7.7.11

A FORMA CONTEMPORÂNEA DO ÊXTASE


«A lentidão, que na verdade foi sempre uma condição sine qua non da civilização, tem vindo a ser cada vez mais substituída por uma apologia estonteada da velocidade, que se tornou, como escreveu M.Kundera, na forma contemporânea do êxtase, apesar de muitas vezes mais não ser do que um atalho para o regresso à selva. Institui-se deste modo uma tirania do imediato que, como vimos no caso Strauss-Kahn, se acompanha de um incentivo à excitação cada vez mais alucinada que atravessa todo o sistema de comunicação – imprensa, televisões, blogosfera, redes sociais, etc. –, transformando cada cidadão num espectador histérico, preso a narrativas que o hipnotizam e manipulam sem fim nem contraponto.(...) Dominique Strauss-Kahn é uma notável personalidade do nosso tempo. Economista, político, autor de trabalhos de referência entre os quais se destaca o livro «La Flamme et la Cendre» (um dos mais lúcidos diagnósticos sobre os desafios que o socialismo enfrenta na era da globalização), ele é um daqueles homens que toda a gente passa o tempo a dizer que “fazem falta”. Homem de visão, o seu trabalho à frente do FMI é unanimemente saudado pelas reformas que conseguiu introduzir (as únicas de relevo, nos últimos tempos, numa organização internacional) e pelo papel decisivo que desempenhou na crise grega e nos dramas do euro desde fins de 2009. Era o mais forte candidato às eleições presidenciais francesas de 2012. Tudo isto foi subitamente interrompido por uma justiça que o exibiu algemado e, depois, enviou para uma prisão de alta segurança, criando um acontecimento que foi o mais noticiado e comentado no mundo, desde o 11 de Setembro. Cedendo assim, sem quaisquer indícios sérios, à onda de vitimização que, sob os mais diversos pretextos, atravessa as tão frustradas sociedades actuais, bem como ao crescente ressentimento populista contra todas as formas de poder, de conhecimento ou de celebridade que a acompanham, numa voragem de espectacularidade que despreza todos os valores e ignora a mais elementar prudência. Com as consequências que se sabe, mas nem sempre se vêem...»
M. M. Carrilho, Contingências

6 comentários:

floribundus disse...

detesto o elogio, sobretudo quando lembra elogio de morto.
a sociedade sempre foi cruel para alguns.
neste momento Portugal enfrenta a reacção atrazada das agências que o colocam no lixo onde há muito se encontra.
a sociedade do espectáculo sempre que pode não perdoa

Anónimo disse...

"que foi o mais noticiado e comentado no mundo, desde o 11 de Setembro"

Objctivo, de facto... Em dez anos de eventos, a prisão de DSK foi MESMO "o mais noticiado e comentado no mundo"...

Anónimo disse...

O senhor da fotografia, por muitos admiradores que ele possa ter aqui neste blog, nunca conseguirá chegar aos calcanhares da senhora da foto do seu outro post.

Cáustico disse...

Não me interessa tanto o que uma pessoa é como médico. jurista, economista, engenheiro, historiador ou qualquer outra coisa. Interessa-me, isso sim, o que ela é como ser humano.
Este, a ser verdade o que se vai dizendo por aí, não passa de um bandalho.

Anónimo disse...

Há cargos que exigem dos seus titulares um comportamento exemplar e desde logo porque muito dificilmente o seu comportamento será justamente valorado, podendo essa quase inevitável erro jogar tanto a seu desfavor como a seu favor, tornando-se, neste último caso, numa injustiça para inocentes.
Por isso, o director do FMI não pode ter relações sexuais com uma empregada de um hotel (ponto assente e que não está em discussão). Não perceber isso, incapacita-o para o desempenho de qualquer cargo. Ontem e hoje há lugares que exigem gente acima de qualquer suspeita. E nós, portugueses, devíamos perceber bem o que isso significa.

alberico.lopes disse...

No meio de tanto que se diz,fica-se com a nítida sensação que o dinheiro tem mesmo muita força!Não acredito minimamente em nada do que tem sido afirmado a respeito da pobre preta,por sinal bem bonitinha!Ela até pode ser puta,mas a verdade é que o senhor FMI tentou ou abusou mesmo da mulatinha!E foi à força!É crime em qualquer lado.Se não se sentisse culpado,porque é que foi apanhado dentro do avião,com destino a Paris?Não ia a escapulir-se?Consciência pesada,não!Claro que o homem parece que é multimilionário!Devem ter dado uns milhões à moça,que,por certo,para não ter de andar na vida,até se desunhou a desdizer-se,pois já lá canta o carcanhol!Assim,já pode ter uma vida mais recatada!E então se for lá na Guiné,passa a ser uma rainha do sabá,com dinheiro do FMI!
Não posso deixar de fazer ainda um outro reparo:como é que vêem a atitude da tal senhora multimilionária jornalista,pelos vistos mulher do homem do FMI?Não há nada a dizer sobre ela?