21.7.11

UM DIA DE «VISÃO CLARA»?


«Hoje é dia de stress test para os líderes europeus. Depois de um ano e meio a meter a cabeça na areia, a estratégia de avestruz da União Europeia conduziu-nos à beira do colapso. Se logo no início se tivesse, com rapidez e com um mínimo de solidariedade, resolvido o problema da dívida grega - de uma economia que não vale senão 2% do PIB europeu, é bom lembrá-lo -, teríamos sido poupados ao calvário por que a Europa tem passado, assim como ao momento extremamente difícil que agora se vive. Infelizmente, foi preciso esperar pelo toque de alarme italiano que - com uma dívida que é 120% do PIB, quatro vezes maior que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira - tornou finalmente plausível, para a Alemanha e para os seus aliados, a iminência de uma catástrofe em dominó de toda a Zona Euro, com consequências que na verdade ninguém consegue antecipar. A. Merkel parece abalada no seu dogmatismo, mas resistirá: o ralhete de H. Kohl e as críticas no interior do seu próprio partido juntaram-se agora aos pífios resultados deste ano de catatónica teimosia. Pena é que, pelo que até este momento se sabe, ainda não se tenha conseguido consensualizar qualquer alternativa sólida ao diktat alemão. Esperemos, contudo, que seja um dia de "visão clara", como pediu Jacques Delors no apelo feito há dias. Ou seja, que o Conselho Europeu, evitando o default da Grécia, assuma que a União não é um casino, e que, portanto, os investidores e os especuladores, quando arriscam, tanto podem ganhar como perder. Acabando a garantia de que quando ganham é tudo deles - e é!... -, mas quando perdem é o contribuinte que tem que os compensar das perdas. E que se caminhe rapidamente para a efectiva regulação dos bancos e dos mercados financeiros, ao mesmo tempo que se definem timings realistas que permitam cumprir o imperativo do equilíbrio das contas públicas sem inviabilizar o crescimento e condenar o emprego.»

M. M. Carrilho, DN

2 comentários:

Carlos Sério disse...

A economia europeia encontra-se armadilhada e está prestes a rebentar como uma bomba relógio. Não são fáceis as “soluções” para a UE ultrapassar a crise financeira em que se deixou cair. Os atrazos na apresentação de medidas que possam “salvar” o euro revelam precisamente tais dificuldades. Angela Merkel já avisou, em vésperas da cimeira que hoje decorre, que não haverá que esperar “soluções” espectaculares; o mesmo é dizer que não se esperem “soluções” defenitivas suficientes para ultrapassar de vez e de modo satisfatório a crise do euro. O mais provável é que saia da reunião medidas limitadas que, como até aqui, não resolvam a crise mas a adiem mais algum tempo. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas parece ser a estratégia adoptada pelos líderes europeus. O aumento do fundo do FEEF e a permissão para que este actue no mercado secundário deverão ser as únicas medidas aprovadas na cimeira.
A bomba relógio que paira sobre a UE deve-se a um activo, forjado pela engenharia financeira neoliberal, que tomou em muito pouco tempo proporções extraordinárias e que está a condicionar, face aos perigos que encerra, a tomada de posições dos lideres europeus sobre a crise. Os CDS (credits default swaps) inventados em 1989 só a partir do ano 2000 se tornaram de uma negativa crucial importancia no mundo financeiro.
As instituições financeiras de diversos países encontram-se assim gravemente expostos a um “default” de um qualquer pais de dívida pública elevada já que teriam de assegurar os investimentos de dívida por inteiro e dado os montantes em causa, a quebra (default) da Grécia por exemplo, colocaria em risco o próprio sistema finaceiro europeu.

Entendem-se agora as dificuldades que reinam entre os lideres europeus. Não querendo, por estas razões e só por estas razões, “deixar cair” a Grécia, não pretendem tambem tornar demasiados despendiosos os custos do seu resgate. Encontram-se na verdade numa encruzilhada, cheia de contradições que os impede de “soluções” rápiads e efectivas. Foram enclausurados na própria teia em que se deixaram envolver pela sua própria inépcia e pelo mundo financeiro desregulado que permitiram.

Anónimo disse...

E pensar que aquela gente, incluindo Barroso, queria meter rapidamente a Turquia na UE.