Uma semana após a estreia, a tvi24 concedeu, finalmente, uma hora de tempo de antena ao "socratismo" na versão "soarista". Constança Cunha e Sá convocou o seu amigo Mário Soares para dar início a um novo ciclo de entrevistas. Respeitosamente foi-lhe perguntado pelo congresso de Espinho e pelo partido de que ele, num passado remoto, foi secretário-geral. «Um êxito», exclamou Soares, onde o admirável líder demonstrou que «não está complexado em relação ao passado», um momento que revelou uma «situação de fraternidade» apesar de «alguma (?) unanimidade» que »quase parecia uma votação de um país de leste.» Depois, Soares "malhou" - respeitosamente não obstante a divertida referência a «essas meninas da comunicação social que andavam por lá» que distinguiu dos «bons jornalistas» para não ferir a susceptibilidade da incumbente - nos media uma vez que «são todos contra o líder do partido.» Ele, aliás, «nem gostava muito» de Sócrates mas acabou por ganhar «afecto por ele» a ponto de ver no dito «uma pessoa que não é arrogante e que é muito emotivo.» As coisas que o dr. Soares consegue inventar. Para além destas "qualidades", o insubstituível dirigente «percebeu a crise e está a reagir muito bem a ela.» Como? «Ele mudou o discurso em relação à política», isto é, Soares acredita piamente, como os fiéis dois mil de Espinho, nos anúncios e na propaganda onde inclui as "novas fronteiras" que, imagine-se, «têm feito crítica séria.» Não se riu. Lá concedeu que «o partido está um pouco governamentalizado» mas que «não há medo no PS.» Soares também recomendou um registo respeitoso à oposição que «devia ser menos insultuosa.» Alguns episódios menos agradáveis ligados à liberdade de expressão são, para Soares, meros «fait divers.» Revelou que «achava que o destino do BE era entrar um dia no PS» mas «eles têm ali uns complexos» que impedem tão sublime encaixe. Soares, todavia, «gostava que eles se entendessem» porque «a crise vai obrigar à esquerdização do mundo.» Das duas, uma. Ou o dr. Soares, mesmo sem ter estado presente na nave de Espinho, "vive" mentalmente lá, ou o antigo PR regressou a uma espécie de infância da política em que somos todos uns gajos porreiros. Não somos. E, sobretudo, Sócrates não é.
11 comentários:
O Mário Alberto levou estes últimos anos a malhar na Terceira Via do Tony Blair e agora (pasme-se!) anda a elogiar um sub-produto dessa amálgama proto-ideológica...
Mais fácil é apanhar um mentiroso do que um coxo...
Tenho que lhe agradecer ter-nos fornecido este resumo da entrevista.
M. Soares é uma das pessoas que não consigo ouvir sem que me surja uma erupção temporária da pele, caracterizada pelo surgimento de pequenas vesículas pruriginosas muito próximas umas das outras.
A relação do Dr. Soares com a realidade e com a verdade é em tudo semelhante à de Sócrates: difícil. Ambos se contentam com as respectivas versões senis completamente desconformes com a doxa e o senso comum. A distorção é a substância amniótica preferida de cada um e o Ego interminável um traço hipertrofiado.
Mas é estranho que o primeiro, esse formidável sugador da 'democracia' portuguesa pós-aprilina, não fique severamente apreensivo com os perigos de assanhamento 'democrático' exclusivista do Condottiero Sócrates.
Não é este fabuloso concentrador de poder e de de poderes alguém incomparavelmente eucaliptário quando comparado com o discreto, modesto e laborioso Cavaco PM?!
Enfim, tal como para o velho il Padrino Almeida Santos, para il Padrino Soares não há mais vida para além do PS soviético e rasca que aclama prostrado il Duce berlusconizante português. Há casos em que a senilidade consiste precisamente numa enorme regressão aos piores malefícios da imberbidade: uma crocante e crustácea ingenuidade moluscular deliberada.
... "oposição que «devia ser menos insultuosa.»"
O dr. Soares, decerto, tem estado ausente do país: então o homem não sabe que o SS (Santos Silva) não é da oposição?
Ou será que a frequência vocal dos 'delicados' discursos do SS não é captada pelo "decano dos democratas"?
Ou não convém ouvir?
Com todo o respeito, acho que o Dr. MS já está um pouco cacimbado.
Goste-se ou não de Soares, todos devem, em abono da decência, estar saudavelmente gratos pelo que ele fez pelo país. Não tanto como alguns pretendem, mas fez. Ponto. Triste é ver o homem Soares atirar borda fora o super-avit de bondade para com Portugal fazendo estes fretes (em nome de quê saber-se-á um dia, porque ele é tudo menos tonto) a alguém (Sócrates) que, eventualmente, até, bem intencionado, está a amputar um país, já de si escassamente povoado de decência intelectual, da sua mais consciente dignidade em nome de uma pretensa modernidade-económica, quando se sabe que esta é a parte fraca (mesmo que não irrelevante) na construção das bases de um país sólido e satisfeito.
Repito a questão: porquê Mário, porquê?!! Porque nós sabemos que você sabe que nós sabemos.
Só espero que nada tenha a ver com Manuel Alegre, sinceramente espero, porque se for, então estaremos perante a mais desonrada porcaria!
RIBO
Ainda há quem o oiça????????'
pelos vistos há ! que povo fantástico...........
Como assinante do Meo andava um bocado aborrecido por não ter acesso a esse canal.
Lendo a sua divertida crónica deixei de me preocupar
Digam lá o que disserem, mas há pessoas que têm muita sorte.
Se Salazar fosse vivo e ainda tivesse nas suas mãos o poder, qual seria a vida de Mário Soares? Ainda estaria a gozar férias em S. Tomé, saltando, todo contente, de ramo em ramo, e estaria menos gordo porque o exercício físico lhe faria muito bem.
Salazar morreu, Caetano deu por terminadas as férias de semelhante besta política (não esquecer que este animalejo asqueroso, sendo PR, usava sempre o termo "gajo" quando, na pocilga do Rato, e não só, se referia ao PM).
Esteve em França, e não conseguiu aprender a falar francês, criou um partido que disse ser socialista, enganando com isso grande parte do povo, porque o socialismo do partido de que dizem ser o patriarca (que patriarca tão pouco convincente)revelou-se uma nojenta merda.
Aprecia imenso arengar às massas com o apoio subserviente de muita da comunicação social, que não é capaz de manter os microfones e as càmaras longe dele, para não termos de ver a sua figura detestada e ouvir a sua voz irritante.
Queixa-se dos insultos da oposição.
E que quereria ele que a oposição fisesse depois dos expemplos que deu e daqueles que são protagonizados pelos camaradas da pocilga do Rato, como o Gama e o SS da protecção do PM?
Eu, num "zapping" que fazia, vi-o lá. Mudei logo de canal e, felizmente, nem uma palavra completa lhe ouvi.
Relativamente à 1ª parte do comentário do Anónimo das 6.51 AM (RIBO) e ao que o dr. Soares fez pelo país, eu tenho uma ideia diferente:
Naqueles tempos do pós 25 de Abril, o dr. Soares sabia que se em Portugal fosse implantado um regime comunista, quem ficaria no "poleiro" seria o dr. Cunhal e ele teria que se exilar novamente (e rapidamente) junto do "son ami Miterán".
Aí voltaría a dar umas aulas para sobreviver (alguns bens de família que eventualmente tivesse cá, desconfio que passariam a pertencer ao "povo") e ainda correria o risco de ter, se fizesse muitas "ondas" relativamente governo revolucionário do proletariado de cá, algum "acidente", patrocinado pelo KGB a pedido de uma qualquer polícia congénere que o dr. Cunhal, "obrigado" pelo povo, teria que criar por cá.
Outro factor que levou a que todo o ocidente (EUA, França, UK, etc.) apoiasse quase exclusivamente o dr. Soares de todas as formas possíveis (dinheiro, informações, reconhecimento pessoal, etc.) em detrimento de, por exemplo, Sá Carneiro, foi o facto de termos saído de uma ditadura de direita e todo o País ter "virado à esquerda". Até o CDS, um partido do "centro", democrata-cristão (muito perto da social-democracia) tinha um discurso de esquerda, votou favoravelmente na Constituição socialista marxista-leninista da altura e era (ainda é) considerado de direita (na versão PP, às vezes parece de direita).
Foi a situação política portuguesa que fez do dr. Soares o líder partidário mais óbvio e fácil de apoiar e promover, na tentativa dos países do "bloco ocidental" de evitar que Portugal se tornasse um país comunista. Não foi o especial brilhantismo, humanismo, simpatia ou outra qualidade pessoal qualquer. O dr. Soares era a aposta mais segura para evitar um regime comunista em Portugal.
Por isso, relativamente ao "Pai" da nossa democracia, acho que há pouca "bondade" e muita ambição pessoal (vontade de se chegar ao TACHO), aliado ao facto de ter sido promovido pela comunidade internacional a interlocutor previlegiado nos assuntos relativos a Portugal. Nunca nenhum português individualmente foi tão apoiado e ajudado por tantos países como o foi o dr. Soares.
Por isso não me sinto especialmente agradecido ao dr. Soares.
Partilho do seu ponto de vista Mr. Neto. Respeito o Dr. Soares como cidadão, e admiro o seu sentido de oportunidade (ou faro político), mas não sinto que lhe seja devedor de coisa alguma. A Europa dessa época não tinha a menor ideia do que era Portugal e, preguiçosamente, preferiu não arriscar e apostar num cavalo seguro.
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