27.10.05

CAVACO REVISITADO

O Kapa "recuperou" a entrevista realizada por Vasco Pulido Valente a Cavaco Silva, em Setembro de 1991, nas vésperas da segunda maioria absoluta, para a revista Kapa. Entre outras coisas, lá vem o que, pelos vistos, o agora candidato continua a pensar sobre os famigerados "poderes presidenciais" e que tanto preocupa os "guardiões do templo". Para reler, na íntegra.

K: Não o incomoda a condescendência da burguesia portuguesa consigo?
Sei o que a burguesia portuguesa pensa de mim. Não venho da «cultura de cocktail», como toda a gente sabe. Depois da Figueira da Foz, percebi que tinha entrado, de uma forma inesperada e radical, num novo universo e que, se não me adaptasse depressa e não surpreendesse, era crucificado.

K: Gosta da burguesia portuguesa?
Respeito as diferenças; respeito o direito à diferença.

K: Gosta ou não gosta?
Depende das pessoas. De algumas gosto.

K: E os ares de superioridade dos «intelectuais>,? Não o afectam?
Alguns julgam-se uma vanguarda esclarecida. O pior, para eles, é que se enganaram.

K: Em quê?
Fizeram, por exemplo, previsões catastróficas sobre o que ia suceder ao País e a mim, pessoalmente.

K: E as insinuações sobre a sua cultura?
Sou especialista de determinados assuntos, não sou de outros: e não pretendo fingir que sou aquilo que não sou.

K: E não se irrita?
Não. Acho algumas dessas pessoas bastante azedas e um bocado frustradas. Mas não me irrito. Continuo a minha vida com toda a normalidade.

K:Onde está a Direita e onde está a Esquerda em Portugal?
Foram desaparecendo... foram desaparecendo. Hoje é difícil identificar claramente uma Esquerda e uma Direita em Portugal. As transformações do mundo arrasaram as barreiras ideológicas. E em Portugal, desculpe que lhe diga, também contribuí um pouco para isso. O eleitorado tornou-se fluido e move-se com uma facilidade inconcebível há meia dúzia de anos. Quem imaginava que milhares de eleitores comunistas pudessem vir a votar em mim, ao mesmo tempo que milhares de eleitores do CDS?

Sempre que o Presidente da República, seja ele quem for, membro do partido do poder ou chefe do partido da oposição, interferir nas competências do governo cria inevitavelmente instabilidade no País. O Presidente deve ficar confinado às suas funções. Cabe ao governo conduzir a política geral do País. O Presidente não dispõe dos instrumentos necessários para o fazer e, se o fizer, fá-Io-à por força pela negativa...

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