18.10.05

COMO UM CHARRO

Parece que o governo tem a intenção de criar uma cadeira de "Educação Cívica" nas escolas. A ideia, segundo Jorge Lacão, é "despertar" os meninos e as meninas, mas principalmente os primeiros, para questões "profundas" e "sérias" como a igualdade entre os homens e as mulheres. Salvo o devido respeito, se o cerne da cadeirinha é esta matéria, não vale a pena. Aos púberes em idade escolar basta-lhes olhar para o lado e intuem imediatamente o mundo em que vivem. Da "primária" aos mestrados, existe hoje uma avassaladora preeminência do sexo feminino e, nas empresas e no Estado, o gineceu é igualmente confortável. Há, claro, excepções que as contingências sociais e a iliteracia confirmam. Não é o mesmo "ser mulher" na Lapa ou em Fornos de Algodres, ou adolescente na escola primária do Corvo ou na Universidade Católica em Lisboa. Por outro lado, os meninos e as meninas há muito que perceberam as "diferenças" sexuais entre ambos, coisa que, desde cedo, se dedicam a explorar mutuamente sem necessidade nenhuma de "educação". O Estado sempre teve esta mania de pastorear "civicamente" as suas ovelhas. Com Salazar, havia a "organização política e administrativa da nação", ginástica para os meninos e "lavores femininos" para as garotas. O 25 de Abril acabou com a noção "doméstica" das criaturas do sexo feminino, deu ginástica e "actividades circum-escolares " a todos e meteu-lhes na cabeça uma "introdução à política" marxizante. Mais valia que a "educação cívica" "ensinasse" a não escarrar ou a deitar papéis para o chão, a não dizer palavrões a torto e a direito no meio da rua e aos berros, a não mexer ostensivamente nas partes pudibundas, a cultivar hábitos de leitura geral, a desenvolver o "sentimento estético da existência", a não ver televisão, a não ser "formatado", a não ser frívolo, etc, etc. Quanto ao resto, às chamadas questões "profundas", dos costumes e da democracia, é perda de tempo e pura demagogia. O Estado "finge" que lhes "ensina" e eles apenas "fingem" que absorvem. Como se fosse um charro.

1 comentário:

Chapa disse...

É mais uma iniciativa estratégica sem estratégia, serve para fingir que se educa e apenas se ocupa.