... vista por José Pacheco Pereira:
A entrevista de Mário Soares à TVI foi muito interessante, porque revela o melhor e o pior de Soares. O melhor é a naturalidade, com os ódios à flor da pele, o movimento todo de uma pessoa sem censura, que impulsionado pelo que realmente pensa, chama a Sócrates o "anti-Guterres", trata Cavaco de ignorante e preparava-se para continuar a fazer aquilo que faz muito bem, a contar histórias. Foi pena que a entrevista terminasse no momento em que Soares ia por si dentro, pelas suas memórias, pelos seus gostos e antipatias. Soares não pode hoje ser entrevistado a correr, precisa de tempo e nele o tempo gasto, vale a pena. Não há muitos políticos assim, a falar próximo do que pensam. Expondo-se.O reverso é o que Soares pensa, a sua agressividade de castelão que vê o rendeiro comprar as terras que teve que vender porque esbanjou os seus bens, a sua superioridade cultural face aos parvenus que não sabem comer à mesa, ou distinguir Pomar de uma Menez (aqui engana-se porque Cavaco tem um belo quadro da Menez) um quase direito natural a ser superior, a mandar, a classificar o mundo, que, tenho insistido nisso, é tipicamente uma marca social. Na sua vida turbulenta e corajosa, ele ficou sempre o menino bem e mimado, que entende ter um direito natural a mandar, que trata Portugal e os portugueses como se lhe pertencessem. O drama que o atravessa nestes dias é perceber que afinal, já não são dele, são doutro. E, humanamente, responde sendo agressivo e subindo a parada e perdendo ainda mais o "ar do tempo" que já não compreende.
A entrevista de Mário Soares à TVI foi muito interessante, porque revela o melhor e o pior de Soares. O melhor é a naturalidade, com os ódios à flor da pele, o movimento todo de uma pessoa sem censura, que impulsionado pelo que realmente pensa, chama a Sócrates o "anti-Guterres", trata Cavaco de ignorante e preparava-se para continuar a fazer aquilo que faz muito bem, a contar histórias. Foi pena que a entrevista terminasse no momento em que Soares ia por si dentro, pelas suas memórias, pelos seus gostos e antipatias. Soares não pode hoje ser entrevistado a correr, precisa de tempo e nele o tempo gasto, vale a pena. Não há muitos políticos assim, a falar próximo do que pensam. Expondo-se.O reverso é o que Soares pensa, a sua agressividade de castelão que vê o rendeiro comprar as terras que teve que vender porque esbanjou os seus bens, a sua superioridade cultural face aos parvenus que não sabem comer à mesa, ou distinguir Pomar de uma Menez (aqui engana-se porque Cavaco tem um belo quadro da Menez) um quase direito natural a ser superior, a mandar, a classificar o mundo, que, tenho insistido nisso, é tipicamente uma marca social. Na sua vida turbulenta e corajosa, ele ficou sempre o menino bem e mimado, que entende ter um direito natural a mandar, que trata Portugal e os portugueses como se lhe pertencessem. O drama que o atravessa nestes dias é perceber que afinal, já não são dele, são doutro. E, humanamente, responde sendo agressivo e subindo a parada e perdendo ainda mais o "ar do tempo" que já não compreende.
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