12.9.11

O "RESPALDO"


Li num blogue de um nostálgico da Rua da Sofia que o governo não tem o "respaldo dos intelectuais". Para a criatura, o imprimatur tremido ou nulo de determinadas eminências do PSD é uma fraqueza lamentável que se traduz, precisamente, na ausência do dito "respaldo". Esta tese assenta num equívoco antigo. Para não irmos mais longe, começou com a emergência do "camponês de Boliqueime" - o "tipo" ou o "gajo" na versão socialista, laica, republicana e ternurenta do dr. Soares - que nunca passou no "crivo" de algumas "elites" do regime, quase todas invariavelmente filhas espúrias da "extremo-esquerdice" que atacou muito filho da média e grande burguesias a partir, sobretudo, dos anos 60. A sobranceria esquerdina propriamente dita teve o seu apogeu naquele inesquecível friso de perninhas a dar a dar, sentadas no muro da cidade universitária de Lisboa em 1962, do qual brotou, por exemplo, o sempre extraordinário Jorge Sampaio. Sá Carneiro, aliás, foi logo desprezado em 1975, no congresso de Aveiro, pelos mesmos que, pelo caminho, se aliaram ao PS ou ficaram pelo então PPD a ressumar ser de "esquerda" ou de "esperanças" velhas ou novas, acabando todos por se diluir na mesma e uma amálgama mediática. De facto, o regime, graças às televisões, deu visibilidade a esta vastíssima parafernália de "intelectuais", reais ou fraudulentos. E eles passaram a ditar as regras da "selecção natural" e a passar "atestados". Salvo raras excepções, quando alguns desses "intelectuais" foram a votos, o desastre surpreendeu-os invariavelmente. Em trinta e muitos anos de regime, tivemos - e temos - "intelectuais" para todos os gostos e feitios. Tal como temos políticos que ganharam eleições apesar de muitos desses "intelectuais" os fadarem à desgraça e à humilhação. Foi assim com Sá Carneiro em 75 e 79, com Soares em 75, 83 e 86, com Eanes em 80, com Cavaco anos a fio, com Sócrates em 2009 ou com Passos em Junho último. As elites deste regime são uma coisa que passa pelos rodapés das televisões e pouco mais. Como "respaldo", chega e sobra.

4 comentários:

joshua disse...

O que esses 'intelectuais' estomacais não fazem para que os respaldem a eles! Não é por nada. Somente por autodefesa e terror é que se atiram aos que lhes possam pôr em causa a mercearia garantida pelas esquerdas amigas e mãos-largas da governação central e local.

Todo o outsider é-lhes um alvo em movimento, sem direito à cadeira de espaldas da bênção 'sinistra'.

Isabel disse...

De facto,é mais criativo o Spongebob do que esses benditos iluminados!

H.R. disse...

E que "artistas" são estes que se manifestam assim?!

"Declaração dos Promotores do protesto “Artistas e Públicos Indignados”
Dia 17 de Setembro, Lisboa, Praça do Rossio, pelas 17h

“A nossa capacidade de indignação pode e deve levar-nos a ações construtivas, motivadas pela recusa da passividade e da indiferença. (…) Saber dizer sim. Agir. Combater. Participar na insurreição pacífica o que nos permite dar resposta a um mundo que não nos agrada. Numa palavra: empenhar-nos!” afirma o filósofo Stéphane Hessel.

Artistas e Públicos Indignados é uma “revolta! de gente da “cultura” perante uma conjuntura que representa um retrocesso civilizacional em termos de direitos de cidadania, uma “revolta” que é intérprete não só de um sentimento colectivo de desalento, ainda difuso, e que deseja encontrar uma linguagem certa para o denunciar.

Esta iniciativa de protesto dos sectores das Artes e da Cultura pretende promover a unidade de todas as diferenças sem as anular, não querendo ser patamar de divisão ou de sectarismo sectorial; deseja, isso sim, dar visibilidade a um movimento geral de indignação de artistas, criadores e demais trabalhador@s face ao actual estado de degradação, desinvestimento e desertificação do sector das Artes e da Cultura. Pretende, também, dar voz aos Públicos, que a ela têm direito, para que possam ser espectadores emancipados.

Este é um protesto que emerge, organicamente, da força conjunta de um país a requerer mais e melhor democracia, mais qualidade de vida e que luta também pela requalificação das condições de criação e pelo direito aos seus tempos de fruição e de reflexão.
A Arte e a Cultura são os elementos vitais para a construção de um mundo melhor, tecido de diálogos entre visões e entendimentos diferentes do mundo.

Queremos que a Arte e a Cultura nos ajudem a fazer um país melhor, um país que questione, critique e altere um modelo de sociedade que claramente falhou.

Artistas e Públicos Indignados fazem ouvir a sua voz no dia 17 de Setembro, pelas 17h na Praça do Rossio, e em qualquer lugar do país, e decidem habitar criativamente a rua com a sua arte e cultura.

Programa do evento:
(prevê-se a sua realização simultânea em várias cidades do país):
17h concentração de artistas e públicos indignados na Praça do Rossio, Lisboa
19h reunião-debate aberta a tod@s participantes

Promotores:
Dolores de Matos, programadora, encenadora e actriz
Eugénia Vasques, Prof. Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, crítica teatral
Joaquim Paulo Nogueira, dramaturgo e investigador
Leonor Areal, cineasta
Margarida Paredes, escritora, antropóloga
Mário Nuno Neves, autarca e publico muito indignado
Paulo Raposo, Prof. Instituto Universitário de Lisboa/ISCTE, antropólogo
Patricia Freire, programadora cultural
Rui Rebelo, músico
Sara Gonçalves, actriz

Contacto: artistasepublicosindignados@gmail.com
Evento Facebook: https://www.facebook.com/event.php?eid=272937089398976"

Anónimo disse...

Por razões ou com motivações erradas, o facto é que essas elites tiveram a razão que a populaça eleitora não teve ... Ou não estejamos nós na situação em que estamos ...