Do Luís Naves. «Em 1929, a crise foi dura e prolongou-se por uma década, mas havia sistemas alternativos, o comunismo e o fascismo, cujo desafio forçou os poderes financeiros a agirem de forma racional (arriscavam-se a perder tudo). Desta vez, a crise está a arrastar-se furtivamente, em espasmos de pânico, não havendo desafios ideológicos no horizonte. E este é um problema, pois à falta de alternativa, o capitalismo ainda parece invencível, sem o ser de todo.»
9 comentários:
Estava ontem a ver os serviços informativos e a imaginar o que pensariam os analistas internacionais se vissem as declarações de partidos políticos portugueses acompanhados de foice e martelo que se viam no canto do ecrã.
O capitalismo sem território corre o risco de ser a sepultura dele-próprio (assim como a 'democracia'), pois não serve 'fim algum' senão a ambição de gestores bem-vestidos. Em 1929, o valor das acções era várias vezes superior ao total metálico de verdadeiro dinheiro em circulação - o que teria de ter um fim; isto apenas com telégrafos e periclitantes linhas telefónicas. O Fascismo não acabou com o capitalismo mas sim instrumentalizou-o - dominando-o: "um mal imprescindível ao progresso". Mas a desregulação da finança e da banca, assim como a informatização do dinheiro - cada vez mais virtual e traiçoeiro - aceleraram brutalmente o descontrolo por parte dos poderes eleitos. Que, valha a verdade, "não sabem o que querem nem para onde vão".
Ass.: Besta Imunda
Antes a culpa era do Sócrates, agora é do capitalismo. Está bem!
Urge discutir o paradigma financeiro e económico. Do comunismo ao fascismo, o que há de comum? O dinheiro. Como objectivo da existência do ser humano. Enquanto se discute a bondade do liberalismo/capitalismo vs socialismo não se discute a génese do problema: o direito fundamental de todo o ser humano neste planeta ter livre acesso aos seus recursos. A propriedade é um conceito fundamentalmente imperfeito. Nascemos num local do planeta, com uma cor de pele específica, com um sexo determinado, mas todos nascemos e morremos nus. Para além da sorte ou do azar da ascendência, que direito temos à propriedade dos nossos pais? Na nossa busca por diminuirmos o abismo entre as classes só a aprofundamos enquanto escravos do sistema financeiro. Não nos dão outra oportunidade. Se eu quisesse sair deste sistema não poderia. Não há terra que não pertença a alguém. Não posso caçar livremente. Não posso plantar livremente. Não posso sobreviver sem me vergar ao poder económico.
Vivemos livres? Nunca enquanto não discutirmos o paradigma da nossa sociedade...
Será que a China é capitalista? e a Rússia será?
estes e outros, estão a viver à custa da falta de visão e acção comum duma carrada de tansos europeus e americanos.
Já agora, folgo muito em ver esse interesse por bases ideológicas a aumentar ...
Porquê?
Sempre que me é possível observar o comportamento da natureza, tanto em momentos de suprema placidez, sempre desejável, como em ocasiões em que se apresenta com um mau humor extremo, uma palavra me ocorre sempre à mente: Porquê?
Sim, qual a razão porque se há-de passar da bonança gostosa, apetecível, para a tempestade incomodativa, sempre de temer?
Desde há 4 ou 5 milhões de anos, quando os nossos antepassados mais remotos se separaram dos símios com quem compartilhavam o mesmo ramo comum, se assiste, tanto quanto é possível dizê-lo hoje, a toda uma alteração de comportamentos humanos, alteração que foi sempre acompanhando o desenvolvimento da sua massa cerebral. Mas não só, principalmente nos milénios mais recentes.
Enquanto a sua irracionalidade primitiva não lhes possibilitou mais, os primeiros humanos, para sobreviverem, alimentavam-se daquilo que a natureza lhes proporcionava: bagas, frutos, mel silvestre, cereais que ainda não tinham conseguido domesticar, cultivando-os, mas que já existiam. Cada um apanhava o que podia apenas para as suas necessidades diárias,
Tudo o que existia era de todos. Bastava a cada um o trabalho de procurar, colher e comer. Talvez nesta altura os homens ainda fossem simples, bons e puros.
Mas ao contrário das outras bichezas, no bicho homem o desenvolvimento do cérebro possibilitou-lhe o aparecimento de novas formas de acção, o apuramento da sua forma de agir, raciocínios cada vez mais fecundos que provocaram formas de pensar sempre vez mais diversas e sentimentos antagónicos nos elementos da raça humana.
Ao observar as alterações dos comportamentos, das maneiras de pensar, de agir, da aceitação hoje como bom daquilo que amanhã já se vai considerar como péssimo, nos homens da minha contemporaneidade, volta fatalmente à minha mente a interrogação habitual: Porquê?
Quando, nos seus momentos de ócio, de papo mais ou menos cheio, o ser humano começou a trabalhar a pedra em épocas já muito afastadas, conseguiu obter peças que lhe serviram para cortar, embora a princípio de forma incipiente, e raspar. Embora não haja memória descritiva de tal facto, é bem provável que, porque se conhecem os comportamentos de muitos dos chamados irracionais, e os hominídeos deviam sê-lo, considerasse que tais peças eram suas, para seu uso exclusivo. Enfim, sua propriedade.
Engels, no livro a Origem da Família, da Propriedade e do Estado, diz que a propriedade é uma formulação jurídica. Não posso aceitar tal afirmação, porque muitos irracionais sem terem qualquer noção jurídica afirmam, e de que maneira, o seu direito à propriedade.
O ser humano, ao tempo em que começou a trabalhar a pedra e considerou seu o fruto do seu trabalho, ainda não estava em condições de fazer elaborações jurídicas. O que era seu seria naturalmente defendido por meios ainda irracionais
A propriedade é um conceito totalmente abstracto. A Natureza não possui nada. Nós não possuímos nada. Utilizamos objectos, ocupamos espaço. Poderemos considerar o espaço que o nosso corpo ocupa em cada momento como nosso? Tenho a certeza que se houvesse um método de retirar dinheiro disto alguém o faria. Neste mundo que habitamos já consideramos a água, fonte indispensável da vida, como algo a negociar. Já se cobra excessos de dióxido de carbono ao abrigo de um pseudo aquecimento global. Quando começaremos a receber a factura do oxigénio?
A propriedade não é mais do que um direito imposto por alguém. O dinheiro define esse direito. O dinheiro é um conceito abstracto. Simboliza algo. Durante uns tempos simbolizava algo real, palpável. Hoje em dia já nem isso representa.
Quando, com as peças que foi produzindo ficou com a possibilidade de raspar a terra, deve ter-lhe surgido a ideia de meter no solo, com a esperança de os reproduzir, os grãos de cereais que a natureza lhe ia proporcionando. Talvez tenha descoberto, assim, a possibilidade de produzir mais do que efectivamente precisava. E com a descoberta do arado, tal possibilidade aumentou ainda mais. Não estará aqui o embrião do tão criticado capitalismo? O início da exploração do homem pelo homem?
Porque ter muitos cereais permitia poder pressionar outros que não os tinham e que deles carecessem e isso equivalia ao que se passou a verificar depois com a posse excessiva de dinheiro.
Não se atirem culpas para o dinheiro, que, por si, não faz mal a ninguém. Que culpa tem o dinheiro da ganância, da desonestidade, da vaidade, da estupidez humana? Antes de ser criado o dinheiro os seres humanos viviam em mais harmonia? Nem pensar. Culpam o dinheiro porque são incapazes de dizerem a verdade, porque esta os atinge.
Todas as formas de vivência do ser humano em sociedade falham e falharam desde sempre, mesmo quando ainda não havia dinheiro.
Tive um professor de contabilidade que contou, certo dia, ter encontrado um colega da administração da qual fazia parte, numa grande empresa de vinhos do Norte, a ler, muito concentrado, uma lei que tinha feito e que estava em vigor depois de aprovada pelo governo da altura. À observação que lhe fez de estar a ler uma lei que tinha feito, respondeu: Estou a ver as formas que tenho de fugir ao seu cumprimento.
O ser humano define-se bem desta forma.
O dinheiro não cumpre perfeitamente a sua missão? Culpa do homem. Mas o homem não o quer reconhecer.
A democracia e o capitalismo falharam, como falharam muitas outras ideologias? Culpa do homem. Mas o homem vaidoso, orgulhoso, julgando-se um ser superior, não o pode aceitar.
Não se afirme que o problema está na existência do dinheiro, que tudo corre mal porque o capitalismo é pérfido, que até corre o risco de ser sepultura dele próprio. O capitalismo não é pérfido, são os homens que lhe dão toda a sacanice de que enferma actualmente. Todos fogem a afirmar a verdade. E lá vem a palavra: Porquê?
Porque têm relutância em admitir que a culpa está única e simplesmente no homem!
Quantas as ideologias que foram criadas pelo homem? Quantas as que vingaram?
Há por aí muito patarata que afirma que a democracia, não sendo uma ideologia perfeita, é a que mais satisfaz. Em que povos satisfez e satisfaz? Em Portugal viu-se como satisfez de 1910 a 1926 e de 1974 até aos nossos dias. Só porque somos livres como se apregoa para aí? Faça-se uma devassa séria a todas as democracias, espiolhe-se o que verdadeiramente se passa no interior dos seus órgãos decisão, e veja-se toda ignomínia que por elas vai. Culpa da democracia? Não!
Culpa daqueles que a deviam nobilitar mas que em seu nome atraiçoam, mentem, roubam, vigarizam
E, quando apoquentado por tudo o que vou vendo neste mundo, me ocorre a pergunta Porquê?, a resposta que me salta logo à mente é sempre a mesma: Porque o ser humano é uma peste. Nunca chegarei a compreendê-lo, por mais esforços que faça.
Contrariamente ao que disse o filósofo, sei apenas duas coisas: nasci e tenho de morrer. Nasci nu, mas só por acidente morrerei nu.
O dinheiro não é culpado de nada. Se colocarmos umas moedas em cima da mesa elas não se atiram a ninguém. Não têm vida. Não têm vontades. Mas deixe essas moedas num local por onde passem pessoas e desaparecerão. O problema estará, por isso, no ser humano. Mas é um problema que não será, necessariamente, inato. Ou seja, a natureza humana não entra nesta equação. É, na minha opinião, uma questão de educação. Podemos discutir a busca pelo poder numa sociedade desigual. Mas poderemos dizer o que aconteceria numa sociedade verdadeiramente justa? O dinheiro é um meio para atingir um fim. Esse objectivo poderá ser tão simples como a sobrevivência, como poderá ser mais complexo. Não havendo dinheiro, poderão surgir outras formas de busca pelo poder. Mas... e se educarmos a sociedade?
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