15.11.05

DE ACORDO

De Soares, gosta-se. Cavaco, respeita-se. Alegre, quando muito, lê-se. Os outros "politicam" como respiram. Jerónimo, o generoso estalinista de Pires Coxe, não engana ninguém. A única diferença em relação a dez anos atrás, é a hipótese mais séria de ter de ir contar votos com Louçã. Cavaco continua a inspirar os mesmos ódios e amuos aos mesmos, exactamente pelos mesmos argumentos de outros tempos. Nada disso impediu duas maiorias absolutas. Nada disso valeu contra os honrosos quarenta e seis por cento contra Sampaio. Nada disso valerá, de novo, agora. Ao contrário de Soares, de quem genericamente se gosta, Cavaco, pelas suas características pessoais, não é um homem fácil de gostar. Ele é o que é. Não é um palaciano e pouca gente se imagina a tomar bicas com ele. Acontece que, neste momento, representa uma força a que todos os outros aspiram poder trepar para derrubar em seguida. Eu só sou "laudatório" de Cavaco porque não suporto o ruído que vem de outros lados. Nem tão pouco a forma desse ruído. Em circunstâncias "normais", bastar-me-ia ir votar, sem uma palavra. Acontece que isso não chega. Por isso comecei por dizer que gosto de Soares e que leio, às vezes, Alegre. Apesar disso, quero que eles percam e que a vitória de Cavaco represente a derrota definitiva de uma certa insolência "consensual" que, de há muito, se instalou na vida pública portuguesa como um cancro. Escrever contra essa ideia cristalizada de democracia, avessa a rupturas e a avanços, e em que só meia dúzia de "iluminados" podem participar, é um dever cívico indeclinável. Não tem nada a ver com o Cavaco "pessoal" e "moral" com que provavelmente nem sequer me identifico. Tem a ver com a defesa da sua candidatura contra as tentativas de diminuição do homem e do político que são apresentadas todos os dias, com extravagância e má-fé. Cavaco ambiciona legitimamente ganhar, tal como ele é. Eu, sem discutir como ele é, quero apenas que ele ganhe. Aí, estamos os dois de acordo.

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