4.2.07

A FRAUDE E O FRACASSO


1. "Sócrates está fora e acima dos seus ministros e dos seus problemas. Reserva para si o lado heróico. Denuncia privilégios, ameaça médicos, atinge juízes, aponta aos professores, acusa funcionários públicos, deixa organizar as emboscadas aos dirigentes desportivos e concebe o cerco aos autarcas. Depois, os ministros que resolvam. Tal como Tintim, tem apenas de tratar de algumas trapalhadas que os seus colaboradores inventam dia após dia. Quem não recorda os sarilhos que o Capitão Haddock (antigamente, no meu tempo, Capitão Rosa), os estúpidos detectives Dupont e Dupond (antes Zigue e Zague) e o formidável Professor Trifólio Girassol (anteriormente Professor Pintadinho de Branco...) lhe preparam todos os dias? Parece brincadeira, mas é muito sério. Pedra a pedra, imagem a imagem, Sócrates e os seus conselheiros construíram uma personagem, talvez a mais bem conseguida e mais artificial de toda a política democrática portuguesa. Nessa personagem, o jogging, o caderno Moleskine ou o tele-pronto transparente, introduções suas na política nacional, são apenas peças de mais vasto desígnio. Estão de parabéns os seus consultores: ninguém, até hoje, fez melhor. No que são ajudados pelos talentos do interessado, pois claro. Mas atenção! A repetição da imagem, devidamente preparada e solicitamente anunciada à imprensa, acaba por matar (...) O paralelo com o popular Tintim é gritante: o jovem militante das boas causas derrota impiedosamente os inimigos. Mas há diferenças: a Tintim, ninguém lhe pedia para depois administrar a casa ou o país. Mais: Tintim não ia a votos. Sócrates, mais tarde ou mais cedo, terá de ir."

António Barreto, in Público


2. "Apesar dos milhões que se gastam em propaganda turística e em viajatas várias, para a maior parte da humanidade Portugal, coitado, não existe. Com ou sem as gaffes de Manuel Pinho, a excursão à China do eng. Sócrates tornou a provar essa realidade lúgubre. O Presidente Hu Jintao andava por África com meia dúzia de ministros. Tanto em Pequim como em Xangai, funcionários sorumbáticos deixaram os portugueses perorar e quase não abriram a boca. Sócrates, como de costume, lá andou a fazer jogging pelas ruas de Pequim, provavelmente porque nas ruas de Lisboa não pode. No intervalo declarou a "sintonia" entre governo dele e o governo da China em matéria económica e "questões mundiais", "sintonia" essa que certamente descansou muito aquela pobre região. Quanto a "negócios", consta que há a intenção de os "reforçar" e "apoiar" e que há planos para vender aos nativos software e vinho de Borba. Os chineses também gostaram muito da camisola de Ronaldo que Sócrates lhes deu. A maior gaffe da viagem foi a viagem."

Vasco Pulido Valente, idem

3 comentários:

Arrebenta disse...

Então, quando vem essa entrada para a equipa do "Braganza Mothers"?

Carlos Sério disse...

totalmente de acordo.

João Gonçalves disse...

Caro Arrebenta, eu divirto-me muito a ler muitos dos posts do Bm que, aliás, estão sempre muito bem escritos. Todavia, se aceitasse o seu amável convite, seria o único a assinar com o próprio nome.