16.11.05

O SUPRA LOUÇÃ

Espera-se de um antigo chefe de Estado, mesmo que deste país desgraçado, um módico de gravitas. Soares, sem nunca ter tido necessidade de abdicar da sua essência, soube mantê-la até decidir impingir-se ao PS como candidato presidencial. Nos seus comentários e nas suas posições sobre a vida pública, manifestados aqui e ali ao longo dos anos, essa gravitas sobressaía e Soares era ouvido. Aliás, até à emergência de Barroso, fazia questão em frisar que, por ter sido o que foi, não gostava de se pronunciar acerca das "nossas coisas". O aparecimento de Bush e a saída provisória de cena dos seus compagnons de route, colocaram-no irreversivelmente na destrambelhada rota actual. Tudo piorou a partir de Agosto. O "moderado" de 86 e dos anos noventa deu lugar a este indefinível supra-Louçã em que Soares se transformou de forma quase patológica. A "tirada do dia" - mais uma para ver se Cavaco Silva lhe presta alguma atenção -, para além de vir na linha "psicanalítica" da imediatamente anterior, é, ainda por cima, mal educada. Dizer de outro candidato que ele é "complexado", deixa para trás qualquer argumentário mais "delicado" do líder do BE, cuja pretensão presidencial parece tê-lo provisoriamente serenado. A inominável arrogância e a insuportável mesquinhez de Soares estão a fazer dele o candidato mais obsessivamente preconceituoso destas eleições. Onde estava a gravitas serena que nos habituámos a admirar, ficou uma espécie de arrivismo gratuito, mais adequado a uma candidatura marginal. É poucochinho e é paupérrimo.

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