25.9.04

O NOME DA ROSA





Como vários "observadores" e "comentadores" salientaram, o debate provocado pela campanha pela liderança do PS foi útil ao partido e ao país. Se tomarmos por referência a última consulta popular, as eleições europeias, o PS não perdeu o seu glamour e é esperável que estas movimentações o tenham espevitado um pouco mais. "Tudo isto que nos rodeia" a partir da maioria e do governo é tão mau e tão penoso de suportar que o PS pode bruscamente voltar a ser importante. Apesar do meu cepticismo militante e permanente, agora partidariamente "independente", reconheço que o que vai ter de se seguir a esta calamidade passará necessariamente pelo Partido Socialista. O PSD, enquanto insistir na aliança espúria com o PP, reforçando a componente "PPD" e o jargão "neoliberal", não interessa ao glorioso "povo do centro", o tal que dá vitórias e derrotas. A "política democrática" que eu persigo e que expliquei no início deste blogue, por referência ao filósofo Richard Rorty, não se revê na actual perturbação a que alguns chamam "governo". E também não aceita a liderança "ideológica" exercida a partir da maioria por um pequeno partido populista com uma legitimidade eleitoral inexpressiva. É sintomático que, na única vez em que a "coligação" se submeteu a votos, tenha perdido. E os "estudos de opinião", seja para o que for, estabilizam essa tendência constantemente perdedora em que o mais penalizado, a médio prazo, acaba por ser o PSD. Dito isto, falta dar um nome à rosa. Os militantes socialistas escolhem, entre ontem e hoje, o seu secretário-geral e, por consequência, um candidato a chefe do governo. Sem sofismas, eu espero que esse candidato seja José Sócrates. Não é perfeito, não é um "purista" e não é sobretudo um ingénuo, graças a Deus. Em certo sentido, o debate interno também o "melhorou" e obrigou-o a perder o carácter "instantâneo" inicial. Não estamos em tempos de reclamar génios ou esmagadoras figuras. Já não se fabricam. Se eu pudesse escolher abstractamente, tipo "três em um", seleccionava a voz de Manuel Alegre, o voluntarismo de João Soares e o pragmatismo frio de José Sócrates. Em concreto, fico-me pelo último.


P.S: Gostava que esse pragmatismo não desviasse Sócrates do essencial. Por exemplo, Manuel Maria Carrilho deve continuar a ser uma séria hipótese vencedora para a Câmara Municipal de Lisboa. Outros putativos candidatos estão muito bem nos postos para que foram eleitos.

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