20.6.03

O PARAÍSO NA OUTRA ESQUINA

Acabei de ler, com muitas outras leituras pelo meio, o último livro do escritor peruano Mario Vargas Llosa, "El Paraíso en la otra esquina". Trata-se de um romance arquitectado em torno das vidas da feminista Flora Tristán e do seu neto, o pintor Paul Gauguin. Gauguin começou por ser um bem sucedido corretor da bolsa de Paris, fez o que se chamaria um relativamente bom casamento, com uma nórrdica e, de repente, começou a pintar. Conheceu Van Gogh e, atraí­do pela expontaneidade da natureza e das criaturas do Tahiti, para ali embarcou, abandonando a, até então, sua civilização. A sua obra reflecte esta vivência e a sua errância algo desregrada e libertina que Llosa bem descreve no seu livro, em que alterna o percurso do neto com o da avó, anos antes. Flora foi o que podería­mos chamar uma mulher cosmopolita, parece que bonita, e empenhada na sensibilização social e na emancipação de homens e mulheres nos finais do século passado. Também ela abandonou a sua primitiva condição de esposa e de mãe para se lançar, mundo fora, na utopia da libertação. Os capí­tulos dedicados a Flora Tristán revelam uma mulher com uma audácia interior e uma coragem moral e física impressionantes, ao mesmo tempo que insinuam a imensa solidão do seu combate.O mundo de hoje não permite mais "fabricar" criaturas como Gauguin ou Flora. O texto de Vargas Llosa tem o mérito de nos remeter para os caminhos inacabados de ambos, cada um à sua maneira, em busca do paraíiso na outra esquina.

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