14.10.10

MARIA CRISTINA DE CASTRO




Houve uma época assaz curiosa na minha vida em que imaginei que podia cantar. Não cantar num coro, estilo do liceu ou da universidade, mas cantar mesmo. E fui a casa de Maria Cristina de Castro, ali para os lados da Estrela/Campo de Ourique, para ponderar lições. Perpetrei umas notas ridículas na parte dos "vocalizes" da qual prudentemente não passei. Mas Maria Cristina era generosa e achava que, de lição em lição, a coisa ia a qualquer lado. Não foi, evidentemente, porque um assomo de bom senso e de vergonha impediu-me de lá voltar. Era uma presença habitual no São Carlos e na Companhia Portuguesa de Ópera. Cantou ao lado da Callas, em 1958, na Traviata. Ajudou muita gente a dar os primeiros passos no mundo da ópera. Era uma pessoa boa precisamente o oposto da "boa pessoa". Acho que chega.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida,
Era uma pessoa Boa, e não o assustador: boa pessoa.
Obrigada por relembrá-la aqui,
ela merece.
Obrigada!
G

fado alexandrino. disse...

E pensar que Callas & Outros chegou a acontecer em Portugal.
Agora talvez um dia na Reboleira.

Anónimo disse...

Caro João,

Obrigado, muito obrigado mesmo pelas suas palavras sobre a Maria Cristina.
Tive a sorte, a honra, o prazer, eu sei lá o que dizer mais, de conhecer esta personalidade. Conhecedora do seu mundo,amiga do seu amigo, generosa e simples até dizer basta!!! O contrário das nulidades que continuam por cá e que não desaparecem mesmo...
Muito obrigado

Marquis

joshua disse...

Tive aulas de canto, num curso de salmistas muito profissional, na Diocese: toda a vida cantei e sempre que canto, faço-o com toda a arte assim como declamo segundo o que aprendi de Júlio Couto e não é pouco.

Toda a gente, na Igreja, gosta do resultado pois o artista não desaprende a sua Arte.

Um dia, quem sabe?!, gorjearei qualquer coisa no "Fidalgo".

Anónimo disse...

Estive fora, de modo que só agora tenho oportunidade de lamentar aqui o desaparecimento de J.Sutherland, extraordinária soprano sem qualquer dúvida. Mas uma vez que mencionou no seu outro escrito Maria Callas e agora por causa deste vídeo, permito-me deixar uns pequenos e curiosos apontamentos sobre ambas e não só.
Sei que gosta dela. Nós cá em casa também e muito. Sem desprimor para outras vozes belíssimas que as houve indiscutìvelmente ao longo deste último século e numa opinião meramente pessoal, eu acho que Maria Callas foi a maior soprano de todos os tempos. Não haverá mais nenhuma voz que se lhe compare por muitos anos e bons.

Em 1958, Sutherland e seu marido assistiram em Londres ao primeiro recital dado nesta cidade pelo tenor Mario Lanza, naquela que foi a sua primeira e última tournée pela Europa, depois de imensos convites que lhe vinham sendo endereçados consecutivamente desde 1951. Após o recital de M.L. ela afirmou: "I can only describe Lanza in one word, Magnificent". Nunca teve oportunidade de cantar com ele, que desejava, porque Mario Lanza viveria pouco mais de um ano após este recital.

"The american lirico spinto Mario Lanza possessed, in the opinion of Plácido Domingo, "one of the truly
great natural tenor voices of the past century - a voice of beauty, passion and power".

Maria Callas afirmou que a sua maior tristeza foi nunca ter cantado com Mario Lanza.

José Carreras, Domingo e Pavarotti, afirmaram em diversas ocasiões que aquele que os fez enveredar definitivamente pela profissão de tenores foi o facto terem ouvido desde muito novinhos (os pais de todos eles adoravam a voz de Lanza) e vezes sem conta, as árias e canções de Mario Lanza. Carreras diz frequentemente que foi aos 9 anos, após ter visto várias vezes "O Grande Caruso", a primeira vez levado pela mãe, grande admiradora de M.L., que decidiu ser tenor, de tal modo o impressionara a voz de Lanza, que considera a mais bela e poderosa de todos os tempos.

Mario Lanza disse numa entrevista em 1959, poucas semanas antes de falecer (ao não ter resistido ao terceiro e derradeiro ataque cardíaco, os três no mesmo ano), não na sua querida América, mas em Itália, berço de seus pais, que também adorava e onde dois anos antes havia sido recebido com loucura: "I feel like going on forever. I never want to quit. If you don't believe in opera Mister you don't believe in anything".

Parabéns pels seus últimos escritos e vídeos.
Maria