O prof. Vital Moreira, por causa do cartãozinho, teve um momento de rara beleza. Escreveu o ilustre mestre coimbrão o seguinte: "a primeira cidadã portuguesa a ter o novo cartão é aluna da Escola Manuel de Arriaga, no Faial. Curiosamente, dizem-me dos Açores, o primeiro cartão oficial de identidade nacional também foi atribuído, há quase um século (1914), a outro faialense, o primeiro presidente constitucional da então jovem República, justamente Manuel de Arriaga. Não pude confirmar esta informação. Mas se não é verdade, bem poderia ser. A História tem destas coincidências felizes..." Os "republicanos", entre outras coisas, gostavam de exibir estes "vultos" supostamente dados a transportes líricos como prova da sua superioridade intelectual e política. Arriaga era convenientemente poeta. Segundo os "ditadores democráticos", estava demasiado conotado com os "moderados". Viam nele, mais do que o PR, um chefe de facção. Por isso, nunca podia ter sido a "salvaguarda" constitucional e institucional de um regime dominado essencialmente pelos "democráticos". Nem tal lhe estava na "massa do sangue". Deste modo limitava-se a tentar cumprir o seu papel ornamental, o que, aliás, nem ele nem ninguém pretendiam que ultrapassasse. Quanto ao resto, a história registou o fundamental. E o fundamental é muito pouco. As palavras de Vasco Pulido Valente em O Poder e o Povo - A Revolução de 1910, resumem-no. "Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas". Arriaga, "uma coincidência feliz"?
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