Li no Crítico que o governo se preparava para "cortar" substancialmente o orçamento do Teatro Nacional de São Carlos, prejudicando essencialmente a afectação destinada às produções. Se isto corresponder à realidade, significa que a actual tutela sediada na Ajuda continua a inverter as prioridades. O Teatro tem funcionado nos últimos anos numa ilógica e irrealista "fuga para a frente", acumulando deficiências organizativas e de gestão que vão sendo convenientemente varridas para debaixo do tapete para que a "função" possa ter lugar. Quem percebe o Teatro sabe que, por detrás da fachada e do palco, se esconde uma instituição autofágica que não conhece verdadeiramente um rumo. Nada disto seria grave se não fossem os dinheiros públicos a sustentar tamanha bizarria. Para o ano, se não erro, termina a vigência do protocolo de mecenato com o BCP, que deverá pensar duas vezes antes de o renovar. A última tentativa séria para resolver o "problema São Carlos" foi protagonizada por Manuel Maria Carrilho. Acabou com a inútil e sôfrega Fundação de São Carlos, saneou financeiramente a instituição e dotou-a com uma lei orgânica suficientemente flexível para governar a casa. O que se seguiu, limitou-se a empurrar um pouco mais o Teatro para o inverosímil. E com Pedro Roseta e Amaral Lopes, o irrealismo tomou definitivamente conta do Teatro. Pinamonti, o director, já devia ter percebido que o tempo de ir à Praça do Comércio e vir de lá com mais umas centenas de milhares de euros, acabou definitivamente há três anos. Por outro lado, a tenaz do ministério das finanças, sem critério que diferencie os organismos de produção cultural e virada apenas para um segmento da despesa, consentindo o seu aumento justamente onde ela não devia aumentar, também não leva a nenhum lado. Curiosamente não vejo ninguém questionar a irracionalidade da "política" e das despesas de pessoal, quando se sabe que quem paga essa factura é a "produção artística" e o público, afinal aquilo que justifica que o palco se abra. Ignoro se Maria João Bustorff e Teresa Caeiro possuem "um pensamento" acerca do nosso único teatro de ópera. A pura técnica contabilística já não chega e sobretudo não serve quando é mal direccionada. Eu continuo a pensar que o encerramento provisório do Teatro, para o reformular de alto a baixo, seria a solução menos má. Tudo o mais são expedientes que mantêm convenientemente o impasse.
Adenda: Depois de escrito este post, verifico que o Augusto M. Seabra também se lembrou do São Carlos no seu artigo de hoje no Público.
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