Depois do livro da foto - o livro é de 1974 mas esta edição tem um prefácio de 2010 (era dispensável aquela coisa na capa da "edição do centenário da República") -, praticamente não se escreveu mais nada acerca do "5 de Outubro". Ou escreveu-se e não interessa. A ler, ou a reler, por estes dias.
«A República foi feita pela chamada "geração de 90" (1890), a chamada "geração do Ultimatum", educada pelo "caso Dreyfus" e, depois, pela radicalização da República Francesa de Waldeck-Rousseau, de Combes e do "Bloc des Gauches" (que, de resto, só acabou em 1909). Estes beneméritos (Afonso Costa, António José d"Almeida, França Borges e outros companheiros de caminho) escolheram deliberadamente a violência para liquidar a Monarquia. O Mundo, órgão oficioso do jacobinismo indígena, explicava: "Partidos como o republicano precisam de violência", porque sem violência e "uma perseguição acintosa e clamorosa" não se cria "o ambiente indispensável à conquista do poder". Na fase final (1903-1910), o republicanismo, no seu princípio e na sua natureza, não passou da violência, que a vitória do "5 de Outubro" generalizou a todo o país. Não admira que a República nunca se tenha conseguido consolidar. De facto, nunca chegou a ser um regime. Era um "estado de coisas", regularmente interrompido por golpes militares, insurreições de massa e uma verdadeira guerra civil. Em pouco mais de 15 anos morreu muita gente: em combate, executada na praça pública pelo "povo" em fúria ou assassinada por quadrilhas partidárias, como em 1921 o primeiro-ministro António Granjo, pela quadrilha do "Dente de Ouro". O número de presos políticos, que raramente ficou por menos de um milhar, subiu em alguns momentos a mais de 3000. Como dizia Salazar, "simultânea ou sucessivamente" meio Portugal acabou por ir parar às democráticas cadeias da República, a maior parte das vezes sem saber porquê. E , em 2010, a questão é esta: como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam "carbonários", vigilantes de vário género e pêlo e a "formiga branca" do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos "direitos do homem e do cidadão" que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de "suspeitos" (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do "outro" mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível ignorar que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o "5 de Outubro" trouxe a Portugal? (Adaptação do prefácio à 6.ª edição do meu livro O Poder e o Povo).»
Vasco Pulido Valente, Público
8 comentários:
A propósito de centenário: vai à Dona Branca?
conservo 2 folhetos que a BNP não aceitou como oferta
mario neves; a vida de afonso costa (lixo)
a revolução em Lisboa (edição Romano Torres 1910 com documento da época)
ainda não ouvi falar da
monarquia de Chaves
ditadura de Pimenta de Castro
dos 'gazeados' da Flandres
da sopa dos pobres d e Sidónio
da camionete fantasma
da prisão do Sr. Alfreedo da Silva
da inflação galopante a partir de 1918
Interessa ler tudo quanto explique a bruteza acrescida das gentes e a desgraçada e reles elite que nos enfastia.
O próprio ano civil de 2010 é uma 'edição do centenário da República'.
Cumpts.
Esta III República, fundada em 25 de Abril de 74, é que é a boa República ?
Em 2074 devemos festejar os seus 100 anos e lembrar os "Grandes Capitães" como quem lembra por estes dias o Comandante Mendes Cabeçadas, óra iniciando a revolução republicana, óra conspirando a favor da ditadura de 1926 ?
Quem me dera saber ...
Comemorar a implantação da República da forma lúdica, idílica e acrítica, como está a ser, é um perfeito disparate.
Para além de ser mais uns milhões retirados à cratera das contas públicas.
Como Vasco Polido Valente está proibido de ir às televisões e quem o lê são sempre os mesmos, está pois condenado a explicar sempre e só aos mesmos. Há pouco mais de um ano, ainda a TVi o recebia uma vez por semana - às 6ªs, e punha o professor-marcelo a um canto. VPV foi sepultado pela república-de-sócrates numa página irregular de um jornal (até ver...) e remetido ao silêncio dos livros, no país-analfabeto-das-novas-oportunidades e da mediocre classe média que "não quer questões".
Ass.: Besta Imunda
O PS tem uma tendência irresistível para calar vozes independentes, e sobretudo a do VPV. Já o nefando Guterres, assim que cheou ao Poder, mandou calar o Desmancha-Prazeres, programa de rádio em que participava o supracitado, Nuno Rogeiro e Paul Portas.
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