19.11.07

AS HEMORRÓIDAS NACIONAIS


Passaram duzentos anos sobre as famosas invasões francesas. O Público dedicou ao assunto um excelente dossiê e antecipou o Ir pró Maneta, de Vasco Pulido Valente (Aletheia Editores, 2007) que retoma um ensaio anterior sobre a reacção popular à perpetração napoleónica em território pátrio. Está em Tentar Perceber, da IN-CM. O Maneta da história era o general Louis Henri Loison que, consta, era impiedoso no tratamento dispensado aos nossos avoengos. "Ir pró maneta", em linguarejar entendível por alunos do secundário e proto-licenciados, quer dizer "estar f......". A corte saiu de Belém para o Brasil e o espectáculo pusilânime à beira Tejo, por esses dias, não se recomendava. Raul Brandão escreveu El-Rei Junot onde, entre outras ironias, não lhe escapou o ataque de hemorroidal que sofreu o Príncipe Regente na véspera de embarcar. Não havia ainda terapias ocupacionais que distraíssem a real figura da figura que se aprestava a fazer. No vasto clube dos historiadores nacionais, há quem entenda que a deslocação do poder para a colónia foi um gesto de grande dimensão geopolítica da criatura e, como de costume, quem ache o contrário. As invasões francesas e as subsequentes inglesas para expulsar as primeiras, acabaram simbolicamente com o "antigo regime", dando início ao glorioso período "liberal" ainda em vigor sob a forma "socrática". Nessa altura não havia "tratados reformadores" para tratamento dos hemorróidas "nacionais". A coisa decidia-se mesmo a tiro. O século XIX que então dava os primeiros passos, prometia. Houve de tudo, desde uma guerra civil até à primeira designação das estultas reformas que todos os poderes políticos posteriores reclamaram como suas, a "regeneração". De 1851 em diante que não paramos de nos "regenerar" com os magníficos resultados que se conhecem. Fontes teve vários epígonos no século seguinte. Sócrates é o último aspirante da lista. No fundo, só mudaram os rabos e o hemorroidal.

3 comentários:

joshua disse...

Recomenda-se água fria e o regresso às aulas compulsivo ao Sr. Sócrates. Para quem toma a classe docente por venal e aterrorizável nada há prescrito que atenue o respectivo hemorroidal.

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves

Não era mau uma regeneração a sério, muito a sério! O pior é que nos estamos a "hemorroidar" à custa desta governaça "úrica". Quanto à protagonizada retirada (da côrte) para uma colónia ainda é o processo que nos valhe a todos: uma boa dose de "colónia" para difarçar o odor a merda deste regime.

Anónimo disse...

Ainda hoje há um conceito militar de recuo estratégico para as Ilhas. No século XVI, com o Prior do Crato, A Ilha Terceira foi o último reduto português. Mas a História é o que é : D. João VI fugiu para o Brasil ? É provável, mas não foi de todo estúpido ; em 1807, a 23 de Outubro, a Espanha e a França assinavam o Tratado de Fontainebleau pelo qual repartiam todos os territórios portugueses, continente, colónias e ilhas, e de que se destacava o Alentejo expressamente para o inefável Godoy. D. João VI implementou o desenvolvimento do Brasil enquanto lá esteve e teve um mérito maior : "segurou" a língua portuguesa na colónia.