31.10.06

"GO TO THE ROOT"


"If you go to the root with all you've got, there is no way you won't injure family, friends, and innocent bystanders."

Norman Mailer

A DOAÇÃO


O primeiro-ministro foi até Moçambique - como bem sintetizou o Miguel Sousa Tavares na TVI- doar Cahora Bassa aos autoctónes. Foram para aí quarenta anos e mais de dois mil milhões de euros enterrados. O "contrato" com Moçambique equivale a eu emprestar mil euros e um carro a um amigalhaço e, depois, de volta, receber uns cêntimos e a cadeirinha do bébé que ia no carro. Parece que há para aí uns duzentos e tal milhões de euros que Moçambique nos deverá dar em "tranches" e, em 2008, está tudo "saldado". Também fica a ex-colónia liberta - e os cofres do Estado português também - dos pagamentos aos administradores lusos que lá andaram a encher a pança. O sr. Gebuza não fez a coisa por menos e lembrou a um vago e "poético" Sócrates que, naquele momento, se enterrava o último vestígio da "ocupação estrangeira". Em delicadeza, foi o melhor que se pôde arranjar. Nunca soubemos lidar com esta coisa chamada Ultramar. Nem o dr. Salazar, nem a democracia. Numa altura em que o país se esfarela na ilusão "tecnológica", na obsessão "deficitária" e no consumismo desenfreado que alimenta o sistema bancário e a inconsciência "tuga", Sócrates foi a Moçambique "aliviar-se" do velho fardo do homem branco. E até pagamos - e de que maneira - para isso.

POLÍTICAS DO ESPÍRITO


Um povo que não respeita a sua história ou, pior do que isso, que "adapta" a história ao bel-prazer do momento, é um povo sem memória e, a prazo, condenado. Uso o termo "povo" porque, em democracia, é suposto o governo dele emanar. A ministra da Cultura, uma amável professora catedrátrica de Letras do Porto, como não podia deixar de ser, quer deixar a sua "marca de Zorro" no sector que lhe entregaram. A colecção Berardo não só não chega, como nem sequer foi ela que tratou do assunto. E, assim como asssim, é do comendador. O resto são pagamentos e simpáticas cedências provisórias ao Estado. Deu-lhe, por isso, para o tal "museu da língua e dos descobrimentos" no único espaço que restou da Exposição do Mundo Português, dos idos de 40, o "museu de arte popular", a Belém. A coisa ministerial tem, aliás, uma designação horrenda: "Mar da Língua - Centro Interpretativo das Descobertas". Certamente não passará de mais um "pólo" masturbatório para sentar os amigos e os primos dos amigos. O pavilhão que sobreviveu à Exposição, e cuja concepção pertenceu ao arquitecto Jorge Segurado, acolhe o conceito estético-político de uma época da história portuguesa do século XX que muito democrata "esclarecido" não consegue engolir. Teria sido porventura bom que ele não tivesse existido, mas o facto é que existiu. A resposta de Pires de Lima para a eliminação daquele espaço e do respectivo acervo é concludente: "A vida dos museus não é eterna. Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude conservadora." E, depois, não resistiu à sua própria ideia de "política do espírito", se é que tem alguma: "É preciso fazer opções quando se faz política cultural. Um museu da Língua e dos Descobrimentos é mais aberto e mais rentável". De acordo com a professora, o novo museu "é de uma importância fundamental para a autoconsciência da língua". Esta da "autoconsciência da língua" esmaga qualquer pedragulho dos anos 40, não é verdade? Será que a ministra tem "consciência" do que anda a dizer? Depois, o novo museu "será meramente virtual, sem acervo físico, apostando nas novas tecnologias e na interactividade". Isto é, o "plano tecnológico" também serve para rasurar a história. Alguém ainda tentou explicar à ministra que o museu de arte popular - vide Público - "é, em si mesmo, um documento histórico incontornável para o estudo da história do Estado Novo." Pois é. Todavia, a "política do espírito" agora é outra ou nenhuma. A diferença é que ninguém falará destes quando morrerem.

Adenda: Agradeço a António Machado a precisão sobre o que sobrou da Exposição.

OS NOSSOS


"Creio que [Deus] tem um grande sentido de humor. Às vezes dá-nos um abanão e diz-nos "não te leves tão a sério". Na verdade, o humor é uma componente da alegria da criação. Em muitas questões da nossa vida, nota-se que Deus também nos quer impelir a ser mais leves, a perceber a alegria, a descer do nosso pedestal e a não esquecer o gosto pelo divertido."

Joseph Ratzinger, Deus e o Mundo - a fé cristã explicada por Bento XVI, uma entrevista com Peter Seewald, Tenacitas, Outubro de 2006

O EXEMPLO DA D.EDITE

Fiquei a saber que a Sra. D. Edite Estrela entende que uma mulher com o vírus HIV não deve dar à luz. Mais. Que uma criança filha dessa mulher não deve vir ao mundo porque poderá ter SIDA. Ou seja, essa mulher pode e deve recorrer ao aborto para interromper a sua gravidez, se quiser. Moral da história da D. Edite: os seres humanos portadores do HIV são menos pessoas que as outras. Estou esclarecido.

30.10.06

PLATEIAS

Estive aqui. Eu e parte do regime. Dois ministros - um de Estado - e um secretário de Estado. Um prémio Nobel, a maçonaria, o dr. Perestrelo, a Pilar, o dr. Balsemão, a Joana (simpatiquíssima), o sr. Carvalho da Silva, a Teresa de Sousa, a Flor Pedroso, o prof. Freitas. Interminável e insuportável, o prof. Freitas apresentou o livro a seguir à Joana "anti-imperialista". Federico Mayor Zaragoza foi espanhol, ou seja, franco, alegre, descontraído, em suma, um anti-Freitas sebentário que mais parecia estar a querer sentar o homem numa cadeira de uma imaginária academia feita à medida da sua confusa cabeça. Adiante. Mário Soares é suficientemente grande para pairar sempre acima das pequeninas cabeças de alguns "camaradas" que se imaginam agora donos disto. Alguns eram meus amigos e eu, pelo menos, ainda sou amigo deles. Se confundem as coisas, é porque não aprenderam nada com os autores do livro. Até Freitas, no seu desalinho mental e político, lá chegou. Não custa nada. Não sou eu que sou socialista e "tolerante". Como eles dizem, eles é que são. Saúde e fraternidade, dr. Soares.

LER NA RETRETE


Caro JCD: percebo-o. Tanto percebo que me parece que a coisa merece transcrição integral, com sublinhados meus.
PNL

por Eduardo Prado Coelho (O fio do horizonte, in Público)

A Casa Fernando Pessoa organizou um debate sobre o Plano Nacional de Leitura, com a habitual moderação de Carlos Vaz Marques. Não tendo o dom da ubiquidade, não tive a oportunidade de estar presente. Lamento, porque o tema interessa-me e o convite incluía um "dossier" com declarações várias sobre a questão. Acontece que a leitura destes textos tem aspectos impressionantes. Alguns são considerações equilibradas e razoáveis. Mas outros revelam a mais espantosa ignorância e vocação para a tolice desenfreada. Grande parte destas vem de blogues, que pela desenvoltura da escrita, uma espécie de tu cá, tu lá, parece que favorece o disparate.Tanta demagogia! Uma personagem anónima, em algo que se intitula "Rabbit"s Blog", diz esta coisa publicitária: "O Modelo e Continente têm umas promoções de autores que ganharam o Nobel a 3,50 euros. A vantagem deste programa é que, ao contrário dos programas estatais, não só não custa um cêntimo ao contribuinte como é capaz de pôr mais gente a ler". Deve tratar-se de um funcionário do Continente que se pretendeu pôr em bicos dos pés. E que, com esta oscilação entre um anarquismo de esquerda e um fascismo de direita, vai-se buscar sempre o grande argumento: o bolso dos contribuintes. Mas isto é secundário. Porque a grande estupidez está nesta incapacidade de diferençar entre a promoção de uns livros a preços mais ou menos ocasionais e o que deve ser a consistência e complexidade de um verdadeiro Plano Nacional da Leitura. Este é um dos tópicos, o que passa pela ideia de que se não pode gastar dinheiro público com projectos deste tipo. Ora eu devo confessar: sempre que ouço a expressão "o dinheiro dos contribuintes" puxo a pistola. E não costumo falhar os alvos.A segunda ideia, mais elaborada e requintada em demagogia, é a de que as pessoas lêem imenso, mas não lêem aquilo que os intelectuais queriam. Daí a fúria deles, desanimados por não serem promovidos. Isto tem ainda a ver com uma outra idiotice que se propagou: o Plano Nacional da Leitura teria por função dizer às pessoas o que devem ler. Neste plano, Vasco Pulido Valente, que até pode ser uma pessoa inteligente, acumula todas as coisas absurdas, insensatas e totalmente desconhecedoras da realidade que se podem dizer sobre estas matérias.Como se lê: num estilo mais ou menos aparvalhado, um tal senhor Luís Aguiar Conraria, no blogue "A destreza das dúvidas", diz que "nunca se leu tanto como se lê hoje; basta ver o sucesso em Portugal de Dan Brown ou de Miguel Sousa Tavares. As comissões de bom gosto acham que devíamos ler Sophia de Mello Breyner e não Margarida Rebelo Pinto. (...) Provavelmente mandavam-nos ler poesia do século XIV no original". Eis o que se chama alguém que sabe verdadeiramente o que é literatura. Quanto ao meu amigo José Saramago, afirmou que a leitura será sempre questão de minorias. É verdade, embora o número que constitui essas minorias varie conforme os países. Mas David Mourão-Ferreira dizia escrever para "uma imensa minoria", e é portanto no "imensa" que está a questão."
Apenas dois ou três comentários. EPC, como bom intelectual orgânico - seja lá qual for o regime - tem o "dever cívico" de defender aquilo que o regime apresenta como bom para a educação geral das massas e para a sua subtil introdução nos estudos literários. Em 1975, como em 2006. Não pode, por isso, deixar de se colocar do lado do obscuro Plano Nacional de Literatura, coisa que, pelos vistos, está perfeitamente esclarecida na sua extraordinária cabeça. Em segundo lugar, EPC, apesar de ser uma "figura de esquerda", permite-se - o que é que ele não se permite - exibir a sua superioridade intelectual sobre os assalariados do eng.º Belmiro de Azevedo, num comentário de excelente recorte literário sobre um bloguista. E fazer um trocadilho reaccionário acerca do "dinheiro dos contribuintes", como se o "PNL" se pagasse por si. Depois, é claro que na cabeça de EPC, Vasco Pulido Valente não pode jamais pronunciar-se - nem ele, nem mais ninguém que não pertença à nomenclatura "intelectual" do regime - sobre uma "realidade"(?) que é apenas "real" nas cabeças fulgurantes e amiguistas dos membros da referida nomenclatura. O resto é lixo e supermercados. Finalmente - e aqui EPC tem razão - a frase do Conraria não passa de um dichote idiota sem qualquer relevância. Se bem que me pareça que cada um é livre de ler ou de não ler o que lhe aprouver, não é certamente o "PNL" (e, muito menos, o EPC) que vai induzir o prazer de ler - o mau, o bom e o péssimo - nos putativos leitores. Entre nós, será sempre uma "imensa minoria" a fazê-lo. Nem que seja na retrete.

29.10.06

OH JOÃO...


... não conhecia esta sua faceta "democrática". Olhe, ao minuto 12, o telejornal da RTP já tinha posto o "querido líder" a regozijar-se pela sua esmagadora vitória (na moçãozinha, a coisa ainda conseguiu ser mais aconchegada: 99%) o qual atribuiu isso à alegria do partido com a sua governação e, naturalmente, com a sua única e excelsa pessoa. Depois, intervalou com uma peça sobre "pirataria informática" e, agora, aos 20, lá passaram Louçã, Jerónimo de Sousa e Lula. Ainda bem que existem cidadãos exemplares como o João que estão sempre na primeira linha da denúncia dos "filhos da puta". Bem haja.

TRAGICOMÉDIAS


São a farsas como esta e esta que a minha querida amiga Maria Alexandra Mesquita (vide comentários a este post), chama "políticas públicas da cultura"? Se é, mais vale estar quietinha e, repito, acabe-se de vez com a tragicomédia que é o Ministério da Cultura. A lei orgânica "ficciona" novas entidades, nomeadamente as entidades públicas empresariais em que se vão tornar os teatros nacionais. No Porto, Ricardo Pais parece andar contentinho, já que não tem dado entrevistas e, em compensação, Pires de Lima tem-lhe dado muita coisa. Em Lisboa, o moribundo D. Maria II - que, em apenas dois anos, passou de SA para EPE - está enguiçado naquele revivalismo pseudo-moderno do ex-director do Trindade. E a Companhia Nacional de Bailado e o único teatro de ópera português, vão "fundir-se" (ou melhor, refundir-se) em torno de uma coisa chamada "OPART, organismo de produção artística, EPE", "conservando as respectivas identidades". Muito me vou eu rir por causa desta do "conservando as respectivas identidades". É claro que, apesar dos "títulos", a fonte pagadora - descontando o mecenato que, no caso da CNB, é o seu "bezerrro de ouro" - é a mesma, o OE e os impostos. Quanto às quatro delegações regionais do ministério - que deviam ter sido extintas com esta lei orgânica - passam a chamar-se mais prosaicamente "direcções regionais". Continuarão bovinamente a não servir para nada. Está, pois, aberta, como nos outros ministérios, aliás, a corrida.

QUERIDO LÍDER


A grande surpresa do dia é, sem sombra de dúvida, a eleição, por 97% dos votos dos militantes "mesmo militantes" do PS, do seu secretário-geral, o honorável camarada José Sócrates. Nem no tempo em que o partido era vivo se alcançou tamanha proeza. A última vez que um líder foi reconduzido neste registo albano-coreano aconteceu em 2001, com o camarada António Guterres. Depois seguiu-se uma entronização patética no Pavilhão Atlântico que culminou, em Dezembro do mesmo ano, com a fuga envergonhada do líder depois de uma estrondosa derrota na urna que conta, o país. Não sou socialista, mas teria vergonha de ver o partido de Soares, Zenha, Soromenho ou Medeiros Ferreira transformado neste imenso e branco deserto "ideológico", dirigido por um bando de jovens turcos tecnologicamente "musculados". Ironia a deste PS que nos ensinou a "amar" a democracia e que, agora, está nas mãos de uma pequeníssima nomenclatura de aprendizes de democratas. E maus, ainda por cima. Paz à sua alma socialista.

28.10.06

PORQUÊ -2

Simpaticamente, o João Morgado Fernandes "tentou" esclarecer-me acerca desta coisa: "O Estado vai atribuir 169 milhões de euros de indemnizações compensatórias à RTP e à agência Lusa no próximo ano, revelou hoje à Lusa o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva." E deu esta extraordinária "explicação: "A RTP e a Lusa são, de facto, empresas estatais. É o Estado, a malta toda, que as paga. Se isso deveria, ou não, ser assim é uma outra história.". Olhe, João, com este argumento e com este orçamento de Estado, por exemplo, para a "cultura", não faltarão directores de teatros e de outras "entidades públicas empresariais" a berrar pelo pão. Da "cultura" e de outros lados. Reparou na brutalidade de massa de que estamos a falar? Bom. Quanto ao canal da RTP onde eu vejo os telejornais, acho que não me enganei. Todavia, não deixa de ter alguma razão. A "filosofia" da coisa ressuma, de facto, a Ramiro Valadão (um bom homem) e a Dutra Faria, só que em "democrático". E a RTP-Madeira, quando lá vou, não vejo. Finalmente, não sou idólatra nem nunca fui dado a "grandes explicadores" ou a "queridos líderes". Como V. é mais "democrata" e "incontrolável" do que eu, imagino que respeite as escolhas livres dos madeirenses. Ou será que a Madeira, para além de ilha, também é puta ou filha de tal?

Adenda: "Ontem a RTP deu outro exemplo de como se actua pela imagem: enquanto o Ministro das Finanças fazia o seu discurso punitivo contra as finanças da Madeira, Jardim aparecia em imagens de fundo a passear-se num elefante (...) É verdade que Jardim muitas vezes pede-as, mas não pode ser a televisão pública a dá-las." Está a ver, João, "como amor com amor se paga" literal e chorudamente?

ISOLAMENTO E FRUSTRAÇÃO

O inspector geral da administração interna, em entrevista ao Diário de Notícias, disse sentir-se "isolado e frustrado" porque o dr. António Costa não lhe passa cartão. Nem na recente ida a uma comissão parlamentar, o dr. Costa teve o cuidado de consultar o seu órgão externo de controlo da actividade policial e, a ele, preferiu a opinião do comandante-geral da GNR. Os números de "vítimas" que o senhor ministro apresentou, eram, por isso, totalmente desconhecidos do juiz Clemente Lima. Soube deles pela televisão. Como expliquei outro dia num "comentário" a um post, a IGAI - uma criação legislativa de Dias Loureiro para o putativo vice-procurador geral da República de Pinto Monteiro, Gomes Dias, o ainda auditor jurídico do MAI - só "brilhou" com as tutelas de Alberto Costa, Jorge Coelho, Fernando Gomes, Severiano Teixeira e Figueiredo Lopes. E com Rodrigues Maximiano como inspector-geral, que obteve destes sempre um apoio incondicional. Quando Maximiano se aposentou, o dr. Costa deixou a IGAI num limbo até pôr lá o juiz Clemente Lima. Pelos vistos, até este se queixa da falta de apoio político do ministro. Assim sendo, e conhecendo-se o "bom" e musculado feitio do dr. Costa ("deste" dr. Costa, e não do que eu conheci na primeira campanha presidencial de Mário Soares), a Clemente Lima - por si mesmo, ou por interposto ministro - não deverá restar muito mais tempo de "isolamento" e de "frustração".

"O" ANTÓNIO


Numa noite destas, enquanto trabalhava no livrinho "Portugal dos Pequeninos", à minha frente, na tv, passava uma enternecedora entrevista de Judite de Sousa ao sofredor, melancólico e grande escritor dr. António Lobo Antunes. Desde logo, o tratamento era de grande intimidade. Para Judite, o dr. Lobo Antunes era "o" António. "O" António, aqui há uns anos atrás, tinha um razoável pó às entrevistas. Deixei-o por alturas de "Auto dos Danados" e só voltei, muito tempo depois, por causa das crónicas. Ainda tentei ler "Que farei quando tudo arde?". Tenho por aí espalhados mais livros "do" António, porém, confesso, não tenho pachorra para os ler. Fico sempre com a sensação de que, à semelhança do que acontece com as edições americanas dos seus textos, "o" António não perderia nada se retirasse entre cem a trezentas páginas dos seus "romances". É que um homem perde-se, entre o tédio e o não avanço da "trama", naqueles tropismos pseudo-originais, "a la Faulkner", "do" António. O pacto leonino que tem com a sua editora, a D. Quixote, não o salva, mesmo assim, de um honroso quarto ou quinto lugar em vendas nacionais face a uma inesperada e inexplicável Inês Pedrosa, a uma Lídia Jorge ou ao bardo Manuel Alegre. Outro dia, "o" António decretou que o "romance" de Rui Cardoso Martins, também da D. Quixote (de onde é que havia de ser?), era o melhor "primeiro livro" que ele tinha lido. Não foi só ele. A sra. D. Clara Ferreira Alves, por acaso assalariada das "Produções Fictícias", do dito Rui, naquele maravilhoso programa "Eixo do Mal", também teceu encómios, apesar de o livro ser em português. Em suma, "o" António, aquele que em tempos idos venerou o PC, mas que "à" Judite de Sousa disse que tinha "tido medo" num comício em que estava de tudo de punho erguido aos berros - um momento de "humanização" do sr.dr. - está aí para as curvas e para produzir mais bacamartes "literários". Alguém há-de ler, nem que sejam só as primeiras cinquenta páginas. É que por aí, normalmente, ficamos esclarecidos.

EM PONTA DOS PÉS

Estive a passar os olhos pelas "novas" leis orgânicas dos ministérios. Fusões, extinções e criações, há para todos os gostos e feitios. A parte "gira" é assistir, nos próximos dias e semanas, aos corropios, telefonemas e outras forma de dizer "estou aqui" (ou, "deixei de estar aqui") dos senhores e das senhoras da altas, médias e baixas nomenclaturas que agora caem mas que logo a seguir se podem levantar outra vez. Afinal, o congresso albanês do senhor engenheiro sempre vai servir para alguma coisa.

27.10.06

PORQUÊ

"Incontrolável" João : explique-me lá, se souber, por que é que, no rodapé do telejornal apresentado pelo "escritor" Rodrigues dos Santos, passou uma frase intrigante que dizia o seguinte - "O Estado vai atribuir 169 milhões de euros de indemnizações compensatórias à RTP e à agência Lusa no próximo ano, revelou hoje à Lusa o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva.". O que é que o Estado terá feito ou deixado de fazer a estas mui nobres instituições, designadamente à Lusa que, por assim dizer, afinal "não conta para nada"? A RTP e a Lusa valem, juntas, mais do que a Madeira? Se calhar valem. Vá lá saber-se porquê.

MOVIDA LINGUÍSTICA


O senhor engenheiro foi a Aveiro e tinha meia dúzia de manifestantes para o apupar. Está na moda e não adianta nada. Adiantava mais registar o que ele disse a propósito de mais uma encenação em torno do "plano tecnológico", lado-a-lado com o mago Mariano Gago. Sem graça - tinha-a esgotado à entrada quando, todo torcido, disse que recebia com "humor" todas as manifestações - fez um trocadilho com aquela coisa do "it's the economy, stupid" que transformou em "it's knowledge, stupid". E, para que não ficassem dúvidas, traduziu: "é o conhecimento, estúpido". Bonito efeito "tecnológico", sem dúvida. Mas não ficou por aqui. De seguida, saiu-lhe uma "espanholada": "movida" que, por sinal, não tinha nada a ver com o que se estava a passar em Aveiro. Sócrates não é exactamente um modelo de boa disposição e estas leviandades linguísticas não lhe "ficam" bem. Do mal, o menos. Mais vale manter aquele ar charmoso-irritado do que tentar-se na "movida" da linguagem. É muito traiçoeira.

O DESPACHO

Depois de sucessivos dias malditos, a "central política" do governo decidiu dar ordem a Teixeira dos Santos para "punir" a Madeira. O ministro fê-lo por despacho e pelas televisões, como lhe competia. "Bater" em Jardim é daquelas coisas que costumam cair bem junto da populaça e da opinião que se publica. Por 119 milhões de euros, lava-se a honra perdida nos últimos dias? Não lava. É, insisto, uma questão meramente partidária e de odiozinho de estimação. Esfolar o "pato bravo" em público para que o público salive de gozo e se esqueça da sua própria miséria, é sempre lucrativo. A curto prazo, mas lucrativo.

GRANDE


Mário Soares reapareceu na SIC, numa entrevista com Mário Crespo que mantém sempre aquele ar de quem está a mascar pastilha elástica. Independentemente disso, Soares estava em grande forma e falou do seu novo livro, a apresentar na segunda-feira. Sobretudo falou do mundo e do que se pode esperar dele nos próximos anos. Não é preciso ser de esquerda para acompanhar com prazer a forma como Soares discorre e expõe o seu pensamento nesta matéria. Quem é grande, é sempre grande apesar das adversidades. Ou fundamentalmente por causa delas.

EXTINÇÕES


A ministra da Cultura, num acesso de lucidez, anunciou o propósito de acabar com as "capitais nacionais da cultura". As duas últimas, Coimbra e Faro, constituíram razoáveis desastres, financeiros e "culturais" propriamente ditos. Porém, Isabel Pires de Lima podia prosseguir com o acabar de algumas inutilidades manifestas que persistem no ministério e, por fim, acabar mesmo com ele. Por exemplo, extinguir as "delegações regionais" do MC - essas inúteis sinecuras político-partidárias - seria um bom começo.

O MÉTODO E OS PROTAGONISTAS - 2

O Pedro Magalhães deve ser lido ao longo do dia. Por dois singulares motivos. Porque houve mais uma sondagem sobre o aborto - experimentem ir a Fornos de Algodres perguntar o que pensam da "interrupção voluntária da gravidez" em vez de "aborto" - e porque o Pedro, provavelmente, meditará sobre a "popularidade" dos líderes. Sócrates, valha isto o que valer, já cai. As "esquerdas" e o PR sobem, e Mendes não aproveita, para já, a pequena implosão em curso na maioria e no governo. O autoritarismo democrático de Sócrates é algo que, mais tarde ou mais cedo, como o gelo, se lhe quebrará à frente do nariz. O congresso albanês que aí vem, não o vai ajudar em nada. Sócrates é bom quando vai ao ringue. Ir para cima dele sozinho, com as bancadas cheias de homens e de mulheres-banana a babarem-se, atentos, venerandos e obrigados, só o diminui. Daqui para diante, cada cavadela, sua minhoca. Não há votos de borla.

26.10.06

MAIS UM

Mil e quatrocentos milhões de euros foi o lucro do BCP, do BES, do BPI e do Totta nos primeiros nove meses do ano. Vai daí, o ministro das Finanças despertou do seu torpor optimista e prometeu mais "tributação" dos bancos. A banca aprecia jogar "à cabra cega" com os governos e a administração fiscal e, geralmente, costuma ganhar. De vez em quando, lá vem um governante que imagina colocar em sentido o sector. O dr. Teixeira dos Santos é só mais um.

DIZ O ROTO AO NU



Com língua e cara de pau, Manuel Maria Carrilho apareceu numa sessão pública da Câmara Municipal de Lisboa para zurzir em Carmona Rodrigues. A semana passada, o seu "número dois" disse com todas as letras que Carrilho, de vereador, só conservava a toponímia. "Betão, inacção e embuste" foram os mimos usados por Carrilho contra o presidente e Maria José Nogueira Pinto. A diferença entre Carrilho e o último socialista que tomou conta de Lisboa, é que João Soares, à sua peculiar maneira, "amava" a cidade. Carrilho só gosta de si próprio e finge intermitentemente que se preocupa com Lisboa. Por isso perdeu. Carmona não conta. Falou o roto ao nu.

O REPRESENTANTE


Para a semana, o dr. Pinto Monteiro, o sr. PGR, terá que indicar novo nome ao conselho superior do Ministério Público para vice-procurador-geral, normalmente a criatura que trata da intendência. Com o devido respeito, a coisa é muito simples. Ou o sr. PGR torna a colocar em cima da mesa o nome do dr. Mário Gomes Dias, ou o sr. PGR jamais se libertará da canga corporativa que lhe querem vestir. O dr. Pinto Monteiro, como PGR, é o representante dos "ausentes, dos incertos e dos incapazes" e do Estado enquanto acusador público. Não representa o sindicato do MP.

LENDO OUTROS

O Eduardo Pitta: "Dizer sim, ou dizer não, à «despenalização da interrupção voluntária da gravidez» não é o mesmo que dizer sim, ou dizer não, ao aborto. Um aborto é um aborto. Não é uma moratória judicial. Se o Tribunal Constitucional validar os exactos termos da pergunta, o que vai estar em causa no referendo é uma questão de polícia."

"GRANDES PORTUGUESES"?


Parece que houve sessão daquele magnífico programa da D. Elisa, "Grandes Portugueses". Da RTP, só praticamente vejo os telejornais para tentar perceber até onde é que a falta de vergonha pode ir. Todavia, um amigo avisado teve a desdita de assistir a qualquer coisa. E mandou-me um mail que não resisto a reproduzir:

"Aquela "ideologia" da juventude [Joana Amaral Dias] - a marechala - de cambulhada com a senectude "intelectual" dos "toujours-les-mêmes", foi mesmo patética. Aquele Lourenço [Eduardo] - sempre chato e enredado - já faz pena. Cada vez se parece mais com um oficiante da monita de Loyola. E o Torgal [Reis] (de Coimbra, como não podia deixar de ser) que mordeu ferozmente o Saraiva [José Hermano] - que ainda foi o único que teve alguma graça -, mostrou bem que esteve à altura daquele acamado mental da história de trazer por casa aos domingos. E mais uns quantos "clowns" de serviço."

Não perdi nada, pelos vistos. E "aquele-cujo-nome-não-pode-ser-pronunciado", por este andar, e pelo andar do senhor engenheiro, não tarda nada ainda acaba medalhado.

25.10.06

QUANDO TUDO CAI - 2


Enquanto o telejornal oficioso da RTP prossegue na sua contumaz função propagandística, os outros canais mostram um país devastado por uma intempérie imprevista. Não há "plano tecnológico" que valha na desgraça. Lembrei-me de um post que aqui pus há três anos. As imagens de hoje são cruéis e mostram a realidade como ela é. Como ela continua a ser.

QUANDO TUDO CAI

Um estudo qualquer veio demonstrar que há umas boas dezenas de pontes prontas para cair a qualquer momento. Julgo que o distrito mais penalizado por esta eventualidade é Viana do Castelo. A célebre vaga do betão não pôde, pelos vistos, acudir a tudo. Mesmo as preciosas auto-estradas, os itinerários principais, as vias de circulação internas e externas ou as circulares, estão quase sempre em permanentes alargamentos ou encolhimentos. Até uma obscura rua de uma qualquer nossa cidade, não escapa ao esventramento. A paisagem assemelha-se muitas vezes a um estaleiro. Infelizmente nada disto chega para prevenir o pior. Fica-se com a sensação de que nada se planeia e que tudo é fruto do improviso e da adivinhação. Entretanto, as estruturas envelhecidas e em apodrecimento irreversível, vão cedendo. Como bons parolos, vivemos à superfície armados em "modernos". Só quando tudo cai é que se vê, que, por baixo, não há nada.

SOBRE MANHOSOS


Almada Negreiros, via Minha Rica Casinha

O OUTRO MAPA COR-DE-ROSA

Ora aqui está outra pergunta interessante - tal como as relacionadas com a banca - para colocar ao regime. Se o José Medeiros Ferreira me permite um "adiantamento", talvez não fosse má ideia rever os nomes das criaturas (e respectivas proveniências) que o Estado português tem "enviado" para Moçambique para "gerir" o assunto Cahora Bassa. Era meio caminho andado para perceber o tal "peso" da coisa no "mapa na dívida pública". Bem haja por confrontar o regime com mais um dos seus fantasmas.

EVIDENTEMENTE...

... que a intenção é benemérita. Todavia, por que é que ninguém se lembrou de perguntar ao senhor ministro a razão da revogação do nº 10 do art. º 36º do Código do IRC, perdoe-se-me o "tecnicismo" irritante? É que o número 10 em vigor resolvia, designadamente, as "situações repetidas de abuso por redução da matéria colectável" com a "desculpa" da eliminação da dupla tributação. Mantivesse o artiguinho na sua actual redacção e já não precisava de se "preocupar" tanto com "novas medidas", sr. ministro. Todavia, a banca impõe respeito a praticamente todos os sectores políticos. Por isso há tão poucas perguntas e tão poucas respostas: presume-se que a banca está sempre de "boa-fé". E o respeitinho é muito bonito.

24.10.06

PENA

O prof. Vital Moreira "virou" uma espécie de "Luís Delgado com doutoramento" do governo. Até o prof. Cavaco Silva - porventura esquecido dos mimos com que foi brindado nas eleições presidenciais - o nomeou para presidir às seguramente patéticas comemorações dos 100 anos da implantação da República. O Causa Nossa oscila, pois, entre os ódios e os amores de perdição de Ana Gomes e o "Diário do Governo" explicado às criancinhas pelo prof. Vital. Uma pena.

O DR. CANAS

Por causa das continhas mal feitas nos partidos, aquando das legislativas de 2005, o PS fez-se comentar pela excelsa pessoa do dr. Vitalino Canas. O PS não tem sorte com os seus porta-vozes. Primeiro, foi o dr. Pedroso. Depois, o actual ministro do Trabalho. A seguir, talvez o dr. Coelho, não me lembro, mas, apesar de tudo, o melhorzinho. E agora, o dr. Canas. Não tem jeito nenhum e parece que já pediu para sair. Façam-lhe urgentemente a vontade.

CONVERSA ACABADA

Depois de dezenas e dezenas de inúteis reuniões, é que os sindicatos da função pública - dos da CGTP à UGT - chegaram à brilhante conclusão que andavam a participar em reuniões "fingidas". O dr. Figueiredo já devia ter ficado a falar sozinho há muito tempo.

FAZER DE CONTA QUE O PAÍS NÃO É O QUE É

A hora de almoço também serve para conviver. Em poucas linhas, é o que pretendo fazer por causa dos delíquios em torno da "mariquice". Em primeiro lugar, agradecer ao Pedro Magalhães ter "comentado" a sondagem da Católica e de ter remetido para "outro" comentário. Os esclarecimentos que ali apresenta são cristalinos e não precisam de mais conversa. Depois, aqui, um blogue onde escrevem amigos, pergunta-se parvamente se eu e o Eduardo Pitta somos favoráveis "à subjugação da mulher" ou "à proibição de casamentos interraciais". Oh meus amores, está-se mesmo a ver que somos, não somos? Aliás, e falo só por mim, parece-me que já devo ter escrito umas cem vezes o que penso do casório seja lá entre quem for. Finalmente, a Fernanda. Para além do Roth e do desprezo por certa hipocrisia judiciária e outras coisas que mais se irão descobrir, também temos em comum a opinião sobre o casório. Só que depois, ao zurzir na "bruxa da Areosa", como dizia o Mário Viegas, (Agustina que me releve a lembrança), a Fernanda diz isto: "o problema, obviamente, é que para agustina um par de pessoas do mesmo sexo e um par de pessoas de sexo diferente não são a mesma coisa. não são da mesma natureza." Oh Fernanda, por mais voltas que eu dê à minha tresloucada mona, não consigo enxergar a "identidade" e, muito menos, a "igualdade" na coisa. Quem vive com pessoas do mesmo sexo, fá-lo exactamente por causa da respectiva natureza. Já pensou que não existe relação "mais viril" do que a que se consuma entre dois homens, tal como não há relação "mais feminina" do que a que se desenvolve entre duas mulheres? E que nenhuma das duas hipóteses é da mesma "natureza"? Por consequência, resta uma terceira hipótese que, por mais que doa, é a mais vulgar: quando estão em causa pessoas de sexo diferente. Qualquer destas três hipóteses, de diversa "natureza", merece tutela jurídica? Sem dúvida. Passar para as duas primeiras um instituto que foi concebido para a última, nem que seja a título folclórico? Não. Sabe porquê, Fernanda? Porque o legal e constitucional "princípio da igualdade" manda tratar o igual de forma igual e o diferente de forma diferente. E, não duvide, os "três pares" que lhe apresentei são todos diferentes na respectiva "natureza". Termino com palavras do Pedro Magalhães em resposta a Miguel Vale de Almeida por causa da sondagem: "A verdade é outra. Releio agora os resultados de um inquérito realizado em 1998 em parceria pelo ICS e pelo ISCTE, a instituição onde MVA trabalha, no âmbito do International Social Survey Programme. Questionados sobre as relações sexuais entre adultos do mesmo sexo (e, note-se, nem sequer se está a falar em "direitos"), 73% dizem que a sua mera existência "é sempre errada". MVA pode não gostar de viver num país onde as pessoas respondem desta maneira a estas perguntas. Agora, se o quiser mudar, fazer de conta que o país não é o que é, ou que tudo não passa de uma mera construção da Universidade Católica, não me parece bom ponto de partida." Já estou como o Gore Vidal: se o país seguisse os meus conselhos, era seguramente mais feliz. Como não segue, não vale a pena "fazer de conta que o país não é o que ele é".

BUDAPESTE 1956-2006

Quando for grande, quero escrever no Corta-Fitas. Assim e assim.

APARIÇÃO


Regressado dos mortos, Pedro Santana Lopes esteve ontem na televisão a fazer o que ele sabe fazer melhor: oposição. Com alguma da "autoridade" que lhe advém da circunstância de ter sido primeiro-ministro, "desmontando", por exemplo, o sub-profeta dr. Correia de Campos. Bem vindo.

GRANDES FRASES


"El secreto de la felicidad, o, por lo menos, de la tranquilidad, es saber separar el sexo del amor. Y, si es posible, eliminar el amor romántico de tu vida, que es el que hace sufrir. Así se vive más tranquilo y se goza más, te aseguro."

Mario Vargas Llosa, Travesuras de la niña mala

23.10.06

JUSTIÇA FISCAL SOCIALISTA


Já tinha lido o parecer e o despacho de concordância do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que permite isto. Desde há anos que o Estado não consegue - vá-se lá saber porquê - manter uma "relação" normal, em termos fiscais, com o sector bancário e vice-versa. São demasiadas as "excepções" e os "despachos casuísticos" para este sector que, como é do conhecimento público, é dos poucos que dá lucro no sector de serviços. O governo de Santana Lopes alterou o número 10 do artigo 46º do Código do IRC (eliminação da dupla tributação económica dos lucros distribuídos) no OE para 2005, uma vez que, por "fas e nefas" interpretativos feitos a propósito de casos concretos pouco claros, as SGPS's, nomeadamente através da banca, usavam e abusavam desta faculdade legal (cujo objectivo era apenas o de resolver a questão da dupla tributação económica dos lucros) para evitar abusivamente toda e qualquer tributação. Por exemplo, no caso das entidades instaladas na Zona Franca da Madeira, este dispositivo do art.º 46º do CIRC não se aplicava, mas antes e exclusivamente o art.º 33º do Estatuto dos Benefícios Fiscais. O mesmo se diga para rendimentos obtidos nas ilhas Cayman ou noutros "paraísos fiscais". Na proposta de OE para 2007, o governo socialista decidiu seguir a "doutrina" do referido despacho, com maior precisão cirúrgica e "abertura": pura e simplesmente revoga o referido número 10, ou seja, repõe a isenção de tributação para a banca, quando, inicialmente, apenas previa alterá-lo (v. pág.52 online). Acontece que se trata do mesmo OE que impôe "rigor", "contenção" e alteração das regras de tributação para os menos "poderosos" - inclusivamente para os deficientes ou para os pensionistas de três dígitos - passe o populismo da expressão. Já sabíamos que o poder político trata bem a banca e que a banca trata bem o poder político democrático. A Associação Portuguesa de Bancos reivindicava, desde há algum tempo, a revogação do nº 10 do art. 46º do CIRC. Foi preciso um governo socialista, o tal da "exigência para todos", para o fazer. Parabéns, dr. João Salgueiro.

OS DIREITOS DE TODOS


O Luís Grave Rodrigues, com toda a legitimidade que lhe advém de ser advogado de causas "fracturantes" - a propósito, como é que está a correr aquele processo das duas meninas que se querem casar? -, dá-me uma valente zurzidela por causa deste post. Esclareço-o, desde já, que aplico a expressão "maricas" a muitas coisas, sem quaisquer intuitos ofensivos. Para não ferir susceptibilidades, troco-a por outra: questões "moles" e questões "duras". Para mim, que não nutro pelo instituto jurídico do casamento qualquer simpatia, discutir se dois same sexers podem ou não casar-se, é uma questão "mole". A instituição matrimonial, a avaliar pelas estatísticas, está em decadência e, por mais voltas que se dê, não foi concebido para pessoas do mesmo sexo. O resto é espectáculo nas televisões e recursos inúteis. Diferentemente, e o Eduardo Pitta já explicou isso bem, não vejo por que não hão-de ser tuteladas juridicamente situações de facto, ou criado um novo status jurídico, para comunhões de vida entre essas pessoas. Esta, sim, é a questão "dura". É, aliás o que diz a "octogenária" e "preconceituosa" Agustina: "todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". E, Luís, não seja tão lesto a passar atestados de homofobia a quem não pensa como V., nem imagine, por um segundo, que eu sou "deslumbrado" por quaisquer resultados de sondagens. Se acompanha o que escrevo, acha, sinceramente, que eu me deixo "deslumbrar" com facilidade? Ou que sou homofóbico? Um amigo meu, numa resposta a um daqueles inquéritos patetas de verão, ao lhe ser perguntado o que pensava da homossexualidade, respondeu com uma frase de Almada Negreiros que lhe recomendo para as suas "causas fracturantes": "não te metas na vida alheia se não quiseres lá ficar". Ou então outra, gravada numa t-shirt que vi em Greenwich Village: "homophobia means uncertainty about being heterosexual". Ora, garanto-lhe, Luís, se há coisa que eu não tenho nesta matéria é incertezas. Deixe-se, por isso, de catalogar tão levianamente os outros e respeite os direitos de todos.

22.10.06

CANTANDO E RINDO


"O Governo produz diariamente "agenda" que ocupa tempo dos jornalistas - não lhes permitindo investigar outras coisas - e espaço e tempo nos conteúdos mediáticos. Para conseguir a eficácia deste agendamento - isto é, o controle da importância hierárquica das notícias - o Governo necessita de controlar a marcação da cobertura e atenção mediáticas. Noutro Governo, Jorge Coelho fazia-o através da TSF. Agora, a Lusa é, neste domínio, de capital importância. Controlar a agenda pela Lusa pode significar a inundação dos outros media com informação governamental, deixando de fora acontecimentos previstos que não interessa ao executivo noticiar. "

in "As técnicas da nova propaganda -I", de Eduardo Cintra Torres, in Público


Vim da rua com o cão e começava o "telejornal" da 2:. Apesar de discreto, seguiu à risca o guião. O secretário-geral do PS e primeiro-ministro numa acção partidária nos Açores, a que se seguiu o senhor ministro da Saúde, como, aliás, já tinha acontecido às 20, com o "telejornal" da RTP-1. A diferença é que, em vez dos Açores, era, se não erro, Mangualde. Na 1, a coisa alongou-se através de Luís Filipe Meneses, o "aliado" social-democrata da estratégia informativa do governo. Ele quer palco, a propaganda oficial dá-lhe palco contra Mendes, como lhe compete. No meio da confusão desta semana, passou despercebida mais uma demissão na Lusa. Como diria o outro, lá vamos cantando e rindo.

A PERGUNTA VIRGULINA - 2

Para ajudar a responder a esta pergunta - sem demagogias, arcaísmos, moralismos, machismos, feminismos, e, sobretudo, sem nenhum temor reverencial para com o politicamente correcto, o relativismo e a chantagem jurídico-emotiva - abriu-se este blogue. Somos, graças a Deus, muito diferentes em relação a muitas coisas. E livres. Justamente por isso, podemos estar unidos no essencial: na negativa com que respondemos a essa pergunta. Por motivos diversos que lá irão, a seu tempo, aparecendo.

O MÉTODO E OS PROTAGONISTAS

O Orçamento de 2007 vai ficar na história desta maioria como a primeira cavadela na respectiva sepultura. E não, não é por causa do irrelevante Manuel Alegre ou dos "lapsos" em certas rubricas. É tão simplesmente porque, embora haja coisas inadiáveis e indispensáveis para serem feitas, o método e alguns protagonistas do método, não dão confiança nem a um morto.

O ESTALINISMO DEMOCRÁTICO

Por causa desta entrevista ao DN, Nuno Gaioso Ribeiro, que eu não conheço de lado nenhum, e que é o "número dois" do PS na Câmara Municipal de Lisboa, viu retirada a "confiança política" por parte da eterna concelhia de Lisboa do partido, presidida por esse dinossauro que dá pelo nome de Miguel Coelho. Ele é dinossauro, não por causa da idade (é novo), mas por causa da cabeça (velhíssima e caciqueira). Isto tudo porque Gaioso pôs em causa o "trabalho político" desse modelo de vereador virtuoso que tem sido Manuel Maria Carrilho. Para além de - acrescenta Coelho -ser um "vaidoso", o que certamente aprendeu com o "número um" por quem Coelho nunca morreu de amores. Agora, exige a demissão de Gaioso. No PC, estas coisas têm a ver com algo a que eles chamam "centralismo democrático" e a que eu chamo estalinismo "democrático". Lá por ser da "esquerda moderna", não me ocorre melhor designação para o método de Coelho.

NÃO SEJAMOS MARICAS - 2

Digamos que, em complemento a este post, o Eduardo Pitta - que não é jurista - explica melhor do que eu o "estado da arte" legislativa nesta matéria. E, em jeito de esclarecimento que não tenho que dar, mas que me é suscitado por "comentários" néscios que fui forçado a eliminar, sempre direi que não falo das minhas opções sexuais em público. Quem as quiser discutir comigo, é só enviar um mail e combinamos o hotel e o quarto.

"(...) O problema são as pessoas comuns. Portugal tem, há cinco anos, uma Lei que regula as uniões de facto. Todas as uniões de facto. É a Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio. Não é, como muita gente julga, uma Lei para as uniões de facto homossexuais. É a Lei geral, para heteros e homos. O que falta regular nessa Lei prejudica por igual a Maria que vive com o José, o António que vive com o Luís, e a Julieta que vive com a Fernanda. (...) A democracia regulou as uniões de facto, sem acautelar o essencial, e o guterrismo meteu os homossexuais no mesmo saco, mantendo as lacunas. Portanto, até ver, a Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, tem utilidade para efeitos fiscais, assistência na doença, precedência na marcação de férias em pé de igualdade com os casados, contratos de arrendamento, empréstimos bancários e pouco mais. É claro que o instituto do casamento resolvia o que falta resolver. Mas para quê, se é possível obter o mesmo regulamentando a Lei que existe? (...)"

21.10.06

LER OS OUTROS

O Pedro Correia, "É favor apagar a luz".

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 6


Numa fulgurante entrevista ao Sol, José Rodrigues dos Santos não faz a coisa por menos: "sou o rei da síntese". É bom lembrar - sobretudo para aqueles que não tiveram a felicidade de passar o verão na praia agarrados ao "Codex 632" - que Rodrigues dos Santos pariu, no ano corrente, uma das prosas mais vendidas do ano, a tal que mistura sopa de peixe com leite das mamas. Cento e vinte mil exemplares dão bem a dimensão da nevrose colectiva. Aos poucos, com paciência e método, Rodrigues dos Santos vai "evoluindo" de jornalista para "Paulo Coelho". Depois da "história", este "autor" quer agora, com a sua nova obra "A fórmula de Deus", "tentar provar a existência de Deus". O nosso "Coelho", por enquanto, é mais modesto do que o original, já que se contenta com umas tretas pseudo-inspiradas e pseudo-cultas, enquanto o outro nos pretende rigorosamente salvar. Lá chegará, dada a tal "realeza da síntese" que perpetra na sua "obra literária". Para já, o novo livro de dos Santos "tem descobertas da ciência" que - como lhe poderemos agradecer tamanha graça? - "levo ao grande público". Depois, vem esta pérola esmagadora: "se queremos provar a existência de Deus temos que procurar duas coisas: inteligência e intenção". Como diz o outro, importa-se de repetir? Tal como a "elite portuguesa" - de que Rodrigues dos Santos diz "achar-se muito importante" - também ele, pelos vistos, se acha "muito escritor". Nem aquela, nem ele são uma coisa nem a outra. Apenas se merecem. Não é fácil dizer bem.

DEIXAR PASSAR A CARAVANA

O dr. Cluny, com invejável clareza, num almoço de homenagem ao dr. Souto Moura, "alertou" para a "mexicanização" (sic) do MP caso seja aprovada legislação que desvalorize o papel do respectivo Conselho Superior, nomeadamente dando liberdade ao procurador-geral para escolher os seus mais directos colaboradores, leia-se, o vice-procurador-geral. É tudo, naturalmente, em nome da "autonomia". O poder político, sem intimidações ou complacências para com estes "recados sindicais", tem o dever de apoiar o PGR que nomeou e deixar passar a caravana.

NÃO SEJAMOS MARICAS


Aos oitenta e quatro anos, com a mesma complexa simplicidade com que escreveu que "a alma é um vício", Agustina Bessa-Luís, numa entrevista ao Sol, fala de costumes. E dá uma lição - pode aprender-se na "província" a ser-se cosmopolita e estudar na "cidade" sem nunca deixar de ser provinciano - a criaturas com o Frederico Lourenço, a Amaral Dias, o Vale de Almeida, os "ILGAS", a Câncio, os "JS's", os "JSD,", os "BE's" etc. etc. sobre o casamento e as opções sexuais. Perguntada acerca de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Agustina afirma que "falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido". Mais. "Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento. Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...) Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento. Os homossexuais não... Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". Vem isto a propósito de uma sondagem da Católica/Público/Antena 1/RTP sobre "vícios privados e públicas virtudes" que começou ontem a ser divulgada em relação ao aborto e que prossegue na edição de sábado para temas como a educação sexual nas escolas, a eutanásia, a prostituição, o consumo de drogas, a ordenação de mulheres, o uso de embriões e células para investigação, as quotas, a pena de morte e, finalmente, os direitos dos homossexuais. Os resultados são divertidos e demonstram, uma vez mais, que a raça não é para ser levada a sério. À cabeça, o mesmíssimo universo que ontem se inclinava maioritariamente para o "sim" ao aborto, acha que o "objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia é - imagine-se - "promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais" (37%), dividindo-se o resto pela "tolerância"e pelo "encorajamento" de outras "tradições e estilos de vida"(27%) ou por ambos (24%). Esta ambivalência, como explica caridosamente o Pedro Magalhães - está na hora de o Pedro começar a colocar estes estudos no seu blogue e de os comentar para se perceber como "evoluem" -, faz com que o dito universo seja claramente a favor da eutanásia (65%), da legalização da prostituição (55%), do sacerdócio feminino (58%), do uso de embriões para fins cientificos (45%, com 30% contra) e das quotas (48%, para 30% contra). Em oposição à pena de morte estão apenas 46% (41% a favor) e existe uma vantagem nítida (56%) para os que não querem outorgar nenhuns direitos "familiares" a same sexers, e ainda mais (67%) dos que são contra a adopção por estes. Finalmente, 64% dos inquiridos são contrários à legalização do consumo de drogas leves. Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua. Hipócritas, esquizofrénicos, mal amados, mal "sexuados", mal resolvidos, queremos, para as nossas vidas, o céu e o inferno, o tudo e o seu nada. Por isso a infelicidade anda espalhada como pó invisível pelos "lares" contentinhos de tantos portugueses. E por isso existe tanta gente que não quer votar no referendo sobre o aborto o qual, par delicatesse legislativa, foi transformado numa coisa "sexista", através de uma pergunta politicamente correcta e formalmente errada que ilude o essencial. Em matéria de costumes, já estou como a Agustina. Não sejamos maricas.

O MURO DAS LAMENTAÇÕES


Quando dei início a este blogue, pouco tempo depois de ter largado a direcção do Teatro Nacional de São Carlos, perpetrei muito sobre a "cultura" e o seu ministério. Cheguei a afirmar publicamente, no Expresso, que Manuel Maria Carrilho tinha sido "o" ministro da Cultura e que, daí para diante, só apareceram fantasmas. Como é que se explica isto? Carrilho tinha o dinheiro que Sousa Franco lhe deu - pastavam, nesse tempo, as "vacas gordas" - e tinha, em relação ao assunto, a cabeça relativamente bem arrumada. Sabia, em suma, mandar. Na melhor - ou pior, conforme as opiniões - tradição francesa, Carrilho imaginou, legislando em conformidade, um Estado culturalmente activo, fosse no sentido das artes e espectáculos, fosse no sentido da preservação dos bens culturais. Não me lembro, porém admito que tenha atingido o mítico 1% do OE que, tendo-lhe sido retirado a dada altura, o levou a abandonar o barco e a ser um dos mais eficazes e virulentos críticos de António Guterres. Isabel Pires de Lima, coitada, foi forçada a recuar até aos 0,4% o que, no PIB, representa 0,1% "em cultura". Esta decadência da instituição "MC" fez-me pensar duas vezes e - não por que seja liberal ou outra treta congénere - defender a sua extinção. Cabe ao Estado, agora tão emproado na sua "inovação" e "reforma", encontrar novas formas de empregar o dinheiro atribuído à cultura, privilegiando a subsistência do património nacional, intelectual e físico, e deixando para outra coisa qualquer - tipo "conselho geral das artes e espectáculos" (onde teriam assento o Estado, os mecenas que não compete apenas ao Estado "arranjar" mas, e sobretudo, a quem precisa deles e os representantes destes) - a gestão do subsídio. É bem mais realista do que fingir um ministério que mais parece um muro das lamentações.

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Qual loira, qual carapuça...

A PERGUNTA CERTA

Concorda com a liberalização total do aborto quando praticada até às 1o semanas?

20.10.06

A PERGUNTA VIRGULINA

7348-(6) Diário da República, 1.a série—N.o 203—20 de Outubro de 2006

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Resolução da Assembleia da República n.o 54-A/2006

Propõe a realização de um referendo sobre a interrupção
voluntária da gravidez realizada
por opção da mulher nas primeiras 10 semanas
A Assembleia da República resolve, nos termos e
para os efeitos do artigo 115.o e da alínea j) do
artigo 161.o da Constituição da República Portuguesa,
apresentar a S. Ex.a o Presidente da República a proposta
de realização de um referendo em que os cidadãos
eleitores recenseados no território nacional sejam chamados
a pronunciar-se sobre a pergunta seguinte:

«Concorda com a despenalização da interrupção
voluntária da gravidez, se realizada, por opção da
mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento
de saúde legalmente autorizado?»

Aprovada em 19 de Outubro de 2006.

O Presidente da Assembleia da República, Jaime
Gama.

O NADA


O Filpe Nunes Vicente tem razão. Só se deve ligar à merda quando andamos distraídos. Todavia, o episódio do Rivoli - como tem sido bem sublinhado por Pacheco Pereira que é insuspeito de ser bronco - releva igualmente de outras coisas. A farsa que o sr. Alves e a sra. D. Regina têm vindo a montar, desde o Teatro até ao Tribunal de Pequena Instância Criminal do Porto, com a cumplicidade - não sei se analfabeta, se propositada, o que é mais grave - de vários jornalistas, não pode obter a complacência do Estado por interposta Isabel Pires de Lima. A ministra da Cultura que, sobre o assunto, tem revelado uma dislexia inadmissível - na boca dela, o episódio já foi de "original" a "ilegal" - parece que vai "receber" esta gente na segunda-feira. É um gesto gratuito e politicamente errado. Daqui para diante, qualquer "criativo subsidio-dependente" fica autorizado a fazer o que bem lhe apetecer porque a sra. ministra está "disponível" para qualquer coisa. Não foi ela, aliás, que usou essa extraordinária expressão "tecido cultural" para se referir a estes mendigos "culturais" que o IA, pago por nós, alimenta? Para se perceber que, no meio, não existe vergonha na cara, a inevitável dupla Cintra e Silva Melo com que o Estado anda sempre ao colo, em declarações indignadas ao Público (sem link), profere barbaridades deste género:

"Saúdo a vossa determinação, coragem, sentido do dever, sacrifício e generosidade. E é claro que vos agradeço: vocês revelaram, com esta vossa acção desamparada e crua, como, ao contrário do que se diz, existe uma política cultural da direita, de que Rui Rio será o claro guia (mas outros se seguirão, fotocópias que aguardavam o gesto original). (...) Vocês revelaram a constante inconsistência da política do Ministério da Cultura (...). Que vos ponham ao frio, à sede, à fome e à polícia (em nome, é claro, da democracia, do mercado ou mesmo da cultura); (...) que se troque o espaço comum de liberdade, criação, dúvida e prazer - que deveriam ser os teatros - pela cultura da diversão são histórias que não começaram ontem, nem começaram com esta Câmara do Porto, que tem a vantagem de ser clara na alarvidade dos seus propósitos e na brutalidade dos seus meios."
Jorge Silva Melo, director dos Artistas Unidos


"O que têm estado a fazer é muito importante para levantar problemas que transcendem o próprio caso sinistro do Rivoli. Toda a política de espectáculos é uma aberração, porque não tem relação com o problema fundamental dos espaços (...). Quando as salas vão parar às mãos de gente sinistra, o que cada vez é mais provável (...), a actividade ainda apoiada (...) deixará de existir, porque deixará de fazer sentido apoiá-la. E assim se chegará (o próprio Estado) ao puro comércio nas artes do espectáculo. O que é ainda mais grave é que isso não preocupará as maiorias e (...) a batalha é mais difícil. Mas pelos vistos sem ocupas nem chega a haver guerra."
Luís Miguel Cintra, actor e director do Teatro
da Cornucópia

Para tiradas destas - sobretudo as de Cintra que não tem pingo de motivo para se queixar, já que as de Silva Melo são meramente delirantes - não existem respostas racionais. Elas valem por si. Ou seja, o mesmo que nada.

CÂMARA ARDENTE

Se se conjugar a infeliz entrevista que o engº Carmona Rodrigues deu à SIC-Notícias, esta semana, para "comemorar" a sua gloriosa vitória de há um ano, com esta outra do sr. arquitecto Gaioso, do PS, é forçoso concluir que a maior Câmara Municipal do país está nas mãos de irresponsáveis. Maria José Nogueira Pinto e a sua vasta corte de "pp's" assessores, o voluntarista Ruben de Carvalho ou o lunático Sá Fernandes, podem pouco perante tamanho desvario. O Joãozinho está praticamente perdoado. E Santana Lopes, não tarda, também.

19.10.06

A REPÚBLICA "VELHA" REVISITADA


Só agora li o artigo da Fernanda Câncio e de uma sua colega do Diário de Notícias, intitulado "Estado português financia "actos de culto católico" em Roma". O texto versa e discute a manutenção, a expensas do Estado, do Instituto Português de Santo António em Roma, bem como o funcionamento da Igreja de Santo António dos Portugueses. De acordo com o artigo, o PRACE prevê a transumância do instituto da tutela do Ministério das Finanças para o MNE, coisa que as jornalistas e uma sumidade de direito internacional, Jonatas Machado, ouvida (alguém que me proporcionou uma aula divertidíssima, em Coimbra, numa pós-graduação que frequentei) , contestam. Aliás, o título do artigo é, de per si, perfeitamente eloquente. Para além disso, as jornalistas escudaram-se na "indignação" de uma coisa chamada "Associação Cívica República e Laicidade" que, como lhe competia, já pediu "esclarecimentos" ao dr. Teixeira dos Santos. Estamos a três anos de comemorar um século sobre a "implantação da República". Pelos vistos, em cem anos, não aprendemos nada com a sua desgraça e com o seu jacobinismo primário. Será que um instituto que, como se escreve no artigo, possui uma "estrutura simples", com um reitor e um secretário, faz a ruína do Estado português? E a igreja, idem? Eu sei que não é por isto que se escreve e protesta. É o princípio constitucional da separação da igreja e do Estado, e a laicidade deste último, que move estas boas almas, igualmente filhas do Senhor como os que frequentam o instituto e a igreja. Muito bem. Também estou de acordo, com uma condição. É que a Fernanda, a sua colega, os "associativos" jacobinos e o prof. Jonatas, na sequela deste artigo - imagino que daqui para diante terão "pano-para-mangas" - preparem outro a defender a abolição dos feriados religiosos (católicos) que os ditos "associativos" querem transformar em "feriados pessoais ou de outras religiões". E expliquem isso bem explicadinho ao "povo" - o mesmo que a República, há cem anos, jurou defender com o sucesso que se conhece - para ver se ele gosta. Por mim, estou esclarecido. Basta-me olhar para as fotografias que "ilustram" o site da "Associação".

LENDO OUTROS

Pensava que a Joana já era crescidinha. Afinal, não aprendeu nada com o dr. Soares.

UM CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO

Depois do "ajudante" do dr. Manuel Pinho - foi este quem criou esta enrascada legislativa com a electricidade e é ele quem vai arranjar "uma solução", espera-se, brilhante -, veio o dr. Amaral Tomás, dos Fiscais, "garantir" que a retirada de benefícios fiscais a deficientes só vai afectar uns cento e tal. Como se isto se medisse assim, às dezenas ou às centenas. Por este andar, antes do congresso do PS, o engº Sócrates devia promover um congresso extraordinário nas cabeças dos membros do governo. Se chegam assim ao referendo, ainda têm uma surpresa.

O SR. GUERRA

O dr. Fernando Pacheco e o dr. Ribeiro da Silva - respectivamente, ex-secretário de Estado do Orçamento do dr. Pina Moura e seu braço direito na administração da Iberdrola em Portugal, e ex-secretário de Estado da Indústria de um governo de Cavaco, presente administrador de uma empresa que comercializa energia eléctrica e ex-tocador de pandeireta num famoso grupo cantadeiro durante o PREC - querem (o "mercado" o exige) que o consumidor pague, e pague bem, o fornecimento de electricidade. Por consequência, "ponderam" (ameaçam?) se vale a pena concorrer se os 16% de aumento previsto "descerem muito". Pelos vistos, o sr. Guerra, o secretário de Estado da Energia e Inovação, que confessou "um mau momento" em relação à parvoíce de ontem, é porta-voz desta maravilhosa concorrência. Disse por eles o que eles não podem dizer. O que é que ele ainda está a fazer no governo?

COM CERTEZA?

Leio no Diário de Notícias que o senhor ministro da Saúde garantiu - "com certeza", disse ele - que o Serviço Nacional de Saúde está apto, no caso do "sim" ao aborto vingar, para o praticar. Com certeza. Então, por que é que o SNS, em vinte e tal anos, não criou as condições para que se cumprisse a lei em vigor e agora Correia de Campos vem, afinal, dizer que está tudo pronto para acolher as senhoras e as meninas que desejem abortar? Mesmo que isto fosse verdade - alguma vez o SNS está pronto para alguma coisa? -, como é que o senhor ministro explica que o dito Serviço esteja maduro para o aborto e não funcione como devia funcionar para as urgências, para as consultas externas, para as cirurgias ou para outras valências? O aborto é prioritário para o SNS? Espero bem que não.

SE UMA MINISTRA....


... num dia de outono...

O FESTIM NU

Ainda não começou o festim em torno do aborto e já os "abutres" andam a fazer as habituais continhas. Julgava que isto era uma questão de consciência e não exclusivamente de mercearia. Mas isso sou eu, que sou "reaccionário". A coisa promete.

UM CASO DE POLÍCIA - 3

A "Rivolição" - só o termo é todo um programa "cultural" - terminou como já devia ter terminado há três dias. As declarações de um dos ocupantes do Teatro sobre a respectiva e legal remoção, também constituem todo um programa. Não se esqueçam de lhe dar um subsídio.

18.10.06

ARTES POÉTICAS

Agora, uma coisa verdadeiramente boa. No blogue de Inês Lourenço, recomendado por um amigo do Porto, esta sequência de posts que formam um artigo de Joaquim Manuel Magalhães ("Poema acompanhado de prefácio - um muro incolor") publicado numa - presumo que - efémera e esgotada revista, Hífen, Cadernos de Poesia, 1994: um, dois, três.

O "PATERNALISMO CULTURAL"

Esta questão colocada pelo João Miranda tem a sua razão de ser. O "paternalismo cultural" sustenta aberrações que passam por ser "criativas", "originais" ou o raio que as parta, todas devidamente subsidiadas pelo OE. Felizmente - nunca pensei vir a utilizar este advérbio para a "cultura" - o orçamento de Estado para 2007 obriga os organismos na sua tutela - designadamente o Instituto das Artes que gere a subsidio-dependência destes "criativos" - a baixar a bitola. Por outro lado, e apesar das leis orgânicas dos teatros nacionais definirem a criação de "novos públicos" como um dos objectivos do respectivo desempenho, não só nunca se percebeu muito bem o que é que isso quer dizer, como, com raríssimas excepções, jamais foram dados passos para chamar aos teatros outros espectadores que não os triviais. É por isso que se deve questionar a subsistência do ministério da Cultura "qua tale". Se é para gerir a mercearia, qualquer outro organismo menos complexo o poderá fazer. Para que as coisas existam e, depois, não tenham nem condições financeiras para funcionar, nem se possua a noção do que é prioritário - os bens culturais móveis e imóveis, em suma, o património físico e intelectual -, mais vale estar quieto. Que o IA não tenha dinheiro para subsidiar "grupos" como os que se encontram "barricados" no Rivoli, não me tira o sono. Que o Estado não tenha dinheiro para conservar livros ou manter museus abertos, já me aborrece. O resto é paisagem e o comendador Berardo.

QUEM MANDA

Os "argumentos" revelados ao Público por alguns magistrados do MP - que pediram o anonimato - acerca do "chumbo" do dr. Mário Gomes Dias, seu colega, para procurador-geral adjunto, são muito interessantes. De acordo com as referidas sibilas, Gomes Dias será "conservador", tem posições "de direita", está há muito tempo afastado dos tribunais e foi, finalmente, dirigente da PJ nos idos de 70. Sem querer, estes magistrados anónimos foram traídos pelo respectivo inconsciente. Ficamos a saber que, dentro da PGR, há quem proceda à "arrumação" política dos colegas, com o dr. Cluny a lavar as mãozinhas destas "posições". A PGR, como os professores, está refém do seu sindicato. Oxalá Pinto Monteiro (que vem de fora) não transija e, dia 3, apresente a votos, de novo, Gomes Dias. Se o não fizer, jamais mandará realmente.

A CORRENTE ELÉCTRICA

Uma desgraça raramente vem sozinha. O dr. Manuel Pinho tem um secretário de Estado para a Energia e a Inovação que atribuiu o aumento de 16% na electricidade, no próximo ano, ao mau desempenho dos consumidores. Segundo este senhor, de nome Castro Guerra, existe um "défice" que tem que ser colmatado com o dito aumento, défice esse causado pelos consumidores. A EDP, a empresa que distribui a energia eléctrica que eu preciso, quer eu queira, quer não (não há outra), é gerida pelo dr. Mexia, um amigalhaço dos drs. Pina Moura e Santana Lopes. Tem lucros colossais. E agora, com o beneplácito do sr. Guerra e com a esfarrapada conversa da "concorrência", do "mercado e da "entidade não sei de quê", espreme-se o nefando cliente nos termos enunciados. Eu sei que não é o governo a determinar esta chulice. Todavia, convinha que o primeiro-ministro - já que estamos a falar de um ministério politicamente incapaz - pudesse evitar estes pronunciamentos idiotas. Porque, em última análise, é directamente a ele que tudo vai parar, mais tarde ou mais cedo. Como uma espécie de corrente eléctrica.

Adenda: Nem tudo é mau ou mesmo péssimo. Três das sete SCUT's vão ter portagens. Só faltam quatro ou três, já que a A22 não tem alternativa. Apesar de concordar com as portagens nas SCUT's, nunca é demais lembrar que é mais uma "promessa eleitoral" que foi varrida para debaixo do tapete. Sócrates terá decidido fazer o mal todo de uma vez? É que se for assim, é de esperar o pior da fase do "bem".

APAGÃO

Motivos informaticamente obscuros, fizeram com que o Portugal dos Pequeninos sofresse um inexplicável apagão. Porém, como diria o Santo Padre, nós somos fortes. E seguimos em frente.

CRIME E CASTIGO

Não gosto de falar de mim e muito menos do que faço "na vida". Todavia, no caso em apreço, já fiz e já deixei de fazer há mais de cinco anos. Depois disto, e sendo interpelado pela Fernanda Câncio nos comentários a este post, respondi nos termos que lá se encontram. De seguida, a Fernanda foi à "história"e relembrou casos mais ou menos conhecidos de violência policial. Só umas observações. Os casos que a Fernanda acompanhou jornalisticamente, ou acontecerem antes da criação da IGAI, ou foram seus contemporâneos. Até ao ministro Figueiredo Lopes, incluído, - isto é, com Alberto Costa, Jorge Coelho, vagamente Fernando Gomes e Severiano Teixeira - a IGAI teve todo o apoio político e institucional para reverter, com êxito, os padrões comportamentais dos agentes policiais e de, quando tal se justificava, os perseguir disciplinarmente ou encaminhar para a entidade judiciária competente. Como ninguém é perfeito, de vez em quando as coisas correm mal. E correm mal quer para os cidadãos, quer para os agentes. Manusear uma arma de fogo não é exactamente uma brincadeira. Não o é quando, em vez de "atirar" aos pneus, o agente "atira" ao vidro. E não o é quando um agente aborda um cidadão e ele responde-lhe, como aconteceu o ano passado nos arredores de Lisboa, à bala. Para ambos os casos, existem investigações e a lei. Para agentes da autoridade e cidadãos, há - partindo do princípio virtual que somos um país a sério - crime e castigo. O que não pode haver é vítimas menos vítimas do que as outras. Um homem morto é sempre um homem morto, independentemente de ter roubado um carro ou de ter perseguido o carro roubado. O "deixá-los fugir" do actual IGAI pode ser uma cacha "gira" se for dita por mim ou por si, Fernanda. Dita por um magistrado nas funções que Clemente Lima ocupa, já não tem tanta graça.

UM CASO DE POLÍCIA - 2

O Público, muito meritoriamente, decidiu "dar voz" ao "protesto" em curso no Teatro Rivoli do Porto. Não se poupa a nada e até tem um blogue onde aparecem coisas como esta. Quem, sem saber nada, ler o que por ali se vai escrevendo, pode julgar que os energúmenos que se enfiaram dentro do Teatro há três dias, foram lá postos, a pão e água, pela Câmara Municipal. Não foram. Ficaram lá depois de um "espectáculo", em protesto. Estão lá voluntaria e inconsequentemente. As televisões, escandalizadas, mostram imagens dos coitadinhos atrás das portas do Teatro como se estivessem presos. Às vezes, em momentos mais perturbados, tendo a pensar que já somos crescidinhos. Felizmente a realidade abre-me os olhos e fico mais descansado. Este episódio de cariz revolucionário-folclórico, digno do pior PREC, é um bom retrato da "cultura do subsídio" e da subserviência larvar dos media perante a indigência dita "criativa". Basta que se mencione Rui Rio para eles puxarem imediatamente da pistola.

17.10.06

O HOMEM DO "LINGUADO"


Apesar dos "calores", ele merece esta singela homenagem. Keep going.

LER OS OUTROS

Este bom exercício político-memorialístico do Pedro Correia. Sabes, Pedro, como diz algures Claudio Magris, a hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude. Ou vice-versa, acrescento eu.

COMO ELES DIZEM

O senhor conselheiro Pinto Monteiro imaginou, durante uma semana, que ia mandar nos senhores magistrados do Ministério Público. Os senhores Presidente da República e Primeiro-Ministro imaginaram o mesmo. O Conselho Superior do Ministério Público já veio "repôr a legalidade" e dizer quem é que efectivamente manda na PGR. "Autonomia", como eles dizem.

A BEM DA NAÇÃO

O governo da "esquerda moderna" faz os possíveis e os impossíveis para que, quem trabalha, morra em serviço, como um "herói". Pelo caminho que as coisas levam, mais vale estar morto do que ser pensionista.

"DEIXÁ-LOS FUGIR?"

Um agente da GNR foi baleado no decurso de uma operação. Há dias, outro, da brigada de trânsito foi atropelado mortalmente. O senhor inspector-geral da administração interna ainda pensará que, na dúvida, o melhor é a polícia "deixá-los fugir"?

IMPOSTOS E CASAMENTOS


A "família" tradicional - marido e mulher - tem um novo aliado no senhor ministro das Finanças. Com método, Teixeira dos Santos explicou que, ao equiparar o limite das deduções de IRS ao dos "solteiros", não só causa automaticamente mais "justiça social" - este insuportável jargão que serve para tudo - como evita que os casais espertalhões entreguem declarações como se fossem solteiros. Todavia, o argumento mais divertido foi mesmo o do encorajamento à "família", à ideia de "constituir família". Faz-me lembrar aqueles assistencialistas formados no "antigo regime" que, nas visitas boazinhas aos bairros paupérrimos, achavam que os "pobres" se "salvavam" casando uns com os outros. A diferença é que, daqui a umas semanas, esta mesma rapaziada vai andar aí, pelas ruas, a defender o aborto. Enfim, coisas da "esquerda moderna".

LER OS OUTROS

Sobre os "Prós & Contras" de ontem à noite - no qual Fátima Campos Ferreira se comportou com uma seriedade irrepreensível perante o inesperadamente disparatado Saldanha Sanches e o autoritarismo "democrático" (vêem como a sombra "daquele-cujo-nome-não-pode-ser-pronunciado" espreita por detrás do mais resoluto democrata ?) do senhor ministro de Estado Costa (e Deus sabe o que eu penso de autarcas em geral) -, o José Pacheco Pereira: "António Costa foi de uma agressividade malcriada, roçando o insulto, autoritário e demagógico até ao limite. Fernando Ruas comportou-se com uma enorme delicadeza de trato face aos golpes baixos do Ministro, aos quais não era alheio um desprezo intelectual pelos seus interlocutores. E de "classe", diriam os marxistas, face a um Portugal a que ele claramente se acha superior. Por muito sofisticado que queira ser esqueceu-se de uma regra que funciona magnificamente em televisão: aqueles homens alguns rudes, outros tímidos, transmitiram muito melhor um sentimento de "dedicação" ao seu "povo" do que o governante, que se ria deles."

UM CASO DE POLÍCIA


A palhaçada que, presumo, ainda está em curso no Teatro Rivoli, do Porto, é um sinal da complacência com que se encaram, no nosso país, as chamadas "manifestações artísticas". Com a desculpa que são "artistas", os delinquentes que se encontram lá dentro têm direito a "directos" nas televisões e nas rádios, a páginas de jornais e, amanhã, à própria ministra da Cultura que acha isto, do alto da sua total irresponsabilidade, uma "original forma de luta". Pires de Lima, escudada no seu ódio de estimação por Rui Rio, não percebe que, ao aceder encontrar-se com os referidos delinquentes, está - porque não é propriamente um cidadão qualquer - a comprometer o Estado numa macacada urdida por dependentes do subsidiozinho do costume e pelo Bloco de Esquerda. O "giroflé-giroflá" de ontem, à volta do Teatro, não deixa margem para dúvidas. Se Pires de Lima aparecer aos delinquentes para "mediar" não se sabe bem o quê, deve ter de seguida a hombridade de se demitir. Não gosto que os meus impostos sejam desviados para o que não devem ser. E, no assunto vertente, só se fossem para cumprir a lei. Isto é um caso de polícia e não um caso de "cultura". Perceba isso enquanto é tempo, senhora professora.

Adenda: Sra. Prof.ª, em vez de se oferecer como "mediadora" num número circense, por que é não trata antes do que lhe compete, como, por exemplo, deste equívoco criado por si no Teatro Nacional D. Maria II ?