O Henrique Raposo tem tudo para brilhar no firmamento opinadeiro nacional onde, aliás, já brilha e doutrina. Como ainda é moço, vai perfeitamente a tempo de escolher entre ser mais um tagarela ou usar a cabecinha. Só quem não tem a mais vaga ideia sobre o que é Moby Dick de Melville é que pode escrever que "a malta amiga com filhos pequenos nunca percebe as minhas prendas, mas, pá, o Moby Dick é o livro que se deve ler a uma criança, naquela cena clássica do bedtime story". Moby Dick pode ser tudo menos um livro "que se deve ler a uma criança". Não é um livro "infantil" por muito que isso custe a entrar na às vezes infantil cabeça do Henrique que talvez ainda não consiga pensar na "linha feiticeira" dos verdadeiros "mergulhadores do pensamento". Para ele não me acusar de não sei quê, apenas me limito a citar Gilles Deleuze. «Melville dizia: "Se dissermos dadas as necessidades da argumentação que ele é louco, então eu preferiria ser louco a sábio... gosto de todos os homens que mergulham. Qualquer peixe pode nadar perto da superfície, mas é preciso ser-se uma grande baleia para descer a cinco milhas e mais... Os mergulhadores do pensamento voltaram à superfície com os olhos injectados de sangue desde o princípio do mundo." Reconhecemos com facilidade que há perigo nos exercícios físicos extremos, mas o pensamento é também um exercício extremo e rarefeito. A partir do momento em que pensamos, enfrentamos necessariamente uma linha onde se jogam a vida e a morte, a razão e a loucura, e esta linha arrasta-nos. Só podemos pensar nesta linha de feiticeira.»
15 comentários:
O Henrique é simpático e meio imberbe. Por vezes escreve bem, mas quando escreve isto: «I. Meus amigos, nós estamos a pagar 6% sobre a nossa dívida. Isto é insustentável. A cada hora (repito: a cada hora), o Estado endivida-se em 2.5 milhões de euros. Isto é insustentável. O governo tem de reduzir a despesa pública, e só há uma forma séria de o fazer: cortar nos salários da função pública. Sem um corte na massa salarial dos funcionários do Estado, será impossível controlar a despesa. Impossível. Acabou a festa, meus amigos. Nós não podemos gastar 15% do PIB só em salários do funcionalismo público. Não podemos. 15 cêntimos de cada euro que v. ganha, caro leitor, são destinados aos salários da função pública. Acha isto justo?
II. O drama de Portugal é este: o Estado endivida-se para abastecer os direitos adquiridos do statu quo, e não para fazer reformas-chave. O problema é que esta dívida enorme que estamos a acumular é apenas para gastos de tesouraria. Perante isto, meus amigos, a primeira coisa a fazer é esta: cortar nos insustentáveis salários da função pública. Se o governo não o fizer (e o PSD e CDS deviam apoiar o PS nesse sentido), o FMI tratará disso no dia em que o Estado não arranjar dinheiro para pagar o 13.º mês aos seus santos funcionários. E esse dia está a chegar.
III. A este respeito, convém reler um artigo de Pedro Maia Gomes (professor na Universidade Carlos III, Madrid), publicado no Expresso de 4 de Setembro. As contas dos privilégios insustentáveis dos funcionários públicos começam assim: "pessoas com características similares recebem mais 16% de salário no sector público". Depois, os salários da função pública sobem sempre, e nunca estão anexados à produtividade. Numa empresa (i.e., na realidade) aumentos acima da produtividade significam a falência. No Estado, esta prática irracional é conhecida pelo eufemismo de "direitos adquiridos".
IV. Perante esta realidade, uma redução nos salários da função pública seria sempre uma medida justa, no sentido de atenuar a assimetria entre o público e o privado. Ora, na actual conjuntura, um corte na função pública não é só justo: é igualmente necessário. Segundo Pedro Maia Gomes, um corte de 10% na função pública permitiria reduzir 2 mil milhões de euros por ano na despesa (1.4% do PIB). É aqui que devemos cortar, e não nos apoios sociais como o subsídio de desemprego. Mas repare-se no seguinte: José Sócrates já mexeu em todos os subsídios, mas ainda não mexeu onde devia ter mexido: nos salários da função pública.
PS: Convém lembrar que nos paraísos nórdicos os funcionários públicos têm sempre salários mais baixos do que no sector privado. E é o que faz sentido: porque um trabalhador do estado terá sempre mais segurança do que um trabalhador do sector privado. Mas, em Portugal, os nossos santos funcionários públicos têm o melhor dos dois mundos: salários mais altos e segurança à prova de bala.»
Escreve MERDA e um funcionário público que entra nos cafés, nos cabeleireiros e barbeiros, que compra o semanário brasileiro Expresso, devia de deixar de o comprar: o Henrique está a clamar por despedimento do sofá escrevente do Expresso.
ele há cada imbecil!
E Melville estrebucha no túmulo!
"ele há cada imbecil!" Mesmo!
Literatura para crianças? Enid Blyton.
Moby Dick, na opinião de académicos e pensadores genuínos, é obra para ser lida na fase madura da vida, porque nos ajuda a reflectir sobre se os objectivos que percorremos toda uma vida - analogia com a obstinação de Ahab - foram benéficos ou constituiram uma busca infrutífera no qual desgastamos a vontade de uma vida.
Afirmar que Moby Dick é literatura para crianças é próprio de incultos e iletrados.
Pois é! Mais um pavãozito deslumbrado com o brilho que julga que tem e a quem falta o essencial para opinar decentemente: conhecimento, cultura, mundo. Uma tristeza de gente esta que escreve nos jornais como fala em conversas de treta com os amigos!
Como se vê, há mais opinion makers na nossa praça a gostar dos concertos de violino de Chopin. ... Pobre país!
Carlos F
para Wilde «a ambição é o último refúgio do fracasso»
'não gasto cera com ruins defuntos'
A falta de cultura da nova geração é preocupante.
Mesmo em alguns que gosto de ler e ouvir falar e me parecem do melhorzinho do que há para aí na nova geração se nota alguma deficiência em história e filosofia.
Quando a esta tal Raposo, para quê explicar-lhe - se até agora não descobriu por ele mesmo - que Moby Dick está ao nível das grandes epopeias do mundo?
Este moço tem pouco que se lhe aproveite: não estuda a matéria, não faz os trabalhos de casa e instrui-se de ouvido pelos foles de certo discurso da moda.
Investe sempre mais certeiro às tábuas que aos bandarilheiros.
Há-de ter futuro, pos claro.
Cumpts.
Não é a primeira dele. Há uns tempos atrás fez idêntico com uma citação qualquer.
ó caraças! ele cita-me!!!!
Não conheço o Henrique Raposo de lado nenhum. Sei que foi aluno do meu amigo Alfredo Tinoco numa escola secundária dos subúrbios. O Alfredo, anarquista e cultíssimo, discutia os livros do Borges e de outros escritores,incluindo a Moby Dick, nas aulas. Apesar de ter mamado muita literatura, o Raposo é desajeitado sempre que tenta fazer humor. Mesmo em certos arrobos "anarquisantes" revela a influência que o "mestre" teve na sua formação. O Alfredo falou-me dele. Até me disse que era um daqueles ratos de biblioteca e de cinemateca.
O João não tem razão.
Um beijo
Lourdes Féria
está visto que aqui se encontraram um data de funcionários públicos...
Antes isso que p.
Quer-me parecer que há muita gente a confundir funcionários públicos com "boys" e "girls".Tenho familiares e amigos que, sendo juristas, engenheiros ou economistas, têm estado na vanguarda da denúncia dos abusos económicos cometidos pelo estado. Nunca esquecerei a exclamação dum engenheiro que me é muito próximo, ao entrar no seu posto de trabalho, pouco depois da eleição de Guterres. Indiferente a retaliações, clamou:" Acho que me enganei no endereço. Só por aqui vejo gente desconhecida". Também uma amiga próxima, economista, esteve às portas da morte ao ver-se surpreendida pelo despesismo de um autarca e compelida a justificá-lo. A lista seria infindável e todos têm em comum o terem, em vão, contestado o facto chocante e criminoso de o Estado pagar maquias fabulosas a técnicos privados, tendo tantos e tão competentes nas suas fileiras. Enfim,quem não sabe do que fala
( ou o sabe bem demais),refere os "fps" como massa indiferenciada que vem mesmo a calhar para o papel de bode expiatório. Nada mais chocante e injusto nos tempos que correm.
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