30.4.07

A EXPO 2010


Pelo Jorge Ferreira fico a saber que a República vai ter a sua "expo 2010". Para presidir a mais uma inutilidade do regime, escolheu-se o inevitável prof. Vital Moreira, uma das aves canoras da maioria. Como mandam as boas regras napoleónicas não abrangidas pelo Simplex, esta "expo 2010" já tem o seu projecto que, imagine-se, prevê nada mais nada menos do que seis (6) comissões. Há muito que revi definitivamente a minha posição sobre a I República. Considero-a uma ditadura segregadora e vingativa que, em menos de vinte anos, conseguiu a proeza de "virar" o país inteiro contra ela. Quando, no dia 28 de Maio de 1926, os militares desfilaram a partir de Braga até Lisboa, as "massas" respiraram de alívio. As elites republicanas foram alimentadas exclusivamente por e em Lisboa e isso, na altura adequada, foi-lhes fatal. Nunca se foi exaustivo na contabilidade criminosa da I República. O zelo "republicano" impediu o exercício, preferindo àquela a "repressão" do Estado Novo e o seu cortejo de "vítimas". As ilustres comissões e o elevado "projecto" comemoram cem anos praticamente perdidos. Nada mais.

Adenda: A propos, este post.

A IDEÓLOGA


O dr. Afonso Costa continua a estar muito bem representado na "opinião que se publica". Desta vez, a sua dileta descendente ideológica (a diferença é que, no tempo do Costa, a senhora não tinha pura e simplesmente direito a emitir opinião porque essa coisa da "ética republicana" é muito "machona") escreve esta preciosidade acerca do "tema" Pina Moura/TVI/ José Lemos (convém não esquecer este "segundo homem") :"... entregar um canal à Igreja foi só e apenas uma decisão ideológica, com o propósito absolutamente claro e confesso de criar um mecanismo de influência político-ideológica da sociedade. Pelos vistos, há 15 anos, os que agora gritam de pavor viveram bem com isso. Ou mudaram muito ou não mudaram nada. Que é que acham?". Eu acho que a Fernanda não leu a entrevista do ex-delfim do dr. Cunhal, ao Expresso, até ao fim. Lá pelo meio ele explica que a sua escolha tem um "pressuposto ideológico". Talvez conviesse à jornalista, e não à "ideóloga", fazer o trabalho de casa.

AUTOR, AUTOR

A conversa com a jornalista do DN ocorreu ia eu a conduzir. Depois, já passou mais do que uma semana desde a conversa. Que me lembre, nunca falei em "direitos de autor", mas sim em "transparência". Para além disso, confessei-lhe de início a minha ignorância acerca do "clipping". E acrescentei que, desde que lesse aquilo que eu penso pela pena de outro, ficava satisfeito.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 16

Deste ex-frei, li em tempos um belo livro intitulado "Identificação de um país", em dois volumes. Nessa altura - meados dos anos oitenta - Mattoso estava, por assim dizer, na moda como medievalista, ao mesmo tempo que o "positivista" Oliveira Marques ia deixando de estar sem nunca verdadeiramente ter perdido o prestígio como um dos melhores analistas do período. A sua "Sociedade Medieval Portuguesa " aí está para o comprovar e a reunião de uns quantos ensaios do ex-frei sob o título "Portugal Medieval", da IN-CM, não passa disso mesmo, de um conjunto de razoáveis prosas sobre a matéria. Parece que se apaixonou por Timor e, entretanto, já se deve ter "desapaixonado", um "clássico" em personalidades como as dele. Da última vez que deu notícias, escrevinhou a sua assinatura num "protesto" contra o programa da D. Elisa, o tal que recuperou o maior medievalista "prático" português do século XX, o Doutor Oliveira Salazar. Mattoso é filho de outro Mattoso, mais conforme aos desígnios "intelectuais" do regime deste último. Não houve cão nem gato que não estudasse história pelos seus "manuais". Desde que Mattoso, o José, começou a publicar, felizmente já existiam termos de comparação. À excepção do original "Identificação", não me parece que Mattoso tenha voado muito alto. Nem ao cliché de uma "História de Portugal" (a enésima) ele escapou. O prémio que agora lhe atribuem pode ser que o traga de volta aos escaparates. Se não trouxer, francamente não se perde grande coisa.

ACÇÃO COMUNICACIONAL - 2

1. "Não se sabe se a entrada de Pina Moura na Media Capital vai significar a transformação da TVI num órgão mais ou menos oficioso do Partido Socialista. Mas, se assim for, fico curioso. O que dirão aqueles que encaram isso com "naturalidade" quando, regressado o centro-direita ao poder, se encarregar de tomar de assalto os canais públicos para assegurar um "saudável pluralismo" político e ideológico na informação televisiva? Acharão "natural"? Duvido. Mas nessa altura já será tarde." (Pedro Magalhães, Público)
2. "Os partidos que estão no poder lidam melhor com a crítica dos opositores do que com aquela que lhes chega de dentro. Só assim se explica que não tenha merecido grande reparo o desaparecimentp do Diário de Notícias das colunas de Medeiros Ferreira e de Vicente Jorge Silva. Por ironia, o ambiente de claustrofobia, denunciado por Paulo Rangel, vive-se sobretudo nos círculos socialistas." (Helena Matos, idem)
3. "Há, felizmente, magistrados e políticos, ou cidadãos em geral, que têm uma ideia digna da liberdade de expressão. Mas são ainda demasiadas as decisões que revelam uma concepção tacanha, saloia e reaccionária de tão fundamental liberdade. Ainda há duas semanas soubemos que a vara cível de Lisboa e o Supremo Tribunal de Justiça tinham condenado o Diário de Notícias e o PÚBLICO, sendo que neste último caso se chegou a afirmar, do alto da cátedra judicial, que era "irrelevante" os factos relatados serem verdadeiros. Espero ardentemente que estes processos "subam" ao Tribunal Europeu." (António Barreto, idem)

29.4.07

CLAUSTROFOBIAS


Parece que Sócrates - o indiscutido chefe desta asfixiante maioria-, referindo-se à Madeira, falou em "claustrofobia democrática". Isto significa duas coisas. A primeira, que o único discurso aproveitável do enfado do "25/4/07" foi o do deputado Paulo C. Rangel. Até o pretty boy reparou nele. Depois, e uma vez que não possui um pingo de sentido de humor, Sócrates "atirou-se" a Alberto João Jardim - o único "reformista" em funções que tem o direito a gabar-se disso - com o glossário do adversário. Antes tivesse a coragem de ir até à Madeira ajudar o pobre do sr. Jacinto a enterrar-se um pouco mais.

MIL NÃO CHEGAM E UM É DE MAIS


Bastava esta singela frase sobre Truman Capote para merecer o "prémio João Carreira Bom": "preferia perder mil amigos a perder um dito sobre eles".

O IMPOSTO DO RIDÍCULO

O dr. António Costa enviou um batalhão de agentes da GNR para Santa Comba Dão não fosse dar-se ali um novo "28 de Maio". De acordo com os jornais, eram mais os "gnr's" - a maior parte enviada de Lisboa - do que autoctónes e "saudosistas". A "ética republicana" devia pagar um imposto, o imposto do ridículo.

O FIM DO PROBLEMA


Leio no Melancómico, do Nuno Costa Santos, este "aforismo de pastelaria": "Passava a vida a limpar a sua imagem. Até que, um dia, sem querer, apagou-a". Vem isto a propósito do dr. Barroso e do engº ou bacharel Sócrates. Ao primeiro, já a pensar no "depois de Bruxelas", deu-lhe para uns chás no remanso de Sintra apenas para se promover. Desta vez, imaginou uma "mini-cimeira" europeia com dois ou três países irrelevantes entre os quais o nosso. Sócrates abanou de imediato o rabo. Acontece que os destinatários do chá e outros que não estavam "convidados", fizeram cair o propósito barrosista, acusando o homem de querer "dar passos maiores do que a perna". Barroso é um medíocre presidente da Comissão Europeia, a versão "direitista-maoísta" do pobre sr. Prodi. Já percebeu que não fica naquela história e quer, à viva força, vir fazer "história" cá dentro. Sócrates, na "Ovibeja", puxou-lhe o pé para mais um aeroporto e para se descartar do Tribunal de Contas. Ele, um homem manifestamente sem mundo, quer deixar a sua marca no betão "moderno" da Ota e de Beja. Ninguém falará dele depois da "presidência" do segundo semestre. Barroso e Sócrates, de tanto cuidarem das respectivas "imagens", ainda as apagam.

TUDO O QUE ELE ESCREVEU E TUDO O QUE NÃO ESCREVI

Eu sei que não sou, nem pretendo ser, da "situação" e faço a justiça ao Eduardo Pitta de, em matérias bem mais importantes como a literatura, os livros e a identidade, também não ser. Todavia, e apesar de ainda não ter tido acesso ao "objecto em si", há mais de um mês que falei dele e, como em tudo o que escrevemos, de mim. Colocar dentro de um livro esta "poeira levada pelo vento" que são os posts é obra. Parabéns por ela.

A GLORIFICAÇÃO DA BOLA

Este é um daqueles domingos em que as ditas elites democráticas e a rapaziada de cabeça rapada da "extrema-direita" das claques da bola estão de acordo. Joga-se um "benfica/sporting/ o que dá direito às televisões a acompanharem a par e passo todos os cócós e chichis dos jogadores ao longo do dia, para engrandecimento da qualidade de vida cívica e "cultural" da nação. Nem Salazar - porque só tinha uma tv e a "emissora nacional" - foi tão longe na glorificação da bola como este regime.

SÉGOLÈNE AU PORTUGAL


Vi, na RTP "segolenizada" (porque existe a RTP-Internacional), a Mme. Ségolène, la vraie, sentadinha com o sr. Bayrou, o "centrista" das presidenciais francesas que ficou fora do debate de 6 de Maio. Nós também temos uma dupla parecida, respectivamente o homólogo socialista da Mme Ségolène (em todos os sentidos) e o dr. Lázaro-Portas. Como Bayrou domingo passado, Portas não resistiu à banalidade do "nada ficará como dantes". Como Bayrou - que, apesar de tudo, sempre vale uns milhões votos - Portas quer insinuar-se junto do homólogo da Mme. Royal para o que der e vier, ignorando olimpicamente os "seus". Como ela e como Bayrou, não lhes serve de nada o exercício. Sarkozy já disse que Bayrou "não se parece com o homem que conhece há 20 anos". Portas, o dos abracinhos ao "colega" Pina Moura, também não se parece nada com o que eu conheço há vinte e quatro.

28.4.07

ACÇÃO COMUNICACIONAL

Hoje deu-me para a filosofia. Ao ler os jornais na mesa do RCP, esta manhã, dei-me conta que, em menos de semana e meia, o "paradigma" comunicacional sofreu uma alteração de 180 graus. O debate sobre a credibilidade biográfica do primeiro-ministro - logo, a sua credibilidade política - desapareceu para dar lugar aos jogos florais na Câmara de Lisboa, logo, a Marques Mendes, alguém que não tem poder algum. É interessante verificar que a coisa começou pelas habituais "fontes", no caso, "judiciais". Não existe, por ora, um papel. Os "aprendizes" da "teoria da acção comunicacional", de Jürgen Habermas, não brincam em serviço. E, claro, apareceu Lázaro-Portas.

UMA GERAÇÃO...

... que é a minha.

OUTRO LIVRO

Desta vez de um Mestre Amigo, Pessoa Humana, Direito e Política, de Mário Bigotte Chorão. Páginas contra "o furor anti-filosófico do positivismo".

POR CÁ...

... não existe este risco. E por falar nisso, não será nulo - e a nulidade pode ser invocada a todo o tempo - um contrato de trabalho com uma autarquia que se baseia numas habilitações académicas que, de acordo com a entidade que as "passou", foram "falsificadas"?

UM LIVRO


Este livrinho é doloroso. Zweig apresenta-nos o retrato do maior "meteorologista da alma" deste século (sim, eu sou do século XX e dificilmente serei deste) e, nessa altura, sem sequer o saber, fala um pouco de si próprio, anos antes de escolher a morte no Brasil. Nietzsche já foi "lido" por toda a gente e alguma dessa gente acabou mal por o ter lido. Todavia, passar incólume pela sua obra - toda ela destinada a perturbar os "adormecidos" - é pecado mortal.

A SÉRIO?

Parece que ando a embirrar consigo, Eduardo, mas não é verdade. Acontece que, ultimamente, V. tomou-se de amores pela "situação" e apenas quer ser "diferente". Conheço o Freire Antunes desde 80, ou seja, desde mais ou menos a segunda campanha de Eanes. Se não se lembra, recordo-lhe que passou pela mona do JFA ser presidente do PSD num congresso qualquer. Já não sei quem, outro dia, disse-me que os "santanistas" (quiçá, apenas o próprio) andavam a "treinar" o Zé Freire Antunes para líder. Ele é suficientemente mitómano para levar isto e, pior, a si mesmo a sério. A sério, a sério, só lhe levo os livros e não são todos.

TUDO SE DISPERSARÁ


Salazar sobre si mesmo, no dia 28 de Abril de 1965, ao completar setenta e seis anos: "Já vivi muito, já vivi de mais. Eu não tenho ninguém e depois de mim tudo se dispersará e perderá significado e valor".

A MARCA DO IMPREVISTO E DO INCONSCIENTE


"O ex-general trabalhou comigo anos a fio e tão longo trabalho em comum deixa sempre um traço no nosso espírito, independentemente do calor humano que ressuma das relações pessoais. Certo é que a impetuosidade do carácter e o desconcerto das atitudes imprimiam à usa acção a marca do imprevisto e do inconsciente. Foi uma bandeira que sectores ideológicos estranhos à sua formação não desistiram de agitar ao serviço de movimentos subversivos. Por terras estranhas, exilado sem razão séria e por vontade mais alheia que própria, arrogou-se a autoria moral de actos antinacionais e denegriu o bom nome do país. Cansado da inutilidade da sua acção, desiludido dos conluios tenebrosos, traído porventura pelos que se afirmavam seus correlegionários, parece ter tomado uma decisão em termos definitivos - acordar com outros conspiradores numa revolução imediata ou entregar-se às autoridades portuguesas e dizer tudo. A nós nos convinha que falasse, a outros havia de convir mais o silêncio que só a morte poderia com segurança guardar."

Oliveira Salazar, discurso televisionado de 5 de Novembro de 1965

UM RIGOR TALVEZ EXCESSIVO


"Era essa possivelmente a grande virtude e o grande defeito de Salazar: o rigor talvez excessivo consigo mesmo e com os outros. Quem lê os seus "Discursos e Notas" fica subjugado pela limpidez e concisão do estilo, a mais perfeita e cativante prosa doutrinária que existe em língua portuguesa, atravessada por um ritmo afectivo poderoso. Por esse lado, a prosa de Salazar merece um lugar de relevo na História da Literatura Portuguesa (e só considerações políticas até agora a têm arredado do lugar que lhe compete). É uma prosa que guarda a lucidez da grande prosa do século XVII, e de onde é banida toda a nebulosidade, toda a distracção, toda a frouxidão, tudo o que frequentemente torna obscura ou despropositadamente ofuscante a prosa dos nossos doutrinadores."

António José Saraiva, "O Salazarismo", in Expresso de 22 de Abril de 1989

AS CRUZES DOS NOSSOS MORTOS


O que me interessa é chamar a atenção para o estado de crise moral em que nos encontramos, aquilo a que chamo a "ciganização do país".

António José Saraiva


"Quando se tem vivida uma vida já longa, e, sobre longa, intensa, de trabalhos, de fadigas, de inquietações, até de sonhos, o caminho que percorremos fica ladeado de numerosas cruzes - as cruzes dos nossos mortos. E se essa vida foi sobretudo colaboração íntima, soma de esforços comuns, inteiro dom das qualidades nobres da alma, eles não ficam para trás: continuam caminhando a nosso lado, graves e doces como entes tutelares, purificados pelo sacrifício da vida, despidos da jaça da terra, sublimados na serenidade augusta da morte. Na verdade, há mortos que não morrem: desaparecem no seu invólucro terreno, na sua figuração humana, na fragilidade e nos defeitos e nas limitações da carne; mas o espírito continua a brilhar como as estrelas que se apagaram no céu há cem mil anos, vincam-se mais na terra os sulcos que o seu exemplo abriu e parece até que os seus afectos não deixam de aquecer-nos o coração. Nem de outra forma se compreenderia que a Providência suscitasse tantas vezes almas extraordinárias, cumes de beleza espiritual, e lhes não conceda mais que uma breve aparição, como voo de asa que corta o céu, botão que murcha sem revelar ao sol da manhã a graça e o perfume da rosa. Há mortos que não morrem, e nós que viemos de longe ou de perto, em saudosa peregrinação, somos os que testemunhamos que este não morreu."

Discurso de António de Oliveira Salazar em memória de Duarte Pacheco, Loulé, 15 de Novembro de 1953, in Discursos e Notas Políticas, V.

27.4.07

BIODIVERSIDADE

Maria Belo, Miguel Romão (Director do Gabinete para as Relações Internacionais, Europeias e de Cooperação do Ministério da Justiça), Gonçalo Frota (jornalista do "Sol"), Camané, António Filipe (vice-presidente da AR e deputado do PC) e eu, o que é que têm em comum? Nada. Por isso mesmo, entre as 10 e as 13 horas de sábado, 28 de Abril, juntamente com o Nuno Costa Santos e o Luís Osório, falaremos no RCP da "actualidade".

DO CABARET


A Inês Serra Lopes, agora "comentadeira" na Sic-Notícias, está babada de comoção com a prestação parlamentar e com o regresso do dr. Lázaro-Portas. Dá ideia de qualquer coisa semelhante à recuperação do Maxime pelo Manuel João Vieira. Cabaret por cabaret, prefiro sempre o original.

UMA PERGUNTA


Sá Fernandes, alguém que nos intervalos dos chirivaris é vereador da Câmara de Lisboa, estava à hora do almoço, em plena Praça do Município, a palrar às televisões. Ele e o arquitecto Gaioso que não se sabe bem se é do PS, sendo certo que não é do Miguel Coelho, o "patrão" socialista de Lisboa. Estive para bater nas costas do heróico Fernandes para lhe perguntar, em directo, por que é que não ia fazer o mesmo chavascal para Salvaterra de Magos. Mas da próxima vez que o vir, pergunto-lhe.

COLEGAS

Na Assembleia da República, o senhor presidente do CDS/PP, dr. Paulo Portas, ao referir-se a Pina Moura, falou, com manifesto enternecimento, em "nosso colega". Nos anos empertigados na Defesa Nacional, ninguém lhe ensinou que, em linguagem castrense, colegas são as putas?

MENOS UM GRANDE

Mstislav Rostropovitch (1927-2007).

UM REGIME EM LICENÇA

Correu e corre grave indignação por alegada "violência policial" perpetrada contra um bando de marginais "pacifistas" que, no feriado, andou pela baixa de Lisboa a partir montras. Ontem, a imagem desse bando à saída do DIAP era "todo um programa". Razão tinha o Grande Morto de Santa Comba Dão. Um safanão dado a tempo nunca fez mal a ninguém. No meio disto tudo, o "licenciado" Pinto de Sousa vai ao Parlamento falar de... licenciamentos. Haja alguém que tenha a coragem de perguntar pelo dele.

Adenda: Essa conversa da "senhora de...", vinda de quem vem, já fede. Não é uma senhora quem quer.

COMPARAÇÕES DEMOCRÁTICAS


É isso mesmo, "o meu arguido é melhor que o teu". Que cambada de filhos de puta.

UM MÍNIMO DE CREDIBILIDADE MORAL

"Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: "a longa noite fascista". Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão , foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção."

António José Saraiva

OS "MORALISTAS"


O PS - que não tugiu nem mugiu acerca dos mistérios habilitacionais do seu chefe- já vomitou "indignação" contra Carmona Rodrigues. Os "populares" do dr. Portas - cá está para que serve o sorriso "Vista Alegre" do omnipresente líder - também. Menezes - esse boneco articulado de Gaia que ainda não percebeu que jamais será presidente do PSD - gesticulou. São estas "santas alianças" de ocasião as que mais jeito dão ao desalinhado momento político de José Sócrates. Estou à vontade porque nunca reconheci dimensão política a Carmona e não votei nele. Carmona, aliás, chegou lá por causa do pragmatismo mal educado de Carrilho e da inesquecível mão que ficou por apertar. Mais nada. Defendi e mantenho que a única solução que atenua o descalabro ético (o mal geral) é devolver a palavra aos lisboetas ou a CML ainda acaba gerida pelo porteiro. Isto, porém, não atenua a hipocrisia dos outros esganiçados. Que jeito deu a esta gente toda uma mera notificação processual. Algo está profundamente podre neste reino da Dinamarca. Nem os "moralistas" se safam, ao contrário do que imaginam.

O PROFISSIONAL- 3

"Identifico-me com o programa do Governo e com a história do PS", afirmou o dr. Pina Moura na entrevista da RTP. Este oxímoro - já que este governo tem tanto a ver com a "história do PS" como eu - resume o cinismo estalinista deste grande gestor nacional (Moura disse que a PRISA o convidou por causa dos seus extraordinários méritos gestionários, sem se rir, como se os espectadores fossem todos retardados mentais). Pina Moura é daquelas criaturas que devem ser escrutinadas minuto a minuto. Aliás, seria interessante recordar como é que o "camarada" Mário Soares o avaliava quando ele era ministro das finanças e da economia e o que dele murmurava junto do bonzinho Guterres. Todavia, como Pina Moura não mudou uma vírgula no seu cânone e Soares já acha sublime o bacharel Pinto de Sousa, tudo é possível.

26.4.07

O REDONDO REPRESENTANTE


Como é que uma pessoa que pensa redondo, que escreve redondo e que fala redondo pode alguma vez desempenhar o cargo de "primeiro alto representante da ONU para o Diálogo das Civilizações"? Sampaio presidiu, durante dez anos, ao maior fracasso da sua vida política. Os melhores tempos ainda foram os de sentadinho no muro da universidade de Lisboa, nos anos sessenta. Sampaio, ou alguém por ele, convenceu-se da sua eminente subtileza política, agora com repercussão mundial. É de esperar o pior.

ENTRE RABOS E CRAVOS


Ainda Pina Moura não aterrou na TVI e já se sente a melíflua influência dos "novos tempos". A novela adolescente "Morangos com Açúcar" lembrou-se de fazer "pedagogia democrática". Depois de ter posto ao léu três rabiosques masculinos lá mais para trás, colocou os meninos/alunos a representar uma "peça" sobre o "25 de Abril". Os autores do guião resumiram a coisa com uns quantos berros, umas roupas "à anos setenta" e até arranjaram um "Otelo", um "Salgueiro Maia" e uma (sim, uma rapariga) "Marcello Caetano". É claro que os adolescentes/actores não fizeram a mínima ideia do que é que estiveram a balbuciar. Entre rabos e cravos, venha o diabo e escolha.

LER OS OUTROS

1. O Pedro Lomba já cresceu qualquer coisa desde o aborto. Eis aqui um bom exemplo devidamente ilustrado por um bonito sorriso. "A resignação é um destino. Até com as mentirinhas públicas do primeiro-ministro sobre a sua licenciatura uma pessoa se resigna."
2. J. Pacheco Pereira regressou de mais uma das suas deambulações de "judeu errante" (as aspas é para o citar, não é preciso nenhuma indignação cabalística). "Que haja um documento num dossier respeitante ao actual Primeiro-ministro que a entidade emissora considera falso a ponto de fazer uma queixa-crime (num caso em que abundam problemas de fidedignidade com os documentos), seria mais que suficiente em qualquer democracia para considerar em aberto a questão. Mas por cá abundam as pressões para encerrar o assunto e demonizar quem continua a considerar que é necessário esclarecê-lo devidamente".
3. E ainda: "No blogue "profissional" de Luís Paixão Martins esta fabulosa entrada, que não sei se é uma notável bofetada pública, um exercício de humor irónico, ou tudo junto. Uma coisa eu sei, nestas coisas quem paga o almoço é quem manda.
Hoje almocei com um deputado, o presidente de uma associação empresarial e o secretário-geral de outra. Foi o deputado quem me pediu o encontro. Queria envolver essas entidades numa iniciativa da Assembleia da República. Como se classifica este almoço? Lóbingue ao contrário? PS: Paguei eu a conta."

VIGIAR E PUNIR

O dr. Alberto Costa "lança" a sua cartilhazinha contra a corrupção. De acordo com o "guião", os funcionários públicos estão na linha da frente da denúncia e desse "combate". Estão mesmo, digamos, "obrigados" a "bufar" o menor indício de corrupção ou aparentada. Acontece que, por dever de ofício, todos os funcionários públicos - desde o cantoneiro de cemitério até ao mais ilustre catedrático da academia pública - estão vinculados a esse dever de carácter disciplinar geral e especial. É só percorrer a leizinha em vigor desde 1984. Por isso, este "guião" é esdrúxulo e corresponde a mais uma pequenina manobra de propaganda. Lá onde se esconde a verdadeira corrupção, um vulgar funcionário não tem acesso a menos que frequente a plutocracia em vigor ou seja membro de nomenclatura partidária. Mas, nesse caso, viverá naturalmente caladinho e sentadinho à mesa. Quanto à corrupção estilo "amiguismo", há muito que está consagrada informalmente pelo regime. Não é o patricarca socialista Almeida Santos quem recomenda "para os amigos, tudo, para os inimigos, nada, e, para os outros, cumpra-se a lei"?

25.4.07

NÃO VALEM NADA


"Desprezo as coisas aparatosas e vazias; detesto por temperamento as fórmulas, que é como quem diz os rótulos, não só em política mas na vida diária. Sei de antemão que não valem nada."

Oliveira Salazar, in Imparcial de 15 de Fevereiro de 1914

DE UM A OUTRO REGIME


Mário Crespo, no seu aceitável Jornal das Nove, começou com uma "romagem" a Peniche. Para o "guiar", escolheu o ex-director do "Luta Popular", ex-maoísta e ex-uma data de coisas, Saldanha Sanches. Peniche tem algum significado para mim. Familiares do PC passaram por lá ao mesmo tempo que o "camarada Duarte". Acontece que não possuo nenhum fetiche anti-fascista e, graças a Deus, tenho a cabeça (pelo menos nessa parte) de bem com a história. Saldanha Sanches não mencionou que esteve preso depois da data que hoje se comemora, justamente quando o seu partido, o MRPP, inundava Lisboa com "murais" do género "libertemos o camarada Saldanha Sanches, director do Luta Popular" ou "libertemos o camarada Arnaldo Matos, o grande educador da classe operária". Sanches, entretanto e como lhe competia, acabou o curso de direito e dedicou-se ao Fiscal, devidamente orientado por um Mestre comum e anti-democrata convicto, o Prof. Dr. Pedro Soares Martinez que muito prezo. Seguidamente deu mais uns passinhos no actual regime e tornou-se num "parecerista" militante em matéria fiscal e grande aconselhador de contribuintes oriundos, por exemplo, do anafado sector bancário, uma das maiores "conquistas de Abril". Houve tempo em que levava vagamente a sério o que o prof. Sanches escrevia e dizia. Agora, perdi-o por entre a espuma deste regime. Ou terá sido ele quem se perdeu?

A ÉTICA DELE

"Bom exemplo de uma ética", disse Sócrates a propósito de Pina Moura. Republicana?

ABRIL EM PORTUGAL, 2007


"Não sabemos se haverá ingenuidade em desejar moral na política e se não terá havido em qualquer nação governantes em que o carácter e a dignidade pessoal tenham julgado de seu dever entrar também na vida pública, regrando processos de administração. Não sabemos. O que sabemos é que a desordem e imoralidade políticas têm um efeito corrosivo na alma das nações. E o abastardamento do carácter nacional não pode deixar de influir no desenvolvimento e progresso de um povo, sob qualquer aspecto que o queiramos considerar".

Oliveira Salazar, O Ágio do Ouro, 1916 ("linkagens" da minha responsabilidade)

UM LIVRO EM ABRIL


"Não há, em geral, coincidência entre o valor da actividade ou as realizações governativas e a atmosfera política. O inteligente esforço desenvolvido por D. Carlos e coroado de êxito, nos últimos anos do seu reinado, na política internacional não logrou desanuviar o ambiente e não retardou de uma hora o seu bárbaro assassínio". (AOS, Discursos, Vol. III, págs 27 e 28)

Indispensável o livrinho
"Cartas d’El-Rei D. Carlos I a João Franco Castelo Branco, seu último Presidente do Conselho", da Bertrand, com prefácio de Rui Ramos. "Muita coisa se perdeu com a morte de D. Carlos, e o fim da carreira política de João Franco. E é a consciência dessa "fatalidade" que dá a este livro um estranho fascínio: o fascínio das coisas que nunca foram, mas poderiam ter sido".

25 DE ABRIL DE 2007


"It's a basic truth of the human condition that everybody lies. The only variable is about what."

25 DE ABRIL DE 2007

Uma forma de avaliar o regresso de Paulo Portas é estar atento a quem o elogia. Por exemplo, Leonor Pinhão - esse grande senhor da análise futebolística nacional e uma profunda anti-salazarista afonsina - não duvida (ela, aliás, não conhece esse estado dilemático) que "nos caminhos da comunicação, [Paulo Portas] vai longos passos à frente dos demais." Também o Diário de Notícias tem a certeza "editorial" que "Ribeiro e Castro foi um equívoco como líder [do CDS/PP]." E nem vale a apena recordar a "celência" que Portas representa na boca sagrada do dr. Jorge Coelho.

25 DE ABRIL DE 2007

Um pequeno texto com duas ou três verdades inquietantes que incomodam o politicamente correcto tão bem representado pelos sofridos intelectuais ali mencionados e que, de uma maneira geral, mandam nas mentes "brilhantes" deste mundo. Muitos até inspiram a minha modesta tola descomplexada. Pena que, por causa da pequena evidência, o autor tenha deixado de escrever no Blasfémias.

25 DE ABRIL DE 2007


O saudoso dr. Afonso Costa reencarnou algures entre a Sé a Av. da Liberdade. Agora usa saltos altos.

25 DE ABRIL DE 2007

Apreciei o discurso anti-retórica "abrilista" do Chefe de Estado. Não gostei da referência à "juventude". Cavaco conhece "nichos" de sucesso e não pode confundir isso com qualquer vontade de coisa nenhuma de uma juventude chocha, indiferente e, no essencial, medíocre, tão bem representada pelos videirinhos das juventudes partidárias, dos jornais e das televisões.

25 DE ABRIL DE 2007


Cinderela em São Bento

por Rui Ramos


"Já sabemos - dito por quem de direito - que a licenciatura de Sócrates não é o maior problema do país. Estamos ainda para saber se não é o maior problema do primeiro-ministro. Entretanto, o Governo e os seus procuradores tentam, sem excessos de subtileza, convencer-nos de que pode tornar-se um problema sério... para quem tiver o atrevimento de falar sobre o tema. É verdade que ainda não chegámos à Rússia de Putin, e que continua a ser geralmente seguro beber em restaurantes. Presumo, portanto, que ninguém arrisque mais martírio do que o de um telefonema zangado.
De resto, a campanha oficial e oficiosa contra o "golpe de Estado através da imprensa", indistintamente atribuído à vingança de um "grupo económico" ou a mais uma conspiração da "direita radical", esclareceu as regras do jogo: prosas a duvidar da mais célebre licenciatura de Portugal garantem pelo menos uma ficha de "vendido" ou "fascista".
Felizmente, não corro esse risco, porque o objectivo deste texto é dar razão ao Governo. Em tudo. Primeiro, no que diz respeito à conspiração.
Há, de facto, uma conspiração contra Sócrates. Lembro-me perfeitamente de quando começou: no dia 25 de Abril de 1974, faz hoje 33 anos. Foi nesse dia que os membros do Governo em Portugal deixaram de estar devidamente calafetados contra o "jornalismo de sarjeta" e as "campanhas orquestradas". Foi também por esses tempos que se começou a notar uma certa irreverência no modo como os cidadãos se referiam em público aos dirigentes do Estado. Para facilitar ainda mais a vida aos conspiradores, os portugueses cometeram o erro de preferir uma "democracia formal", e portanto pluralista e aberta à controvérsia. Resultado: nunca mais se pôde trabalhar em paz no governo deste país. Como todos sabem, a situação tem-se agravado. Nos piores momentos, dir-se-ia que estamos em Inglaterra ou na América. Sim, a conspiração contra Sócrates tem um nome: chama-se democracia.
Terá ele percebido isso? A prometida "regulação" do jornalismo e a descida dos seus homens, em missão "ideológica", até às empresas de comunicação social provam que percebeu. Há quem considere que Sócrates deveria ter-se conservado acima de tudo isto. De facto, ninguém lhe contestou legitimidade para governar, e nenhum outro poder (Presidente, Parlamento, tribunais) o incomoda. Mas toda a gente admite que a sua "imagem" saiu amarrotada. E só isto justifica a reacção de Sócrates.
Ele compreendeu aquilo que a maioria dos seus críticos ainda não percebeu: que o seu é um Governo de Cinderela, que não foi feito para resistir a demasiadas badaladas.
Cavaco Silva em 1985 e Guterres em 1995 surgiram com fórmulas mais ou menos novas, e perante uma economia a crescer. Passaram assim por cima das primeiras gafes e escândalos. Em 2005, Sócrates trouxe velhas "paixões" para enfrentar uma ruína. Não era um líder popular, nem a sua eleição correspondeu a uma vaga de entusiasmo. Venceu Alegre e depois Santana, porque teria sido preciso génio para falhar contra Alegre e Santana.
Os votos que lhe deram a maioria absoluta (2,5 milhões) poucos mais eram do que os que, em 1999, não deram uma maioria absoluta a Guterres (2,4 milhões). A partir dessa base, Sócrates perdeu tudo o que havia de importante para perder. Perdeu as autárquicas e os principais municípios - com 1.930.191 votos, quase o mesmo resultado (1.918.359) que, em 2001, fez Guterres desistir. E perdeu as presidenciais, com um candidato que arranjou a pior votação de todos os candidatos apoiados por governos desde 1976. Com certa habilidade, passou a viver de um equilíbrio fundamental: por um lado, deu ao PS o pasto das administrações do Estado e das empresas públicas, feitas para sossegar animais ruminantes, e ainda ofereceu às esquerdas, com a nacionalização dos abortos, uma viagem de saudade até 1911; por outro lado, satisfez as teorias daqueles que, à direita, estão convencidos de que nada como músculos de esquerda para meter na ordem funcionários e pensionistas.
Quanto tempo pode durar este ajuste? O Presidente, como lhe compete, coopera. E o eleitorado? Que acontecerá em 2009 se o país prolongar o maior período de divergência com a Europa desde há 60 anos? E se o PSD, por distracção, elege alguém com bom aspecto? Sócrates não está condenado. Mas está mais vulnerável do que a rotina dos comentários tem reconhecido.
O Governo sabe que a série de badaladas para a meia-noite pode começar assim, com os percalços de uma licenciatura. Quando os pajens voltarem a ser ratos e a carruagem uma abóbora, desta Cinderela talvez nem fique o sapatinho."

in Público, 25.4.07 (edit meu), foto: "gentileza" We have caos in the garden

25 DE ABRIL DE 2007


"A Câmara de Santa Comba Dão (PSD-PP) vai permitir a manifestação no sábado em defesa do museu do Estado Novo, organizada pelo Movimento Nacionalista Terra, Identidade e Resistência. Apesar dos argumentos antifascistas para que fosse proibida, a autarquia considerou que não seria razoável "limitar o exercício de um direito basilar com base na mera presunção de ocorrência de um crime". Sublinhando que a câmara "se demarca completamente" da iniciativa, o vice-presidente António José Correia lembra, porém, que "para o seu exercício é exigida apenas uma comunicação prévia às autoridades, não sendo necessária qualquer autorização". Acrescenta que "será dado conhecimento às autoridades policiais", para que se tomem "medidas adequadas" para manter "a ordem e tranquilidade públicas e o livre exercício dos direitos dos cidadãos". A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) repudiou este "lavar de mãos" e acusou o executivo de, "por omissão, estar a infringir a lei", já que a Constituição proíbe qualquer manifestação fascista. Segundo a URAP, até ontem, já tinham dado entrada nos seus serviços centrais dez mil assinaturas contra a criação do museu de Salazar, em Vimieiro. Entre eles, um conjunto de personalidades como presidentes de câmara, Jerónimo de Sousa, Manuel Carvalho da Silva, Maria Barroso, Isabel do Carmo, Urbano Tavares Rodrigues, Vasco Lourenço e Dulce Pontes. Enquanto se esgrimem argumentos sobre o projecto, existe já um museu virtual de Salazar, do Núcleo de Estudos de Oliveira Salazar, para homenagear o "maior estadista do século XX". Além de uma autobiografia, a página da Web tem dezenas de fotos do ditador, como o quarto onde nasceu, a igreja onde foi baptizado e o túmulo."

in Público, 25.4.07 (edit meu)

25 DE ABRIL DE 2007

Um Picasso, da "fase negra".

24.4.07

MME. PUDIM


Simpatizo muito com a independência de espírito destes amigos "esquerdinos" bem como com o Eduardo. Todavia, custa-me a entender como é que conseguem "ver" na Sra. Royal o que quer que seja. No domingo à noite, a mulher levou horas até intervir e apareceu, não com o ar de quem ia à 2ª volta, mas com o ar de quem estava a "Alka Seltzer". A mulher não aguenta um debate com ela mesma, quanto mais com o colérico Sarkozy. Faz apenas jus ao pudim com o mesmo nome.

CINEMATECA PORTUGUESA

Pois é, Paulo Portas. Se a ideia é recuperar os Telmos Correia & Cia. para a "linha da frente", estamos conversados. Não conheço criatura mais insuportável e que, ainda por cima, não vale um voto. A beijocada nas ruas do Funchal é um filme com doze anos de atraso. E ao bacharel Pinto de Sousa já lhe devem tremer as pernas de medo. A ideia não era andar para a frente sem olhar para trás?

KINDERGARTEN


Os jornalistas destacados pelas televisões e pelos jornais para o novo Hospital da Luz deviam ter vergonha das perguntas que colocam aos médicos de Eusébio. Não haverá nada mais premente do que saber se o homem pode assistir a um jogo de futebol daqui a uns dias? Tiraram todos o curso na "farinha Amparo" ou é mesmo estupidez natural?

DA OPA À OTA

O que interessa ao país - se é que lhe interessa alguma coisa - é mais a Ota do que a "opa" do BCP sobre o BPI que apenas entretém a nomenclatura e o Nicolau Santos.

A NOSSA RAIVA


Escrito numa parede de Lisboa: "a nossa raiva é maior que a vossa ignorância".

QUATRO A UM


Há dias recebi um e-mail de Nuno Costa Santos, do RCP, para participar num debate. Agradeci e disponibilizei-me para outra data - era um sábado de manhã - porque estava fora do país. Quando regressei, percebi que o debate tinha sido uma sessão de crochet entre seis ou sete íntimos. Proponho ao Nuno e ao Luís Osório uma "mesa": eu, o Abrantes e a Câncio. Quatro a um, que tal?

Adenda: Este sábado não dá jeito por causa do Grande Morto de Santa Comba Dão, dado que os cemitérios funcionam às horas de expediente, mesmo aos sábados, domingos e dias feriados como o de amanhã. Ou seja, a partir das 9 da manhã qualquer hora é boa para o efeito.

AI TIMOR ?

Enquanto "degustava" uns "pezinhos de coentrada" no intervalo das minhas actividades de "inspector", deparou-se-me na tv, em nota de rodapé, o resultado de um dos nossos mais brilhantes legados ultramarinos: Timor-Leste. De acordo com a nota, o sr. Lu Olo e o sr. Ramos Horta disputam a presidência entre insultos. O sr. Alkatiri - parece que é assim - entretanto insulta o sr. Horta acusando-o de "ditador". Xanana já não conta e prepara outros folclores. Nem aqui nem lá fora valemos o que quer que seja. Ramos Horta é o pior produto da diplomacia deste regime que amanhã comemora a idade de Cristo. De Barroso ao PS, todos se vergaram e verteram lágrimas por esta gente. Mal empregada independência.

O ESTRANHO CASO DO LACAIO DO PS- 2

O lacaio grunhiu. A prosa é de tal ordem que só é respondível ao vivo e com dois pares de estalos no focinho do animal. Dê a cara - se é que tem uma - e apareça. O assunto é apenas entre nós os dois. E deixe-se por uma vez de falar nos outros que não conhece e que lhe deviam merecer respeito.

VIVER HABITUALMENTE ?

Parece que a UnI - o tal estabelecimento que forneceu "luzes" a parte da plutocracia que nos rege- entregou ao pobre engº Gago uma resma de seis mil folhas de defesa da sua honorabilidade "pedagógica". Também parece que a inspecção-geral do referido engº apreciava ficar de posse do "dossiê" do ex-aluno Pinto de Sousa, entre muitos outros, para disfarçar (a gente sabe como é que se faz uma "auditoria"). Perante tamanha exibição de força do estabelecimento, será curioso acompanhar os próximos folhetins. Há já quem fale num novo estabelecimento certamente destinado a "formar" as próximas fornadas de plutocratas ou a remendar algumas falhas das actuais. Anos e anos de comissões e de "observatórios" do ensino superior e acabamos nisto: num ministro "entalado" e submerso em papéis que obviamente ninguém vai ler. Depois desta miserável telenovela mexicana, é impossível que o regime continue a "viver habitualmente". Chegou a hora de beber o cálice até ao fim e de raspar o prato da "farinha Amparo".

23.4.07

SEU GENIAL TRAGALHADANÇAS


Gosto de homens e de circunstâncias. Detesto homens e circunstâncias. Eusébio está para além do meu gostar ou não gostar de futebol. Não gosto. Sobre Eusébio contaram-se anedotas e ambos os regimes - este e o outro - usaram-no como símbolo de uma glória permanentemente perdida. Tal como usaram Amália que se serviu impiedosa e inteligentemente de ambos. Foram coroados por Salazar e por Soares, as duas faces da mesma moeda. Eusébio, no entanto, é aquilo a que se chama um puro. Um homem bom e um bom português. "Dar o Eu a Eusébio, que pretensão! Derive, derive e vire, vire e atire sem parança, Eusébio, seu genial tragalhadanças" (Alexandre O'Neill).

NA CASA DELE


Até à meia-noite (é só hoje), vale a pena dar um salto à Coelho da Rocha, em Lisboa, e, nas traseiras da Casa Fernando Pessoa, está uma pequena "feira de livros" a preços que, no meu caso, oscilaram entre os dois e os dez euros. Algum António José Saraiva, muita poesia, Paul de Man, João Barrento, O' Neill, Cesariny, Belo, Al Berto e meia dúzia de inevitáveis contemporâneos, estilo Esteves Cardoso, Paixão ou Mexia. Parabéns ao organizador desta coisa do Livro em Lisboa, o Francisco José Viegas, e ao vereador do pelouro da cultura da CML, o único que parece que sobrevive no caos, José Amaral Lopes.

O IMPRONUNCIÁVEL


A zelosa Câmara Municipal de Santa Comba Dão proibiu a deslocação de cidadãos ao cemitério do Vimieiro. Nesse cemitério repousa, em campa rasa, o Doutor António de Oliveira Salazar, mais conhecido pelo "impronunciável" para os delicados ouvidos de muitos democratas mal resolvidos. Parece que os referidos cidadãos pretendiam recordar a passagem do aniversário do Ditador nascido a 28 de Abril de 1889, fará no próximo sábado cento e dezoito anos. Pois bem. Desafio daqui todos e quaisquer cidadãos livres a deslocarem-se ao referido cemitério, no sábado, munidos de um cravo branco, símbolo do talento. E em silêncio, como deve ser.

SÉGO-SÓCRATO


A "censora puritana e nacionalista" tão querida dos condes "Abrantes" da nossa democracia de pacote "farinha Amparo".

O ESTRANHO CASO DO LACAIO DO PS


Este lacaio do PS - deste PS - veio meter-se comigo a propósito daquilo que faço profissionalmente e daquilo que escrevo. Direito dele. Para começar, nunca realizei uma sindicância embora a sua pobre cabeça esteja manifestamente a precisar de uma com urgência. Pelo teor da posta, vê-se que o lacaio tem espírito inquisitorial - mais, até, do que alguém que "inspecciona" - típico dos pífios herdeiros do dr. Afonso Costa. Este tardio jacobino também verbera, por tabela, o General Ramalho Eanes quando devia lavar a boca antes de pronunciar ou escrever o seu nome. Foi ele quem lhe outorgou o direito à imbecilidade depois do 25 de Novembro ou a sua idade mental não lhe permite apreender esta evidência? A prosa deste cavalheiro ressuma o ódio pequeno burguês assassino da 1ª República, o que significa que a criatura ainda não abandonou mentalmente o Terreiro do Paço do dia 1 de Fevereiro de 1908. Já que mencionou livros - o que prova que é apenas um analfabeto funcional - recomendo-lhe as "Cartas D'El Rei D. Carlos I a João Franco Castello-Branco, seu último Presidente do Conselho", reeditado pela Bertrand. A criatura - problema dela - é daquelas a quem João Franco se referia como não tendo sequer o "direito a querer ser bem governado" e que aprecia a trela partidária. Direito dela. Finalmente, e quanto à ilustração da sua "posta de pescada", a sopa enlatada de tomate, é a que, se um dia tiver a infelicidade de me cruzar consigo, lhe atirarei à cara. Quanto ao genuíno produto da sopa, duvido que o possua.

SAÚDINHA É QUE É PRECISO

Não se pode comer, não se pode fumar, não se pode f..... e até o PR - para se entreter com qualquer coisa dada a concepção minimalista que tem da sua magistratura ("inalo mas não engulo") - nos quer saudáveis, quem sabe aderentes da política da corridinha do calcetão do senhor primeiro-ministro. "Como cidadãos temos o direito de eleger políticas públicas saudáveis. Além de medidas de protecção no local de trabalho e de um planeamento urbanístico mais salutar, destaca-se a necessidade de instruir e educar para a saúde", disse o venerando chefe do Estado numa coisa qualquer sobre a obesidade. Estar vivo implica ter vícios, pecar, comer bem, beber melhor e trinchar carne alheia de vez em quando. Para mortos-vivos basta sermos os cidadãos de trampa que somos.

22.4.07

PLACIDO DOMINGO, Paris, 1989


Sarkozy tem agora o dever, durante estes dias, de explicar à França e ao mundo a natureza dela, ou seja, o nada. Esperemos que Sócrates vá até lá dar uma mãozinha à sua clone francesa, aproveitando a boleia da RTP. Bayrou, o "homem-banana" desta eleição, lançou aquela conversa do costume de que "nada ficará como dantes". É bom que ele saiba qual é o seu lado. Os seus eleitores parece que sabem melhor do que ele.

SANS PAROLES

"QUEM ÉS TU?"


Francisco: amanhã devias oferecer uma cópia desse livro lá na Casa. E este Walt Whitman a condizer:

The prairie-grass dividing, its special odor breathing,
I demand of it the spiritual corresponding,

Demand the most copious and close companionship of men,
Demand the blades to rise of words, acts, beings,

Those of the open atmosphere, coarse, sunlit, fresh, nutritious,

Those that go their own gait, erect, stepping with freedom and command, leading not following,
Those with a never-quell'd audacity, those with sweet and lusty
flesh clear of taint,
Those that look carelessly in the faces of Presidents and governors,
as to say Who are you?
Those of earth-born passion, simple, never constrain'd, never obedient

A TERCEIRA VOLTA

Em apenas dez anos, esta é a terceira encarnação do Paulo Portas. A primeira, inesquecível, começou naquele atravessamento de um pavilhão gimnodesportivo com uma pasta castanha à "James Bond" que culminou na remoção definitiva do dr. Manuel Monteiro para a barreira dos zero por cento. Deste atravessamento emergiu a efémera AD, com Marcelo, que terminou numa entrevista à televisão. A seguir, veio o Paulo lutador e solitário que concorreu a tudo o que mexia até que o dr. Barroso permitiu que ele se "encavalitasse" às suas costas. Foram dois anos e tal de glória, de fatos às riscas, de intimidades com Rumsfeld, da épica marítima contra as histéricas "women on waves" e do despedimento sumário da "marrequinha" da Cruz Vermelha, a fórmula ternurenta por que Portas tratava Maria Barroso. O seu instinto infalível não se enganou quando pressentiu a agonia da fugaz aliança PSD/PP na fuga bruxelense de Barroso. Mesmo assim, foi leal até ao fim e, quando perdeu, permitiu o interregno de Ribeiro e Castro. Enquanto ele ia ao cinema à meia-noite e à neve à Argentina, os seus Melos e Telmos encarregavam-se metodicamente de desfazer o pobre do "Zé" e preparar o dia de hoje. Portas verdadeiramente nunca chegou a fazer o luto da derrota de 2005 e isso poder-lhe-á ser fatal. O Paulo pertence ao clube dos que têm pressa. Como disse um dia Maria João Avillez a um amigo comum - o João Amaral -, o Paulo nunca teve tempo para sofrer das amígdalas como um vulgar adolescente. Foi demasiado adulto demasiado cedo, nos jornais e na política. Talvez daí o ar "desengravatado" desta terceira volta que ele manifestamente ignora como vai e com quem vai ser. Nós também.

SUNDAY BLOODY SUNDAY

Ver ao longe faz bem. É isso, menos liberdade, mais ruído. Who cares?

"A ESTRELA EMERGENTE"


O Diário de Notícias de João Marcelino e do sr. Oliveira dá hoje "voz" ao famoso engº António José Morais que "completou", com quatro cadeiras na UnI, o curso ao actual primeiro-ministro. Os jornalistas Licínio Lima e João Pedro Henriques foram os "perguntadores de serviço" e percebe-se que só perguntaram ao engº Morais o que ele quis que lhe perguntassem e que ele só respondeu ao que quis responder. Por dever profissional, ouvi-o dois dias seguidos, em 2001, e fiquei definitivamente esclarecido. É claro que o artigo tem momentos maravilhosos como este diálogo surrealista e que diz muito acerca do tipo de gente que nos pastoreia. Vale a pena comentar?

"P: E aí onde é que entra Armando Vara?

R: Eu era uma referência do PS em Lisboa. Tínhamos acabado de ganhar a concelhia. Foi no Altis que fui apresentado a Armando Vara. Ele já estava no Governo.

P:Como é que se torna assessor dele e depois director do GEPI, nomeado por ele?


R: Em 1995 eu tinha uma carreira política. Toda a gente falava de mim. Eu era a estrela emergente do PS em Lisboa. Um putativo candidato a ministro e não a director-geral. É natural que Armando Vara, quando precisou de um engenheiro, se tenha lembrado de mim."

LETRA MORTA


Estão lá para trás, em "arquivo", todos os posts e artigos que, aqui, no Diário de Notícias e no Blogue do Não, publiquei a favor do "não" no referendo de Janeiro. No essencial, defendi sempre a mesma coisa: a lei até hoje em vigor e a obrigação do Estado em a fazer cumprir. Depois da lavagem de mãos que o PR efectuou em relação à nova legislação, ela aí está, este domingo, à espera de ser regulamentada. Parece, aliás, ser sina do regime que alguns dos seus actos formais entrem em vigor aos domingos, o dia mais estúpido da semana. Já se percebeu - e alguns directores de serviços de hospitais públicos já o explicaram com maior ou menor clareza - que a lei é, na prática, letra morta tal como a que a antecedeu. Não existem condições técnicas, faltam as "pílulas abortivas", há objecção de consciência médica etc., etc. Nestes termos, o que entra hoje em vigor é apenas o voluntarismo teimoso, furioso, cego, surdo e mudo do legislador. Sócrates, quando lhe dá o acesso esquerdino, vai buscar este emplastro legislativo para exemplificar o seu lado "progressista". O país tem mais para fazer do que esperar por Godot. Ou, antes que a encerrem, o senhor primeiro-ministro ainda precisará de outro curso , agora de "ciências humanas em trinta minutos", na UnI?

21.4.07

SENTIDO DO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU

Na maravilhosa entrevista que concedeu ao Expresso - ia a escrever desavergonhada - Pina Moura cita (e ele não profere uma palavra que não tenha um sentido), entre outros, Vital Moreira, Jaime Gama e Vitor Constâncio como algumas das pessoas com quem se "aconselhou" antes de "aceitar" mais um serviço espanhol, desta vez na TVI. Quanto a Vital, estão bem um para o outro dado o passado comum. Já a segunda figura do Estado e o eterno governador do Banco de Portugal constituem um caso mais sério. Então, segundo o moralista Pina Moura na mesma entrevista, para umas coisas o negócio é privado e para outras já se pode auscultar quem deve recato à nação? Ou é tudo uma e a mesma coisa como nem sequer era no tempo da União Nacional? Ao menos Salazar possuía uma coisa chamada sentido de Estado, uma coisa que esta gente mete na gaveta com a mesma facilidade com que meteu o "socialismo".

DO MAU, O MENOS


Sarkozy, naturalmente. Tinha graça Le Pen passar à segunda volta para obrigar os idiotas que andaram a escrever "Sarko-Facho" nos cartazes do candidato da UMP a votarem nele. Há gatos fedorentos por todo o lado.

OS DONOS

Os donos do país, desta vez através dos comissários plantados no hospital de Estarreja - do SNS, ou seja, pago pelos contribuintes e não apenas pelos sócios do PS - impediram uma visita de Marques Mendes. Até podia ter sido a minha padeira. O episódio diz muito da conta em que estes medíocres serviçais se têm. Enfim.

OTA, DE OTÁRIOS

Quem não diz ao chefe aquilo que o chefe quer ouvir... O problema é que a Ota está para além destes anões de circunstância. São milhões e milhões de euros que podem vir a alimentar o maior disparate do século. Quando e se Cavaco decidir descer à terra - nem sei como não o convidaram para aquele espectáculo deprimente estilo "Floribella alternativa" dos 34 anos do PS - pode ser tarde demais.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 15


Gosto, palavra de honra que gosto do Miguel Sousa Tavares. Tem aquele ar concupiscente que provoca honestos frémitos até no heterossexual mais certinho. Sei de homens e de mulheres que dariam uma manga da camisa Dior por uma bebida tomada com o nosso homem ou a partilha de um pôr-do-sol na Lapa a ver passar os comboios. Li de um fôlego o seu Equador e, apesar do excesso de "linguados" e de mamas, apreciei. Miguel, ao contrário de outros "escritores" portugueses, contava-me finalmente uma história com algum propósito. Também apreciei outro livrinho com um nome ligeiramente pretencioso, "não te deixarei morrer David Crockett", as crónicas do guterrismo, "os anos perdidos", e um livro de viagens. Sousa Tavares é um marialva democrático, uma coisa totalmente infabricável. Vive de ser livre à conta dos legítimos direitos autorais que cobra por esse mundo fora. Adora viagens, desertos, gajas, caça, cigarros, enfim, tudo o que o homenzinho cego que me vende os jornais gostava de ter e de ver e que apenas contém na sua prodigiosa imaginação. Até agora, só uma pequena mancha perturbou a minha colorida ideia de Miguel Sousa Tavares. Foi em Outubro de 2004, quando Marcelo mandou pastar o dr. Paes do Amaral e o Miguel permaneceu hirsuto nos seus comentários das terças-feiras na TVI. Estou para ver o que é que ele vai dizer, daqui em diante, quando Pina Moura e José Lemos - os dois altos comissários do PS destacados para aquele canal - lhe passarem a emitir o cheque. Por falar em cheque, o Expresso acolhe agora as prosas revoltadas do Miguel que quase sempre leio com interesse. Na desta semana, começa por chamar-me ignorante. E parte para os seus indiscutíveis gostos pessoais de que o "sistema" e o regime alegadamente o privam, tais como estacionar em cima dos passeios, atirar aos pássaros e às lebres, praticar caça submarina e, naturalmente, fumar. Por detrás desta perfídia encontra-se obviamente o fantasma de Santa Comba Dão, o homem que, entre outras coisas e como se sabe, fundou a EMEL. Eu gosto que Miguel Sousa Tavares aprecie o seu vasto mundo que oscila entre Lagos e os desertos africanos da Baronesa Blixen (como ela devia ter gostado de o conhecer), passando por Queluz, pela Lapa e pelo sr. Pinto da Costa. E aprecio que ele possa continuar livremente, de cigarro na boca ou de caçadeira em punho, a escrever e a ajudar-me a "viajar" de outra maneira. Acredite, Miguel, não me sinto nada ignorante por gostar de o ler.

NAS VASCAS DA AGONIA

Um magnífico e corajoso post do Miguel que tem outro título que também podia ser este: "tenho vergonha em ser português". Também este, "a árvore e a floresta", de António Balbino Caldeira, uma particular maneira de denúncia da plutocracia em vigor (Pina Moura, no Expresso, já nem se dá ao trabalho de disfarçar). E este, sobre o Soares "algaliado" e não "amordaçado" da FIL "socrática", pelo Almocreve.

SEMÂNTICA DEMOCRÁTICA

Boa pergunta da Helena Matos: "o que se entende por textos que incitem ao ódio?". Por exemplo, quando o secretário-geral do maior partido nacional, com uma imensa cara de pau, proclama perante os fiéis dependentes que quer uma "democracia com decência e com respeito pelos adversários", está a fazer exactamente o quê? A pedir que o osculem na boca?

O PROFISSIONAL E O AMADOR

Por vezes tenho dúvidas se prosas deste teor são fruto de algum deslumbramento provinciano pelos videirinhos ou se são frustrações prosódicas por não chegar aos calcanhares de Vasco Graça Moura.

A NOITE DA IGUANA


Durante a tarde, o partido matchbox do regime, o CDS/PP, vai escolher o seu líder "em directas", fazendo de conta que ele ainda não está escolhido. Ontem, com aquele ar de último filósofo de Atenas, Alfredo Barroso manifestou-se na SIC Notícias contra "directas", mesmo no seu PS, a sucursal portuguesa do deserto do Sahara. Narana Coissoró, o Diógenes do PP e um tipo com quem simpatizo não sei bem porquê, falou nas "lágrimas de crocodilo" de um dos contendedores desta tarde. O problema do homem das lágrimas de crocodilo é ter a mania que é um De Gaulle. Ao menos o outro não tem outra ambição que não seja dizer umas graçolas e fazer uns trocadilhos. A nação não está suspensa deste fait divers entre cerca de quatro mil almas, cujo desfecho é conhecido desde justamente "a noite das lágrimas de crocodilo" de Fevereiro de 2005. Hoje é mais a noite da iguana, a delicatissima, mais conhecida por camaleão.

20.4.07

A SOLIDÃO ASSASSINA

Não dei por a habitual matilha de psicólogos "sociais" - sempre pronta a exibir a sua língua de pau por dá cá aquela palha - se pronunciar acerca da gravação do adolescente sul-coreano. Imagino que a trágica melancolia e a pulsão assassina que ressumou do seu "testamento" perpasse pelas mentes de mais adolescentes, domésticos ou de qualquer outra proveniência. O seu "discurso" - proferido por alguém que sabe que só será visto e escutado depois de morto - é uma peça que, em vez de ser vetada pelo puritanismo maricas norte-americano, devia ser exibido e explicado sem quaisquer mistificações. O fracasso, a solidão, o ensimesmamento, o ódio ao outro, a inveja e tudo o mais que aquilo evidencia, solidifica, da forma mais horrível o imenso falhanço do "multiculturalismo", da cultura da felicidade e do "idiotismo" optimista estilo "we are the world, we are the children" em vigor que apenas infantiliza, e, pelos vistos, mata.

A CONFISSÃO

Salazarista tardio, Eduardo? Não. Sempre fui, da mesma forma que sempre fui um católico, apostólico, romano não exageradamente praticante. Sobre o "meu" salazarismo - muito parecido, aliás, com o de António José Saraiva, ou seja, puramente intelectual e desacompanhado do autoritarismo e da mesquinhez característicos do construído à sua volta- já me pronunciei várias vezes. É só seguir as "etiquetas" ali em baixo.

LIVROS - 2


Novidades da "Guerra& Paz" que recomendo particularmente: esta, esta e esta. Sobre Aron, já tinha dito qualquer coisa aqui e aqui.

LIVROS-1

Na Casa Fernando Pessoa, na próxima segunda-feira, 23, Dia Mundial do Livro, entre as 10h00 e as 24h00, super-saldo de livros. Haverá descontos entre 50 e 80%, e uma secção de livros vendidos apenas a €1. Para cada visitante, há flores e um postal da Casa. É o início da programação da Lisboa, Cidade do Livro. (Informações permanentes sobre os eventos, aqui.)

Rua Coelho da Rocha, 16, em Campo de Ourique. No espaço do jardim.

A FLOR DO MAL

O Doutor Salazar não passou pela infelicidade de ter conhecido o dr. Pina Moura, futuro "patrão" nacional (?) da TVI, e outras criaturas nada subestimáveis do regime, aliás, todas espalhadas por esta ou aquela empresa pública ou ex-pública. Ao pé desta gente, o dr. Manuel Pinho é um anjinho incipiente e removível. Todavia, com setenta anos de antecipação, recortou-lhes perfeitamente o perfil.

"O plutocrata não é, pois, nem o grande industrial nem o financeiro: é uma espécie híbrida, intermediária entre a economia e a finança; é a "flor do mal" do pior capitalismo. Na produção, não é a produção em si mesma que lhe interessa, mas a operação financeira a que pode dar lugar; na finança, a administração regular dos seus capitais não lhe interessa demasiado, mas sim a multiplicação graças a acrobacias contra os interesses alheios. O seu campo de acção está fora da produção organizada de qualquer riqueza e fora da normal circulação dos capitais em dinheiro; ele não conhece nem os direitos do trabalho, nem as exigências da moral, nem as leis da humanidade. Se funda sociedades, é para usufruir dos seus bens e passá-los a outros; se obtém uma concessão gratuita, é para a revender já como um valor; se se apodera de uma empresa, é para que esta suporte os prejuízos que outras o fizeram sofrer. Para chegar a isso, o plutocrata age no meio económico e no meio político usando sempre o mesmo processo: a corrupção. Estes indivíduos, a quem alguns chamam também grandes homens de negócios, vivem precisamente de três características dos nossos dias: instabilidade das condições económicas, falta de organização da economia nacional, corrupção política."
(Oliveira Salazar, Como se levanta um Estado, págs. 121 e 122, cit.)