30.6.07

OS GÉMEOS PORTUGUESES


Esta coisa da presidência europeia - que começa à meia-noite - vai obrigar-nos a assistir a longuíssimas perorações de toda a gente e mais alguma sobre essa entidade mítica chamada Europa. Por exemplo, eu, em vez da langue de bois do dr. Barroso, da imaturidade cosmopolita do senhor engenheiro ou das tiradas burocráticas das maçadoras reuniões com este e aquele, preferia ver programação sobre os gémeos polacos, sobre o fundador da Turquia "moderna" ou sobre Marrocos, quem sabe, um dia também "candidato" a país europeu. Ainda há pouco, numa entrevista, Barroso lá disse que "ia junto" com o nosso primeiro-ministro a uma sessão qualquer, não sei onde. Quem sabe se a presidência não consegue gerar uma parelha tão imaginativa como a polaca, para consumo doméstico. Mostra-me o teu apoio que eu mostro-te o meu. Ah, que saudades desse galanteador da retórica política chamado António Guterres, o sempre saudoso "estratega de Lisboa". Mesmo sem nada de substancial por baixo, sempre brilhava.

UMA REDE POTENCIAL DE ESBIRROS

«O PS, que os portugueses se habituaram a ver como o defensor da liberdade e da democracia, não passa hoje de um partido intolerante e persecutório, que age por denúncia (aqui como na DREN) e tem uma rede potencial de esbirros, pronta a punir e a liquidar qualquer português por puro delito de opinião. Pior ainda, personagens como Correia de Campos colaboram pessoalmente nesta lamentável empresa de intimidação. Não admira. Nem o eng. Sócrates nem o dr. Cavaco manifestamente compreendem que a repressão da dissidência e da crítica começa a corromper o regime e torna inevitável o futuro "saneamento" dos "saneadores". O silêncio de cima encoraja o miserável trabalho de baixo. Em Portugal, a colaboração do Estado com os pequenos pides do PS já não é uma vergonha.»

Vasco Pulido Valente, in Público


Nota: No petit comité das minhas relações pessoais tenho sentido o que significa zurzir no PS, nos seus apaniguados e nos seus serventuários mais miseráveis, sobretudo os cristãos-novos. Gente que eu apresentei a outra gente, gente que me conhecia há anos e anos, gente que a quem, apesar da amizade, não me pode ligar nenhum tipo de vínculo ou dependência ideológica ou "intelectual" - um "nietzschiano" não usa trelas e não as coloca em ninguém - decidiu, sem aviso prévio, deixar "de aparecer". Um, mais sofisticado, recusou-me um lugar à mesa. Não tenho importância alguma, o que torna a coisa mais misteriosa e mesquinha. De qualquer forma, sigo sempre o Gore Vidal. Só me interessa o que eu penso dos outros.

DA ESTUPIDEZ MUNICIPAL

De acordo com mais uma sondagem, o dr. Costa será, daqui a quinze dias, o novo presidente da CML. Novo porque nunca foi da CML, já que o seu currículo político - o único - é quase tão velho como as sagradas escrituras. Isto quer dizer que os lisboetas que se dispõem a votar no dia 15 avaliam positivamente a governança nacional de que Costa foi, até há escassos dias. o mais ilustre representante. Isto também quer dizer que a dita percentagem de votantes putativos aprecia que lhe coloquem trelas ao pescoço, uma característica tão deliciosamente portuguesa. Pois não foi da cabeça de Costa que brotou o "cartão único", o chip do Simplex? E não foi do gabinete do ministro Costa que saiu a leizinha das autarquias locais que deixou os seus futuros colegas a ferver? O direito à estupidez, se tem carácter universal, por maioria de razão deve ter natureza municipal. Os mesmos que querem - e bem - a Portela com outro aeroporto, são os mesmos que anelam por Costa, o adepto do aeroporto internacional de Leiria e da razia dos terrenos devolutos da Portela. Nabokov dizia que a forma da coisa precede sempre a coisa. Depois não se queixem.

ENFIADO NA POLTRONA DA SUA MELANCOLIA


Raquel Henriques da Silva - uma figura da "cultura portuguesa" que até costuma opinar com oportunidade - veio em defesa do "vulto" Mega Ferreira, alegadamente vexado pelo comendador Berardo. Raquel foi durante muitos anos a papisa dos museus portugueses e é, por direito próprio, um ilustre membro da corte, apesar de "reformada". De Berardo, o do museu, só se aproveita, de acordo com Raquel, o sr. Capelo, responsável pela colecção apenas até determinado momento. O resto é arrivismo e provocação ao fabuloso Mega. Por sinal, o dito Mega, pago para gerir o CCB e, por tabela, a instalação do Museu Berardo, fez o que pôde para dourar a inércia. Como se o referido Museu tivesse aterrado em Belém vindo directamente da lua e não do acordo leonino que ele, Pires de Lima e Sócrates estabeleceram com o comendador, com o dinheiro do contribuinte que, por acaso, também os suporta a todos, a uns mais do que a outros. Como escreveu numa "sms" um amigo, bem conhecido nas "letras", mas felizmente alérgico a nomenclaturas: "coitado do Mega Ferreira, tão isolado na vida, tão deprimido nas sensações, coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia."

Adenda: É evidente que a veneranda figura do dr. Mega só abriu a boca para outra veneranda instituição chamada Expresso.

29.6.07

UM MINISTRO FATAL

Um relatório do "observatório da saúde" é tremendo para Correia de Campos e para a sua demagogia sem limites. "Esperas" para doentes com cancro na orla dos três meses, redução das condições de acesso ao SNS, desertificação do "parque" do SNS no interior e, sobretudo, o desenvolvimento de um programa "não escrito" nem anunciado pelo PS em campanha. Correia de Campos trabalha sem rede, como um trapezista, uma vez que a sua "política" não foi objectivamente sufragada. Só lhe interessa poupar. Actua de surpresa e ele próprio é uma surpresa. Desagradável. Campos, que devia ser ministro da saúde, acaba por ser um ministro fatal.

NÃO É EUROPEIA

«A Europa é um clube de países de cultura cristã; iniludível, como lembrou o Papa, mesmo que Giscards e outros aventaleiros o quisessem escamotear. A recusa e resistências da União à entrada vem desmentir o lugar-comum, injusto como perverso, segundo o qual a União não passa de uma vulgar negociata de supermercado. Ao contrário do que dizia o Chevalier de Chaumont a Luís XIV, no termo da embaixada de 1685 ( "Senhor, O Sião não produz nem consome nada"), a Turquia poderia produzir muito e consumir ainda mais. A questão não é, pois, económica: é cultural. A Turquia não é europeia.»

in Combustões

O CHUMBO DO PROFESSOR TAGARELA - 2

Saldanha Sanches que, academica e praticamente, não tem um décimo do currículo de Jorge Braga de Macedo - um dos que o "chumbou" nas provas para professor agregado - acha que "o seu equilíbrio mental é bem conhecido pelo país". Se isto não é um profissional do ressabiamento, então não sei o que é. Vá lá, dr. Sanches, fique a vigiar (uma sua especialidade para a qual não precisa concorrer) as continhas do dr. Costa que já goza.

PESADELO AO SOL

Acordar com a SIC Notícias a anunciar que "nos próximos seis meses Portugal vai fazer história", com imagens do senhor engenheiro a propor brindes em inglês, com o mesmo engenheiro a "explicar" que a UE é uma "união" não fossemos nós pensar que era outra coisa qualquer, com o dr. Barroso a desfilar nos corredores de Bruxelas naquele seu passo característico de quem está sempre disposto a fugir para um lado qualquer, não é bem um acordar. É sonambulismo acordado, uma forma de pesadelo ao sol.

A CONVERSA


Ao fim do dia de ontem, no meio de uma paisagem "silenciosa e estática" na Caloura, em São Miguel, escutava - porque não o via, a sala já estava cheia quando cheguei - José Medeiros Ferreira. Ia a meio da apresentação do livro do seu conterrâneo Daniel de Sá, O pastor das casas mortas (Veraçor Editores). De repente lembrou-se de mencionar o filme absoluto sobre a impossibilidade do amor, Esplendor na Relva, qualquer coisa a que, anos mais tarde, Marguerite Duras viria a apelidar de "luto do amor". Todo o amor é luto do amor, escrevia a Duras, para ser preciso. E Medeiros Ferreira falou desse filme, do livro e do "amor na hora certa". No filme - não li este livro - os dois protagonistas voltam a encontrar-se, anos depois da passagem da "hora certa" que falharam. Eram eles, os mesmos, sem o sentimento. O sentimento deixara de existir. Ficara apenas a recordação, o luto do amor. Sim, o amor também pode ser isto, "o pastor das casas mortas". Depois falámos das liberdades públicas à luz do fabuloso crepúsculo açoriano. Mas essa é a conversa para os próximos meses. Infelizmente.

28.6.07

NÃO VAI ACABAR BEM


Correia de Campos é o último protagonista - com efeitos retroactivos - de mais uma demonstração do absolutismo democrático da "esquerda moderna". As gentes da liberdade que ainda restam no PS deviam pronunciar-se acerca deste trauliteirismo sistemático e institucional. No meu jargão, quem não tem sentido de humor, possui um défice intelectual. Já ontem, Correia de Campos tinha dado mostras de algum por causa da utilização a dar a medicamentos excedentários. "Dê-os aos pobrezinhos", disse Campos como se estivesse na Coreia do Norte. E são eles que vão presidir à União Europeia a partir de domingo. O ambiente está cada vez mais pesado. Isto não vai acabar bem.

POR DETRÁS DE UM CIGARRO

"O cigarro é com certeza a maior defesa dos tímidos. Primeiro, porque ocupa as mãos e simula um arzinho de à-vontade. E, segundo, porque esconde e protege ou cria a ilusão de que esconde e protege. Por detrás de um cigarro, o mundo parece mais seguro."

Vasco Pulido Valente, in Público

A "GESTÃO INTEGRADA"

O governo de Sócrates, dito socialista, caracteriza-se por falar alto com os baixinhos e por baixar a bola com os graúdos. A sra. prof.ª Pires de Lima, que passa por ministra da cultura, deve ter ficado um pouco mais desgrenhada do que o habitual com o "clima" instalado no CCB de Berardo. Sim, de Berardo, porque se, de um dia para o outro, o senhor comendador decidisse agarrar na sua colecção e levá-la para a China, a sra. prof.ª e a sua "política cultural" sumiam imediatamente soterradas num contrato que apenas serve os interesses - legítimos - de um particular. Com isto em mente, Pires de Lima afirmou que o comendador e o cada vez menos presidente do Centro Cultural de Belém, o contorcionista Mega Ferreira, têm "forçosamente que se entender" sobre o Museu do primeiro. E espera - bem pode esperar sentada - que se trate "de uma pequena questão", já que "ambos terão forçosamente que se entender" ao nível da "gestão integrada" do Museu. "Gestão integrada" de quê, sra. prof.ª? Será que a senhora julga que o CCB de Berardo é um laboratório e o dono do "acervo" um experimentalista? Meta-se com ele, use mais desse jargão e depois queixe-se.

27.6.07

O CHUMBO DO PROFESSOR TAGARELA


Houve um sobressalto na candidatura gloriosa do dr. Costa à câmara de Lisboa. O seu ilustre mandatário financeiro, o professor Saldanha Sanches - ex- director do Luta Popular que urgia libertar em 1975 - chumbou. É verdade. Nas suas primeiras provas na carreira universitária, Sanches já tinha levado com umas bolas pretas na tola. Agora, na fase seguinte, não passou. É o resultado de ser o que ele é, um mero professor tagarela, um profissional do ressentimento, um homem assombrado pela mania da perseguição. O dr. Costa louvou-se neste "triângulo maravilha" constituído pelo professor tagarela, pelo dr. Júdice (pelo lado dos interesses) e na dra. Zézinha, uma mulher que se julga subtil e indispensável. A academia, pelo menos, já dispensou o senhor professor. Os eleitores de Lisboa que façam o resto.

O FLEXITRATADO

Ouvi no carro o senhor primeiro-ministro a citar o MNE holandês. Citava-o porque esse jovem parece disposto a não usar o referendo, de novo, no seu país, para o "flexitratado" que se anuncia para a UE. Aliás, Sócrates já foi dizendo que não é nada de novo, que é só ajustar os tratados em vigor, que não é coisa para o "povo" se preocupar, enfim a famosa língua de pau tão do agrado dos epígonos do dr. Barroso. Em suma, portugueses esqueçam o referendo. Nós, a malta dos corredores de Bruxelas e dos conselhos europeus compromissórios, tratamos de tudo como uma agência de viagens. Se Sócrates- e, pelos vistos, Cavaco - forem por aí, significa que, uma vez mais, a Europa passou ao lado. Manifestamente isto só interessa por causa do euro e de nos manter em pé. Voltámos ao tempo do "bom aluno", tão do agrado do chefe de Estado e desse aprendiz de feiticeiro europeu que vai agora presidir ao destempero. Um povo, já de si dado à menorização, fica apenas um pouco mais pequenino. Merecemos os nossos dirigentes e eles merecem-nos a nós.

LER OS OUTROS

"... apenas mereciam pelourinhos." (Um)

E tu, João, se em vez de fufalhadas pueris te pusesses a rever a "estratégia" de imagem do dr. Negrão, não prestarias melhor serviço a esse noviço do que permitir que ele se enrede em "subtis nuances" da fala? (Dois)

Outro dia ofereci este livro a um amigo. Pensando melhor, quem o devia ler é o pai dele, embora duvide que alguma vez venha a perceber que massacre é aquele de que o autor fala, contrariamente ao filho, bem mais adulto na ingenuidade da sua adolescência. Na realidade, "a velhice não é uma batalha, é um massacre." (Três)

Sobre o pior do regime - dos que começam de pequeninos e que já nasceram velhos - este texto de outro João (Quatro)

"Agendas" a fingir e "agendas" que interessam (Cinco)

Boa questão reformadora (Seis)

26.6.07

SE NON È VERO, È BENE TROVATO

MEGA BERARDO - 2

A Berardo não chega a demissão da sua fundação. Exige a saída do regimental Mega da presidência do CCB. Assim como assim, como é ele que paga, o melhor mesmo é Isabel Pires de Lima desaparecer no deserto montada no seu camelo. Para o presidente de Serralves, a senhora - e os que se lhe seguirem - não fazem falta alguma. Basta uma secretaria de Estado (ou nem isso, acrescento). Começo a gostar de Berardo e nunca duvidei da inteligência de Gomes de Pinho. Estou bem acompanhado. Como diria outro maldito, "bravo homem: os inimigos dos meus inimigos meus aliados circunstanciais são."

MEGA BERARDO

A canzoada não se entende. Ou o soba Mega imaginava que o sr. Berardo se comovia com a sua extraordinária figura? Nem toda a gente pertence ao "clube dos amigos do vulto Mega Ferreira", esse eterno comissário "cultural" do regime e o 17º da lista Costa. Não há almoços grátis, dr. Mega. Habitue-se, como diria o anão genial.

DE COSTAS PARA A ESPERANÇA


O muro da foto pertence ao Convento da Esperança - que nome... - e o banco estava sitiado no Campo de São Francisco, uma praça famosa de Ponta Delgada. Não se trata de um banco anódino de jardim ou, se calhar, até é. De costas para a Esperança, Antero de Quental deu ali o seu célebre tiro nos cornos. Dias antes tinha resumido bem a coisa: "... se no tédio doloroso de nós mesmos encontramos a força para nos sumirmos..." E não é que ele encontrou mesmo?

O RETALHISTA


A bimbalhada deve ter estado ontem, toda, e em peso, na "reinauguração" do CCB, agora Museu Berardo. Até Pires de Lima abandonou a sua levitação em cima do camelo para ornamentar. Acho bem. O comendador estabeleceu um pacto leonino com o Estado por interposto Sócrates que andava babado pelos corredores do Museu. O Estado toma-lhe conta do acervo, exibe-o, contribui financeiramente para a sua manutenção e, quando der na gana do comendador, este tira-o dali e fará o que muito bem lhe apetecer com a colecção. Este governo - se calhar, felizmente - não possui uma ideia acerca de política cultural e os pingos que têm escorrido, não se recomendam. Apenas ocorre a eminência do professor Vieira de Carvalho que, na ausência política de um ministro da cultura, vai fazendo o que bem lhe apetece. Por isso defendo que se acabe, de vez, com o ministério. Berardo, com a sua esperteza devidamente aconselhada, meteu o Estado e o governo no bolso, da mesma forma que se prepara para meter outras coisas do regime, tais como o Benfica e o que mais lhe proporcionarem. Um país que não se respeita está sempre ao dispor do primeiro retalhista que lhe fique com os cacos por tuta e meia. Berardo é um negociante e Portugal é bom negócio "dos trezentos". O comendador limita-se a trabalhar.

A NEGAÇÃO DE NEGRÃO

Quando Marques Mendes o escolheu, pressenti imediatamente o desastre. Até agora, a única coisa que se aproveita desta parolice são os últimos cartazes em vermelho forte e com uns dizeres razoáveis. O pior mesmo é quando Negrão abre a boca. Negrão foi "pescado" para a política por causa de um equívoco jurídico. Já quando era juiz nunca se distinguiu pela subtileza. Ninguém com dois dedos de testa e sem nenhum de métier aceita ser candidato a uma câmara como a de Lisboa que é mais macrocéfala que um ministério. Negrão, na sua santa ignorância e armado em voluntarista, aceitou. Mais. Anda por aí a pedinchar debates "a dois" com o dr. Costa. Só se for para ajudar o dr. Costa a obter uma maioria absoluta. Não voto nesta eleição - treze candidatos e , para azar, já basta a minha vida - mas, confesso, com criaturas desta estirpe, qual é o munícipe que tem vontade de se mexer?

25.6.07

WE ARE THE WORLD, WE ARE THE CHILDREN


"O ensino constitui um mundo isolado, com regras próprias, onde se pode funcionar longamente sem contacto ou relação com a realidade concreta. Qualquer parvoíce pode surgir como "método pedagógico" e, se abstrusa, até ganha excelência, pois as teorias educacionais já justificaram tudo e o seu contrário.O Ministério da Educação português é um bom exemplo de como um sistema autodeterminado pode disparar em sentidos impenetráveis e incoerentes. A sucessão de repetidas reformas, mesmo que justificadas individualmente, criou um conjunto inconsistente e delirante, que hoje até gasta fortunas em testes a fingir, que avaliam aos bochechos.A coisa só não é pior devido à única inelutável realidade que se impõe na sala de aula: a cara do aluno. Muitos profissionais competentes, sentindo-se responsáveis perante a turma que enfrentam, esforçam-se por ensinar alguma coisa às pobres cobaias das reformas, muitas vezes contra as mesmas reformas. Se não fosse isso, a catástrofe seria definitiva. Mas o Ministério da Educação tem de ser incluído entre os maiores inimigos do desenvolvimento nacional. Uma potência estrangeira que quisesse sabotar o nosso progresso dificilmente faria pior."

João César das Neves, in DN

MISERÁVEL AMBIÇÃO

A sra. D. Maria José Nogueira Pinto está mortinha para se passar para as hostes de António Costa.Um sorriso ali, uma cadeirinha acolá, uma passeata por aí, em suma, a senhora está disposta a tudo para ficar com o Chiado. Estas gentes que se reclamam "de família" e "de princípios", afinal, não passam de vulgares possidónios. No meio disto, sobressai o ridículo dos saltos altos. Será que ela se imagina uma Suggia do betão citadino? Que miserável ambição.

MOMENTO CHÁVEZ PRIVADO

Hoje experimentei uma epifania ao contrário. Só me ocorreu Vila-Matas, em Paris nunca se acaba: "Pensem quais podem ser as razões básicas para o desespero. Cada um de vocês terá as suas. Proponho-vos as minhas: a volubilidade do amor, a fragilidade do nosso corpo, a opressiva mesquinhez que domina a vida social, a trágica solidão em que no fundo todos vivemos, os reveses da amizade, a monotonia e a insensibilidade que andam associadas ao costume de viver." Somos definitivamente crucificados pelos aborrecidos, sobretudo pelos aborrecidos que não conhecemos, pela pequena burguesia de espírito, pelo pequeno polícia de costumes que espreita por detrás do primeiro cidadão bem comportado, pelo último cobarde que é sempre o primeiro de uma longa lista de cobardes.

Nota: Escrito a pensar num pai mais imaturo que o filho.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 19


Por falar em Sampaio, um dos seus assessores de imprensa em Belém, João Gabriel, vai publicar o habitual livrito dos seus "anos com Sampaio". Já sabíamos que o "processo de decisão" do então presidente tinha tanto de redondo como de difícil. Gabriel - um espertalhão que até mantinha uma revista chique sobre bola enquanto esteve em Belém - vem agora fazer render o peixe com esta conversa de chacha. Os jornais destacaram o "incidente" Santana Lopes para apimentar o lançamento e ajudar a vender o livro. Gabriel, nesta matéria, vem revelar o quê? Que Sampaio espremeu-se o mais que pôde para evitar que Lopes sucedesse ao transfuga Barroso? Que tentou mobilizar toda a "elite" laranja no activo e a outra (Marcelo, por exemplo) a aceitar o lugar de São Bento para barrar a qualquer custo o caminho a Santana? Gabriel saberá alguma coisa da "missa" mas porventura só sabe metade. Outros que não ele, com outro traquejo político e com tarimba, talvez tivessem mais coisas a contar não fosse dar-se o caso de terem optado pela Arcádia. Gabriel preferiu optar pelo negócio e pelo espectáculo. Sampaio esteve mal das duas vezes em que abordou o "caso Santana". A primeira, porque em vez de ter andado a conspirar ao telefone contra a ascensão daquele, mais valia tê-lo chamado a Belém e explicado o óbvio: sem passar pelo crivo mínimo de um congresso ou, no limite, de uma eleição, não valia a pena. A segunda, porque nunca dormiu bem com o peso de Santana - e, indirectamente, da "traição" a Ferro Rodrigues - na consciência, fê-lo sair da pior maneira, dissolvendo o Parlamento (com uma maioria) em vez de demitir directamente o governo. E, uma vez "recomposto" o PS, os seus mais distintos representantes no Palácio - e Gabriel não era seguramente nenhum deles - fizeram o resto, mesmo com Sampaio todo torcido. Alguém se terá lembrado de lhe perguntar se queria passar à história como o elo mais forte de Santana Lopes, sem direito a retrato póstumo no Rato. Aí o homem encolheu-se e, naturalmente, recolheu Santana. Estranho - e talvez não - que José Pacheco Pereira tenha aceite prefaciar esta "obra". Pacheco deu corda ao "redondismo" de Sampaio por diversas vezes a partir da sua "quadratura do círculo". Ainda ele era presidente e já ele não era presidente. Por outro lado, foi o inimigo "intelectual" politicamente mais estruturado contra Santana Lopes, com a "vantagem" de pertencer ao mesmo partido. Nesse sentido, o "redondismo" de Sampaio acabou por ser seu aliado. Gabriel - que conheci pessoalmente - é um puro caso de oportunismo no sentido benigno do termo, se é que existe algum. É pena que Pacheco Pereira - sabendo perfeitamente que este livro não vem propriamente "fazer história" mas antes apresentar-se como uma memorabilia "à Carlos Castro" armado em sofisticado político e em conspirador de trazer por casa - se associe a este objecto. Se calhar o "ódio retroactivo" ao "menino guerreiro" vale bem umas linhas, nem que seja num livro de um autor esquecível.

A NÃO ESQUERDA


A esquerda lisboeta, representada pelo "Zé", pelo Ruben, pela Helena e por mais uma ou outra insignificância, deseja ardentemente que a não-esquerda, representada pelo dr. Costa, faça uma coligação. Costa, praticamente logo depois de ter deixado o bibe na JS, ajudou a fabricar a famosa coligação PC-PS a cujo andor presidiram Sampaio e João Soares durante doze anos. Ele lembrou vagamente o assunto e depois passou rapidamente para a terraplanagem da Portela. Com vitória e sem maioria, Costa vai precisar de alguma destas luminárias para refazer o mito. De caminho, aplaina a sua própria imagem, tão desgastada pela deriva autoritarista dos dois últimos anos. Como ninguém tem vergonha na cara e como são todos "democratas", acabarão fatalmente ao colo uns dos outros. De longe, o paladino do "diálogo entre as civilizações", Sampaio, verterá mais uma furtiva lágrima por tamanho encanto. Entretanto, o dr. Negrão quer "deitar abaixo" a "zona J", o sr. Telmo pinta paredes e a dra. Nogueira Pinto deslumbra-se com o putativo futuro vereador do urbanismo de Costa, o arquitecto Salgado, à espera que o Chiado lhe caia nas mãos. Salgado agradece seguramente uma "mulher de palha" disposta a tudo por uma sinecura. E Costa, por fim, agradecerá à direita mais imbecil que se tem visto nos últimos tempos. Por isso, nem sequer precisa da esquerda dos outros. Basta-lhe ser - como tem sido - a não esquerda.

24.6.07

THERE WILL COME SOFT RAINS


Foi a ele a quem ouvi falar, pela primeira vez, em Ray Bradbury ou em Patricia Highsmith, há trinta anos. Foi na casa dele que folheei o volume verde das então "obras completas" de Jorge Luis Borges, trazido de Buenos Aires. Foi ali que ouvi ópera e zarzuela. Foi ali que bebi bons copos e ri a bom gosto. Foi dali que partimos para remotas salas de cinema porque já não havia mais nada para ver. O seu amor pela literatura levava-o, às vezes, à tradução no intervalo das suas mecânicas funções que dominava perfeitamente. Por causa delas, viajou e viveu por tempos lá fora. Era, na sua modéstia, um grande cosmopolita e um ser humano maior. A uns minutos de o ir velar, deixo em sua memória uns versos de Sara Teasdale que traduziu por puro prazer, um dia, para nós. Nós somos aqueles que tivemos o privilégio de conhecer o R., que gostávamos dele e que aprendemos com ele.

There will come soft rains and the smell of the ground,
And swallows circling with their shimmering sound;

And frogs in the pools singing at night,
And wild plum trees in tremulous white;

Robins will wear their feathery fire,
Whistling their whims on a low fence-wire;

And not one will know of the war, not one
Will care at last when it is done.

Not one would mind, neither bird nor tree,
If mankind perished utterly;

And Spring herself, when she woke at dawn
Would scarcely know that we were gone.

LER OS OUTROS

"A lei das chefias da Administração Pública, ditas de "confiança política" e cujos mandatos cessam com novas eleições, foi um gesto fundador. O bilhete de identidade "quase único" foi um sinal revelador. O Governo queria construir, paulatinamente, os mecanismos de controlo e informação. E quis significar à opinião que, nesse propósito, não brincava. A criação de um órgão de coordenação de todas as polícias parecia ser uma medida meramente técnica, mas percebeu-se que não era só isso. A colocação de tal organismo sob a tutela directa do primeiro-ministro veio esclarecer dúvidas. A revisão e reforma do estatuto do jornalista e da Entidade Reguladora para a Comunicação confirmaram um espírito. A exposição pública dos nomes de alguns devedores fiscais inscrevia-se nesta linha de conduta. Os apelos à delação de funcionários ultrapassaram as fronteiras da decência. O processo disciplinar instaurado contra um professor que terá "desabafado" ou "insultado" o primeiro-ministro mostrou intranquilidade e crispação, o que não é particularmente grave, mas é sobretudo um aviso e, talvez, o primeiro de uma série cujo âmbito se desconhece ainda. A criação, anunciada esta semana, de um ficheiro dos funcionários públicos com cruzamento de todas as informações relativas a esses cidadãos, incluindo pormenores da vida privada dos próprios e dos seus filhos, agrava e concretiza um plano inadmissível de ingerência do Estado na vida dos cidadãos. Finalmente, o processo que Sócrates intentou agora contra um "bloguista" que, há anos, iniciou o episódio dos "diplomas" universitários do primeiro-ministro é mais um passo numa construção que ainda não tem nome. Não se trata de imperícia. Se fosse, já o rumo teria sido corrigido. Não são ventos de loucura. Se fossem, teriam sido como tal denunciados. Nem são caprichos. É uma intenção, é uma estratégia, é um plano minuciosamente preparado e meticulosamente posto em prática. Passo a passo. Com ordem de prioridades. Primeiro os instrumentos, depois as leis, a seguir as medidas práticas, finalmente os gestos. E toda a vida pública será abrangida. Não serão apenas a liberdade individual, os direitos e garantias dos cidadãos ou a liberdade de expressão que são atingidos. Serão também as políticas de toda a espécie, as financeiras e as de investimento, como as da saúde, da educação, administrativas e todas as outras. O que se passou com a Ota é bem significativo. Só o Presidente da República e as sondagens de opinião puseram termo, provisoriamente, note-se, a uma teimosia que se transformara numa pura irracionalidade. No país, já nem se discutem os méritos da questão em termos técnicos, sociais e económicos. O mesmo está em vias de acontecer com o TGV. E não se pense que o Governo não sabe explicar ou que mostra deficiências na sua política de comunicação. Não. O Governo, pelo contrário, sabe muito bem comunicar. Sabe falar com quem o ouve, gosta de informar quem o acata. Aprecia a companhia dos seus seguidores, do banqueiro de Estado e dos patrícios das empresas participadas. Só explica o que quer. Não explica o que não quer. E só informa sobre o que lhe convém, quando convém."

António Barreto, in Público

A ESPECIALISTA

O "lambe-botismo" dos jornalistas oficiosos e exclusivos que "cobrem" as questões da União Europeia, está bem patente no artigo de Teresa de Sousa no Público em papel. De uma cajadada, esta ilustre porta-voz da "esquerda moderna" elogia Barroso, Blair e um senhor sueco que proferiu uma banalidade sobre o "futuro" da União, apelidando ao mesmo tempo de "reformador" o novo (?) tratado constitucional que herda - escreve ela- 90% das tretas que o anterior chumbado já continha. E não deixa de dar a politicamente correcta marretada em Nicolas Sarkozy. É por causa de "especialistas" destes que estamos - a opinião pública, o "povo" - cada vez mais longe da Europa dos referidos cavalheiros, os europeístas de sofá.

O COMISSÁRIO E O JORNALISTA

Esta comissão, pela voz do magistrado Pedro Mourão, decidiu zurzir no Pedro Rolo Duarte. Parece que o PRD participou num "chat online", como "moderador", numa coisa dedicada à "Macdonald's". Mourão foi porta-voz do conselho superior da magistratura e andou anos a fio na comissão disciplinar da Liga de Futebol. Quando me foi apresentado, recordo-me que tocava numa banda de magistrados e de investigadores criminais (palavra de honra) e estava colocado na Boa-Hora. A referida banda costumava abrilhantar alguns convívios entre estas criaturas e até tinha uma gravação. O PRD já conheço há mais de vinte anos. Isto serve para dizer que não deixa de ser curioso que seja Pedro Mourão a vir a público em defesa de uma suposta "ética" de uma corporação que nem sequer é a sua, a dos jornalistas, por causa da colaboração de um dos seus num evento promovido por uma cadeia comercial de fast food. Prefiro o Mourão músico ao Mourão zelota. Até porque, nos dias que correm, a obsessão das "entidades", das "comissões" e do dr. Santos Silva com os jornalistas é de tal ordem que começa a cheirar mal. Segue-se o "estatuto" que se apresenta como outra obra-prima do respeitinho. Não me lembro, por exemplo, de ter visto Pedro Mourão "preocupado" com a presença da jornalista da RTP Judite de Sousa nos cartazes da propaganda oficial das "novas oportunidades" do senhor engenheiro. Apesar de considerar que vivemos um momento de descalabro ético, nunca apreciei moralistas e, muito menos, moralistas institucionalizados. A maior parte deles, aliás, é quem empurra definitivamente a ética um pouco mais para baixo.

23.6.07

ESTALINISMO CULTURAL


No Diário de Notícias em papel, Miguel-Pedro Quadrio escreve uma pequena nota sobre o Teatro Nacional D. Maria II. É tão pequena que a edição online se "esqueceu" de a editar. Aliás, o DN, a cujos quadros pertencem amigos - o Pedro Correia - e pessoas que estimo - a Ana Sá Lopes, por exemplo -, desde que entrou praticamente ao serviço exclusivo do regime (num acesso de "saramaguismo" tardio envolto no manto diáfano da vulgaridade da "esquerda moderna"), mal se consegue ler. Ainda esta semana uma amiga pretendeu usar o "direito de resposta" e, até agora, a resposta tem sido o silêncio comprometido do costume. Mas adiante. Quadrio revela-nos que a improvável dupla que dirige a casa de Garrett - os senhores Fragateiro e Castanheira, uma escolha do comissário Vieira de Carvalho -, para além de não se entender, já provocou uma situação financeira calamitosa na entidade que dirige. António Lagarto, quando saiu, deixou um superavit de € 500 mil. Esta dupla desperdiçou o que herdou e prepara-se - se não for parada a tempo - para fazer pior. Mário Vieira de Carvalho e as suas marionetas espalhadas pelos organismos da cultura (algumas vinham de trás e ficaram, submissas e caladinhas), até agora, não têm servido para nada. Pires de Lima, largada em cima de um camelo, não conta. E Sócrates, esse novo tratadista europeu, tem mais que fazer. A cultura foi abandonada ao caprichismo de um jdanovista convertido à "esquerda moderna". Ou será que foi a "esquerda moderna" que se converteu ao estalinismo?

O ESPLENDOR DE PORTUGAL - 2

Aparentemente não existem limites para a insustentável leveza do ser.

LUCIDEZ MINIMALISTA

"Num país quase privado de pessoas minimamente competentes, quantas menos se sentarem em lugares públicos melhor. A nossa democracia teria muito mais qualidade se não confundisse "gente sentada a dizer disparates" com legalidade, serviço público e participação."

in Combustões


Adenda: Li no Expresso que decorrem - ou ocorreram - umas denominadas "maratonas cívicas" onde a costumada gentalha do regime foi ou anda a perorar. A foto que ilustra a notícia, com Saldanha Sanches, é exemplo disso mesmo. Só falta a "namoradinha de Portugal". Mas essa só sabe sorrir. Tenham a coragem de convidar gente como o Miguel e depois logo falamos. Também para a semana, na Gulbenkian, há uma treta qualquer sobre a Europa para os papalvos se "prepararem" melancolicamente para a "presidência", desde que paguem para participar, apesar dos patrocínios bancários que constam do anúncio. A lista de oradores é eloquente. Sempre mais do mesmo e dos mesmos. Que sociedade mais enjoativa, já a caminho dos seus longos quarenta e oito anos. Até os "amigos de Apolo" conseguem ser mais imaginativos.

O ESPLENDOR DE PORTUGAL

Depois do Infante, do Gama e de outras preciosidades que, de acordo com a estafada expressão, deram "novos mundo ao mundo", o senhor primeiro-ministro parece que está incumbido de dar uma nova constituição à Europa. É uma espécie do "regresso da múmia" - o tratado constitucional europeu devidamente enterrado com o referendo francês - agora temperado pela teimosia de dois ou três "europeus", nomeadamente o anão polaco. Da gloriosa presidência portuguesa, que começa daqui a oito dias, espera-se, entre outras coisas, um novo tratado, África e o Brasil. Sócrates é um produto de um aparelho partidário, na circunstância o PS, e, fora os fatos, nunca se distinguiu particularmente pela subtileza ou pela sofisticação. Apesar de apreciar correr no primeiro paredão que lhe aparece pela frente ou mesmo na Praça Vermelha, Sócrates é tudo menos um cosmopolita. Nunca leu Kant na vida e deve ter uma ideia do mundo e da Europa tirada das vagas aulas de mestrado que frequentou no ISCTE. O sr. Lello, o das relações internacionais do partido, podia ser treinador de futebol da II liga, o que também não ajuda. Entretanto Sócrates foi deixando pelo caminho alguns que lhe podiam explicar qualquer coisa - como Medeiros Ferreira ou a ensandecida Ana Gomes - e Jaime Gama passou a puro ornamento do regime. Sócrates entra na presidência europeia de olhos vendados, conduzido por esse monumento ao cinismo mundial que é o dr. Barroso. Isto é, presumivelmente será um semestre no qual a comissão de Barroso, e Barroso ele mesmo, poderão brilhar à vontade. Ao contrário do que por aí se defende por causa da "união nacional" e da "causa europeia", a ocasião é a ideal para a oposição (vou fazer de conta que isto existe) desmistificar o senhor engenheiro que, pela primeira vez no seu mandato, terá uma exposição "global" das suas fragilidades, medos e inseguranças. Em suma, da sua crónica falta de densidade humana e política. Sócrates, como se verá, não é de ferro e nem sequer é Ferro. Os vinte e tais da Europa não sabem no que é que se vêm meter.

AMIGOS GOLDEN


Com tantos animais desprezíveis de duas patas por aí, importa não deixar abater, por falta de dono e daqui a duas semanas, estes olhos meigos dispostos, gratuitamente, a um dono e a um amigo. São seis "golden retriever" que podem ser obtidos através de um qualquer destes três contactos: sara.matteucci@gmacio.com, sheldon_sara@hotmail.com ou sara.mendes@inst-informatica.pt.

22.6.07

A BASE


O governo e o PS já mal conseguem disfarçar o estalinismo que lhes vai na alma. De há dois anos para cá - e é lamentável que João Figueiredo se preste ao papel de "Rambinho" de serviço - que se dedicam metodicamente a tentar liquidar a classe média que constitui a sua base "social" e eleitoral de apoio. Refiro-me a essa vasta mole chamada função pública, agora um pouco mais apoucada com o propósito legislativo de uma "base de dados" que recolha o tudo e o nada a respeito do servidor público e respectivo agregado familiar. Tudo começou com o "cartão único" do dr. Costa, esse putativo salvador lisboeta, e prosseguiu com a "guetização" da função política face ao resto do país, como se o país, sem ela, fosse um modelo exportável e exibível. Povo como o nosso - abananado, desprovido de energia cívica, macilento, imaturo e com uma vocação imemorial para "corno" - merece que os estalinistas tomem conta dele. A "base de dados" é apenas mais um dado para análise. Análise da trampa "mansa", atenta, veneranda e obrigada que somos. Verdadeiramente, dá-me ideia que os portugueses apreciam que lhes metam qualquer coisa pelo rabo adentro. Freud, que abandonou o sexo aos quarenta anos, tinha aqui muita matéria a que se agarrar. Só frustrados ou personagens de Philip K. Dick é que se podem preocupar em querer saber se eu tenho um carro ou dois, um ou dois filhos e as respectivas escolas e se urino fora ou dentro do penico. O "cruzamento de dados" - horrorosa expressão que, por dever de ofício, tantas vezes usei - é o maná do último estalinista e, pelos vistos, do primeiro dos socialistas. Não vale a pena distinguir. Um estalinista da "esquerda moderna" não deixa de ser estalinista por isso. Com a desculpa que é "moderno", é mais perigoso. António Costa, por exemplo, evoluiu do burro de Loures para o estardalhaço da sua obsessiva campanha lisboeta. Ele é um dos rostos das "bases de dados" e dos "cruzamentos de dados" sem rosto. Não se esqueçam, pois, de votar nele.

A "ESTRELA EMERGENTE" - 2

Deus não dorme. De qualquer forma, e até ao fim, toda a gente é inocente até prova em contrário. Sou adepto de que as primeiras impressões são sempre as mais "realistas" porque despojadas de preconceitos. Foram as que me ficaram deste homem. Não vejo razões para mudar de opinião sobre essa curiosa figura chamada António José Morais.

C.C. BERARDO


Aos poucos, o comendador Berardo - faz ele muito bem - vai comprando o que resta do que foi Portugal. Sugeria-lhe que, em vez de um banco com a marca "Benfica" (consta que o Benfica, que é uma nação, vai ser dele, no que consegue ser mais feliz que o país que o pariu que já nem a isso ressuma), adquirisse o próprio Banco de Portugal, o Parlamento, o governo e meia dúzia de autarquias. Para já, Berardo - depois de Belmiro de Azevedo se ter muito legitimamente colocado nas tintas para isto que passa por um país - é imperador no esterco, rei dos patos-bravos e cobridor garboso do regime. Basta passar pelo CCB, o ex-libris do "cavaquismo", para se perceber que Berardo é a verdadeira bandeira nacional. Colocou Isabel Pires de Lima e o Estado eternamente presos à figura de um camelo graças ao "negócio" com a sua colecção de pintura. Se eu fosse a ele, exigia a mudança do nome do equipamento dirigido pelo comissário Mega, o 17º da lista Costa, para o verdadeiro: centro comendador Berardo, CCB. Como diria Salazar, às voltas no túmulo raso, está muito bem assim e não podia ser de outra maneira.

SINAIS DOS TEMPOS

Nem um veterinário num canil seria tão lacónico, seco e indiferente como Correia de Campos, em conferência de imprensa, acerca da isenção de taxas moderadoras para as abortadeiras. Aliás, a sua eloquência foi ao ponto de equiparar tal isenção no SNS àquela que é concedida a grávidas. Se há matéria em que a desobediência civil é bem-vinda, é esta. Se Correia de Campos, as suas abortadeiras pratico-teóricas amestradas e as frustradas de sucesso são o "sinal dos tempos", então eu prefiro continuar anacrónico, misógino, reaccionário e, sobretudo, impiedoso.

21.6.07

FAZER DE CONTA


Hoje é o dia mais longo do ano e, de acordo com os calendários - não com o calor - começa o Verão. Os meus meses mais amados são o precedente e este. Não dei praticamente por eles. Nada ajudou. O tempo, as pessoas, as circunstâncias. Eu. Há oito anos estava em Paris e observei que a luz solar entrava longamente pela noite adentro. E que andar pelas ruas sem destino estava próximo de um estado quase pueril de felicidade. Há sete, estava em El Salvador e aí o dia terminava a meio da tarde, por entre vidros fumados e paredes invioláveis com arame farpado. A zona "chique" de Salvador apenas permitia circular assim, de casa a casa, de hotel a casa, de casa a hotel ou restaurante. De então para cá, o meu nomadismo solar diminuiu. Por tabela, eu encolhi como ser humano. Encolhi e encalhei. Deixei de descolar para parte alguma. Talvez o rapazito de Havana, que me veio pedir dinheiro e que eu recusei, tivesse razão. "Tu não és mau, estás apenas amargurado", resumiu ele, numa frase, a vida inteira de um desconhecido. Fixei-me, pois, como amargo residente. Acabo o dia mais longo na Casa Fernando Pessoa e comove-me que um tipo de trinta anos como o João Pereira Coutinho, sempre tão radiante na sua brilhante melancolia, fale como ele escreve e escreva como ele fala. A Folha de São Paulo tem uma tradição autoral que faz de qualquer um dos nossos melhores jornais - não estou a ironizar - parecer papel de embrulho. Não era assim que eu imaginava o dia mais longo, porém foi aquela meia dúzia de palavras de apresentação de um livro que me recordou o melhor do Verão, o melhor de mim mesmo entretanto desaparecido. Na solidão mais prolongada do pc da qual já não se regressa de lado algum, ficam as palavras do João, na Folha, escritas um dia destes. "Montaigne sabia que só há uma coisa pior do que caminhar para o fim. É fazer de conta que ainda estamos no princípio."

AS FOLHAS DA FOLHA


Logo, às 18h30, Otávio Frias Filho, o director do jornal Folha de São Paulo , estará na Casa Fernando Pessoa para falar do seu livro Queda Livre (edição A Palavra), com apresentação de João Pereira Coutinho. A Folha de São Paulo sempre teve boas relações connosco. Lembro Victor Cunha Rego e lembro-me das dezenas de Folhas que li no Semanário por causa dele. E o Pereira Coutinho é como a brigada da salada. É quase, quase perfeito. Só tem uma coisinha chamada João Carlos Espada.

COISAS DE ABORTOS

Não existem desfibrilhadores mas, em compensação, existem abortadores em barda. Sempre as "prioridades", sempre, coisa típica de periféricos a armar ao sofisticado. De abortos, em suma.

BANANA SPLIT


Regressou o Cavaco "dois em um", o ex-bom aluno europeu e o bom professor presidencial. O PR já percebeu perfeitamente que o primeiro-ministro não "pesca" nada das questões europeias e tenta já amortecer a trapalhada que aí vem com a presidência portuguesa. Nós também já percebemos que, nesta matéria como noutras, Cavaco não vai deixar os seus créditos por mãos alheias. Espero que, finalmente, haja um "conflito estratégico", nem que seja de salão. Afinal, é dessa massa que é feita a vida dos povos. Mesmo dos mais bananas, como o nosso.

O CASO BALBINO

Consta que o cidadão José Sócrates apresentou uma queixa contra o cidadão António Balbino. Por razões processuais, isso transforma o dito António em arguido. Não cai o mundo. Aliás, eu, que já li muitos relatórios de auditoria e escrevi alguns, gostava de ter visto ou escrito com o detalhe, a minúcia, ia a dizer, a obsessão com que Balbino perpetra as suas postas. Faz lembrar alguns "anti-fascistas" que passavam a vida a deitar a língua de fora em frente à António Maria Cardoso para ver se iam presos. É evidente - e agora é o jurista que escreve - que Balbino estava à espera de ser testemunha, arguido ou as duas coisas ao mesmo tempo, em um ou vários processos. Ninguém, por mais amor à pátria que tenha, dedica tanto espaço e tanto tempo a apenas um assunto. Já tinha acontecido isso com o processo "casa Pia". Sempre me pareceu - e continua a parecer - que o "assunto licenciatura de Sócrates e adjacências" releva mais de um registo ético-político do que estritamente jurídico ou académico. São os mors da democracia. Todavia, toda a prosa de Balbino tem um único objectivo: convolar o político no jurídico e, depois, retornar, se for o caso, à política. Balbino "investigou" e, nesse sentido, tem agora a oportunidade única de demonstrar no local adequado o resultado dessa investigação. E Sócrates, constituindo-se assistente, de contrariar esse resultado, provando - ele, o Ministério Público e os dois simultaneamente - que nada do que Balbino escreveu faz qualquer sentido. Balbino exerce metabloguismo e não exactamente bloguismo. O seu caso está para lá do alegado mero "delito de opinião", inadmissível no "sistema" em que vivemos. A prova é que, muitos dos que "cavalgaram" os "dados" de Balbino, se calarão provavelmente neste momento. Vamos ver como se portam, sobretudo os jornais ou o Mário Crespo, por exemplo. Aqui critica-se politicamente o primeiro-ministro e o regime, pelo que o episódio em causa só me interessa na medida em que possa afectar o exercício das funções públicas electivas do chefe do governo. Praticamente todos os bloggers que não se identificam com o regime, fazem o mesmo. O resto, para Sócrates e para Balbino, tem a ver com ética, num duplo sentido. O da Teresa Guilherme - "quem tem ética passa fome" - e o de Gilles Deleuze - "a ética é estarmos à altura do que nos acontece". Sócrates, por um lado, e Balbino, por outro, têm agora o plateau para colocarem isto em prática e em pratos limpos. Nem Balbino deve "passar fome", nem Sócrates se deve furtar ao que lhe sucede por estar onde está. Mesmo o pior dos regimes - e este é francamente mau - não pode viver eternamente sob suspeita.

20.6.07

PARLAMENTO COSTISTA

Até ao dia 15 de Julho, o Parlamento, isto é, a maioria absoluta do PS, está a trabalhar em regime de exclusividade para a gloriosa candidatura do dr. Costa à CML. O dr. Costa quer à viva força implantar umas árvores e uns arbustos onde hoje existe o aeroporto de Lisboa. Vai daí, a sua maioria parlamentar vetou uma proposta do CDS/PP, votada por toda a oposição, que impunha politicamente o estudo "Portela+1". Se dúvidas houvesse sobre a opereta em curso acerca das "alternativas à Ota", este gesto é tudo. O gesto e a boca do dr. Costa, aliás. Cada vez que ele a abre, brota imediatamente o discurso dos "terrenos da Portela". Costa deve estar doido por lá ir fazer uma honesta mijinha atrás de uma árvore para delimitar território. Como diria o terrorista-escritor Aquilino que, se fosse vivo, era da "comissão de honra" de Costa, andam faunos pelos bosques.

OREMOS

«Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima com poder, é, quase sempre, um perigo. Oremos. Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.»

Alexandre O'Neill, Uma coisa em forma de assim

O CAVALEIRO PAKI


O paki Rushdie - devidamente adoptado pelo ocidente como um "emblema" depois da fúria iraniana por causa dos "Versículos" - vai ser armado cavaleiro inglês. Não gosto particularmente do escritor e não me incomoda nada o homem. Repugna-me a perseguição de quem quer que seja por delito de opinião, sobretudo quando o alegado delito se manifesta sob a forma de livro ou de uma outra qualquer forma de arte. Mesmo que essa forma seja, perdoe-se-me a expressão, uma merda. Quase toda a literatura portuguesa contemporânea, aliás, é a prova viva do que digo e, nem por isso, deve ser proibida. Não será o caso de Rushdie - da obra de Rushdie - que, repito, nunca me emocionou. À conta deste gesto simbólico, já começou o habitual folclore primitivo de algum islão. Seguir-se-á a indignação dos guardiões do "ocidente límpido" e assim sucessivamente, em alternativa, uma vez uns, outra vez outros. Salman Rushdie vale uma espada? Talvez. Seguramente a sua valerá bem mais do que as que vão andar por aí desembaínhadas nos jornais, nas ruas e nos blogues. Os profissionais da indignação, de uma e de outra banda, começaram a babar-se. Aprende-se muito com os fundamentalistas.

PORTUGAL, ANO DA GRAÇA DE 2007, NAS VÉSPERAS DA PRESIDÊNCIA DA UNIÃO EUROPEIA

A medo vivo, a medo escrevo e falo;
Hei medo do que falo só comigo;
Mais inda a medo cuido, a medo calo.

Encontro a cada passo com um inimigo
De todo bom espírito: este me faz
Temer-me de mi mesmo, e do amigo.

Tais novidades este tempo traz,
Que é necessário fingir pouco siso,
Se queres vida ter, se queres paz.



António Ferreira a Diogo Bernardes (Carta XII), no século XVI

DA PETULÂNCIA

"Porquê esse desejo de todos me verem pelas costas? A resposta [do irmão António José Saraiva] surpreendeu-me: «És das pessoas mais inteligentes e puras que conheço. Mas tu também sabes isso e não o ocultas de ninguém. O teu grande defeito é a petulância. As pessoas aceitam melhor a incompetência, o desmazelo, a inferioridade, que a petulância. E tu és petulante. Mas isso não tem cura.»

José Hermano Saraiva, Como íamos dizendo... (memórias, confidências e lembranças), Álbum de Memórias, I Volume, Junho de 2007

LISBOA, MODO DE USAR

Algum lisboeta ou utente de lar da terceira idade sofisticado, com tv cabo, terá conseguido captar uma - uma que fosse - ideia do que pensam as sete criaturas dos Jogos sem Fronteiras do Museu da Electricidade? Uma?

19.6.07

LISBOA, MODO DE USAR


Na SIC-Notícias está em curso uma espécie de Jogos sem Fronteiras, entre sete criaturas, que se candidatam à infeliz presidência da CML. Faltam para aí mais quatro ou cinco que, a seu tempo, protestarão. Felizmente, quando cheguei a casa, tinha a confirmação de umas férias marcadas que incluem a data da eleição. Todavia, na eleição de Lisboa de 15 de Julho há duas coisas fundamentais a evitar para quem se arrastar por cá nesse dia. A primeira, a vitória de António Costa, primeiro, e com uma maioria absoluta, depois. Costa saiu directamente do governo para este folclore com um impressionante cortejo de ornamentos atrás de si, conhecido por "comissão de honra". Está lá toda a baboseira do regime, que me desculpem os amigos, os conhecidos e os outros. Não votar em Costa é, pois, um dever político indeclinável de quem ficar por cá. Não por ele, claro, mas pelo que ele representa. Em segundo lugar, também deve evitar-se a eleição do polícia municipal, o "Zé". Em vez dele, talvez os eleitores do optimismo antropológico possam votar em Helena Roseta. O "Zé", com a sua obsessão persecutória, não tem tempo - como o provou amplamente - para ser vereador. Finalmente, e em consequência do que vai dito, deve votar-se no candidato melhor colocado para evitar o ticket dr. Costa- Arquitecto M. Salgado. Até lá, vamos ver quem ele é.

A TEIMOSIA DA OTA

Belmiro de Azevedo resumiu hoje - e bem- a teimosia da Ota, diferente, claro está, da questão de um aeroporto internacional para servir Lisboa em complemento da Portela. Disse ser coisa digna de regime soviético, com plano quinquenal e tudo. Um "nado-morto". Aí está um homem sem ilusões.

AGORA?

Aborto, regulamentação. E agora? Agora perguntem aos "teóricos" do aborto. Não faltam por aí, com a sua língua de pau, na blogosfera e nos jornais. Eles é que sabem.

GENTE PARA TUDO

O governo mandou à Madeira um ajudante do senhor primeiro-primeiro para o representar na posse do governo regional. Para Sócrates - que, para começar, já foi obrigado a devolver 25 milhões de euros a Alberto João -, a Madeira é coisa apenas para secretário de Estado. Azar. Por vontade dos madeirenses, quem manda na Madeira é Alberto João Jardim. Sócrates até podia ter enviado o porteiro que era a mesma coisa. A elevação com que trata os assuntos de Estado que não lhe dão jeito fica bem retratada na deslocação deste infeliz serventuário. Felizmente que há gente para tudo.

AQUI E AGORA

José Medeiros Ferreira: suponho que continuo o mesmo reformador de 1979, apenas com a pequena diferença de já não ter ilusões. Aliás, e usando a sua expressão, também me incomoda a falta de capacidade analítica dos democratas genuínos como V. Não aprecio vê-los misturados com aqueles a quem chamei brindes da Farinha Amparo ou, para recorrer a uma expressão conhecida de outro homem de ideias que estimo, a pura gelatina. E não é o Doutor Salazar quem nos vai dividir ao fim de quase trinta anos. Só não simpatizo com rasuras e tonterias sem sentido quando temos tanto com que nos entreter, aqui e agora*, para defender as liberdades.
*não por acaso, o título de um livrinho sempre oportuno de François Mitterrand, Ici et Maintenant.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 18


Há dias, no suplemento "cultural" do Expresso, um colunista indignava-se pelo aparente estado de degradação - penso que não se tratava de nenhuma metáfora ou de um delíquio a que o cronista é dado - da casa onde viveu Eugénio de Andrade, no Porto. Parece que ele passou por lá, contemplou melancolicamente o imóvel e desfez-se, no texto, em lamentações arcádicas. O colunista em causa aparentemente lamentava-se "para" os poderes públicos que teriam deixado a memória "física" de Eugénio em péssimo estado. Logo ele, o cronista, que lá tinha estado tantas vezes e degustado chá e outros poetas em forma de bolinhos com o bardo de "A mão e os Frutos". Acontece que o cronista em causa - apresentado como "gestor cultural" na "comissão de honra" do dr. Costa em Lisboa - faz parte dos quadros de uma poderosa fundação cultural de uma das mais influentes e seguras empresas portuguesas. Uma daquelas que, por natureza, nunca acaba porque o Estado lhe garante o monopólio do serviço que presta. Ou seja, se há coisa que não deve faltar à fundação dessa empresa é dinheiro. É só desviar algum para a casa-museu Eugénio de Andrade que, certamente, nem a empresa, nem a fundação vão abaixo. Por que é que o cronista não trata disso em vez de nos massacrar com tanto berloque místico?

18.6.07

SÓCRATES E O ANÃO

Sócrates foi a Bratislava vender o seu peixe como futuro "presidente" da UE. Na "foto familiar", estava ladeado por uns gigantes eslavos e por um anão, ao canto. O anão é o primeiro-ministro da Polónia onde o seu irmão gémeo é presidente. Na conferência de imprensa, Sócrates, que está tão à vontade nestas matérias como a conduzir camiões TIR, usou da habitual langue de bois de Bruxelas. O anão não apreciou e remediou a falta de estatura com uma feroz diatribe anti-conselho europeu e respectiva "retórica". O anão, naturalmente, prepara-se para estragar o sucesso do semestre português. Nunca tinha reparado nesta dupla. Talvez valha a pena prestar-lhe mais atenção.

TRANSFORMISMO DEMOCRÁTICO

Esta senhora levou o meu voto em Outubro de 2005. Esta senhora debandou, à semelhança de outros "democratas" de outros partidos, a meio do mandato que os lisboetas lhe conferiram como vereadora. Esta senhora decidiu, sem que ninguém lhe tivesse perguntado nada, que se deve apoiar os candidatos do regime em Lisboa - o multiusos António Costa e o arquitecto Manuel Salgado - com um argumentário de quem aprendeu agora a ler, a escrever e a pensar. Se ela acredita - ou lhe convém acreditar no Pai Natal por motivos obscuros -, problema dela. Com gente de direita como esta senhora ou o dr. Júdice, valha-nos a memória honrada do Doutor Salazar. Razão tem o Dragão: "isto ainda não é a América, mas, pelos vistos, já é quase Angola." E não cito Angola por mero acaso. Ainda a vamos ver a apadrinhar "casamentos" no Salão Nobre da CML ao lado do João Baião e da Dina, a baladeira oficial da seita de onde saiu a senhora de Nogueira Pinto. Esta gente nem sequer respeita um período mínimo de nojo. Mas mete nojo.

I AM NOT MY OWN SUBJECT


Por falar em autofagia, só agora me ocorreu que este Portugal dos Pequeninos - que, verdadeiramente, data do tempo em que o rei fundador deu pancada na mãe e a encarcerou, no que foi um irremediável belo começo - cumpriu há uma semana o seu quarto aniversário. De lá para cá, mudou muita coisa na vida colectiva e alguma coisa na vida privada do autor. No fundamental, Portugal agravou-se em matéria de frequência, de má frequência. O país está mal frequentado um pouco por todo o lado. Os autoctónes não se respeitam nem se sabem dar ao respeito. Respeito por eles mesmos, e não respeitinho, o dos sempre vergados a quem manda, mandem onde mandarem. Má frequência, ainda, pela ausência de elites. O lumpen - o real, o intelectual e o ético - ascendeu a todas as cadeiras. Somos dirigidos por pequenos mestres da suspeita, para recorrer a uma figura simultaneamente da filosofia e de porteira. A sociedade e o país declinam e precipitam-se para qualquer coisa de profundamente mau. A "maioria silenciosa" vai de férias mas não consegue expulsar nas águas e nas montanhas o horror inconsciente de si mesma. A democracia, essa, há muito que está de férias sob o olhar atento e ambíguo de um nadador-salvador que não sabe nadar: Sócrates. "Estou" anti-democrata e sozinho porque não me consinto o gesto de comungar com pulhas. A minha qualidade de vida passa pela distância e por ser impiedoso para com esta vasta sacristia de democratas saídos, como brindes, da farinha Amparo. Por isso este blogue mudou e eu nele. Sei que não foi para meu bem porque a canzoada aprecia a certeza, a sobriedade e a ordem. Eu aprecio isso no direito, que estudei e aplico, mas gosto de resfolegar na não normatividade no resto. Em um ano, só me apareceu um maldito que valesse a pena, e desgraçadamente é francês, apesar de mandar um pouco no mundo. Nós também precisamos de um maldito a sério porque há que expulsar os bandidos que nos crucificam e martirizam. Sempre entendi que não podemos viver sem símbolos. Salazar "regressou" simbolicamente ao arrepio de um canal de televisão controlado de alto a baixo. Talvez para se "redimir", a senhora que organizou o programa acabou na comissão de honra de um candidato à CML que representa - não o homem, mas o político - a nomenclatura contra quem Salazar se bateu uma vida inteira. E não, isto não é um elogio a essa candidatura. É melancolicamente um lamento. Continuamos com a energia dos malditos contra as osgas e o tempo. I am not my own subject.

17.6.07

UM TIRO NA CANALHA


O panhonha do marido da Mme. Royal, o sr. Hollande, foi à France2 tentar justificar quer a sua derrota, quer a vitória da maioria presidencial de Nicolas Sarkozy na segunda volta das "legislativas". O sr. Hollande não disse, porém, o necessário: que se ia embora. É que a UMP renovou a sua maioria absoluta e Hollande falou como se isto não tivesse acontecido, um exercício muito comum aos democratas. Mais um tiro na canalha - a que constitui a elite das esquerdas e das direitas na Europa, na política e no resto - sobretudo nos comentários néscios dos últimos dias contra o presidente francês. Em poucas semanas, Sarkozy ganhou tudo o que havia para ganhar e, sobretudo, demonstrou à Europa - pós-blairista, "barrosista", mole e oportunista a que muito emblematicamente Sócrates vai presidir daqui a menos de quinze dias - que é preciso agir. Agir, sempre, contra toda a canalha. A instalada e a por vir.

UM TIRO NO BARCO DA MORAL E DOS BONS COSTUMES


O Paulo Portas imaginou que voltava imaculado ao regime e que o regime lhe agradecia o frete. Portas - que verdadeiramente aspira a negociar com Sócrates, em 2009, no quadro de uma maioria relativa - regressou aos coices ao seu putativo aliado de amanhã. Portas já devia ter percebido que não se negoceia com Sócrates e que Sócrates não negoceia com ninguém. Nunca se pode negociar com homens unidimensionais, homens de fait acomplis e de métier. Para além disso, o seu pequeno partido já estava conspurcado pelos piores vícios do regime. Foi na fase do fato-às-riscas e da asneira de colocar no governo do país dois amigalhaços, os drs. Telmo e Nobre Guedes de quem, aliás, não se viu livre na segunda encarnação. Sócrates, para já, apenas está a lançar um aviso: vocês também têm lama nos pés. Não quer dizer que, corrigido o "rumo" dos "populares", não possam vir a tomar um chá todos juntos. O pessoal do regime não se distingue particularmente por ter vergonha na cara. O PP também não.

SIMPLISMENTE

Costa dá uma entrevista ao DN como candidato a Lisboa. É a chamada conversa de chacha, como a dos outros candidatos, certamente. Ficou-me apenas uma expressão que resume o resto: "o Simplis". Costa, a maravilhosa cabeça de onde brotou, entre outras, a ideia do "cartão único" e o "Simplex" da dra. Leitão Marques, transpôs para a sua candidatura um "Simplex" dos pequeninos, o "Simplis" através do qual Costa quer implantar as suas "medidas de simplificação". Como? "Primeiro, vamos fazer o "Simplis", que é um "simplex" para a cidade de Lisboa. Em segundo, aproveitar o quadro legislativo aprovado esta semana pelo Governo em matéria de ordenamento do território e de licenciamento, que ajudam à simplificação. Em terceiro, introduzir mecanismos de prevenção da corrupção, quer com códigos de conduta muito exigentes, quer com uma comissão de prevenção da corrupção que tenha independência funcional relativa à maioria da câmara. E que identifique as áreas mais críticas da câmara e adopte códigos de boas práticas", diz ele. Pois. A lista de Costa, aliás, tresanda a "ética" e a "boas práticas". Basta a Costa começar por "simplificar" o seu "número dois" que já presta um bom serviço camarário.

LER OS OUTROS

O José Medeiros Ferreira de um qualquer "congresso de Aveiro" em 2007, cada vez mais necessário (eu chamo-lhe "28 de Maio" porque já vomito "democratas"): "a licenciatura de Sócrates anda a fazer demasiadas vítimas." Julgo que ele sabe o que quero dizer.

O "MEDO DAS REPRESÁLIAS"


No Sol, Margarida Marante - que, parece, finalmente trocou as trevas brancas por um módico de bom senso - entrevista o sr. Van Zeller, o homem da CIP. Não li, mas registei que o garboso empreendedorismo nacional tem medo das represálias do governo. Isto por causa da Ota, quando não, por causa de tudo. Sempre achei que a sociedade civil portuguesa era um mito e que, tirando Belmiro de Azevedo, toda essa gente é "comprometida". Falam, esbracejam, vociferam contra a longa manus do Estado, dizem-se "liberais", mas têm medo. Ora quem tem medo compra um cão, e não se dedica nem à indústria, nem ao comércio. Mais avisados andam aqueles liberais dos "serviços" porque chegam mais depressa e melhor a bom porto que os outros. Este fim de semana participei, em Ofir, num seminário sobre o putativo novo código dos contratos públicos. Deram-me a ler uma versão, mas consta que existem várias. Para quem estudou e gosta de direito administrativo, este "código" é uma indignidade parida num dos tais escritórios de advogados que servem de direcção-geral paralela a qualquer governo. A promiscuidade e a falta de vergonha já vão ao ponto de um ilustre administrativista português (Mário Esteves de Oliveira) ter falado ontem de manhã no "estigma do interesse público". Ou seja, na opinião dele, este "código" - todo ele pensado para a facilitação, para a corrupção, para as Otas e para os TGV's (não há que ter medo das palavras, como não tiveram a Maria João Estorninho e o Vasco Pereira da Silva) - que, em termos de pura técnica legislativa, é um trambolho, corresponde a dar vazão aos princípios da livre concorrência e da economia aberta, comunitários e constitucionais. Até aqui, estamos de acordo. Acontece que o código vai aplicar-se a Portugal, ao esterco que é a economia portuguesa e ao bando de marionetas que é o seu "tecido" empresarial, sempre com "medo das represálias". É um código de contratos públicos escrito e escarrado para contornar o "estigma" do interesse público, para, como diria um "liberal", servir o "mercado" que, por sinal, não funciona sem a mãozinha estatal. Ensinaram-me outras coisas na faculdade e, felizmente, verifiquei que, na "doutrina", ainda há quem ensine o que é o "interesse público" sem recurso à psicanálise ou a outro género de "interesses". O "blairismo" está presente no código na risível figura jurídica do "diálogo negocial". E na "agilização" dos procedimentos encomendada a preceito aos ilustres juristas das tais direcções-gerais paralelas. Por isso, este futuro código da contratação pública é um assunto a seguir e não um mero exercício onanista de cultores do direito administrativo. À sombra da transposição de Directivas comunitárias de 2004, prepara-se o pior. Basta ler no portal do governo as intervenções de vários ministros sobre o assunto, a começar pelo sempre engenhoso Mário Lino. Cheira-me que a PJ e os tribunais - os criminais, naturalmente - vão ter mais trabalho do que a justiça administrativa.

Adenda: O José Pacheco Pereira, nos intervalos entre aqueles doces "momentos em tempo real" e os "early morning blogs" e tretas afins, acerta quase sempre na mouche. E envio-lhe o post por mail apesar de saber que V. não lhe liga peva.

"O presidente da confederação patronal CIP esclarece que a razão por que os financiadores de um estudo sobre a localização de um aeroporto, - a que o Presidente da República concedeu uma caução recebendo-o em mão e que motivou uma inversão de 180º numa política governamental fixada por um "nunca", - querem permanecer anónimos, é "com medo de retaliações por parte do Governo" em "contratos, concessões, concursos" (cito o Sol). Passaram 24 horas sobre estas palavras , e nem o Governo nem o PS entenderam indignar-se, protestar, negar, tais afirmações, nem que fosse retoricamente. Ou acham que não vale a pena, por indiferença pela acusação, ou querem matá-la pelo silêncio e pelo esquecimento. Este silêncio é bem típico dos tempos, mas não devia ser permitido nem pela oposição nem pela opinião pública. Valia a pena perguntar ao Primeiro-ministro no parlamento, o primeiro sítio onde se devem fazer estas perguntas, se ele não acha que "quem cala consente", e se não tem nada a dizer sobre o clima pouco sadio que se está a instalar em Portugal.

[ADENDA: Tudo isto parece cada vez mais estranho. A pessoa que gostaria de ver bem longe desta confusão é o Presidente da República, mas, a não haver um esclarecimento rápido de todo este processo, ele também fica envolvido. É que não há uma única razão para haver segredo nestas matérias, a não ser evitar que a opinião pública perceba que está a ser manipulada.]"

16.6.07

LER OS OUTROS

O Paulo Gorjão é um homem delicado e atento. E é um excelente exemplo de como um blogger "sistémico" não precisa ser um vendido ou um vendilhão. Até ele, que é "certinho", já intuiu onde é que isto vai parar. Está a começar o "28 de Maio". "Isto ainda não é a América, mas, pelos vistos, já é quase Angola." Hoje, a blogosfera. Amanhã, o país.

GRANDES E EX


Ocorreu-me, de novo noutra paragem chuvosa a meio do país, que ouvi na rádio a indignação do dr. Mário Soares acerca da "flexisegurança". O termo designa uma nova forma de fornicar o trabalhador por conta de outrem que inclui já o preservativo, o lubrificante e o cobridor. Três em um. Para o dr. Soares que, por vezes não descola do século XIX, o termo é obra da "direita". Onde vocês ouvirem falar de flexisegurança, já sabem que está a direita por detrás da coisa, explicou ele aos jovens socialistas de Setúbal. Acontece que ninguém explicou ao dr. Soares que foi um senhor loiro, de olhos azuis, que pastoreia o grupo socialista do Parlamento Europeu e que foi primeiro-ministro da Dinamarca, quem inventou o conceito. Outro dia esteve aí a explicá-lo. Sócrates decidiu - porque ele se presta a isso - usar Soares como o seu mais recente idiota útil. Soares anda para aí a "tapar" o senhor engenheiro pela esquerda como se ele lhe agradecesse o frete. Soares era maior do que isto a que o actual PS o reduziu. Só posso lamentar mas sigo em frente. E volto para o automóvel e para a Filarmónica de Viena, dirigida por Karajan. É que, quem é grande, é sempre grande. Nunca cede à vulgaridade.

LER OS OUTROS

A mística do benfiquista. Que paupérrima mística.

VIGIAR É PUNIR


Aquando das eleições presidenciais que derrotaram estrondosamente Mário Soares, avisaram-me - o termo é mesmo este - que tinha para aí uns cinquenta olhos em cima do que escrevia. Presumo que esses cinquenta olhos, de lá para cá, terão aumentado exponencialmente. Não sobre mim exactamente, porque não tenho importância alguma, mas sobre aquele país que não se move no sentido pretendido pela moral da eterna vigilância. Foucault era um homem de esquerda mas descreveu muito bem os mais relevantes mecanismos repressivos, sobretudo o mais eficaz deles todos, o discurso. E como a sociedade e o poder sempre desconfiaram da loucura, reprimindo-a. Em Portugal, o discurso é pesado e o olhar é o da serpente. Salazar era um menino de coro. E, afinal, sempre era um senhor ao pé destes pequeninos parvenus.

RACAILLE

A pulhice do homo sapiens - um título de Humberto Delgado quando ainda era "fascista" - é universal. Uma conferência de imprensa após os "G8" e de um encontro com o czar Putin, foi o suficiente para a racaille que prospera nos media propalar que Sarkozy é um bêbado. Sarkozy é um mal amado porque escapa ao jargão. Porventura uma corridinha anti-séptica com a Praça Vermelha fechada ou a digestão em público de litros de CocaCola Zero teriam sido mais adequados. Acontece que o presidente da França é claramente um "não-alinhado", não no sentido comunista do termo, mas um verdadeiro anarquista institucional. E o respeitinho universal, de que nós somos apenas uns reles imitadores na política, nos costumes e na cultura, ressente-se muito destas coisas. Os cursos de comunicação social, aqui ou lá fora, preparam monstros e monstras para a correcção, sobretudo quando tudo começa numa cama ou num banco inclinado de um automóvel. Muitas vocações para a locução, para a entrevista e para a "academia" despontaram assim, aqui e lá fora. Não precisam - nem aprendem a - saber falar, basta-lhes saber gerir a abertura da boca. A racaille a que Sarkozy aludiu a propósito dos incendiários não está apenas na periferia da cidade. Esconde-se sobretudo por detrás das câmaras de televisão e dos caracteres dos jornais e das revistas. A democracia fabricou-a, não pode passar sem ela e revê-se nela. A "massa" é a mesma.

CASAMENTOS COSTA


Aqui está uma grande prioridade para a cidade de Lisboa oriunda da candidatura Costa. Como é que ninguém se tinha lembrado disto? Como diria o Marco Paulo, obrigado por existir, Ana Sara Brito.

Adenda: Por falar em "Sol", a partir de hoje talvez valha a pena seguir as "memórias" de José Hermano Saraiva que vêm com o hebdomadário.

O CONSELHO


Reuniu ontem por quatro longas horas o conselho de Estado por causa da transcendente presidência europeia que começa dia 1 de Julho. Foi special guest star o dr. Barroso que, dada a eminência da sua pessoa, entrou mudo e saiu calado. O comunicado do conselho fala no "elevado grau de exigência" da coisa como se alguma vez fossemos "exigentes" no que quer que fosse. O conselho também pediu a "convergência" de todos na coisa, sabendo de antemão que o vulgo se está perfeitamente nas tintas para a "presidência". O conselho é do Estado a que isto chegou. Só lamento a presença de uma ou outra pessoa que estimo pessoalmente, designadamente o presidente Eanes. O resto, como diria Sartre, deslize e não faça peso.

15.6.07

DO NOJO

Estava para "comentar" isto* - vamos agora ver como é que a blogosfera sistémica se comporta, dado que o assunto fundamental continua por esclarecer na Marechal Gomes da Costa, isto é, um simples problema de carácter ético e não académico -, porém, o Miguel furtou-me o verbo. Está aqui o essencial. E o essencial limita-se a meter nojo. "Sempre disse que a um preboste não se deve dar mais que um apito e um bastão; dar-lhe mais leva a isto num país de micro-ditadores, delactores, invejosos, difamadores e medíocres."

*
pelos vistos o disclaimer não cumpriu a sua função, embora a categoria processual de arguido não faça presumir coisa alguma em relação a quem quer que seja ou os posts tão-pouco

OUTRA SENHORA DIRECTORA

Até agora havia a senhora directora da DREN, a do dedinho espetado. Todavia, com este artigo, Fernanda Câncio aproxima-se perigosamente de uma "senhora directora do espírito alheio", directamente saída das trevas do radicalismo serôdio. Basta esta frase: "Uma situação inaceitável [a objecção de consciência dos médicos], que põe em causa direitos fundamentais e que não deixa ao ministério senão uma opção: ordenar aos serviços de obstetrícia que se organizem de modo a que haja médicos não objectores nos seus quadros. Nos Açores, como no resto do País." Repare-se na delicadeza estalinista do termo "ordenar" como se a consciência fosse subsumível num qualquer plano quinquenal. Em vez do bilhar grande, por que é que a Fernanda não vai dar uma volta à Coreia do Norte e fica por lá para ver como aquilo é bom e "ordenado"?