... de dar o palco a Soares (que é o que ele quer). Um pouco de Cesariny, se faz favor.
O Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, foi hoje atribuído, por unanimidade, a Mário Cesariny (n. 1923). Que bem que ele está aqui ao alto com a Menez. Cesariny, at last. Mais de uma vez chamei a atenção para o ridículo que representava o facto de Cesariny nunca ter sido premiado enquanto poeta. E aos que diziam que o autor de Manual de Prestidigitação (1956) não publicara obra inédita em anos de democracia, várias vezes lembrei que isso não é verdade. Basta citar Titânia... (1977), Primavera Autónoma das Estradas (1980) e O Virgem Negra (1989). Contudo, ainda que os não tivesse publicado, e a obra continuasse sustentada pela reedição de títulos memoráveis, como Corpo Visível (1950), Pena Capital (1957), Nobilíssima Visão (1959, porém escrito em 1945-46), A Cidade Queimada (1965), etc., os prémios «de carreira» existem para consagrar o conjunto da obra, à revelia do que está a dar. Demorou, mas antes tarde que nunca. Em anos anteriores, o Prémio Vida Literária foi justamente atribuído a Torga, Saramago, Sophia, Óscar Lopes, Cardoso Pires, Eugénio de Andrade e Urbano Tavares Rodrigues. No valor de 25 mil euros, e tendo a CGD como sponsor, o prémio nada acrescenta a uma obra insubornável. Mas sabe bem. Parabéns, Mário!
O Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, foi hoje atribuído, por unanimidade, a Mário Cesariny (n. 1923). Que bem que ele está aqui ao alto com a Menez. Cesariny, at last. Mais de uma vez chamei a atenção para o ridículo que representava o facto de Cesariny nunca ter sido premiado enquanto poeta. E aos que diziam que o autor de Manual de Prestidigitação (1956) não publicara obra inédita em anos de democracia, várias vezes lembrei que isso não é verdade. Basta citar Titânia... (1977), Primavera Autónoma das Estradas (1980) e O Virgem Negra (1989). Contudo, ainda que os não tivesse publicado, e a obra continuasse sustentada pela reedição de títulos memoráveis, como Corpo Visível (1950), Pena Capital (1957), Nobilíssima Visão (1959, porém escrito em 1945-46), A Cidade Queimada (1965), etc., os prémios «de carreira» existem para consagrar o conjunto da obra, à revelia do que está a dar. Demorou, mas antes tarde que nunca. Em anos anteriores, o Prémio Vida Literária foi justamente atribuído a Torga, Saramago, Sophia, Óscar Lopes, Cardoso Pires, Eugénio de Andrade e Urbano Tavares Rodrigues. No valor de 25 mil euros, e tendo a CGD como sponsor, o prémio nada acrescenta a uma obra insubornável. Mas sabe bem. Parabéns, Mário!
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os
olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com
fome
porque assim como assim ainda há muita gente
que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de
muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
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