16.9.11

A FALÁCIA


Independentemente das atitudes oficiais, este blogue (o seu autor) tem uma opinião acerca do Acordo Ortográfico. Não tenciona escrever uma linha que seja ao seu abrigo (em caso de extrema necessidade, procuro quem "traduza"). E encontra num texto de Fernando Venâncio, publicado na revista Ler, basta e criteriosa informação técnica e histórica para fundamentar a sua oposição a esta falácia. Um leitor, Octávio Santos, enviou-me ontem um mail do qual extraí o seguinte: «Hoje tive a primeira reunião de turma da minha filha mais nova, e disse à professora... aquilo que ela já sabia: o que ela ensinar à Adriana pela «via acordista» eu, depois, corrijo. O que, aliás, já aconteceu hoje, primeiro dia de aulas: ela disse às crianças que agora os meses e as estações do ano se escrevem (primeira letra) em minúsculas... e eu instruí a minha garota quanto à forma correcta. Practicamente* todos os outros pais e EE's concordam comigo. Ficou a ideia de marcar uma outra reunião, com outras professoras, incluindo a responsável principal, do agrupamento em que a escola dela se insere. Mas esta é uma guerra que se afigura muito difícil...» É, de facto, difícil. Porque, como escreve Venâncio, «mesmo que agora, sensatamente, os políticos portugueses desactivem um processo ainda perfeitamente reversível, o primado da «pronúncia» (que ninguém questionou) está doravante firmado nos juízos e procedimentos da nossa grafia.» E continua. «No Brasil, uma nova geração de linguistas apresta-se a tomar as rédeas. Ela vai já quebrando tabus morfológicos e sintácticos, e quebrará os ortográficos também. As várias pronúncias "cultas" em território brasileiro não escondem um vasto âmbito de uniformidade sonora, mormente em contraste com Portugal. Um dia, essa considerável uniformidade vai, sobretudo no âmbito das consoantes, reclamar a adequação gráfica que a etimologia e a tradição lhe sonegaram, e não é a pronúncia portuguesa, mesmo culta, que irá estorvar tal anseio. os portugueses e outros "irmãos de língua" encontrarão aí um venturoso estímulo. E pronto. Lançada esta promissora semente, e devidamente agradecidos os nossos aprendizes de feiticeiro, pode o infeliz e falacioso Acordo entrar agora, tranquilo, no esquecimento.»

*no original

17 comentários:

Anónimo disse...

Ler os 'rodapés' informativos da RTP ou ler o Expresso é um exercício de tortura; é como tentar ler coisas escritas por débeis mentais e esborratadas nas paredes das estações da CP; é a verificação prática de quão rudimentar se está a tornar a Língua - servindo políticos, primitivos, comerciais e massificadores propósitos. Uma vergonha. Hoje a velha-edite fez o jeito ao "acordo" e balbuciou explicações e justificações às gentes ignaras dos programas da manhã e dos 'cafézes'.

Ass.: Besta Imunda

Zé Luís disse...

Subscrevo, e pratico, totalmente.

Isto só se resolverá à estalada? OU com pau de marmeleiro?

Por exemplo, embora pareça insignificante, qual o propósito de retirar a maiúscula a "Primavera"?, como ouvi há dias no "Bom Português" da RTP?

Não sei, se calhar seria indiferente, mas como aprendi assim, já lá vai quase meio século, não sei porque mudar. Para quê. Em nome de quê. Da pronúncia?

Já agora, creio que querer retirar o "c" ao facto, porque supostamente sem "c" vai-se concordar com a pronúncia. Mas alguém me perguntou se eu, ao fim destes anos todos, não continuo a dizer facto?

Bardamerda!

Anónimo disse...

Practicamente ?

impensado disse...

Mas ainda vê a RTP? Deixei logo de ver. O mesmo com o «Expresso»: deixei de comprar. Esse e tudo o que for publicado em português mutilado.
Estamos a assistir a uma gigantesca ofensa ao património cultural português e mundial, um crime que tem de ser denunciado nas instâncias internacionais, perpetrado pelo estado.

Cáustico disse...

Antes de o acordo ter sido firmado, ouvi na RTP um seu defensor fazer a afirmação estúpida que se corria o risco de, sem acordo, o português, o nosso, vir a desaparecer, porque do lado de lá eram para cima de 100 milhões e do lado de cá apenas 10 milhões.
Só lamento é que o funcionário que ouvia os desaforos de tal lambe cús não lhe tivesse perguntado como era que os noruegueses, os suecos, os finlandeses, os albaneses, os húngaros e muitos outros iam poder manter os seus idiomas.
Em 1580 o ouro veio de Espanha, agora parece ter vindo do Brasil.
A atitude do Sr. Venâncio é para mim absolutamente meritória. Mas tem riscos, se os miudos tiverem professores oriundos da escola do Rato.
De há muito que venho aconselhando o boicote total a tudo o que vier escrito com a ortogtadia do acordo. Verão como tal atitude levará os cultivadores do não-te- rales, do deixa correr a mexerem-se como é necessário.

Anónimo disse...

Eu também obrigo os meus filhos a escrever pharmácia e chímico.

Cáustico disse...

No comentário que fiz deve ler-se Octávio Santos e nâo Venâncio. As minhas desculpas.

joshua disse...

«As várias pronúncias "cultas" em território brasileiro não escondem um vasto âmbito de uniformidade sonora, mormente em contraste com Portugal. Um dia, essa considerável uniformidade vai, sobretudo no âmbito das consoantes, reclamar a adequação gráfica que a etimologia e a tradição lhe sonegaram, e não é a pronúncia portuguesa, mesmo culta, que irá estorvar tal anseio. os portugueses e outros "irmãos de língua" encontrarão aí um venturoso estímulo.»

Nesse dia, quando grafarem «Grandji djia dji futxibóu, djia dji sóu e lúiz», passe o exagero, terá acabado, tal como a conhecemos, a Língua Portuguesa variante do Brasil.

Jorge Oliveira disse...

Que é feito da petição assinada por quase duzentas mil pessoas contra o Aborto Ortográfico?

Anónimo disse...

Anónimo das 5:42, O Ph mantém-se em inglês, em francês, em alemão... Philosophy, philosofie, philosophia.
Mas é gente pouco evoluída. O Brasil e Portugal, ao invés, provocam a inveja das gentes pela sua pujança intelectual - obtida através de sábios decretos e regulamentos

ana disse...

practicamente? também é para fugir ao Acordo?

ana disse...

Facto sem c, sr. Zé Luís? É que nem com nem sem Acordo.Pobres criancinhas.

Anónimo disse...

Completamente de acordo.Através da "net"dever-se-ia criar um movimento de repúdio, e o boicote a tudo que seja contra a Língua Portuguesa. Por outro lado, fazer chegar a Sua Exa. o Senhor Ministro da Educação uma petição para, numa primeira fase, tornar facultativa a ortografia e, posteriormente, este assunto ser estudado pelos linguistas e filólogos e, de acordo com as suas conclusões, se proceder. Só é pena que esta alta traição contra o País e a Pátria venha a ficar impune!

Anónimo disse...

Anónimo das 11:49,

Tudo isso, ou quase já foi feito. Para que funcionasse seria preciso que Portugal fosse uma democracia e um estado de direito o que, todos sabemos, não é.
Creio que restam as instâncias judiciais, nacionais e internacionais. No Facebook há grupos com mais de 120 000 pessoas que são contra o «acordo». Há um mal-estar grande, mas sendo este «acordo» atribuível à tolice, à corrupção é à estupidez, não temos adversários fáceis.

Anónimo disse...

Zé Luís,
Para quê tirar a maiscúla de Primavera? O motivo é o mesmo das mutilações: essencialmente porque os brasileiros assim querem. E aqui obedece-se, através dos canais costumeiros, a saber, o dos tráficos de influências (grande destaque para a maçonaria, que a coisa teve logo o impulso do maçon Sarney, esse impoluto estadista), de papas e bolos e da prestimosa estupidez.

Zé Luís disse...

ana,

???

P. N. B. disse...

É assim que as coisas se fazem, juntam-se os pais e exigem à escola que ensine os seus filhos correctamente. A escola transmite a decisão dos EE ao ministério. E esses senhores vão fazer o quê? Obrigar as pessoas a fazer aquilo que não querem? Onde estamos? No tempo do Salazar? Quanto mais situações destas ocorrerem, menos força terá este disparate. Unam-se que a união faz a força. Quem manda neste terra somos nós, não são os políticos.