3.7.11

RIR DA INSANIDADE DO MUNDO


Na transição do fim do curso de Direito para a tropa, através da orientação amiga do João Amaral, passei pelo Semanário de Victor Cunha Rego. No livro ali à direita dedico-lhe algumas páginas porque o Victor representava, em certo sentido, a antítese da literatice jornalística. Tinha, adequadamente, mundo. Nas vésperas da sua morte, em Novembro de 1999, Vasco Pulido Valente resumiu-o. «Foi para mim, desde o princípio, um espírito misterioso: a primeira qualidade do bom professor. Vinha do Brasil, da Sérvia, da Itália, do Pólo Norte. Tinha entrado em extraordinárias aventuras: no assalto ao Santa Maria, no Drill (Directório Ibérico de Libertação) e numa escola de guerrilhas na Jugoslávia. Conhecia toda a gente e vira quase tudo (...). Como ele próprio se descreve, um céptico e um militante: incapaz de aceitar a iniquidade ou de "cair no precipício de uma ideia" (...). O Victor ri - muito seriamente - da insanidade do mundo: e nós rimos - muito seriamente - com ele (...). O genuíno Victor é no fundo, sem pose ou presunção, aquela indefinível experiência que nos falta e a melancolia irónica de quem não acredita na perfeição terrestre (...), um raríssimo português que se esforçou por nos libertar do paroquialismo, da ignorância e do medo.»

2 comentários:

joshua disse...

Descobri-o com dezasseis anos. Passei três anos a lê-lo avidamente.

Hermitage disse...

VCR dizia coisas profundas, com enorme simplicidade.
Percebia como ninguem que temos tudo para ser tudo e nao somos.
Culpa nossa.
Sem dilemas de religiao, territorio, sem crispacao fronteirica, com mar, sol e razoavel condicao para produzirmos o que comemos, com amigos e ainda acolhimento favoravel em Africa e Brasil, com apoios de milhoes da Europa, que mais precisamos, para ser colectivamente, felizes?
Juizo, diria VCR, bom Governo, combate feroz a ideias lorpas da arqueologia comunista, socialista, direi eu.
VCR era um liberal, as vezes, seduzido pelo charme que a epoca tinha um oportunista pragmatico chamado Soares.
De resto um tranquilissimo homem comum.
Sem acreditar em epopeias salvificas, consciente que o modelo organizacional e a democracia, o aliado para o progresso e o trabalho e o tempo, que a etica e seriedade no Estado, une e consolida.
PPCoelho devia revisitar Homens assim e inspirar.se.
A oportunidade depois do calvario socratico, nao se pode perder.