lhes permite a entrada para o ensino superior com a nota dessa mesma prova de exame. Para os alunos como eu, que já estão incluídos na nova reforma, existirão exames em Junho, feitos a nível nacional, e, como tal, com uma complexidade perfeitamente dispare. No entanto, ambas as provas permitem o acesso ao ensino superior. Este é o link da pagina onde o comunicado sobre a matéria que lhe refiro está disponível:
http://www.dgidc.min-edu.pt/jneweb/circular.htm
sendo o comunicado em questão o ofício curricular N º 01/2007.»

João Rocha

22.10.07

NÃO É FÁCIL DIZER BEM


Um já tem o livro cá fora. O outro terá dentro de dias. Há um terceiro que também deu à estampa. São os três jornalistas, respectivamente "pivot" em risco de despedimento no canal público de televisão, comentador num canal privado e um bom apresentador de telejornais. São, por junto, "romancistas". Suscitam inveja a outros "romancistas" e a muitos que gostavam de ser "romancistas". Não porque sejam especialmente talentosos - não são, limitam-se a cavalgar a facilidade em dar à tecla e em contar uma "história", aliadas à notoriedade que a televisão e as "revistas" fornecem - mas porque, num país que não lê e que vomita cá para fora dezenas de novos livros por semana sobre tudo e sobre nada, são "conhecidos". Nenhuma literacia literária melhora por se ter lido Sousa Tavares, Rodrigues dos Santos e Rodrigo Carvalho. Vendem-se bem porque qualquer um deles sabe perfeitamente "vender-se" ainda melhor. As respectivas manobras de propaganda e publicidade são directamente proporcionais à duvidosa intrínseca qualidade literária das "obras", apesar de "Equador" não me ter desagradado, o único que li. O leitor estremunhado - que anda no metro, no comboio ou no barco - não é exigente. Para maçadas e "complexidades" basta-lhe a vida. Os "romances" destes três garantem, com maior ou menor felicidade, evasão sem puxar excessivamente pelo bestunto. A esse leitor pouco profundo, a "cara" do autor é uma garantia. A única. Bom proveito.

BARULHOS E MICROFONES

A propósito dos "barulhos esquisitos" no telemóvel do senhor conselheiro Pinto Monteiro, há quem recorde o episódio do microfone alegadamente colocado no gabinete de Cunha Rodrigues, o PGR que antecedeu Souto Moura. O "tempo acelerado" da política portuguesa, a longa fila de gente institucional que apareceu e desapareceu entretanto com a mesma velocidade com que emergiu, relegou a figura de Cunha Rodrigues para a história e para Bruxelas ou para o Luxemburgo, não sei bem. Acontece que este homem é a "marca" indelével da Procuradoria. Foi ele quem "intimidou" seriamente o poder soarista - com Macau - e o poder cavaquista, com a área da saúde. Cunha Rodrigues tinha literalmente o poder político na mão e fez toda a carreira à frente do Ministério Público "jogando" com o que sabia. Ao pé dele, Souto Moura e Pinto Monteiro são apenas dois amáveis amadores entre - e aí Pinto Monteiro acertou - duques, marquesas, condes e viscondes, a maior parte, aliás, "nobilitada" por eles. O episódio do microfone nunca foi bem explicado se calhar porque não havia nada para explicar. Cunha Rodrigues partiu mas nunca se chegará a saber que história tinha para contar.

POLÓNIA


Não vão faltar na Europa contentinha as vozes de regozijo pela derrota do gémeo polaco que era primeiro-ministro. A D. Teresa de Sousa já deve afivelado ou estará a afivelar mais uma das suas crónicas "isentas" sobre a Polónia, depois de recuperada da baba que verteu pelo "acordo de Lisboa". E, como ela, outros cronistas e comentadores do regime seguirão o trilho da Europa "plasticina" que eles inventaram e cujo artificialismo se irá pagar bem caro daqui a pouco tempo. A Polónia ficou agora nas mãos de um senhor que é um misto de Barroso com Guterres. Ou seja, parece um "liberal" pragmático como o primeiro e promete o céu e a terra como o segundo, sem medir as consequências da ilusão. O gémeo presidente já avisou o cavalheiro como é que vai tratar o seu evangelho. A Polónia, do prisma geopolítico, é um dos mais fascinantes países desta Europa macrocéfala que, estupidamente, não pára de crescer. Nunca foi bem percebida e foi intermitentemente humilhada, ora por um lado, ora por outro. Se este sr. Donald imagina que vai diluir o "orgulho" polaco no "europês" em vigor está muito enganado. Assunto a seguir.

21.10.07

UNS BARULHOS ESQUISITOS


Já o dr. Souto Moura era um bom homem - e sério - mas muito infeliz na sua relação com a "opinião que se publica". Pinto Monteiro, o actual PGR, também não resistiu à vaidade de comemorar um ano como procurador-geral com uma entrevista. Não li. Porém bastou-me ouvir no carro que o telemóvel do senhor conselheiro podia estar sob escuta (ele não sabe se está ou não está mas suspeita) e que tal conclusão lhe advém de "uns barulhos esquisitos" que ouve quando usa o instrumento. Isto é, a todos os títulos, grave e revela o estado do regime. O chefe máximo pela condução da acção penal em Portugal desconfia que é escutado. Por quem? Pelos "seus" subordinados da investigação? Pelas "secretas"? Pelo poder político que manda em todos os outros? Fica a dúvida onde não deve pairar uma sombra dela. A incontinência verbal do senhor conselheiro não tem os mesmos efeitos da dos taxistas. Precisa ser escrutinada até ao fim. Se existem "barulhos esquisitos" no aparelho do PGR, por que é que não hão-de aparecer no do PR, no do 1º ministro, no dos chefes dos partidos até ao infinito que a perversão da democracia comporta? O ambiente latino-americano que está instalado no país, muito por culpa do absolutismo da maioria - do topo ao mais pequenino dos seus serventuários -, permite esta desconfiança permanente do outro e do mesmo. Em certos aspectos, este regime está pior que o anterior. Na "velha senhora" sabia-se quem era o "inimigo". Agora somos todos potenciais inimigos uns dos outros e de uma instância "superior" que não tem rosto a não ser o da cobardia.

A ÉTICA PLANIFICADA


Sou jurista. Sofrível, mas jurista. Todavia, não me vejo a escrever um parecer como o do conselho consultivo da PGR onde se entende que a Ordem dos Médicos deve alterar o seu Código Deontológico para o "adaptar" designadamente à lei do aborto. Correia de Campos que, por si, já tinha uma "visão" sui generis quanto ao controlo do desempenho médico, chamou-lhe um figo. Que eu saiba, um "código deontológico" pressupõe a salvaguarda de uma conduta ética no exercício de uma função. Os médicos não tiraram o curso para serem pistoleiros ou para prevenirem a emergência de uma vida. Pelo contrário, servem para a dar e preservar. O conselho consultivo da PGR e o infeliz dr. Campos, ao darem prevalência ao "pathos" legal sobre o seu "ethos", prestam um péssimo serviço ao direito e à sociedade metendo-se onde não devem. É, para ser delicado, um belo precedente tipicamente "soviético".

20.10.07

CRIME E CASTIGO



O filme The Brave One, de Neil Jordan, com Jodie Foster, cujo título em português é de uma imbecilidade atroz, é seguramente uma das boas surpresas deste ano. Foster/Erica tem um programa de rádio sobre os sons de Nova Iorque. E tem um namorado com quem está prestas a casar e, uma noite, vai passear o cão com ele a, presumo, Central Park, algures num recanto mais obscuro do parque. São atacados por aquela violência gratuita e assassina que até já ocorre aqui, no Camões, ao Chiado. Ela fica em coma e ele morre. Erica quer comprar uma arma, sem saber como disparar um tiro, mas a burocracia e os regulamentos levam-na a uma transacção mais rápida. A "9 mm" está pronta a vingar a catequese global do "não há rapazes maus". Foster, ao mesmo tempo que grava os murmúrios da "cidade que nunca dorme", castiga de morte matada os anónimos que lhe tiraram para sempre o sono. O detective que investiga as vítimas da vítima "chega lá" mas permite a impunidade da "vingadora" no momento em que elimina a canalha que matou o namorado. Erica começa por não perceber que está a mudar, em mudança - é isso que a puta da vida nos faz - e por fim aceita a "outra" que nunca deixou de ser a mesma. Se fosse comigo, preferia usar um silenciador porque a morte, mesmo a tiro, deve ser silenciosa. Pamuk /Erika/Foster, sobre Istanbul (ou sobre Nova Iorque ou Lisboa): "like the city, I belong to the living dead, I am a corps that still breathes, a wretch condemned to walk streets and pavements that can only remind me of my filth and my defeat". Genial.

19.10.07

BLOGA LARANJA


Cada livro que sai da bloga , recorda-me que já devia ter pronto um há muito tempo. Agora reservo-me para um "manual anti-regime" para o que falta da legislatura. Estes "laranjinhas" do 4R lançaram o deles com uma selecção de textos de todos os colaboradores. É bom que, ao lado de José Pacheco Pereira, haja mais "laranjas" pensantes depois do recente descalabro intelectual das "directas" e da vacuidade das primeiras declarações do novo líder. E parabéns a Lopes, com os habituais acautelatórios quanto às gentes que o rodeiam como moscas varejeiras.

NÃO SE QUEIXEM


Como duas crianças a quem ofereceram o tão desejado carrinho da "matchbox", Barroso e Sócrates apareceram de mãos dadas a celebrar o "tratado reformador". "Porreiro, pá". Sócrates, com aquele tique típico do mando provinciano, até instou os jornalistas a evidenciaram a mesma felicidade que exalava do sorriso da dupla. É evidente que nenhum cidadão português vai sentir nada de nada na sua vida que releve da eventual ratificação deste "tratado". Pelo contrário, vai sentir o orçamento de Estado, o desemprego e as velhas-falsas "oportunidades" da propaganda. O país não mudou entre a meia-noite a a uma da manhã. Sócrates, sim, mudou. Mudou quanto à forma como o país deve ratificar o "tratado". Todos os democratas de pacotilha, sejam de que partido for, estão a ser convocados para os "momentos Luís de Matos". Referendo? Não, isso era para a "constituição", como se isto não fosse a "constituição" sem o hino e bandeira. Prometeu-se um referendo e debate? Também não, ainda vamos "estudar" como é que vamos fazer como se não estivesse já decidido como é que se ratifica a coisa. Daqui até Dezembro não são favas contadas. O ar contentinho e imberbe da dupla portuguesa esconde um "tratado" que nos é objectivamente desfavorável e que é ignorado pela opinião pública porque é assim que Bruxelas gosta. Quando o calhamaço nos cair em cima da tola, depois não se queixem.

18.10.07

TENTAR EXPLICAR...

... o que se está a passar no conselho europeu de Lisboa, sem a retórica habitual e "neutral", foi o que José Medeiros Ferreira fez com Mário Crespo na SIC-Notícias. Não percebi o destemperado ataque de Miguel Sousa Tavares, no último Expresso, ao MNE que solicitou a adesão à então Comunidade Europeia nos anos setenta. Ou Sousa Tavares, contrariando pergaminhos familiares e os seus próprios, já desistiu de ser uma "voz incómoda" e consola-se em ser um mediano escritor rendido à "determinação socrática"?

A PRIMEIRA-DAMA


Há por aí muitas mulheres que gostariam de ser primeiras-damas. Veja-se o caso da inenarrável Dina Matos, uma lusa casada com um político americano que ambicionava a Casa Branca. Deu em livro, já traduzido, porque o marido "saiu do armário" justamente na pior altura. Não haveria prateleiras que chegassem para todas estas despeitadas e "enganadas" quanto à adequada virilidade dos esposos se desatassem todas a escrever as suas tristes histórias. Todavia, com Sarkozy chegou um novo tipo de primeira-dama. A que, já o sendo, se está nas tintas para continuar a ser e se divorcia. Cecília ainda teve tempo para um gesto de diplomacia paralela bem sucedido antes de decidir ir à vida dela. Quantas pirosas e putativas candidatas a primeira-dama seriam capazes disto?

A COISA

A forma - portuguesa - como são enunciadas as dúvidas que alguns parceiros colocam ao texto do "tratado reformador" torna, aos olhos da desinteressada opinião pública, esses parceiros numa espécie de ovelhas ronhosas que estragam o ambiente "caseirinho" criado por Sócrates e pelo dr. Barroso por causa do nome da coisa: Lisboa. A coisa é que eles não explicam porque, se a explicassem com verdade, ficava-se a saber aquilo que não interessa que se saiba, isto é, que, objectivamente, países como Portugal ficam a perder se a coisa avançar tal como está. Desde que a coisa fique na fotografia ao lado de Sócrates é quanto basta.

Adenda: O propagandista Esteves continua na RTP a "vender" o seu peixe bruxelense como se estivesse numa aula do falecido propedêutico televisivo dos anos setenta. O contraditório, a seiva da Europa, não entra na cabeça dura e feita do sr. Esteves.

SERVIÇO PÚBLICO?

Chego a casa, ligo a televisão para saber do conselho europeu e aparece-me o sr. Esteves Martins, o delegado da RTP em Bruxelas, com uma inenarrável língua de pau acerca do "tratado reformador". Martins não informou a partir das cercanias do Pavilhão Atlântico. Martins fez propaganda do tratado que ainda nem sequer se sabe se é aprovado - deu-o praticamente como aprovado - e, em vez de se comportar como um jornalista isento, emitiu um mero tempo de antena por conta de Bruxelas e do whisful thinking da presidência portuguesa. Não gosto dele, mas melhor andou o Ricardo Costa no "directo" da SIC-Notícias das 19, ou seja, explicou por que é que este conselho pode ser "constitucional" ou não e qual é o papel expectável dos principais protagonistas. A RTP, à força de querer testemunhar o regime, nem serviço público elementar consegue prestar.

Adenda: Lá está ele, o Esteves, no telejornal das 20 a fazer a mesma triste figura.

17.10.07

A "GUERRA COLONIAL"


No auge da chamada "guerra colonial" alguém soprou a Salazar que devia ir a Angola. "Nem que morra", acrescentou. É evidente que não morria, mas a sua distância física do derradeiro assunto político que levou a peito também ajudou ao descalabro posterior. A política precisa de símbolos e a presença do presidente do conselho em África poderia ter tido outras consequências. Em alguns dos nossos "teatros de guerra" a dita estava longe de estar perdida. O que perdemos foi a cabeça a seguir ao "25 de Abril" na ânsia idiota de "descolonizar" a qualquer preço. Até os pretos preparados por nós, nas nossas universidades, como futuras "elites" locais se admiraram com a qualidade de vida que encontraram em Luanda e em Lourenço Marques, disse-o o Fernando Dacosta na SIC-Notícias referindo-se a Agostinho Neto e a Machel. Sou adepto de que se deve defender o que é nosso até ao último homem e não abandonar todos os homens à circunstância, à traição e aos salamaleques do correcto. Quem foi militar, quem nunca desertou, sabe do que falo. A "guerra colonial", tal como o antigo presidente do conselho, são fantasmas que a democracia não consegue explicar. Por isso ocorrem surpresas como as do concurso da D. Elisa e os êxitos editoriais em torno da figura de Salazar. O famoso "império" acabou da forma mais vergonhosa, entregue, quase sem excepções, a nomenclaturas corruptas, narcísicas e, elas sim, fascistas. Simbolicamente - os militares, os verdadeiros, têm a perfeita noção da valia do símbolo - o general Rocha Vieira encostou a bandeira nacional ao coração quando encerrámos definitivamente o "ciclo" em Macau no dealbar deste século. Todavia, nem a razão nem o coração moderaram o abandono do Ultramar. Só o bezerro de ouro contou e conta à conta de milhões de abandonados à miséria e à morte quotidianas. Basta atentar na promiscuidade dos interesses e dos negócios entre gente aparentemente respeitável da ex-metrópole e os simétricos das ex-colónias para se perceber que tudo correu mal salvo para meia dúzia de "democratas" que nem solidários souberam ser com os seus compatriotas que literalmente criaram esses "novos" países e com aqueles que os defenderam quando eram pátria. Nem "adeus", nem "até ao meu regresso". Não sobrou nada.

YOU CAN'T ALWAYS GET WHAT YOU WANT

Sem querer, a Turquia, antes de entrar no Iraque, já entrou no conselho europeu que, juntamente com a cimeira Europa-África, constitui o ex libris da presidência portuguesa. Também, e por consequência, o preço do barril de petróleo pairará na Expo, um local onde consta que fomos felizes e a que não devíamos voltar. Nunca como agora a música dos Stones foi tão oportuna. You can't always what you want.

VACAS ENCOIRADAS

Se o orçamento de Estado para 2008 fosse ilustrado, o contribuinte podia perfeitamente ser representado pelo amável e surpreendido animal da foto. Ou, na feliz expressão do Jumento, os contribuintes, sobretudo os menos possidentes, são cada vez mais uma espécie de vacas encoiradas à espera de melhores dias no pasto socrático.

A PRAIA DA EUROPA

Nos próximos três, quatro dias devemos estar preparados para ouvir todo o género de cagão e tagarela "europeísta" a perorar sobre a Europa e a constituição europeia - é disso que se trata - que querem aprovar em Lisboa. Para não ficarmos absolutamente de fora, acantonados na nossa ridícula e embotada periferia de mão estendida para os fundos, fornecemos a localização e o sol. Os burocratas de Bruxelas que aí vêm para servir os seus amos com papéis e traduções devem dar graças a Deus por a Europa ter esta praia a que chamamos país. O resto não passa por cá. A Europa "foge" cada vez mais para o seu centro e das suas fragilidades. Daqui a uns tempos, quem vai querer saber de um peso-morto?

16.10.07

ROMA E A NATUREZA DE DEUS


Em alguns posts, o Eduardo Pitta dá-nos conta da sua passagem por Roma. A ele a coisa pareceu-lhe "século XIX" mas, na realidade, podíamos andar muito mais para trás e não perdíamos nada. Gostou das gentes e das "vistas". Quem, com um módico de sentido estético, não gosta? É "mais sexo do que amor" como dizia Cesariny? Talvez. É "uma forma de sair do mundo", nas palavras de Pulido Valente? De certeza. Todavia é igualmente uma forma de penetrar num mundo, talvez mesmo no mundo. Quando se percorrem as grandes e as pequenas ruas de Roma, percebe-se em quase todas as esquinas o que "substituiu" verdadeiramente a civilização romana. Tem em cima, à entrada, o símbolo papal. São igrejas, dezenas delas espalhadas pela cidade. A "natureza de Deus" espreita a cada canto da Roma grandiosa e desaparecida, por detrás do produto poderoso da razão humana destinado a perpetuar um destino e um desígnio fabulosos. Está tudo impregnado nas paredes, nos altares, nas colunas, nos tectos, nos "frescos", nas telas, nos túmulos. Está lá tudo e estamos lá nós. Quem ainda não entendeu isto, meta explicador.

O BEZERRO NO SEU ESPLENDOR

Os clientes do BCP que têm empréstimos - e qualquer empréstimo, por maior que seja, é ridículo ao pé do concedido ao filhote do senhor eng.º Gonçalves ou do perdão dos juros do senhor Ferreira - deviam inundar o dito com cartas de protesto e, no caso de empréstimos para casas, proceder à respectiva transferência para outros bancos. O dr. Constâncio lá acordou para isto. Vamos ver no que dá embora não deva dar nada. Não se brinca com o bezerro de ouro.

Edith Piaf - Non, je ne regrette rien (1961)

OS NOVOS POBRES E O BEZERRO DE OURO


Este é o mesmo país dos "investimentos" milionários, das "plataformas" tecnológicas", das "novas oportunidades", em suma, dos "novos pobres". Pobreza não apenas material - um verdadeiro terrorismo social e cultural - mas pobreza sobretudo espiritual, falta daquela "condição humana" de que falava Malraux. Portugal é uma realidade virtual dirigida, a todos os níveis, por umas elites tagarelas ditas democráticas. Este Portugal não cabe na sua visão solipsista da realidade porque é um Portugal redondo, de pescada de rabo na boca, em que os mesmos - sejam eles de que partido forem - falam apenas e exclusivamente para os mesmos. Estão hoje no governo, amanhã num gabinete, depois numa empresa de capitais públicos, a seguir num jornal ou numa televisão, posteriormente "montam" uma empresa de "consultadoria" que mais não é que um centro de apresentações às pessoas certas pelas quais cobram uma choruda comissão e por aí fora. Reproduzem-se como coelhos porque o bezerro de ouro não tem pátria, não tem filiações, não tem, em suma, uma ética. Cada vez haverá mais "novos pobres" - reais e de espírito - e mais cínicos que dizem andar nisto justamente por causa dos "novos pobres". São todos democratas e, a grande maioria, socialistas democráticos, social-democratas ou democratas cristãos. Os comunistas praticamente não contam, só berram e não mamam na teta do bezerro apenas porque estão excluídos pelos outros. Por natureza. De resto, participam no circo institucional. Tenho pena que o meu país seja dirigido por este bezerro de ouro e que o bezerro de ouro pastoreie, como tanta impunidade e alarvidade, tanto bezerro. Se calhar não temos mais do que aquilo que merecemos.

15.10.07

O SENHOR GOVERNADOR

Será que o senhor governador do Banco de Portugal - a quem cabe a supervisão bancária - não tem uma palavra a dizer sobre os empréstimos "familiares" no BCP? Ou será que o senhor governador só serve para preambular ou posfaciar os documentos oriundos do governo, designadamente o orçamento de Estado?

PARA FICAR


A imagem que fica do congresso do PSD é Pedro Santana Lopes a entrar e a sair, a cochichar com Menezes, a hesitar entre falar e não falar - mas sempre a falar - e, finalmente, os seus homens em força na entourage do líder. Faltou a Lopes da Costa que deve estar vagamente danada e à espera de Lisboa. A relação entre Lopes e Menezes tem passado por estes murmúrios, por uns jantares, por uns pactos e, parece, por um encontro "institucional" em que Menezes "recebe" Lopes para oficializar a sua candidatura à presidência do grupo parlamentar. Much ado about nothing? Não. Lopes não consegue ser "apenas" o chefe da banda parlamentar. Lopes quer humanamente "vingar" os últimos dois anos e meio e vai servir-se do partido de Menezes para isso. Por mais voltas que se dê, Lopes será sempre mais brilhante, mesmo na infelicidade, do que Menezes. O drama hamletiano do novo líder é simples de enunciar: nem com ele, nem sem ele. Lopes vem para ficar.

14.10.07

FÁTIMA


Peço desculpa aos amáveis leitores que "comentaram" os posts sobre Fátima. Os posts sobre a fé são os únicos que são verdadeiramente pessoais. O teor de alguns desses comentários vulgarizam um tema que não aprecio vulgarizar. Nesta matéria sigo intransigentemente o Papa. Sou um humilde servo na vinha do Senhor que não aprecia que espezinhem a vinha.

PÉSSIMO COMEÇO

O sr. Ribau, novo secretário-geral do PSD, entende que a mais de hora e meia de discurso final do dr. Menezes no congresso é um bom sinal para o futuro. Só na cabeça dele. De facto, o que é que ficou de tanta prosápia? Péssimo começo.

CONTRA O EMBUSTE

Tudo visto e ponderado, o PSD está igual a si mesmo nos últimos anos, depois do excelente trabalho de coveiro perpetrado por Barroso e Lopes. Resta esperar, como aconteceu a Barroso naquela noite estranha de Dezembro de 2001, que o país se farte do embuste em vigor. Se Menezes lá estiver, melhor para ele. E aí, sim, não haverá que hesitar.

13.10.07

O NÃO ACONTECIMENTO

Descer à terra tem destas coisas. Coisas como, por exemplo, o dr. Menezes convocar os jornalistas para uma conferência de imprensa à hora dos telejornais sem ter nada para lhes dizer a não ser que, se quisessem, podiam fazer-lhe perguntas. Um perfeito não acontecimento. Fátima devia ser todos os dias.

«EU VENCI O MUNDO» - 2


Excelente homilia do Cardeal Bertone, hoje, em Fátima. Contra "os senhores destes tempos", os da retórica da "sociedade aberta". "Face aos pretensos senhores destes tempos - acham-se no mundo da cultura e da arte, da economia e da política, da ciência e da informação - que exigem e estão prontos a comprar, se não mesmo a impor, o silêncio dos cristãos invocando imperativos de uma sociedade aberta", face aos que, "em nome de uma sociedade tolerante e respeitosa, impõem como único valor comum a negação de todo e qualquer valor real e permanentemente válido, face a tais pretensões, o mínimo que podemos fazer é rebelar-nos com a mesma audácia dos apóstolos perante idêntica pretensão dos senhores daquele tempo: «Não podemos calar o que vimos e ouvimos.» Contra aqueles que julgam "que a vitória depende essencialmente do talento, da habilidade, do valor dos que escrevem nos jornais, dos que falam nas reuniões, dos que têm um papel mais visível e que seria suficiente animar e aplaudir estes chefes como se anima e aplaude os jogadores no estádio", Bertone explica que "não existe erro mais temível e desastroso" e que "se os soldados algum dia chegassem a pensar que a vitória já não dependia deles, mas somente do Estado-Maior, esse exército marcharia de desastre em desastre". E para evitar este desastre, conta o esforço do "mais insignificante, dos servos mais humildes, dos servos de um só talento". Por isso Fátima é "conversão, emenda de vida, deixar de pecar, reparar a Deus ofendido no irmão", em suma, "a aceitação submissa da vontade de Deus".

«EU VENCI O MUNDO»




A mensagem de Nossa Senhora - afinal, a mensagem do Senhor que pode ser escutada num dos mais belos monumentos que celebra a unidade trinitária em Fátima - é de uma clareza insuperável. «No mundo tereis aflições, mas tende confiança. Eu venci o mundo.»

12.10.07

SENSIBILIDADE SOCIAL - 2

O congresso do PSD faria melhor em denunciar ao país o embuste trazido pelo orçamento de estado para 2008, sobretudo no fardo que coloca sobre a classe média, média baixa e pensionistas (a tradicional e segura "carne para canhão") do que entreter-se em conversas de porteiras a que ninguém liga.

SENSIBILIDADE SOCIAL

Sócrates apareceu sem computadores para anunciar aquilo a que apelida de orçamento "com sensibilidade social". Será que aumentar o IRS dos pensionistas, ou seja, aumentar a receita pelo lado mais impotente, revela "sensibilidade social"? É com esta "sensibilidade" que se reduz o défice? Assim também eu.

11.10.07

PENSAR NISTO

Adianta lançar livros como os de José Pacheco Pereira? Interessa "pensar" a política e a vida partidária num contexto oportunista, medíocre e de curto prazo da acção política? Ganha-se em meditar no funcionamento do "sistema" democrático e da plutocracia partidária? Não tenho a certeza. O último grande doutrinador político começou com vinte e poucos anos a preparar o "sei o que quero e para onde vou". Deixou resmas de artigos, discursos e textos puramente doutrinários que andam por aí a ser devidamente relidos. Salazar foi sempre um cínico adepto do politique d'abord apesar da academia e do CADC. Marcello Caetano era de outra "criação" e um intelectual puro. Esquematizou a política como fazia nos seus brilhantes livros de direito público e isso rapidamente tornou-se fatal. A democracia não produziu doutrinadores. Lugares-comuns fizeram líderes partidários e presidentes da República. Só Eanes despertava algum interesse com os famosos discursos "tomba-governos" do "25 de Abril", numa altura em que o PR não era um mero ornamento tolerado pelos partidos. Soares e Sampaio tiveram os mesmos "mestres-escola" e os mesmos escribas em mandatos pautados pela vertigem mole do consenso. À excepção de Francisco Lucas Pires, não me recordo de mais nenhum dirigente partidário com munus intelectual para além da espuma, dos votinhos e das cadeiras. Cavaco aguentou dez anos no limiar do grau zero do "pensamento político" e voltará a ter graça quando começar a denunciar o embuste socrático num segundo mandato. Guterres era apenas simpático e leve. Barroso nunca chegou a largar o pragmatismo do "livro vermelho" adaptado à sua circunstância. Sócrates tentou impressionar com a inenarrável entrevista ao Expresso onde citou toda a gente sobretudo a que nunca leu. Rapidamente meteu a viola no saco quando percebeu que lhe bastava simplesmente não falar e usar os mesmos fatos e gravatas para implantar uma "ideologia" de sucesso. Preside, por acaso, ao PS e ao governo, mas também podia perfeitamente presidir a outro partido e a outro governo que não se dava pela diferença. Homens indiferentes, dotados da "paixão indiferente" do protagonista de Musil mandam presentemente em nós. Pacheco Pereira que, apesar de tudo, foi líder parlamentar, deputado, eurodeputado e líder de uma distrital partidária, ainda se preocupa em ir para além "disto". Do lado do PS, só me ocorre Manuel Maria Carrilho. A democracia, pelos vistos, não convida a pensar. Convinha que ela pensasse nisto.

PURO...

...como a derrota.

ESTE HOMEM...

... (também) é do Norte, carago. Entretanto, Lopes e Menezes fizeram um "pacto institucional" que não exclui o primeiro vir a ser líder parlamentar do segundo. Esta gente tem-se numa conta... "pacto institucional".

10.10.07

INCONTINÊNCIAS

O Chefe de Estado quer - e bem - investigado e julgado o assunto "Casa Pia" até à exaustão. Catalina Pestana nunca se distinguiu pela continência verbal. A sua sucessora, inconsciente e irresponsavelmente, vem jurar que está "tudo bem" e que as "denúncias" da primeira são despropositadas. Outra incontinente, em sentido oposto, à vista?

O LIVRO DE AGUSTINA



Recordo, de um frio Janeiro de 1986, uma conversa até à hora do almoço com Agustina na sua casa de Campo Alegre. Falámos do então novo livro sobre "a monja de Lisboa" e de muitas peripécias do país. Com um sentido de humor invejável, Agustina discorria sobre gente conhecida e desconhecida com a mesma facilidade com que enxotava o cão da nossa presença. Recordámos essa manhã, há três ou quatro anos, na feira do livro de Lisboa. À medida que avanço na idade e no meu desconhecimento do ser humano - gente que eu julgava que conhecia - interrogo-me se esses "humanos" não passam de ficção e se os "humanos" dos livros de Agustina não são, afinal, a realidade. Decididamente o "humano" não é o meu vício.

9.10.07

SEM AUTORIDADE

A Sic-Notícias não tem ninguém melhor para comentar o PSD do que o dr. Júdice. O dr. Júdice saiu do PSD e entregou-se nos braços do regime PS, adulando quase eroticamente o eng.º Sócrates. Não tem um pingo de autoridade para abrir o bico.

PROCEDIMENTOS

Em abstracto, considero mais graves os "procedimentos legais" que a administração da RTP tenciona levar a efeito contra o jornalista José Rodrigues dos Santos por causa disto do que dois zelosos polícias à paisana entrarem por um sindicato adentro a pedir informações sobre manifestações contra Sócrates. O primeiro caso ocorre dentro da televisão pública e diz muito sobre o respectivo mandarinato, independentemente dos governos. O segundo decorre da circunstância de Sócrates ter "avisado" onde e a que horas ia à Covilhã e de a autoridade local ser adepta do respeitinho. Basta atentar nestes disparates proferidos pela governadora civil de Castelo Branco- parece que o PS não teve sorte na escolha destas serventuárias - para se perceber de onde brota o zelo idiota. Não gosto particularmente de Sócrates ou do governo, mas não acredito na "teoria da conspiração".

O REGRESSO À ESCOLA

Esta "iniciativa" demagógica não serve para nada. O "regresso à escola" ou "levar a Europa" à escola é menos produtivo do que deixar lá preservativos. Barroso, nos idos de setenta, era um moço que lutava contra o "ensino burguês", logo, contra a Europa paradigma desse mesmo ensino "burguês". Sócrates nem sequer se sabe bem o que era. Talvez fosse da JSD e, certamente, ignorava tudo sobre a social-democracia europeia. Barroso tem sido hábil em explorar as fragilidades europeias e "internacionais" do chefe do governo português. Não sai de cá. Produziu umas declarações fantásticas sobre o emprego na Europa - e sobre o péssimo desempenho português - como se nunca tivesse tido responsabilidades domésticas recentes. Não faz, aliás, outra coisa senão trabalhar para o pós-Cavaco em Belém com Sócrates a servir de muleta. Ora ronha e espertos é o que há mais nas escolas secundárias portuguesas. Não precisam destes "peritos" para nada.

8.10.07

PSD OUT

No programa televisivo do regime, o da D. Fátima Campos Ferreira, juntam-se o governo e o dr. Portas para falar de segurança. O mais próximo que lá está do PSD é Bacelar Gouveia e, mesmo esse, é sobretudo amigo de Pedro Santana Lopes e escreve livros de direito. Isto significa que o facto de o PSD ainda estar a olhar para o umbigo ajuda os outros dois, o PP e o governo/PS. E que o PP encavalita-se no que quer que seja que lhe dêem.

Adenda 1: É divertido ver na plateia tantos "dependentes" do MAI. Já lá estavam em 1997. Continuam dez anos depois. Uma verdadeira "força de segurança".

Adenda 2: Também é divertido constatar que o dr. Rui Pereira é uma péssima peça política adquirida pelo PS para o governo.

Adenda 3: O "Prós & Contras" serve perfeitamente este regime tagarela, seja qual for o tema. A democracia portuguesa, eternamente traumatizada, dá-se mal com o tema "segurança" não vá alguém levantar o fantasma do fascismo. Depois queixem-se e continuem a mandar a canalha para os "centros educativos" e para os psicólogos das prisões. Mais vale ir para a cama ler "Europe at War 1939-1945: No Simple Victory", de Norman Davies. Para tentar perceber.

LIÇÕES


Francisco: o das Neves tem razão. A lição de Ratzinger continua imperceptível para muita gente. Aliás, é esse um dos segredos da sobrevivência da Igreja Católica sediada no Vaticano: possuir menos certezas e ter mais fé.

COM CERTEZA

Fora os "jobs for boys and girls", os 150 mil prometidos pelo senhor engenheiro em 2005 andam cada vez mais longe. Pelo contrário, a taxa de desemprego aumenta sobretudo nos licenciados, mais de 40 mil. E depois vem ele falar em "new skills for new jobs" para "velhos e jovens". Com certeza. Of course, em inglês.

LEVAR A SÉRIO

A governadora civil de Faro, uma perfeita ersatz morena de Edite Estrela, decretou medidas de segurança mais elevadas no Algarve depois de um telefonema que, disse ela, não levou demasiado a sério. Alguém, em basco, ligou para um jornal e falou em bomba. Há umas semanas, por causa de um carro alugado no Algarve e largado em Espanha, começou a falar-se numa "célula" da ETA em Portugal. SIS, SEF e companhia são pagos precisamente para tratar desta intendência. A falecida PIDE/DGS tinha uma branch "internacional" - por isso se designava de "polícia internacional" - que funcionava bem, cá e no Ultramar. O mesmo se podia dizer dos serviços de informação militar. Tudo isso, entre cravos, acabou. Agora não é possível ter certezas sobre nada. Presumivelmente, a governadora civil e os "serviços" não devem saber o que fazer com a "ameaça". Vai daí, a senhora preferiu "não levar a sério" a "ameaça". E a ela, à senhora, quem é que a leva a sério?

7.10.07

AQUILINOFOBIA

Deixei passar este delicioso post do Bruno enquanto a caravana passava. Vai sempre a tempo. «A mim, que nestas terras do Demo me divirto mais do que me indigno, dá-me certo gozo verificar que, nesta hora baixa em que a «discriminação racial» é elevada a crime nefando, acabam de enfiar no distinto casarão, com regras de protocolo, um escritor que — para além de bombista e presuntivo regicida — destilava por quantas tinha racismo, anti-semitismo e a mais desbragada germanofilia, pobre arcanjo negro pelos caminhos errados. Dir-se-ia que a entrada em vigor do novo Código de Processo Penal foi antecipada a pensar precisamente nele.»

KIPÁ PEREIRA


Que lindo que estava o dr. Rui Pereira - ex-futuro quase tudo no universo jurídico-político português e que está agora de MAI - com um "kipá" na cabeça. Aliás, não há cabeça que se preze que não use, nem que seja uma vez na vida por causa do célebre "pedido de desculpa", um "kipá". Tenho de experimentar.

DO PENSAMENTO DÉBIL


Pelo José Adelino Maltez fico a saber - e a lamentar só ter sabido depois - que Gianni Vattimo esteve em Coimbra neste fim de semana atrapalhado pela treta do "5 de Outubro". Vattimo desenvolveu na sua obra o conceito de "pensamento débil". Agora que, um pouco por toda a parte e em todas as "dimensões", somos governados pelos homens do pensamento débil, nunca Vattimo foi tão oportuno.