9.11.07

O MAL AMADO


O Eduardo Pitta não gosta - talvez pelas mesmas sofisticadas razões com que aprecia o falso beirão Sócrates - do General Ramalho Eanes. Eu gosto, sou amigo dele e, como tal, abstenho-me de comentar a questão levantada pelo Provedor de Justiça relativa à eventual percepção da sua reforma de oficial do Exército com a de antigo PR. Se bem o conheço, Eanes dificilmente deixará esta mesquinha "polémica" arrastar-se apesar de ser dos poucos portugueses que emergiram na vida pública, depois do "25 de Abril", que merecia tudo o que se lhe pagasse. Nada seria esdrúxulo perante o que nos garantiu e do que nos defendeu. Todavia não posso deixar de comentar, com duas perguntas e sem sair da política, os exemplos escolhidos pelo Eduardo para, na sua opinião, não atribuir mais a Eanes do que a sua pensão de ex-PR. Não é o mesmo Estado que atribui a ex-deputados pensões por oito anos de exercício parlamentar e ordenados ou pensões decorrentes da sua actividade profissional em organismos públicos? Ou Eanes - que serviu honradamente o Estado português, aqui e no ultramar, sem nunca ter tido necessidade de se servir dele - tem alguma capitis diminutio perante os nababos que andamos a alimentar há trinta anos, muitos dos quais nunca teriam sido ninguém na vida pública se ele não tem colocado um ponto final nos desvarios de 74 e 75?

8 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me sublinhar: "...os nababos que andamos a alimentar há trinta anos, muitos dos quais nunca seriam ninguém na vida se..."
Nada mais exacto!

aviador disse...

O escândalo não é o General Eanes ter só uma "pensão".

Escândalo é Soares e Sampaio acumularem duas.

Não se deve atribuir outra a Eanes.
Deve retirar-se uma a Soares e a Sampaio.

Isto para não falarmos dos valores, se comparados com a média das pensões dos portugueses.

Anónimo disse...

"falso beirão" não é uma redundância? (passo a graça.)

Anónimo disse...

O que mais impressiona neste caso Eanes é que o antigo Presidente tenha promulgado a Lei 26/84 e vinte e tal anos mais tarde, tenha levado "o caso" até ao provedor de Justiça, a pedir reparação. É como se o antigo Presidente não se importasse de desbaratar o capital de respeito que tem na opinião pública a troco de uns hipotéticos eurinhos a mais que virão, se vierem, daqui a uns anos caso a lei seja alterada. Custa a aceitar que se trata da mesma pessoa.

Anónimo disse...

Subscrevo absolutamente o texto de João Gonçalves. Se houve um Homem íntegro neste país antes e depois de Abril, esse foi Ramalho Eanes.

lusitânea disse...

O acumular de pensões não é lá muito católico, mesmo que os contemplados sejam jacobinos, ateus ou judeus.Então quando as recebem muito antes dos fatídicos 65 anos... perdem a moral(ética republicana para os não católicos) toda.
O Eanes tem toda a razão em refilar.Agora ou tiram ou acrescentam.Como não acredito que tirem vão acrescentar.Afinal e como para tudo são só minudências.Como as deslocações ao estrangeiro.No tempo do Eanes era um C-130.Agora toda uma frota.
Antigamente governava-se mal.Agora bem.Estão a ver?Então o Salazar que governava de S.Bento o império e que nunca saiu para lado nenhum e quando saía era do estilo "esteve" devia ter governado muito mal.A maldade de ter deixado quase 900 toneladas de ouro e milhões em divisas foi de facto uma pesadíssima herança, difícil de engulir.Por isso é que tem durado tanto tempo...

Luis Eme disse...

Também penso que o problema está em quem acumula e não no Eanes, que como marechal deve receber qualquer coisa próxima dos 5 mil euros, assim como as mordomias de chefe de estado e o tal suplemento para a "bica"...

É bom não esquecer que há centenas de milhares de pessoas que recebem pensões inferiores a 250 euros e não descontaram apenas oito ou dez anos...

Anónimo disse...

Li o escrito do EP, através de um blog oficioso do governo/PS - Câmara Corporativa. Em jeito aplauso, pois claro.
Quanto aos exemplos de comparação com outros ex-PR, são brilhantes,pela negativa.
Para funções iguais, pensões iguais, de PR. Para a reforma, mais iguais para uns do que para outros, de nada tendo a um, servido três décadas de descontos na tropa.
Deve ser esta a moral de que falava uma espécie de deputado espanhol (PM), quando afirmou ser a moral pública,a da letra da Lei.
Com o meu apoio quer ao "Aviador" quer ao "Lusitânia", para com quem soube «recusar» o ridículo (porque ultrapassado e desajustado) posto de Marechal.
E quando chegado ao aeroporto de Lisboa, vindo de uma deslocação oficial, pegava no seu carro particular para ir para casa.
Não sei se no Gabinete do General, alguem acompanha este blog e lho faz chegar.
No deserto de valores em que caímos, tenho para mim que seria reconfortante para o Presidente Eanes, poder ler missivas como esta.
Do João gonçalves.
Como eu costumo dizer e de algum modo 'critico' deste PR: de tão pouco serviu, aos serventuários do regime, antigos ou de agora, o seu exemplo.
Outra gente.