Mário Soares concedeu a sua primeira entrevista televisiva como candidato presidencial. Na TVI, Soares deu duas razões para avançar. Uma, a que ele chamou, "conjuntural", é Cavaco Silva. A outra, dita "de fundo", é o "estado" do país e, mais pesadamente, da Europa e do mundo. Com o correr da conversa, percebeu-se perfeitamente que só a "razão conjuntural" justificou a recandidatura. Soares esgrimiu todo o argumentário habitual contra Cavaco e exibiu uma notável jactância "intelectual" contra o ex-primeiro-ministro. Lá onde Cavaco é "técnico" e só "percebe" de "finanças e de economia", Soares é o "humanista" que sabe de "história" e de "filosofia". Para mais, diz Soares, Cavaco tem uma concepção "pouco estruturada" da democracia e, a médio prazo, representará um "perigo" para o regime. Soares vem e está para nos "salvar" do "papão" que, segundo ele, é "curto" para ser Presidente da República. Esta entrevista teve o mérito de evidenciar o que infelizmente já se sabia. Soares protagoniza uma candidatura puramente negativa, sem nenhum outro rasgo ou propósito "estruturado" que não seja "abater" Cavaco Silva. Para o efeito, não se importou de aparecer como a quarta ou quinta "escolha", "imposta" por ele mesmo ao partido, como não se cansou de explicar no início da entrevista. Toda a soberba do mundo não chega para justificar o injustificável. O "tom" paternalista com que Soares falou de Cavaco Silva - e, lateralmente, de José Sócrates que "finge" aguentar - tornar-se-á cada vez mais insuportável e era bom que alguém lhe explicasse isso. Menorizar o adversário como se ele não tivesse "existência" democrática, é um sinal de intolerância jacobina que, a seu tempo, se virará contra os seus autores. Em suma, para alguém da "estatura" de Soares, tudo ali cheirou a "curto", a demasiado "curto".
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