27.10.05

PORQUE NÃO?

O Rui Costa Pinto - que também faz parte da qualificada "brigada anti-cavaquista" - acha que os portugueses não desejam verdadeiramente ver Cavaco em Belém. Até porque devem estar lembrados, diz ele, da "pesada herança" dos dez anos de "cavaquismo", o suficiente para qualquer forma de vida inteligente fugir dele. Na opinião de Costa Pinto, Sócrates, o governo e o "assalto ao aparelho do Estado" são os maiores responsáveis por esta eventual ignomínia insinuada nas sondagens. A solução passa por Sócrates assumir "uma governação credível", única hipótese de "eleição de um candidato à esquerda". Com o devido respeito, Costa Pinto não tem razão nenhuma. Começo pelo fim. Quem for eleito PR, desta vez não o será por estar mais torto para a "esquerda" ou mais torcido para a "direita". E muito menos por se reclamar de "esquerda" ou de "direita". O eleitorado sabe perfeitamente de onde todos procedem e avalia quem é que, neste momento, tem melhores condições para protagonizar, com credibilidade e autoridade, a chefia do Estado. Acabaram definitivamente os "fantasmas", mas o "vale tudo" vai andar por aí. Por outro lado, Costa Pinto também não tem razão ao ligar a eleição presidencial ao desempenho do governo. Apesar de tudo, Mário Soares "vale" mais - ou "valerá" menos - do que a simplificadora ligação umbilical ao PS e ao governo. Os resultados que alcançar, serão dele, em exclusivo, e uma sua eventual derrota não prejudica, um milímetro sequer, o eng.º Sócrates. Julgo, aliás, que grande parte daqueles que estão predispostos a votar em Cavaco Silva, acha razoavelmente "credível" o "estilo" do primeiro-ministro e aceita, no essencial, o que está a ser feito em sectores como a Educação, a Justiça ou a Defesa. Finalmente, os "dez anos de cavaquismo" foram julgados em eleições adequadas, em 1995. Mesmo assim, uns meses depois, Cavaco "conseguiu", num escrutínio previamente condenado ao fracasso, 46% contra Sampaio e, como disse M. Soares na altura, com mais algum tempo "ainda ganhava". De facto, eu compreendo as dúvidas de Costa Pinto e de outros respeitáveis membros da "brigada". É que lhes é cada vez mais penoso responder, com um módico de lucidez e de respeito pela "realidade", a esta pergunta trivial: por que é que Cavaco Silva não pode ser eleito livremente Presidente da República? Só porque não?

Sem comentários: