Por causa do referendo, não houve "cultura" tal como hoje não há futebol. À excepção de duas entrevistas - a do soba Mega Ferreira a descartar-se do CCB e a dizer a quem de direito que continua "sempre em pé", e a de Gomes de Pinho, de Serralves, a explicar o grande negócio do sr. comendador à conta dos papalvos do costume - a única notícia nesta matéria foi a atribuição do prémio João Carreira Bom, da Sociedade de Língua Portuguesa, ao José Manuel dos Santos. O premiado estreou-se nas crónicas de jornal ("Impressão Digital", crónica semanal no suplemento Actual do Expresso) vai para uns nove meses e já teve direito a prémio. Os que o antecederam - Baptista-Bastos, Eduardo Prado Coelho e Vasco Pulido Valente - andam há décadas a escrever crónicas nos jornais e, fora para livros, não me lembro de lhes terem dado grande coisa. Por exemplo, o José Pacheco Pereira - que escreve há muito mais tempo -, o José Medeiros Ferreira - idem -, a Helena Matos - mais recente -, o padre Anselmo Borges e, para não sair do Expresso, o Joaquim Manuel Magalhães, poderiam ter sido todos bons candidatos. Acontece que o prémio deste ano também premeia vinte anos de "outras" crónicas. Apesar de agora derramar sobre letras, quadros, episódios pessoais ou colectivos num estilo que denuncia a leitura atenta, e julgo que integral, de Marguerite Yourcenar com umas pinceladas à la Frederico Lourenço de mistura com pós agustinianos e laurentinos, o José Manuel dos Santos passou duas décadas a "cronicar" para dois chefes de Estado. Isso puxa por um homem e pela sua aguda inteligência, bem como a circunstância de, por dever de ofício, ter constituído um extraordinário cardápio de contactos com o nosso pequenino e familiar meio "cultural". E, já agora, tendo em conta a "solenidade" do dia e o tema da tua última crónica - a Igreja portuguesa e o aborto -, deixa que te repita o seguinte, Zé Manel. Não creio que a Igreja exerça qualquer soberania "sobre os corpos e as almas" e que tema perdê-la logo à noite. Para além das contingências, do relativismo e das cinco infelizes cartinhas do senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, a Igreja sobreviverá - sobretudo esta de Ratzinger - e, com ela, milhões de católicos "pecadores" que não vêem no aborto uma questão religiosa. Há, pois, vida para além de um simples "sim" ou de um simples "não". Parabéns.
3 comentários:
A responsável pela música do "Braganza" é a E-konoklasta
e-konoklasta@hotmail.com
P.S. - Depois de ler este artigo aqui, resolvi deitar uma pequenina bomba sobre o Mega. É Carnaval, ninguém leva a mal. O homem, se ler aquilo, deve ficar da cor da cal..
A lista que você refere deve ser decisiva na atribuição dos prémios, muito mais do que os eventuais méritos existentes dos putativos candidatos. Dizia o nosso distante Vate que os ditos prémios ou elogios mais vale merecê-los sem os ter do que tê-los sem os merecer, no que se vê que anadaria completamente desentendido da cultura dominante, mesmo a daqueles heróicos tempos ! Entretanto, navegar é preciso...
foi certamente 1 coincidência..
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