Jorge Sampaio foi vaiado três vezes no encerramento da Festa do Avante. A semana passada, por causa de um remoque do "comandante supremo", o respeitoso Santana Lopes lançou-lhe uma "indirecta" ao afirmar que não era seu costume discutir em público a agenda das conversas com o presidente. Estes pequenos fait-divers são um sintoma. Sampaio é olhado com a mesma insípida veneração com que se contempla uma jarra Ming numa sala. Sabe-se que ela lá está, não se lhe presta demasiada atenção e evita-se simplesmente que não se parta. A circunstância de Sampaio se ter convertido no único legitimador político do actual "regime", não contando obviamente com os interessados, tornou-o praticamente imaterial. A "esquerda" já não o adula nem se revê nele como a "última esperança". A "direita", apenas cerimoniosa e cínica, limita-se a fingir um vago respeito. À medida que se aproxima o fim formal do seu mandato, Sampaio revela um inexcedível talento para o antecipar de facto. Sabia-se que, diferentemente de Soares, Sampaio era um homem "comum" que dificilmente se consagraria como "grande estadista". Com a passagem do tempo, porém, conseguiu a rara proeza de banalizar ainda mais essa sua essência mediana. Graças a ele, à "esquerda" e à "direita" podemo-nos perguntar: para que é que serve o meu voto na eleição de um PR? Isto significa que, para além dos aspectos meramente pessoais, a "via sampaísta" em exercício acabou por criar uma espécie de angústia institucional para o futuro. Isso nota-se na tentação, já claramente instalada no poder e na oposição, da desvalorização da eleição presidencial de 2006. Na realidade e com um exemplo destes, quem é que se atreve?
Sem comentários:
Enviar um comentário